perspectivas

Domingo, 22 Maio 2016

A Santíssima Trindade e a dificuldade da Lógica

 

A Lógica macroscópica, tal como a conhecemos depois de Aristóteles, aplica-se (obviamente) na realidade macroscópica; ou então (em alternativa), teremos que basear a Lógica na unidade do Todo (existe uma Lógica mais abrangente, que não renega a de Aristóteles, mas que a inclui) — Santo Agostinho dizia que “quando começamos a contar, começamos a errar”; um dias destes, a Física ainda vai chegar à conclusão de que Santo Agostinho tinha razão.

O Domingos Faria escreve aqui acerca do “problema lógico” do dogma da Trindade na Igreja Católica. Em analogia, vou falar aqui do problema lógico das partículas elementares e das ondas subatómicas, segundo a Física mais actual. Ou seja, se existe um problema lógico no conceito de Santíssima Trindade, também existe um problema lógico na ciência actual.


1/ As partículas elementares a que hoje chamamos de “fotões” são partículas sem massa e que viajam no espaço sempre à velocidade da luz.

2/ Na medida em que toda a matéria tem massa — ou, utilizando a terminologia de Kant: na medida em que a massa é a condição da matéria —, os fotões (a luz) não são matéria. Ou seja, existe uma realidade “material”, e uma outra “não material”.

3/ Mas os fotões (luz), e as ondas de probabilidade, são simultaneamente partículas elementares subatómicas e ondas de probabilidade (sem massa). À luz da Lógica macroscópica, esta contradição é insanável, porque atenta contra os princípios lógicos do pensamento. O estudante de Física que diga que percebeu a quântica, não percebeu nada — a não ser que dispa a Lógica macroscópica e vista uma outra Lógica, mais abrangente.

4/ As partículas elementares (que têm massa) podem ser ondas (que não têm massa) ao mesmo tempo. Se o leitor ou o Domingos Faria têm dúvidas acerca do que afirmo, perguntem ao Carlos Fiolhais, por exemplo. As “ondas”, a que me referi, e segundo a física quântica, não são, porém, autênticas ondas tridimensionais, como são as ondas do som ou da água.

5/ Perante a dificuldade lógica de definir o conceito daquilo que não é matéria (a onda de probabilidade quântica), a física quântica recorre à noção de “abstracto”: segundo a física quântica, as ondas de probabilidade quânticas são “quantidades matemáticas abstractas” com todas as propriedades características das ondas,  que estão relacionadas com as probabilidades de encontrar as partículas elementares em pontos particulares do espaço e em um tempo determinados.

6/ A noção de “quantidades matemáticas abstractas” é uma forma que a ciência, escorada na Lógica, encontrou para conceber aquilo que não é lógico (que é contraditório) do ponto de vista macroscópico. Ou seja, a matemática, não só penetrou na imanência, mas também dá-nos um vislumbre da transcendência através do conceito de “infinito” onde todas as leis da Física se anulam (por exemplo, na noção de “singularidade”). Para o cidadão comum, a noção quântica de “quantidades matemáticas abstractas” pode ser considerada um dogma ou uma “invenção humana”.

7/ A noção de “Santíssima Trindade” é uma noção constante da noção de “Deus para mim”, ou seja, das propriedades que Deus possui no “encontro comigo” e às quais me revela.

Por outro lado, a interpretação (humana) do Todo não é um trabalho conceptual (elaboração de conceitos) que um ser humano tenha que levar a cabo, mas também não é um trabalho em relação ao qual tenha que desistir (como defende o Positivismo). A interpretação do Todo (da Realidade) há muito que faz parte da existência humana, antes de serem colocadas questões filosóficas e metafisicas.

Mas, sendo que a razão se baseia na construção de conceitos, se a interpretação significasse apenas algo como uma dedução conceptual de novos conceitos a partir de conceitos anteriores (modus ponens), então qualquer tentativa de interpretar o Todo seria inútil. A física quântica, através do conceito de “quantidades matemáticas abstractas” e da complementaridade  onda/partícula, (por exemplo), colocou em causa a Lógica clássica e desvendou uma Nova Lógica que abrange a Lógica aristotélica.

