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Segunda-feira, 3 Junho 2019

O Argumentum ad Verecundiam ou Falácia da Autoridade

Filed under: filosofia — O. Braga @ 5:59 pm
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Quando a autoridade de direito  de alguém coincide (teoreticamente) com a sua autoridade de facto, então não há uma razão   objectiva para duvidar da autoridade dessa pessoa em áreas da sua especialização — excepto quando se invocam outros argumentos provenientes de outras autoridades de facto da mesma área.

Se a mera invocação da autoridade de facto  fosse, em si mesma, uma falácia  lógica , então o conhecimento  não seria possível.

O Argumentum ad Verecundiam  ou Falácia da Autoridade pretende sustentar uma tese fazendo unicamente apelo a uma personalidade de reconhecido mérito, mas cujo saber ou competência é irrelevante para o tema em discussão.

Ora, isto é diferente do que foi escrito aqui.

Um exemplo de uma falácia da autoridade  “O Cristiano Ronaldo é cliente do Banco X, e por isso esse Banco é o melhor de Portugal”.

Ou: “O Carlos Fiolhais considera Karl Marx como o maior filósofo de todos os tempos, o que faz deste, de facto, o melhor de todos”.

Nem o CR7 é especialista em Bancos, nem o Carlos Fiolhais tem autoridade em filosofia suficiente para fazer juízos de valor  válidos sobre o “maior filósofo”.

E, por exemplo, se um médico dá uma opinião sobre matérias da sua especialidade, isso não configura necessariamente uma Falácia da Autoridade.

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Domingo, 22 Maio 2016

A Santíssima Trindade e a dificuldade da Lógica

 

A Lógica macroscópica, tal como a conhecemos depois de Aristóteles, aplica-se (obviamente) na realidade macroscópica; ou então (em alternativa), teremos que basear a Lógica na unidade do Todo (existe uma Lógica mais abrangente, que não renega a de Aristóteles, mas que a inclui) — Santo Agostinho dizia que “quando começamos a contar, começamos a errar”; um dias destes, a Física ainda vai chegar à conclusão de que Santo Agostinho tinha razão.

O Domingos Faria escreve aqui acerca do “problema lógico” do dogma da Trindade na Igreja Católica. Em analogia, vou falar aqui do problema lógico das partículas elementares e das ondas subatómicas, segundo a Física mais actual. Ou seja, se existe um problema lógico no conceito de Santíssima Trindade, também existe um problema lógico na ciência actual.


1/ As partículas elementares a que hoje chamamos de “fotões” são partículas sem massa e que viajam no espaço sempre à velocidade da luz.

2/ Na medida em que toda a matéria tem massa — ou, utilizando a terminologia de Kant: na medida em que a massa é a condição da matéria —, os fotões (a luz) não são matéria. Ou seja, existe uma realidade “material”, e uma outra “não material”.

3/ Mas os fotões (luz), e as ondas de probabilidade, são simultaneamente partículas elementares subatómicas e ondas de probabilidade (sem massa). À luz da Lógica macroscópica, esta contradição é insanável, porque atenta contra os princípios lógicos do pensamento. O estudante de Física que diga que percebeu a quântica, não percebeu nada — a não ser que dispa a Lógica macroscópica e vista uma outra Lógica, mais abrangente.

4/ As partículas elementares (que têm massa) podem ser ondas (que não têm massa) ao mesmo tempo. Se o leitor ou o Domingos Faria têm dúvidas acerca do que afirmo, perguntem ao Carlos Fiolhais, por exemplo. As “ondas”, a que me referi, e segundo a física quântica, não são, porém, autênticas ondas tridimensionais, como são as ondas do som ou da água.

5/ Perante a dificuldade lógica de definir o conceito daquilo que não é matéria (a onda de probabilidade quântica), a física quântica recorre à noção de “abstracto”: segundo a física quântica, as ondas de probabilidade quânticas são “quantidades matemáticas abstractas” com todas as propriedades características das ondas,  que estão relacionadas com as probabilidades de encontrar as partículas elementares em pontos particulares do espaço e em um tempo determinados.

6/ A noção de “quantidades matemáticas abstractas” é uma forma que a ciência, escorada na Lógica, encontrou para conceber aquilo que não é lógico (que é contraditório) do ponto de vista macroscópico. Ou seja, a matemática, não só penetrou na imanência, mas também dá-nos um vislumbre da transcendência através do conceito de “infinito” onde todas as leis da Física se anulam (por exemplo, na noção de “singularidade”). Para o cidadão comum, a noção quântica de “quantidades matemáticas abstractas” pode ser considerada um dogma ou uma “invenção humana”.

