“A pós-modernidade há muito que abandonou o tema [da religião] mesmo da ultimidade e unidade do sentido e do fundamento. No pensamento de Sartre, o homem quer estruturalmente ser para sempre; todavia, esta sua esperança não tem fundamento, porque, com a morte, advém o nada absoluto, uma vez que, em última instância, não há Deus. Por outras palavras, o nada da morte implica o absurdo da vida.” (ver nota em rodapé)
A negação da metafísica é sempre uma forma de metafísica. Como em todas as coisas, existem formas metafisicas mais completas do que outras, ou melhores do que outras, ou mais racionais do que outras.
“A solução do enigma da vida no espaço e no tempo, encontra-se fora do espaço e do tempo” — Wittgenstein (Tractatus). O sentido do mundo “tem de encontrar-se fora dele” (ibidem). “Deus é como tudo é” (ibidem). Wittgenstein utiliza o termo “Deus” para designar o sentido do mundo.
Naturalmente que Sartre tem direito à sua opinião, como todos o burros também têm. Mas o problema é que a sua opinião, e de outros quejandos — como, por exemplo, a de Heidegger — têm sido levada demasiado a sério pelas elites da pós-modernidade, tendo em conta o seu valor racional reduzido. De facto, Sartre — como Heidegger ou Nietzsche — é um literato, e não um filósofo propriamente dito; um filósofo, hoje, tem que estar minimamente atento ao que se faz em ciência — embora não seja necessário que seja cientista ou um homem das ciências. Sartre é passado.

‘Angelus’, de Jean-François Millet
O homem moderno, em geral, vive sem a consciência de um sentido (de vida) mais profundo, quando comparado, por exemplo, com o homem medieval. Um sentido eterno está completamente fora do seu alcance, o que se traduz na seguinte frase de Sartre:
“Se não formos nada no futuro, também não somos nada no presente”. Ou que se traduz também na metáfora de Sísifo utilizada por Camus (outro literato tido como “filósofo”).
Na década de 1980, o físico francês Alain Aspect fez uma experiência com fotões e constatou que eles comunicavam entre si a uma velocidade superior à da luz. De um modo semelhante, em 1992 o físico alemão G. Nimtz enviou informação (fotões) através de um túnel e verificou uma velocidade quatro vezes superior à da luz.
Desde logo, o dogma de Einstein — o do limite superior da velocidade da luz no universo — foi quebrado por verificação e confirmação. E depois, a experiência de Aspect teve uma segunda consequência importante: a demonstração de que as leis que regem o universo são válidas apenas para aspectos físicos parciais, e por isso são anuláveis em um determinado ponto. E dado que não podemos meter o universo inteiro dentro de um laboratório científico, temos uma grande dificuldade em saber como a Totalidade organiza esses aspectos físicos parciais.
Muito antes dessas experiências supracitadas, o físico David Bohm tinha concebido a “teoria do potencial quântico”, segundo a qual os “quanta” são concebidos como uma enorme rede, dentro da qual as partículas elementares podem “saber” imediatamente (fora do espaço-tempo) e sem delongas o que as outras partículas vão fazer, ou o que estão a fazer.
Ou seja, temo-nos de concentrar no Todo, e não nas partes — e por isso é que Sartre é um burro carregado de livros.