8/ Nas “Confissões”, Santo Agostinho utiliza símbolos — tal como a física quântica utiliza símbolos para exprimir a contradição lógica do subatómico — para exprimir a significação do conceito de Santíssima Trindade: a realidade do ser humano também deve ser encarada como uma realidade trinitária; nós somos (Deus Pai), nós amamos (o Filho ou Logos), e nós conhecemos (Espírito Santo); nós experimentamo-nos a nós próprios e ao mundo da perspectiva da primeira pessoa (eu sou), na perspectiva da segunda pessoa (eu amo um tu), e da perspectiva da terceira pessoa (eu conheço um ele, uma ela ou uma coisa).

Pode-se dizer que, para nós, a Realidade é uma espécie de tripé. O nosso mundo constrói-se a partir do eu (a consciência), do tu, e das coisas. Estas três categorias são como uns “óculos” que eu coloco para poder “ver” a Realidade; e sem esses “óculos”, não vejo nada; e a Realidade aparece-me nesta trindade: é sempre o mesmo mundo, que é único, mas eu tenho uma tríplice relação com ele.

Sábado, 23 Janeiro 2016

O Anselmo Borges e Bertrand Russell

 

Eu gostaria de ter estudado fundamente teologia. Aliás, a teologia faz parte da Física, ou vice-versa; isto significa que, à medida que a Física progride (o único progresso real que existe está na ciência; o resto é “conversa para boi dormir”), a teologia progride com ela. Por isso é que eu já aconselhei o Anselmo Borges a conversar mais vezes com o Carlos Fiolhais, porque me parece que a teologia do Anselmo Borges ainda é newtoniana.

O Anselmo Borges faz referência aqui a um conto de Bertrand Russell segundo o qual o ser humano é reduzido a uma insignificância no contexto do universo julgado (por Bertrand Russell) infinito.

Bertrand Russell é um exemplo daquelas inteligências raras mal-aproveitadas, porque o seu cepticismo era de tal forma agudo que ele suspeitava da existência da sua própria sombra. Existem outros casos, como por exemplo Laplace ou Ernst Haeckel que diziam que a célula viva surgia espontaneamente da lama depois de uma chuvada. Hoje sabemos o suficiente da complexidade da célula para nos rirmos de Haeckel.

De modo semelhante, hoje sabemos um pouco mais acerca do universo e o suficiente para nos rirmos do conto de Bertrand Russell que o Anselmo Borges levou a sério.


1/ Hoje sabemos, por inferência, que o universo é finito (teve um princípio, e por isso é finito, mesmo que não tenha um fim); o Big Bang decorre da observação empírica de dois fenómenos: o primeiro, a descoberta do movimento de expansão das galáxias por intermédio do telescópio Hubble; e o segundo, mediante a constatação empírica da existência da radiação isotrópica que sugere (por inferência) uma espécie de resíduo fóssil proveniente de uma explosão inicial. Portanto, a tese do Big Bang é bastante sólida. O universo é finito, ao contrário do que Bertrand Russell pensava quando escreveu o seu conto.

2/ O biofísico Alfred Gierer chamou à atenção para o facto de a densidade média da matéria no universo ser calculada com base em medições astrofísicas, e aquela é da ordem de uma partícula elementar longeva [protão, neutrão, electrão, etc.] por metro cúbico; considerando a dimensão do universo, resulta daí um número total de cerca de 10^80 (1 seguido de oitenta zeros) de partículas elementares no universo.

Se multiplicarmos este número pela idade do universo: 20 mil milhões de anos-luz = 10^40 (1 seguido de 40 zeros) períodos elementares [período mínimo de estabilidade de partículas elementares], obtém-se o número 10^120 (1 seguido de 120 zeros) que corresponde à constante cosmológica da natureza (que se designa pelo símbolo Λ).

Este número Λ representa o limite superior lógico para o trabalho de cálculo de um computador cuja dimensão e idade seriam iguais a todo o universo, que efectuasse cálculos ininterruptamente desde o início da sua existência, e cujos elementos constitutivos fossem partículas elementares longevas individuais.