7/ A noção de “Santíssima Trindade” é uma noção constante da noção de “Deus para mim”, ou seja, das propriedades que Deus possui no “encontro comigo” e às quais me revela.

Por outro lado, a interpretação (humana) do Todo não é um trabalho conceptual (elaboração de conceitos) que um ser humano tenha que levar a cabo, mas também não é um trabalho em relação ao qual tenha que desistir (como defende o Positivismo). A interpretação do Todo (da Realidade) há muito que faz parte da existência humana, antes de serem colocadas questões filosóficas e metafisicas.

Mas, sendo que a razão se baseia na construção de conceitos, se a interpretação significasse apenas algo como uma dedução conceptual de novos conceitos a partir de conceitos anteriores (modus ponens), então qualquer tentativa de interpretar o Todo seria inútil. A física quântica, através do conceito de “quantidades matemáticas abstractas” e da complementaridade  onda/partícula, (por exemplo), colocou em causa a Lógica clássica e desvendou uma Nova Lógica que abrange a Lógica aristotélica.

8/ Nas “Confissões”, Santo Agostinho utiliza símbolos — tal como a física quântica utiliza símbolos para exprimir a contradição lógica do subatómico — para exprimir a significação do conceito de Santíssima Trindade: a realidade do ser humano também deve ser encarada como uma realidade trinitária; nós somos (Deus Pai), nós amamos (o Filho ou Logos), e nós conhecemos (Espírito Santo); nós experimentamo-nos a nós próprios e ao mundo da perspectiva da primeira pessoa (eu sou), na perspectiva da segunda pessoa (eu amo um tu), e da perspectiva da terceira pessoa (eu conheço um ele, uma ela ou uma coisa).

Pode-se dizer que, para nós, a Realidade é uma espécie de tripé. O nosso mundo constrói-se a partir do eu (a consciência), do tu, e das coisas. Estas três categorias são como uns “óculos” que eu coloco para poder “ver” a Realidade; e sem esses “óculos”, não vejo nada; e a Realidade aparece-me nesta trindade: é sempre o mesmo mundo, que é único, mas eu tenho uma tríplice relação com ele.

Sábado, 14 Novembro 2015

Os dados da experiência vão além da “utilidade prática”

Filed under: filosofia,Quântica — O. Braga @ 6:36 pm
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O Domingos Faria conclui aqui que é possível que se obtenha conhecimento a partir de falsidades; e deu como exemplo as horas de um relógio, que é um instrumento de medição (neste caso, medição do tempo).

1/ É claro que podemos obter conhecimento a partir de “falsidades”, mas apenas se entendermos “falsidade” como sinónimo de “verdade parcial”. Uma verdade parcial não é a verdade absoluta mas também não é erro absoluto. Por exemplo, a dinâmica de Newton era em grande parte falsa, o que não significa que fosse totalmente falsa. Ou seja, a ciência adquiriu conhecimento a partir da teoria (parcialmente) falsa de Newton.

2/ Uma teoria que consideremos falsa pode ser verdadeira; e uma outra que consideremos verdadeira pode ser falsa.

3/ Mas, do conhecimento a partir de uma falsidade a que se refere o Domingos Faria no caso do relógio, resulta uma “verdade” que só é aplicável no sentido prático, ou seja, no sentido de uma utilidade prática (aplicável à nossa realidade macroscópica). Todos os instrumentos de medição — incluindo o relógio do Domingos Faria — são falíveis (dão-nos sempre apenas uma aproximação à verdade) fora da utilidade prática que caracteriza a chamada “física clássica”.

4/ Nada, na realidade do infinitamente pequeno, obedece às leis ordinárias da física clássica — incluindo as leis que medem o tempo e o relógio do Domingos Faria. A medição define literalmente o sistema medido.

Não podemos afirmar que uma partícula elementar já tinha uma determinada característica, antes e/ou independentemente da observação ou medição da dita através de um instrumento. Se utilizarmos um instrumento para medir um sistema microscópico, por exemplo, uma medição da sua energia, produz-se uma redução brutal do seu vector de estado: apenas um dos termos da soma do “vector de estado” subsiste: aquele que corresponde ao valor da energia que foi efectivamente medida.

