perspectivas

Quarta-feira, 27 Janeiro 2016

A confusão do Rolando Almeida sobre factos e valores

Filed under: cultura — O. Braga @ 12:48 pm
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“Subjectividade e objectividade respeita às afirmações que fazemos e à sua relação com a verdade. Fazemos afirmações sobre factos e afirmações sobre valores, vulgo juízos de facto e juízos de valor. Especialmente no secundário haveria de corrigir alguns aspectos terminológicos. Isto porque se ensina na primeira unidade o que é uma proposição, mas quando se fala em valores fala-se em juízos. Nada me parece errado aqui. Mas seria preferível referir “proposições sobre factos” e “proposições sobre valores”, já que é disso que se trata e, desse modo, habituávamos os estudantes a uma uniformização lexical que me parece de todo vantajosa, pelo menos neste nível de ensino.”

Rolando Almeida


A oposição entre juízos de facto e juízos de valor é mais aparente do que real.

O uso do juízo de valor enuncia o que “deve ser”, e o que “não deve ser”. Embora não possa existir uma ciência normativa constituída por juízos de valor, mas apenas uma ciência crítica, podemos contudo tomar como base de discussão a afirmação inversa: os juízos de valor são meros juízos de facto que enunciam, embora de forma “sinuosa”, o pensamento (que é efectivamente um facto) "valorizador" daquele que fala.

O pensamento de uma pessoa acerca de um qualquer fenómeno, é um facto, que pode ser verdadeiro ou falso.

Essa verdade ou falsidade do juízo de valor pode ser verificada através de uma ciência crítica que, tal como na ciência normativa dos juízos de facto, depende dos pressupostos (postulados, axiomas) de que parte. Por exemplo, se eu disser que “o João mede 1,76 metros de altura”, essa verdade (a ser verdade) é intersubjectiva (ou seja, objectiva), mas parte do postulado de uma bitola de medição física macroscópica que tem como pressuposto (axioma) a velocidade de rotação e de translação da Terra, por exemplo. Outro exemplo: se colocarmos dois relógios acertados um com o outro — um deles na estratosfera, e outro dentro da crusta terrestre, ao fim de algum tempo os dois relógios deixam de estar acertados um com o outro.

Ou seja, a verdade de um juízo de facto depende da verdade de outro juízo de facto que lhe está subjacente e, assim ad infinitum.

Tal como acontece com os juízos de facto, os juízos de valor dependem de postulados e/ou axiomas.

Ou seja, à luz da ciência mais actual, o juízo de valor é tão relativo quanto é o juízo de facto. Não é possível, em bom rigor, afirmar que o juízo de valor é mais passível de ser verdadeiro ou falso do que um juízo de valor.

Se considerarmos que o juízo de valor é relativo, teremos também a aceitar que o juízo de facto também é relativo — o que seria a negação da ciência enquanto tal.

A ideia segundo a qual “a verdade das proposições sobre valores depende directamente das crenças” é tão válida quanto a ideia segundo a qual “as proposições sobre factos depende directamente das crenças” — porque a ciência (empírica ou teórica) também é baseada em crenças, embora crenças de grau superior.

O que interessa, tanto no juízo de facto quanto no juízo de valor, é a fundamentação racional do juízo que justifica a crença, e não apenas a crença entendida em si mesma.

Quarta-feira, 4 Fevereiro 2015

O valor da Mulher Doméstica Que Pensa

Filed under: cultura — O. Braga @ 12:44 pm
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Laura Wood album vintageLaura Wood escreve em um blogue: The Thinking Housewife (“a mulher doméstica que pensa”). Ela sabe que aquilo que escreve tem valor, embora lhe dê trabalho e lhe custe dinheiro sustentar o blogue. Ela poderia simplesmente reduzir custos da sua família e fechar o blogue, e dedicar o seu tempo livre a fazer outras coisas.

Por isso,  Laura Wood lançou uma campanha de donativos dos leitores no valor de dez mil dólares. Nem mais nem menos. Neste momento faltam 274 dólares para se chegar aos 10.000, que é o valor que Laura Wood estimou que o seu trabalho e custos no blogue valem neste momento.

Não se trata de mercantilismo: trata-se de reconhecimento do valor.

Reconhecer o valor não significa que esse valor possa ser comprado e vendido discricionariamente no mercado. Reconhecer o valor  implica demonstrá-lo com actos práticos, e não apenas com meras intenções ou encómios verbalizados. Reconhecer o valor é, em si mesmo, um valor.

Naturalmente que os donativos ajudam a pagar as despesas de manutenção do sítio, mas os donativos são apenas  uma consequência do reconhecimento do valor. Os donativos são um meio, e não um fim em si mesmos. O que importa é o valor, e os donativos acabam por ser apenas uma das formas de reconhecimento do valor.

O que Laura Wood fez só pode acontecer nos Estados Unidos, e em mais nenhum país do mundo ocidental. Paradoxalmente, nos Estados Unidos ainda existe o sentido de “comunidade”.