Portanto, podemos dizer que Λ é o "máximo excogitável" do universo (Nicolau de Cusa tinha razão!), como é também o máximo da realidade da existência do universo ― nada é possível, em termos do espaço-tempo, acima de Λ.

Assim, a teoria do conhecimento finística de Gierer refere que, do número máximo de operações realizáveis no cosmo (porque o cosmo ou universo, é finito), resulta como consequência para a teoria do conhecimento o facto de o número de passos na análise de problemas também ser, por princípio, limitado — sejam eles passos mentais ou passos de processamento de informações através de um super-computador. Sobretudo é limitado, por princípio, o número das possibilidades que podem ser verificadas sucessivamente, uma a uma, para comprovar ou refutar a validade universal de uma afirmação. Gierer refere-se aqui estritamente ao Homem inserido no universo ou mundo do senso-comum, como é óbvio. Gierer estabelece o limite máximo do conhecimento possível no mundo macroscópico na constante cosmológica do universo: 10^120.

3/ Por puro acidente, dizem, (terá sido?!), descobriu-se na década de 1960 o princípio da não-localidade (que Bertrand Russell desconhecia) que, grosso modo, significa que uma partícula elementar ou mesmo um átomo pode estar aqui neste momento, e no momento cósmico seguinte pode estar a 10 mil milhões de anos-luz de distância — ou seja, a distância do universo já não se mede em termos da Física newtoniana e nem mesmo segundo os paradigmas de Einstein.


Em suma, à luz da física e da teologia actuais — ambas fazem parte da mesma disciplina —, seria impossível que, no Céu do conto de Bertrand Russell, não se soubesse que o ser humano existe.

Sábado, 20 Setembro 2014

“O Relojoeiro Cego” de Richard Dawkins

Filed under: ética,Ciência,filosofia,Quântica — O. Braga @ 2:07 am
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“É imoral permitir o nascimento de crianças com síndroma de Down.”Richard Dawkins, no Twitter

“Na minha vida particular, estou pronto a exaltar-me com pessoas que cozem as lagostas vivas” — Richard Dawkins, “O Relojoeiro Cego”, 1986


“A biologia é o estudo de coisas complicadas, que aparentam terem sido concebidas com uma finalidade. A física é o estudo de coisas simples, que não nos tentam a invocar a concepção”. — Richard Dawkins, ibidem

“A física parece ser um tema complicado, porque nos é difícil entender as ideias da física.

(…)

O comportamento dos objectos físicos, não biológicos, é tão simples que é viável utilizar uma linguagem matemática conhecida para o descrever, razão por que os livros de física estão cheios de matemática.

Os livros de física podem ser complicados, mas os livros de física, tal como os automóveis e os computadores, são produto de um objecto biológico — a inteligência humana. Os objectos e os fenómenos que um livro de física descreve são mais simples do que uma única célula do corpo do seu autor”. Richard Dawkins, ibidem


Eu já pensei em criar um blogue com o título “O Relojoeiro Cego”, para ir refutando sistematicamente o livro. Mas depois pensei que seria uma tarefa inglória, porque seria lutar contra o paradigma científico de Richard Dawkins que marca, por exemplo, o blogue Rerum Natura. Talvez seja mais eficaz o que Passos Coelho está a fazer: corta-se neste tipo de “ciência”, e pronto!

Eu acho inacreditável como um professor universitário de Oxford tenha escrito dislates deste calibre. Mas isto é só uma pequena amostra (se calha, escrevo mesmo o blogue!). Por exemplo, sem a força entrópica da gravidade — que a física estuda — não seria possível que da realidade das partículas elementares pudessem surgir os aminoácidos que, através daquilo a que Richard Dawkins chama de “acaso cumulativo”, “aparecem espontaneamente” na natureza de sequência correcta para formar uma proteína.

Ou seja, a “inteligência humana”, a se refere Richard Dawkins, só se tornou possível porque existe uma área da Realidade primordial e muito complexa que a física estuda; e a biologia vem depois.

