O que é racional (racionalidade) é fundamentado na Razão, em conformidade com as suas exigências e os seus princípios — sendo que “razão” é a faculdade de conhecer, de julgar (juízo), e a faculdade de combinar juízos.
A Razão — a racionalidade — inclui nela o cepticismo em relação à própria capacidade humana de julgar bem, em oposição a um certo racionalismo monista e imanente (Hegel) que afirma o carácter racional da realidade no sentido da História (um absurdo!), e que o pensamento racional é capaz de atingir a verdade absoluta (outro absurdo!), porque (alegadamente, diz ele) as próprias leis do pensamento racional são também as leis dos objectos do próprio conhecimento (e este é o maior absurdo de Hegel);
Ou de um outro tipo de racionalismo cientificista que atribui à razão humana a capacidade de conhecer a Verdade (por exemplo, os positivistas, o Carlos Fiolhais e o cientismo moderno).
Existe outro tipo de racionalismo, mais aceitável racionalmente (Platão, Descartes, Leibniz), que entende a Razão como um meio de conhecimento seguro e independente da experiência sensível, em oposição ao empirismo. A minha divergência com este grupo de filósofos é a de que o conhecimento pode ser independente da experiência sensível (como é óbvio), mas não é garantidamente seguro; não temos qualquer tipo de garantia racional de que esse conhecimento adquirido seja seguro.
Eu “alinho” com Kant — e por isso é que alguns católicos e muitos evangélicos que lêem este blogue, não gostam do que escrevo. Lêem, mas calam; e às vezes há sinais de desagrado, que são injustificados. A corrente filosófica de Kant é conhecida como “Criticismo”. Um bom exemplo de um discípulo de Kant é Karl Popper.
Muitos desses católicos e evangélicos, que visitam este blogue, pensam que o cepticismo em relação ao conhecimento da Realidade é sinónimo de cepticismo em relação a Deus. Pensam de forma absurda, irracional. Confundem (quiçá sem o saberem) Kant com Espinosa: este último, sim, privilegia a razão como princípio de explicação do universo, e em oposição à metafísica, não se dando conta de que qualquer negação de uma determinada metafísica é. em si mesma, uma outra metafísica.
Kant reconheceu a interdependência entre a Razão e a Sensibilidade, atribuindo à Razão o poder de fundamentar o conhecimento, mas divergindo dos outros filósofos citados porque admite que as formas a priori de todo o conhecimento limitam à partida as possibilidades da Razão. É nesta linha kantiana que Karl Popper desenvolveu a sua doutrina filosófica.