Eu penso que os brasileiros têm todo o direito à sua própria cultura (se é que existe uma só “cultura brasileira”) e à sua própria organização ontológica/cultural; mas nós (portugueses) não temos qualquer obrigação (ou dever) de as adoptar como nossas.
A língua portuguesa tem vindo a ser paulatinamente arruinada pela influência brasileira na nossa cultura. Isto é um facto: não é apenas uma posição ideológica.
O brasileiro arrebenta quotidianamente a língua portuguesa mas não oferece uma alternativa positiva em relação àquilo que destrói. Não é uma “destruição criativa” da língua: é uma “criação destrutiva” que conduz a cultura no Brasil a um beco-sem-saída.
Quando eu abro uma página da Wikipédia em (alegadamente) “língua portuguesa”, sinto um manifesto desconforto: quem lá escreve — na esmagadora maioria, são brasileiros — começa a não ter um mínimo de respeito pela etimologia linguística, o que afasta radicalmente o “brasileiro” das línguas de origem latina.
A crítica que (em juízo universal) o brasileiro faz ao português (de Portugal) é uma crítica à origem latina da língua; consciente- ou inconscientemente, o brasileiro vê, na origem latina da língua, um mal.
Hoje, dizer que a língua que se fala e escreve no Brasil “é uma língua latina”, começa a ser um sofisma.
De facto, o português (de Portugal) está muitíssimo mais próximo do galego, do castelhano, do italiano, do francês — do que a relação que a língua brasileira tem com essas referidas línguas. Por isso é que se diz (nas redes sociais, e erradamente), que “a língua portuguesa é a língua latina mais distante do latim” — o que é absolutamente falso! — porque a que é, de facto, mais distante do latim é a língua brasileira.
Marcelo Rebelo de Sousa, que deveria ser um contrapeso na política portuguesa, é um romântico comprometido com uma interpretação delirante da realidade (talvez senil) — ao contrário do monhé, que age negativamente por convicção ressentida, e por ideologia.
Portanto, temos a cúpula da política portuguesa (por razões diferentes) comprometida com a destruição da cultura portuguesa. Esta é uma das razões, quiçá a mais importante, por que eu apoio e voto no CHEGA.