Afirmar que a interligação entre a força quântica, por um lado, e a força entrópica da gravidade, por outro lado, — interligação essa que está na base da teoria atómica e da física molecular que, por sua vez, estão na base do “surgimento” das moléculas, ácidos nucleicos, enzimas, etc.) — são “fenómenos simples de descrever”, é absolutamente inacreditável vindo de um professor universitário da área das ciências.

O sofisma de Richard Dawkins, tal como o dos darwinistas primevos (que diziam que “a célula viva surge espontaneamente da lama”), corresponde a uma certa ideia errada de Hegel, por um lado, e de Spencer, por outro lado, segundo a qual “o progresso é uma lei da natureza” e que “a evolução se processa necessariamente do mais simples em direcção ao mais complexo”. Como não se conhece empiricamente aquilo a que se chama de “simples”, então diz-se que “não é complexo”.

Como é evidente que Richard Dawkins tem uma enorme dificuldade de abstracção, afirma ele que “os livros de física estão cheios de matemática”, como se a matemática fosse a tal coisa “simples” que — na opinião dele — não se compara com a “complexidade da biologia”.

Eu não acho que cozer uma lagosta viva seja um acto de bom gosto; mas também não acho que seja imoral deixar nascer uma criança com síndroma de Down.

O que é anormal no tipo de “ciência” e de “cientistas” que temos hoje, é que se defenda a pertinência da primeira posição e a impertinencia da segunda posição. Mas é este tipo de “ciência” que é defendido, por exemplo, no blogue Rerum Natura. É este tipo de gente que tem que ser combatido sem quartel. Bem haja Passos Coelho, neste particular.

Segunda-feira, 2 Setembro 2013

Encostados à parede, já estrebucham!

Filed under: Ut Edita — O. Braga @ 5:08 pm
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Um tal Luís Alcácer escreve aqui um relambório imenso para dizer que o princípio de complementaridade, de Niels Bohr, é falso. Diz ele, resumindo, que “os fotões são sempre partículas” – como se fotões fossem sempre corpúsculos, como se “onda” fosse a mesma coisa que “corpúsculo”, e como se “partículas elementares” fossem “coisas”…!

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Quarta-feira, 28 Agosto 2013

Não-localidade: o conceito que destrói o materialismo

Filed under: filosofia,Quântica — O. Braga @ 8:10 am
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Antes de mais, vamos ter que saber o que é “materialismo”: é uma teoria segundo a qual a matéria é a única realidade existente – sendo que matéria é tudo o que tem massa e está sujeito à acção do espaço-tempo. Para os herdeiros ideológicos de Darwin (Karl Marx, Freud, Lenine, Estaline, Richard Dawkins, Peter Singer, etc.), a matéria é a realidade fundamental a partir da qual se explica a vida espiritual.

Podemos definir “não-localidade” como a possibilidade de dois objectos – por exemplo, dois fotões, ou dois electrões – comunicarem entre si de forma instantânea (em termos de tempo universal) e independentemente da distância a que se encontrem um do outro.

A não-localidade não é ficção científica: experiências científicas realizadas desde o princípio da década de 1980 (por exemplo, por Alain Aspect) confirmaram o fenómeno. Portanto, é certo e seguro que, em determinadas condições especificas, dois objectos podem comunicar entre si, de forma simultânea – ou seja, fora do espaço-tempo – e a uma distância que pode ser, por exemplo, de várias dezenas de milhões de anos-luz. Diz-se, então, que a comunicação entre esses dois objectos é efectuada “fora do cone-de-luz”.

A maioria da literatura generalista acerca da Física não menciona a não-localidade. O assunto continua a ser tabu, apesar das verificações e confirmações. E é tabu porque a não-localidade coloca em causa o materialismo – ou seja, coloca em causa o fundamento da Idade Moderna e do Positivismo.

A não-localidade significa que a realidade não se limita ao espaço-tempo; e isto coloca em causa toda a filosofia moderna desde Kant. Por exemplo, se o nosso cérebro é composto de electrões, então o nosso cérebro está também sujeito às mesmas leis que regem a não-localidade. O materialismo está morto.

