perspectivas

Sexta-feira, 16 Junho 2023

Alfred Tarski, linguagem-objecto, a metalinguagem, e o Monhé das Cobras

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 8:14 pm
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alfred_tarski_webO leitor assíduo deste blogue poderá ter-se apercebido de que eu utilizo amiúde as “aspas” na linguagem escrita. Há uma razão para isso: a distinção entre linguagem-objecto, por um lado, e metalinguagem, por outro lado.

Por exemplo, a frase “O Monhé é manhoso” está aqui entre aspas porque, neste caso, pertence à linguagem-objecto, ou seja, pertence à linguagem que se fala comummente: “O Monhé é manhoso”, entre aspas, pode ser considerado como um nome, porque o objecto de que se fala é sempre representado por um nome.

Mas o mesmo conceitoMonhé manhoso —, sem estar entre aspas, pertence à metalinguagem, que é a linguagem que utilizamos para falarmos da linguagem-objecto: ou seja, a frase “O Monhé é manhoso” é verdadeira se, e só se o Monhé é manhoso.

A metalinguagem fica mais rica e mais comunicativa se contiver em si mesma a linguagem-objecto.

Sexta-feira, 22 Julho 2022

A Madrassa do ISCTE e o Totalitarismo da Linguagem

1/ A ideia segundo a qual “as palavras mudam o mundo”, e que por isso “são necessárias novas palavras para o mundo mudar” — para além de ser uma clara recusa do Realismo (que orienta, por exemplo, a ciência), é um absurdo (quando é defendido hoje, pelo marxismo cultural, que “o conhecimento directo dos símbolos da linguagem difere de indivíduo para indivíduo”, e que, por isso, é necessário fracturar ou desmultiplicar as categorias dos símbolos da linguagem de forma a adequá-los às múltiplas diferenças individuais).

Em 1910, Bertrand Russell (na sua obra “Principia Mathematica”) colocou a nu o absurdo do que é defendido hoje pelo marxismo cultural no domínio da linguagem e em nome da chamada “inclusão”, nomeadamente uma tal Cristina Roldão formada pela Madrassa do ISCTE.

Na medida em que diferentes pessoas têm conhecimento directo de diferentes objectos — se cada palavra não tivesse apenas um significado (que é aquele que corresponde ao objecto que existe na experiência directa da pessoa que fala), esta pessoa nunca poderia comunicar com os outros. Ora, a chamada  “Interseccionalidade”, na medida em que pulveriza os símbolos da linguagem, é a recusa deste princípio.

Paradoxalmente, segundo Bertrand Russell, a linguagem só pode exercer a sua função de comunicação sendo imperfeita e ambígua, e as categorias simbólicas da linguagem não devem ser pulverizadas em nome de uma putativa “perfeita adequação a cada individuo”.

O que a Esquerda marxista cultural defende hoje é a dificultação da comunicação entre os indivíduos, paradoxalmente em nome de putativos “direitos do indivíduo”; o solipsismo passou a ser uma característica do indivíduo culturalmente controlado pela Esquerda marxista cultural; é o absurdo daquilo que a Theodore Dalrymple chama de individualismo sem individualidade”, porque a individualidade esbate-se radicalmente perante uma espécie de “individualismo colectivo”. A validação cultural de uma híper-subjectividade simbólica, defendida por esta Esquerda, destrói a comunicação inteligível entre as pessoas — que é, aliás, a sua principal intenção.

individualismo sem individualidade web

2/ Outra preta matumba escreve aqui:

“Os limites da minha linguagem significam os limites do meu mundo”  (Wittgenstein)

Para Wittgenstein, não é pensável nem exprimível (pela linguagem) aquilo que não for um facto do mundo (falta aqui saber o que é um “facto do mundo”, do ponto de vista objectivo e lógico), o que não significa que todos os “factos do mundo” sejam igual- e necessariamente exprimíveis pela linguagem — porque não é possível definir a Realidade. Quem pretende assumir a tarefa de (paulatinamente) ir definindo a realidade, ou é louco, ou é marxista cultural (os dois termos podem não ser sinónimos).