5/ E se o relógio do Domingos Faria fosse colocado na estratosfera, “andaria” mais depressa, e provavelmente induziria em erro o seu proprietário: poderia ele julgar que já estaria atrasado para a conferência das 17 horas quando, na “verdade horária” da crusta terrestre, ainda eram 16:59 horas. Os próprios relógios andam mais depressa ou mais lentamente dependendo do local terrestre em que se encontrem.

6/ A física mais actual demonstrou que o ser humano está confrontado com uma eterna (“eterno” no sentido do “tempo”, que é finito) “aproximação à verdade”, porque os seus instrumentos de medição da realidade são falíveis e têm apenas uma utilidade prática.

Quarta-feira, 10 Dezembro 2014

¿A lógica é uma batata?

Filed under: filosofia,Quântica — O. Braga @ 9:34 am
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A lógica formal trata das formas dos raciocínios, independentemente do seu conteúdo ou dos objectos aos quais se referem. Por exemplo, a seguinte proposição ou silogismo:

1/ Todos os tubarões são pássaros;
2/ o meu peixe vermelho é um tubarão;
3/ então, segue-se o meu peixe vermelho é um pássaro.

Nenhuma das duas premissas é verdadeira “materialmente”, ou seja, nenhuma delas corresponde à realidade. Mas o encadeamento que as une umas às outras é válido na sua forma: a conclusão do silogismo é a consequência formal necessária das duas premissas. Por isso é que se diz que “a lógica é uma batata”.

É assim que o Domingos Faria coloca o problema da possibilidade lógica dos zômbis contra o materialismo. Se a premissa 1 é, de facto, verdadeira, a premissa 2 é verdadeira se considerarmos que existe consciência humana em todo o universo com milhões de galáxias. E aqui colocam-se quatro hipóteses:

a/ não é possível que exista outra consciência que não a humana em todo o universo;
b/ é possível que exista outra consciência que não a humana em todo o universo;
c/ é verosímil que exista outra consciência que não a humana em todo o universo;
d/ é provável que exista outra consciência que não a humana em todo o universo.

Eu diria que é, pelo menos, verosímil que exista outra consciência que não a humana em todo o universo. Mas podemos acreditar naquilo que quisermos.

Naturalmente que podemos dizer que “não há provas de que exista consciência no universo que não seja a humana”, mas também podemos dizer que “não há provas de que existam zômbis”. Podemos afirmar com certeza que uma coisa existe, mas já não podemos ter a certeza de que uma coisa não existe. Porém, podemos ter uma certeza: os axiomas da lógica não são físicos.

Porém, se o David Chalmers se interessasse pela ciência, e para além da Lógica, poderia ter em consideração a Interpretação de Copenhaga da Teoria Quântica: a observação da função de onda quântica (“não-matéria”, porque não tem massa) causa o seu colapso e transforma-a em partícula elementar (matéria, porque tem massa).

O físico francês Bernard D’Espagnat chegou mesmo a escrever:

«A doutrina segundo a qual o mundo é formado por objectos cuja existência é independente da Consciência revela estar em desacordo com a mecânica quântica e com os factos estabelecidos através da experiência.»

Mesmo que a observação da função de onda quântica — que provoca o seu colapso — seja feita através de um dispositivo construído pelo Homem, esse dispositivo foi construído por um ser com consciência (o Homem). Por isso, não podemos separar o colapso da função de onda quântica, por um lado, da consciência que observa, por outro  lado. Poderíamos ir mais longe neste raciocínio, e colocar na equação a consciência de Deus.

A Física moderna e teoria quântica destruíram brutalmente o materialismo.

Sexta-feira, 5 Setembro 2014

O solipsismo da esquerda e da “direita” modernas

Filed under: filosofia — O. Braga @ 8:48 am
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«As leis primam sobre a vida? Não, é a vida que modifica as leis.» (respigado aqui)

Vamos recorrer à ciência para refutar esta proposição. Quando falamos em leis, temos que distinguir entre “universais de leis”, por um lado, e “universais acidentais”, por outro lado. Vamos a exemplos: as duas seguintes proposições silogísticas:

“Todas as moedas que estão no meu bolso contêm níquel. Isto é uma moeda que se encontra no meu bolso. Logo, segue-se que esta moeda contém níquel”.

¿Podemos transformar esta proposição em lei? Não!, porque a proposição é acidental ou contingente. Não se trata de um universal de lei, mas antes trata-se de um universal acidental. O facto de todas as moedas que estão no meu bolso conterem níquel é um facto acidental, e por isso não se pode universalizar em lei.