Segunda-feira, 17 Outubro 2011

O cientismo que critica o cientismo que, por sua vez, critica o cientismo

O cientismo não desarma. Face à lógica, pretende derrubá-la. O cúmulo do cientismo é aquele cientismo que critica o cientismo para se poder afirmar na opinião pública como não sendo cientismo. Este tipo de cientismo faz lembrar os novos marxistas, como por exemplo, Edgar Morin, que criticam o marxismo-leninismo dizendo que “aquilo não é marxismo”, e que o verdadeiro marxismo virá nos “amanhãs que cantam” — ao mesmo tempo que dizem que devemos desistir dos “amanhãs que cantam”. O novo cientismo é um fenómeno que se recusa a si mesmo afirmando que, afinal, é “outra coisa”: é a esquizofrenia ideológica e política em todo o seu esplendor, travestida de ciência.

Para quem acredita no mito segundo o qual a neurociência poderá substituir a filosofia, aconselho a leitura deste artigo (em inglês). Entretanto, eu vou dar aqui umas “achegas” que o artigo não incluiu.

As ciências da natureza — com excepção da física — e principalmente a biologia e a neurobiologia, quando pretendem transformar a consciência humana e, portanto, a ética e a moral, em subprodutos da química do cérebro, transformam a sua “teoria da identidade” (que é o nome desta teoria cientificista da neurociência) em um absurdo, conforme demonstrou Karl Popper que chamou a esta armadilha lógica “o pesadelo do determinismo físico”.

Se as minhas ideias são produtos da química que se processa na minha cabeça, então nem sequer vale a pena discutir qualquer teoria biológica ou neurobiológica, incluindo a própria “teoria da identidade”: estas não podem ter nenhuma pretensão à verdade, visto que as provas apresentadas por esses “cientistas” são igualmente química pura. E se eu disser que a biologia e a neurobiologia estão erradas e que os neurobiólogos são burros, então também tenho razão, dado que a minha química apenas chegou a um resultado diferente.

Por outro lado, nós não recebemos passivamente as impressões do mundo exterior, tal como se tivéssemos uma cópia do mundo na nossa cabeça (ver “teoria do balde”, de Karl Popper, de que falei em postais anteriores). Através dos nossos sentidos e da nossa percepção, o fluxo de sinais que aflui ao cérebro — aproximadamente de 100 milhões de células sensoriais mais conhecidas por neurónios — não é portador de qualquer indicação de quaisquer propriedades para além destas células, a não ser o facto de estas terem sido estimuladas em determinados pontos da superfície do corpo. Isto significa que é preciso acrescentar algo mais aos dados sensoriais na nossa cabeça, para que estes possam dar origem a uma realidade.

Ou seja: os nossos órgãos sensoriais registam “diferenças”, mas não registam “coisas” que se pudessem distinguir, como tais, de outros objectos. Isto quer dizer que a realidade é construída por nós mesmos, quando a consciência utiliza o cérebro. O cérebro é apenas e só uma ferramenta da consciência. Construímo-nos com a ajuda do cérebro, a partir de dados das nossas percepções sensoriais, tal como construímos, com a ajuda do nosso cérebro, uma história a partir dos pixeis do ecrã do nosso televisor.

Por último, e talvez o mais absurdo das ciências biológicas, é que ignoram ostensiva e irracionalmente as descobertas da física. Atrevo-me a dizer que a condição do neurocientista é a burrice e o autismo teórico. A física já demonstrou que o nosso cérebro, como qualquer outro objecto, é um conglomerado de Partículas Elementares Longevas que existem por via da força entrópica da gravidade: o cérebro humano, em si mesmo e no que respeita à sua génese (origem) física, não é diferente de um outro objecto físico qualquer. O que diferencia um cérebro humano, por exemplo, de um cérebro de uma barata, é o tipo de organização intrínseca das partículas elementares que os constituem.

Terça-feira, 4 Outubro 2011

O Tratado de Tordesilhas entre a religião e a ciência

Filed under: A vida custa,Ciência,cultura — O. Braga @ 12:11 pm
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Existe hoje uma determinada visão religiosa que mete no mesmo saco a biologia ou a sociobiologia, por um lado, e a física ou a matemática, por outro lado. Podemos constatar essa visão, aqui. Essa confusão é absurda e decorre de uma posição anti-científica primária.