Escreve Wittgenstein (“Philosophical Investigations”):

“O significado de uma palavra é o uso que ele tem na linguagem” (sic).

Ou seja, para Wittgenstein, se passarmos a chamar “pedra” a um “elefante”, o significado da palavra “pedra” passa a ser “elefante” [a semântica, segundo Wittgenstein, é irrelevante; e, segundo ele, “a linguagem é um jogo” (sic)].

Acerca de Wittgenstein, estamos conversados.

Para Wittgenstein, na linguagem não existem símbolos, mas apenas sinais que são arbitrariamente reconfiguráveis de acordo com os nossos caprichos e urgências narcísicas (o caso dele, o narcisismo gay).

Por isso é que a Esquerda marxista cultural cita amiúde o homossexual Wittgenstein — porque alguém (Wittgenstein) que tem pretensões de conciliar um empirismo [alegadamente “anti-metafisico” (a burrice do “filósofo” não tem limites)] nominalista radical, por um lado, e a hiper-subjectividade de uma espécie de “poeta gay”, por outro lado, é sempre um ponto de referência dos pós-modernistas. Wittgenstein é uma contradição com pernas, embora paralítico.

Se [como é, para Wittgenstein] o “pluralismo linguístico” [implícito na linguagem dita “inclusiva”] significa um “relativismo linguístico”, então não é possível uma inteligibilidade na linguagem, por um lado, e por outro lado a possibilidade de inter-relação entre as “linguagens” fica comprometida.

A Esquerda está a trabalhar afincadamente para a redução da comunicação interpessoal, o que se traduz em uma agenda política totalitária (a promoção, através da cultura, de um novo tipo de anomia).

3/ Não é possível eliminar, da linguagem, os conceitos depreciativos (os insultos) — porque, ao contrário do que defendeu Wittgenstein quando concebeu a linguagem como um “jogo”: em boa verdade,  a linguagem é um meio e não um fim em si mesma —, a não ser instituindo um totalitarismo.

É isto o que os discípulos da madrassa ISCTE defendem: um novo tipo de totalitarismo, o Totalitarismo de Veludo.

Sexta-feira, 15 Março 2013

A dificuldade de George Steiner

Filed under: filosofia — O. Braga @ 9:19 pm
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“A nossa questão inicial é mais estreita, ou, mais precisamente,supõe uma sugestão da ordem do senso comum sobre a existência de continuidades entre a intenção linguística e o enunciado. O leitor individual ou um grupo de leitores descobre que não é capaz de entender esta ou aquela passagem de um poema ou, na realidade, o poema no seu todo.”

via De Rerum Natura: Sobre a dificuldade.

Existe uma diferença entre o facto de “um leitor individual ou um grupo de leitores” não ser “capaz de entender (de todo!) esta ou aquela passagem de um poema”, por um lado, e por outro lado, o facto de “um leitor individual ou um grupo de leitores” fazer uma interpretação diversa “desta ou aquela passagem de um poema” e diferente da intenção original do poeta.
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Sexta-feira, 7 Setembro 2012

A demitificação e desmistificação de Heidegger

Heidegger foi tudo menos original.
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Segunda-feira, 3 Maio 2010

A Guerra Cultural

«Qualquer pessoa com uma mente informada e reflectiva que viva no século XX a partir do fim da primeira guerra mundial ― como é o meu caso ― acaba por se se sentir cercada, senão oprimida, por todos os lados por uma inundação da linguagem ideológica.

Essa pessoa não consegue lidar com os utilizadores da linguagem ideológica como parceiros de uma discussão, mas terá antes que fazer destes o objecto de investigação.

Não existe uma comunidade de linguagem entre os representantes das ideologias dominantes. Por isso, a comunidade da linguagem que essa pessoa pretende usar para criticar os utilizadores da linguagem ideológica deve ser, em primeiro lugar, descoberta e, se necessário, estabelecida.»