Um “universal de lei” — ou seja, uma lei propriamente dita — apoia-se em uma condicional ou suporta uma situação contrária-ao-facto. Vejamos a seguinte situação: dois relógios de pêndulo idênticos são configurados para estarem desfasados em um ângulo de 90 graus, de forma a que os tiquetaques dos dois relógios estejam em constante conjunção sequencial (um tiquetaque compassado com outro tiquetaque que se lhe segue). Se as leis não fossem outra coisa senão declarações de conjunções constantes, então poderíamos afirmar o seguinte:

“para todo o X, se o X é um tiquetaque do relógio #1, então segue-se que X é um tiquetaque seguido de um tiquetaque do relógio #2”.

Mas se os dois pêndulos (dos dois relógios) forem parados, esta “lei” já não se apoia em uma condicional contrária-ao-facto — e, por isso, não é uma lei propriamente dita. É, em vez disso, uma situação de um “universal acidental”, e não uma situação de “universal de lei”.

Por outro lado, as leis mais importantes não se baseiam na constância dos factos (empirismo), uma vez que se referem a situações idealizadas que não existem. Por exemplo, existe uma lei que dá pelo nome de Lei do Gás Ideal, segundo a qual “existem” gases nos quais as moléculas têm uma dimensão nula e zero campos de força intermoleculares.

Agora vejamos a segunda proposição:

“Todas as chamas afectadas pelo bário são verdes. Esta chama é afectada pelo bário. Logo, segue-se que esta chama é verde”.

Aqui estamos em presença de um “universal de lei”, e não de um “universal acidental”.


Tanto na ciência, como no Direito, as leis mais importantes e propriamente ditas são contrárias-aos-factos e são “universais de lei” — e não “universais acidentais”.

Por isso (não só, mas também) é que se diz, nas faculdades de Direito, que (por uma questão de princípio) os factos (da vida) não determinam as leis (embora as leis possam determinar factos). Portanto, dizer que “a vida modifica as leis” é afirmar que o “universal acidental” pode ser uma lei propriamente dita — o que é um erro de palmatória, própria de um romantismo solipsista que é o mal da esquerda e de uma certa “direita” modernas.

Eu prefiro o realismo (metafísico).

Quarta-feira, 4 Dezembro 2013

Um exemplo da falácia do espantalho

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 8:36 am
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Passos Coelho: “ A Troika pretende cortar nas despesas do Estado em 5 mil milhões de euros”.

Paulo Portas: “E o que é que vamos fazer?!”

Passos Coelho: “Eu acho que devemos cortar nas despesas com a saúde e a educação”.

Portas: “Mas poderíamos cortar nas despesas com as PPP (Parcerias Público-privadas), nos monopólios da energia, no aborto grátis, e nas despesas de funcionamento do governo…”

Passos Coelho: “Meu caro Paulo Portas!: não percebo por que razão queres levar este país à falência!”

(ver falácia do espantalho)

Quarta-feira, 30 Outubro 2013

“Uma proposta técnica que ainda não foi avaliada politicamente”

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 12:16 pm
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joao almeida polaroid web 400Foi assim que o deputado do CDS/PP João Almeida classificou a proposta da Ministra da Agricultura, Assunção Cristas, de limitar a posse de cães a duas unidades por apartamento. Eu nem vou falar muito na proposta orwelliana da ministra, porque, por este andar, o governo irá instalar "cagómetros" nas nossas casas-de-banho para controlar as vezes que a gente "arreia a jiga". O número de animais em casa é uma questão cultural e de bom-senso, e não de interferência coerciva do Estado.

O que me leva a escrever este verbete é a seguinte proposição: “proposta técnica que ainda não foi avaliada politicamente” — como se a técnica não tivesse nada a ver com a política. Ou como se a técnica não tivesse nada a ver com a ética; como se fossem campos separados da realidade, estanques. Há qualquer coisa aqui que não soa bem.

“Técnica” é aqui concebida como “método”, e não como o resultado da fabricação de um utensílio, ou tecnologia. O João Almeida poderia ter dito “uma proposta metodológica que ainda não foi avaliada politicamente”, o que significaria o mesmo.

O método é um conjunto de diligências seguido pelo espírito humano num trabalho de pesquisa ou numa investigação, no sentido de estabelecer a verdade em uma determinada realidade restrita.