Essa confusão, vinda de gente religiosa, tem como fundamento a própria confusão do cientismo em relação à noção de “prova” (evidence) — ou seja, muitas vezes, à religião interessa que os erros do cientismo sejam validados como verdade. E isto viu-se no caso recente da experiência dos neutrinos no CERN: tanto naturalistas como religiosos, por razões diferentes, tentam a todo o custo desacreditar a validação da experiência; e essa foi a razão por que eu escrevi isto.

Nem católicos nem naturalistas se lembram já das experiências feitas em Paris por Alain Aspect, em 1982, em que se constatou, sem margem para dúvidas, que dois fotões comunicam entre si a velocidades muito superiores à velocidade da luz. Portanto, a barreira da velocidade da luz no universo já foi oficialmente quebrada em 1982, e não agora com esta experiência dos neutrinos.


Tratado de Tordesilhas

Um determinado tipo de católico e o cientista naturalista fizeram um acordo: cada um deles toma conta de uma parte da realidade. O católico diz que se ocupa exclusivamente da fé, e o cientista diz que se ocupa exclusivamente das provas; ambos celebraram uma espécie de Tratado de Tordesilhas acerca da realidade. O interesse de ambos é mundano, utilitarista e materialista.

Mas a verdade é que as provas do naturalista partem de um pressuposto de fé nas ditas provas, ou seja, o naturalista tem fé (ou tem a certeza) dos seguintes pressupostos, anteriores à própria prova:

1) as leis da natureza (ou as leis da física) são imutáveis e a natureza é uniforme; 2) existe um mundo material exterior que se relaciona com a nossa percepção sensorial; 3) a forma como a nossa percepção sensorial interpreta o mundo “é aquilo que é” na realidade (WYSIWYG — What You See Is What You Get); 4) a lógica e a matemática aplicam-se ao mundo da nossa percepção sensorial.

Nenhum dos 4 pontos são factos (no sentido de “evidence”), mas apenas crenças ou fé acerca da realidade.

Portanto, a esse católico em particular, e ao cientista naturalista, interessa que a fé do cientista seja escamoteada e obnubilada, porque só assim o Tratado de Tordesilhas acerca da realidade pode ser aplicável no mundo dos homens. E é assim que se cria a ilusão de que a ciência e a religião se antagonizam, por um lado, e se cria, por outro lado, a ideia de que é legítimo, e até normal, ao religioso assumir uma posição anti-científica (e vice-versa).

A ler, acerca deste assunto:

Sábado, 6 Agosto 2011

O neopositivimo morreu: viva o niilismo científico!


«Stephen Hawking says that the universe contains as much negative energy as positive energy, and thus, it adds up to nothing, so the mass or energy didn’t need to come from somewhere else. »

Traduzindo, Stephen Hawking diz que o universo contém tanta energia negativa como energia positiva, e por isso, a soma dos factores anula-se, e assim a massa e/ou a energia não necessitam de ter vindo de algum outro lugar. Portanto, segundo Stephen Hawking, o NULO é exactamente a mesma coisa que o NADA. Por muito que nos possa parecer estranho, é este tipo de raciocínio de merceeiro que alimenta os professores das nossas universidades.

Desde logo, a ideia segundo a qual o universo contém tanta (ou a mesma quantidade) de energia negativa como de energia positiva, é pura especulação. Poderá acontecer que um dia isso venha a ser demonstrado de forma objectiva (ou não), mas até agora o que Stephen Hawking faz é especular.

Porém — e mesmo partindo do princípio segundo o qual “o universo contém tanta energia negativa como energia positiva” —, a mais extraordinária característica de uma determinada “ciência” contemporânea, é uma certa tendência para a negação das evidências. É evidente que o nulo, ou zero, é uma realidade quantificável, e portanto, objectiva. O nulo não é o Nada. Acho extraordinário como um físico eminente como é Stephen Hawking não percebe isto..!

