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A ética e a moral não podem ser definidas ou determinadas pela ciência

A ética e a moral não podem ser definidas ou determinadas pela ciência.

A ideia de “responsabilidade moral” reside na experiência subjectiva, enquanto que a ciência só concebe acções determinadas por leis da natureza, e não concebe autonomia, nem sujeito, nem consciência e nem responsabilidade. A noção de “responsabilidade” é não-científica. A ética e a moral pertencem ao domínio da metafísica que se caracteriza pela falta de “bases objectivas” – aqui entendidas no sentido naturalista [naturalismo cientifismo metodológico].

Para tentar contornar esta realidade objectiva e insofismável que consiste no facto de a ciência não poder determinar a ética, a ciência transformou-se, ela própria, em uma forma de metafísica [evolucionismo, naturalismo e neo-ateísmo], para assim poder obter a legitimidade para opinar sobre a ética e sobre a moral. É assim que surgem as “teorias científicas” não refutáveis na sua essência, como por exemplo, a teoria do Multiverso, ou as teorias evolucionistas em geral [por exemplo, a teoria do epifenomenalismo de Thomas Huxley, que ainda hoje subsiste entre os darwinistas, evolucionistas e naturalistas].

Entrando pela metafísica adentro, a ciência – feita por cientistas que são, eles próprios, sujeitos – pretendeu redefinir a ética e a moral segundo princípios deterministas que “varriam” o sujeito, e estabelecendo apenas determinações, leis e estruturas [estruturalismo]. Neste sentido, a ciência pretende ser uma espécie de nova religião [imanente e política], cuja classe dos novos sacerdotes é composta principalmente pela classe dos cientistas.

É este o fundamento do declínio da civilização ocidental e para o qual a própria comunidade científica contribuiu de forma activa [a “traição dos intelectuais”]:

Este naturalismo errado devassou a cultura intelectual do século XX, mas é no dealbar do século XXI que nos deparamos com o auge da “doença da ciência” na cultura antropológica [a criação massiva de zômbis em circulação na nossa sociedade]. Estamos em presença da “traição dos intelectuais” [segundo o conceito de Julien Benda ]. Quando o naturalismo [ou cientifismo metodológico] foi erroneamente aplicado ao sujeito [humano], seja por exemplo por Durkheim ou por Freud, iniciou-se todo um processo de degradação humana através da degradação da ética e da moral na sociedade ocidental.

Na medida em que 1) o cientista deve procurar a objectividade; 2) em que a objectividade requer um despojamento de valores; 3) e em que o cientista é um sujeito [um ser humano] e a comunidade científica é composta por seres humanos [sujeitos] – a ciência [e sobretudo as ciências sociais] só muito raramente consegue libertar-se das valorações [éticas] da sua própria camada social, de modo a poder estabelecer uma independência valorativa e objectiva.

Em consequência, surgiu no século XX um fenómeno massivo de “liquidação do sujeito”, imposto por uma elite cientificista e neognóstica [gnosticismo moderno: ver Eric Voegelin], e que se traduziu na emergência das religiões políticas totalitárias [por exemplo, o eugenismo característico dos “progressistas”, evolucionistas e socialistas; o nazismo e o comunismo]. Este processo neognóstico e cientificista de “liquidação do sujeito” levou a uma dissociação mental extrema entre a comunidade científica, e a uma inversão da moral [ver Olavo de Carvalho ].

O marxismo é um exemplo dessa dissociação mental extrema e da inversão da moral: por um lado, o marxista liquida a ética e a moral [e também toda a filosofia], classificando-a de “subjectiva” e idealista, ao mesmo tempo que denuncia os tabus tradicionais e históricos; e por outro lado, entrega-se a um excesso ético [por exemplo, o puritanismo de Francisco Louçã] que denuncia toda a oposição e crítica como um embuste, e estabelecendo simultaneamente novos tabus contrapostos aos tabus tradicionais [por exemplo, a substituição do tabu do aborto pelo novo tabu que proíbe as corridas de touros]. O marxismo – que se diz, dele próprio, científico – faz a crítica da moral tradicional de uma forma extremamente moralizante, mas moralmente invertida e até contra-natura.

(Actualizado em 02/05/2013)

[este verbete é dedicado aos leitores do blogue Rerum Natura ]

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