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Quarta-feira, 28 Agosto 2013

O jornal Público e o conceito de “normalidade”

O pasquim Público conta a história da cidadã sérvia Bojana Danilovic (na imagem), que vê o mundo ao contrário (ver ficheiro PDF da notícia). E no fim da notícia, o pasquim arremata com a seguinte frase:

« Segundo o “New York Daily News”, Bojana sofre desta perturbação desde nascença, pelo que é “completamente normal”. “É apenas a forma como vejo o mundo.”»

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Terça-feira, 27 Agosto 2013

“Não devemos generalizar”

Hoje é vulgar ouvirmos, nos debates nos me®dia, entre políticos ou entre auto-subsumidos intelectuais, a frase-chave do politicamente correcto: “não devemos generalizar“.

Este princípio causa-me um desconforto imenso porque é anti-científico. O politicamente correcto é, por sua própria natureza, anti-científico, por um lado, e por outro lado tenta manipular a ciência transformando-a em cientismo .

Não é possível fazer ciência sem a generalização. O cientista verdadeiro observa um fenómeno (seja natural ou social), elabora estatísticas sobre a ocorrência desse fenómeno, faz experimentações , e depois, por indução , dedução e/ou inferência , abstrai do fenómeno e elabora uma lei que pressupõe uma generalização. A lei científica é geral e pressupõe um juízo universal .

Quando eu ouço, nos me®dia, os intelectuais de urinol dizer, com ar grave e sério, que “não devemos generalizar” – sinto eriçar os pêlos todos do meu corpo, como se estivesse em presença de um absurdo tão grande que negasse a essência, não só da lógica, como do próprio Ser.

Adenda:

Quando dizemos que “não devemos generalizar”, já estamos a generalizar.

O problema é que quando dizemos que “não devemos generalizar”, essa generalização é, por um lado, auto-contraditória (como se dissemos que “não devemos falar” quando já estamos a falar), e por outro lado é subjectiva e, por isso, tende a ser irracional e despótica – revela o despotismo intrínseco do politicamente correcto.

Quarta-feira, 7 Agosto 2013

A verdade que incomoda a ciência positivista e os ateus

Filed under: filosofia,Ut Edita — O. Braga @ 9:14 pm
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“Nenhum facto pode ser verdadeiro ou real, ou nenhum juízo pode ser correcto, sem uma razão suficiente” – Leibniz

Este axioma lógico não pode ser deduzido da experiência. Não há absolutamente nada que tenha uma validade eterna ou intemporal que possa ser deduzido da experiência. Independentemente da forma como os axiomas lógicos surgiram na mente do ser humano ao longo das diversas diferenciações culturais e históricas, a sua validade pertence a um nível imaterial e/ou espiritual.

O axioma segundo o qual os ângulos de um triângulo têm 180 graus já era válido antes de existir o ser humano. Este axioma existe numa dimensão intemporal e espiritual, e na qual a razão participa. Mesmo que a razão humana seja o resultado de uma evolução, o conteúdo da razão humana – o espírito – transcende a evolução.

Sábado, 3 Agosto 2013

A porcaria dos livros de filosofia que se vendem por aí

Quando se diz, num livro sobre a Teoria do Conhecimento, que em Descartes existia uma “dúvida céptica”, fico sem saber se quem escreveu o livro não sabe o que escreveu, ou se sabe e tenta alterar conceitos básicos da Teoria do Conhecimento.

1bertrand-russell-300-web.jpg A dúvida de Descartes era uma “dúvida metódica”, e não uma “dúvida céptica”. Qualquer pessoa com um mínimo dos mínimos de conhecimento de filosofia e de Teoria do Conhecimento – como é, por exemplo, o meu caso – tem a obrigação de saber isto.

A “dúvida céptica” é aquela que conclui pela impossibilidade de se decidir entre uma coisa ou outra. Talvez o melhor intérprete da “dúvida céptica” do século XX tenha sido Bertrand Russell (na imagem). A “dúvida metódica” – protagonizada por Descartes – é aquela que consiste em procurar todas as causas possíveis de erro, e é aquela que fundamenta o método científico.

2 Depois, o texto do “filósofo” que escreveu “aquilo” fala em “conhecimento a priori”, por um lado, e, por outro lado, no contexto do “conhecimento a priori”, o texto refere-se a Descartes.