Esta ideia de Stephen Hawking esconde ou revela o novo dogmatismo da ciência — que se segue ao decaído dogmatismo do positivismo e do neopositivimo, que claramente caíram em desgraça com as descobertas da física quântica; derrotados pela lógica, houve a necessidade de se criar um novo cientismo que se fecha, agora, em novos dogmas.

Este novo dogmatismo cientificista pretende convencer as pessoas da seguinte ideia :


(-1)+1=0
→ 0 = NADA

sendo que o NADA, segundo Stephen Hawking, é o Não-Ser, embora o Não-Ser não seja entendido por ele como uma forma de Ser.

Nem Heidegger, com o seu “Da-sein”, conseguiu a proeza de ser tão absurdo quanto Stephen Hawking; o filósofo alemão deve estar a revolver-se no seu túmulo, de tanta inveja em relação ao físico inglês.

Terça-feira, 2 Agosto 2011

O universo não cabe num laboratório

Este postal é interessante e vou interligá-lo com estoutro.

1.
Hans Albert colocou o problema desta maneira: “Não é possível garantir absolutamente a verdade de qualquer afirmação, nem sequer a verdade desta afirmação.”

O conceito de “hipótese” (ou “teoria”) só tem sentido racional e lógico se existe uma realidade que comprova a hipótese como sendo correcta ou falsa. Por isso, se nada no mundo é absolutamente certo — ou se não existe uma certeza absoluta acerca do que seja — pelo menos a Totalidade (ou o Englobante), da qual a minha vida e o meu mundo fazem parte, tem que ser real. A realidade da Totalidade garante a realidade da parte [e a Totalidade não é idêntica a uma parte de si própria], por um lado, e a realidade só pode ser deduzida da Totalidade [que não pode ser sujeito nem objecto, mas aquilo que engloba ambos], por outro lado.

Em consequência, a realidade da Totalidade é o pressuposto fundamental de uma visão realista do mundo: temos, pelo menos, uma certeza absoluta (passo a redundância enfatizante): a de que a Totalidade existe e não é só uma hipótese.
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Quarta-feira, 10 Novembro 2010

Isto é ciência ou um Abutriu ?

O Carlos Fiolhais adopta a “técnica do malandro”: cita Stephen Hawking, mas não comenta. E não comenta porque sabe que não poderia fazer a apologia do último livro de Stephen Hawking sem correr o risco de se lhe perguntar se ele tinha alguma noção do que é a Lógica.
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Sexta-feira, 27 Agosto 2010

A liberdade, hoje

Filed under: filosofia,Quântica — O. Braga @ 11:01 am
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Quando falamos, hoje, de liberdade, não podemos ater-nos a ideias do século XIX; não podemos, por exemplo, ignorar as descobertas da micro-física.
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Sexta-feira, 2 Julho 2010

Sobre o Ser e o Não-ser

« O Panteísmo imanentista é uma filosofia interessante e sedutora na medida em que defende que Deus gerou o Universo a partir da sua própria substância e, deste modo, não o criou a partir do Nada. O Universo é gerado e não criado. Assim, parece ficar resolvido e ultrapassado o problema do Nada.

É que do Nada não pode surgir alguma coisa a não ser que o Nada seja tratado como sendo alguma coisa. A criação a partir do Nada, quer seja por Deus quer seja pelo Acaso dos ateus materialistas, levanta uma contradição lógica, pois o Nada para “ser” Nada não pode ser “alguma coisa” e do verdadeiro Nada nada sai ou se produz ou se cria. O Nada é a ausência e a impossibilidade da Existência. Deste modo, é filosoficamente sedutor ver o Mundo como derivado da substância do próprio Deus, conquanto ele não seja Deus. »

Sérgio Sodré

Para resolver este problema, temos que invocar Parménides e Platão. Para o primeiro (no poema “Da Natureza”), “O Ser é, e o Não-ser não é”. Isto parece tautológico, mas não é. Se o Ser é a única coisa que pode ser pensada e dita, ele (o Ser) existe em contraposição ao Não-ser. O mesmo salienta Platão (no “Sofista”): é preciso que exista o Não-ser se quisermos conceber a existência do Ser — isto é, se quisermos pensar, falar, etc.. Para Platão, dizer o que é uma coisa, é dizer o que ela não é.
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