― Eric Voegelin

Na sequência deste postal sobre António Sardinha, em que lhe reconheço a razão sobre o diagnóstico da modernidade, é importante que a não-esquerda — que é, por definição genérica, o conjunto abrangente do pensamento político não contaminado pelo marxismo nas suas diversas vertentes — tenha a noção da importância da linguagem. Por exemplo, quando eu escrevo sobre o “casamento” gay, o termo “casamento” vem sempre entre aspas, o que significa que eu não aceito a definição de “casamento” proposta pelo marxismo cultural. Quando eu escrevo sobre o aborto, nunca me refiro à “interrupção voluntária da gravidez” ou “IVG” sem a colocação de aspas, o que significa que recuso a linguagem imposta pelo marxismo cultural. E por aí fora. Assim procedendo, e através do recurso à linguagem do senso-comum — a linguagem que não complica o que é simples e lógico — a não-esquerda reserva para si mesma o poder de declarar os termos do discurso, ou seja, de contribuir para a criação da comunidade da linguagem de que nos fala Eric Voegelin.

No mercado das ideias, o controlo dos termos do discurso é fundamental, e equivale ao controlo dos meios de produção no marxismo económico clássico. Se repararmos bem, os marxistas — partido comunista, bloco de esquerda, e parte do partido socialista — pretendem discutir os assuntos dos valores presentes na sociedade impondo, à partida, a utilização de categorias, termos e definições da sua autoria, ou seja, pretendem que toda a gente aceite os seus termos de discurso ou a sua linguagem. Quando alguém, que pensa de si próprio como não sendo marxista, utiliza a linguagem imposta pelo marxismo cultural, aceitou já discutir os valores da sociedade segundo as condições do discurso impostas pelo inimigo político, o que significa que já perdeu o debate.

Este é o principal problema da chamada “direita liberal” ou “neoliberal”(ou mesmo de uma outra direita dita “revolucionária”) : já perdeu a batalha política. É uma questão de tempo para seja neutralizada pelo marxismo cultural. Essa “direita”, que é produto directo do Iluminismo (ou seja, faz parte do problema), parte do princípio positivista (que por sua vez é transposto directamente do epicurismo) de que o importante são os factos e não os conceitos e valores.
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Quinta-feira, 25 Fevereiro 2010

Cuidado com a linguagem!

Dei aqui com este trecho:

Género e sexo

O termo “sexo” refere-se às diferenças biologicamente determinadas, enquanto o termo “género” refere-se às diferenças nos papéis e relações sociais entre homens e mulheres.
Os papéis do género são aprendidos através da socialização e variam amplamente no seio e entre as culturas; os papéis de género são também afectados pela idade, classe, raça, etnicidade e religião, bem como pelos ambientes geográficos, económicos e políticos. Uma vez que muitas línguas locais não possuem a palavra género, os tradutores podem ter de considerar outras alternativas para distinguir entre esses conceitos.

O termo “género” não deveria ser aplicado nestas circunstâncias, tanto do ponto de vista etimológico como lógico/filosófico.
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Domingo, 13 Setembro 2009

Para podermos criticar a linguagem ideológica, temos que criar uma comunidade de linguagem

Filed under: cultura,filosofia,Política — O. Braga @ 9:34 am
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«Qualquer pessoa com uma mente informada e reflectiva que viva no século XX a partir do fim da primeira guerra mundial ― como é o meu caso ― acaba por se sentir cercada ― senão oprimida ― por todos os lados por uma inundação da linguagem ideológica.

Essa pessoa não consegue lidar com os utilizadores da linguagem ideológica como parceiros de uma discussão, mas terá antes que fazer destes o objecto de investigação.

Não existe uma comunidade de linguagem entre os representantes das ideologias dominantes. Por isso, a comunidade da linguagem que essa pessoa pretende usar para criticar os utilizadores da linguagem ideológica deve ser, em primeiro lugar, descoberta e, se necessário, estabelecida.»

― Eric Voegelin.