É impróprio falar, em Descartes, de “conhecimento a priori”, porque Descartes parte apenas de conhecimentos geométricos e de hipóteses físicas (o ser humano é visto por Descartes, do ponto de vista físico, como uma espécie de máquina, com tubos e roldanas, etc.). Seria como se disséssemos que em Hobbes também existiu um “conhecimento a priori” acerca do ser humano – o que é absurdo. Só podemos falar propriamente de “conhecimento a priori” em Kant.

Em Kant, encontramos os “juízos analíticos a priori” – por exemplo, uma definição: “o ser humano é um animal bípede, dotado de inteligência e de linguagem”. Temos aqui, segundo Kant, um “juízo analítico a priori”.

Depois, e segundo Kant, temos os “juízos sintéticos a posteriori”, que decorrem exclusivamente da experiência empírica. Ora, como sabemos, do empirismo só resultam soluções empíricas.

E temos também – segundo Kant – os “juízos sintéticos a priori”, que englobam a matemática e a física, e que se formam independentemente de qualquer experiência e mediante uma intuição intelectual obrigatória.

3 O “filósofo” que escreveu “aquilo” especula em torno dos conceitos de “facto”, de “questão de facto”, e de “tautologia”, como segue:

« As verdades da razão pura, as proposições que sabemos serem válidas independentemente de toda a experiência, são-no em virtude da sua falta de conteúdo factual. Dizer que uma proposição é verdadeira a priori é dizer que é uma tautologia. E as tautologias, embora possam servir para nos guiar na nossa demanda empírica do conhecimento, não contêm em si mesmas qualquer informação sobre qualquer questão de facto. »

Um facto é algo que adquiriu uma estrutura na nossa consciência através da experiência. Acontece que essa experiência pode ser, ou subjectiva, ou intersubjectiva. Por uma experiência ser apenas subjectiva (e que pode ser produto da intuição), não deixa de ser um facto!, embora um “facto subjectivo”. Quando falamos em “factos objectivos”, queremos dizer, mais propriamente, “factos intersubjectivos”.

Uma “questão de facto” não significa necessariamente e apenas “conhecimento empírico objectivo”. Ademais, as tautologias são essenciais porque enunciam as leis lógicas – os axiomas da lógica, que não são físicos, são tautológicos: por exemplo, o princípio de identidade, A = A – sem as quais o pensamento e o discurso seriam incoerentes. Ou seja, sem as “tautologias das leis da lógica”, não seria possível saber sequer o que é uma “questão de facto” – e por aqui se vê a estupidez de quem escreveu aquela merda!

Domingo, 7 Julho 2013

Sobre a opinião da Professora Doutora Rita Lobo Xavier acerca da adopção de crianças por pares de invertidos

Estive a ver a audição (gravada) da Professora Doutora Rita Lobo Xavier, no Canal Parlamento, acerca da chamada “co-adopção” de crianças por pares de invertidos. Ouvi também os seguintes deputados: Pedro Delgado Alves (Partido Socialista), Andreia Neto (Partido Social Democrata), Teresa Anjinho (CDS/PP) e João Oliveira (Partido Comunista).

Há muito tempo que se sabe (pelo menos desde G E Moore) que não é possível e legítimo deduzir valores e normas através dos factos. E, apesar disso, quem o faz comete um “sofisma naturalista”.
Os factos não fundamentam quaisquer normas, embora as normas possam criar os factos. O problema aqui não é só jurídico: é essencialmente lógico e ético. E o que a esquerda está a fazer não é só negar a ética e minar o Direito: é também a negação da lógica

A primeira conclusão que devemos retirar – que eu retirei da audição – é que é absolutamente necessário não votar no Partido Socialista (já não falando na esquerda radical).

Em segundo lugar, o que está em causa, por parte da esquerda (que inclui o Partido Socialista e uma parte importante do Partido Social Democrata), é uma visão totalmente diferente do mundo e, por isso, uma visão radicalmente diferente acerca da família natural e que se aproxima da mundividência da família expressa na utopia da “República” de Platão – ou seja, a família natural tout cours é, implícita (PS) ou explicitamente (BE e PCP), repudiada pela esquerda.

O problema levantado pela esquerda é ideológico, e não propriamente jurídico; aliás, os próprios deputados referidos do Partido Socialista e do Partido Comunista fugiram à questão jurídica e, em vez disso, concentraram todos os seus argumentos na questão ideológica ou subjectivista para justificar a putativa bondade do projecto de lei da adopção de crianças por pares de invertidos.

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