Terça-feira, 11 Novembro 2014

Como funciona o relativismo

Filed under: ética — O. Braga @ 3:23 am
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Sexta-feira, 18 Abril 2014

O movimento político gay, a Esquerda e o Positivismo

 

Os neo-empiristas (ou neo-positivistas, vai dar no mesmo), como por exemplo, Carnap, Schlick, Russell, Wittgenstein, etc., diziam que os valores da Ética são subjectivos (pertencem exclusivamente ao âmbito da emoção) e que, por isso, dizem eles que “os valores da ética não são racionais”.

Ora, a verdade é que tudo o que pode ser racionalmente fundamentado, pertence à esfera do racional; e os valores da Ética podem e devem ser racionalmente fundamentados. E, por outro lado, um mesmo valor ético pode ser, simultaneamente, racionalmente fundamentado e objecto de vivência emocional — a razão e a emoção estão, muitas vezes, ligadas entre si.


Quando nós analisamos os argumentos do lóbi político homossexualista em relação à adopção de crianças por pares de invertidos, verificamos, escarrada neles, a assimilação da concepção ética positivista.

Por exemplo, a Isabel Moreira “joga sempre com dois carrinhos” (a dialéctica gayzista/positivista): por um lado, recorre sistematicamente ao apelo à emoção através dos me®dia — na medida em que os valores da ética são considerados, por ela e pelo movimento gayzista, como pertencendo exclusivamente à esfera do emocional —, e, por outro lado, recorre à tentativa de instrumentalização do Direito Positivo isento de qualquer influência do Direito Natural.

Não existe, na concepção gayzista dos valores da ética, uma ideia que não seja subjectivista e emocional.

Para o homossexualismo, os valores da ética não podem ser fundamentados racionalmente, porque são (alegadamente) exclusivamente subjectivos e emocionais; e — tal como pensavam os neo-empiristas — sendo que os valores da ética não são objectivos e não são passíveis de fundamentação racional, então cabe apenas e só ao Direito Positivo formatar arbitrariamente a ética utilizando a força bruta do Estado.

Esta concepção da Ética é assustadora!

Sexta-feira, 27 Setembro 2013

O Valor (5)

Filed under: ética — O. Braga @ 6:52 am
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«A mudança dos valores — é a mudança daquele que cria. Aquele que cria destrói sempre.

Os criadores foram primeiro os povos, e só mais tarde os indivíduos; em verdade, o indivíduo é ainda ele mesmo a mais jovem das criações.

Os povos suspenderam sobre si uma tábua do bem e do mal. Mas houve noutros tempos, um outro Mal e um outro Bem.

Pois todas as coisas são baptizadas nas fontes da eternidade e para além do bem e do mal; mas o bem e o mal mesmos não são senão sombras passageiras, húmidas tristezas e nuvens fugidias. Existe uma velha quimera que se chama “bem e mal”.

(…)

Conquistar o direito a criar novos valores é a mais terrível empresa para um espírito paciente e respeitoso. Em verdade, ele vê nisto uma rapina e coisa própria de uma animal rapace.

Outrora, ele amava o “Tu deves” como o seu bem mais sagrado e é neste mesmo bem que deve agora descobrir loucura e arbitrariedade, além de conquistar a sua liberdade à custa do seu amor: para semelhante rapina ele tem necessidade do leão.

(…)

Sacudi esta sonolência ensinando: O que é o bem e o que é o mal? — ninguém o sabe ainda, — a não ser aquele que cria.

É aquele que cria um fim para os homens e dá a terra o seu sentido e o seu futuro: só esse faz que uma coisa seja bem e outra mal.»

— Nietzsche, “Assim falava Zaratustra”

Aquilo que está escrito a vermelho é manifesta e logicamente falso; e aquilo que não está, é pura retórica de um literato: é pura opinião (doxa). A ideia segundo a qual os indivíduos só surgiram com a modernidade é absolutamente falsa: o que surgiu, de forma marcada, com o modernismo foi o “individualismo” que é coisa diferente de “indivíduo”.

É falsa também a ideia de que o homem tem de “conquistar o direito a criar novos valores” — porque o homem tem já o direito de descobrir novos valores, caso estes existam. É provável que hajam valores que o homem ainda desconhece; mas o homem terá que os descobrir, e não criá-los, porque os novos valores a descobrir, a existirem, existem desde sempre.

É um absurdo que se diga que “o cientista cria as leis da natureza”: o cientista apenas descobre as leis da natureza. De modo semelhante, o homem descobre os valores — e não os cria, como Nietzsche defende.

A ética de Nietzsche é absurda, e só comparável à de Peter Singer. É uma ética psicótica e que induz a psicose em quem a segue. É uma ética cujos fundamentos são indubitavelmente falsos.

Quinta-feira, 19 Setembro 2013

O valor (1)

Filed under: A vida custa,cultura,filosofia,Ut Edita — O. Braga @ 10:01 am
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Temos vindo aqui a falar de cultura, de ética e de valores. O que é o “valor”? No seu livro “Tratado dos Valores” (com cerca de 850 páginas, dependendo da edição), Louis Lavelle define o valor como “espírito em acto” (página 744). (more…)

Quarta-feira, 16 Maio 2012

O multiculturalismo e o relativismo moral de Estado

Se perguntarmos a um esquerdista se a excisão feminina é legítima, provavelmente dirá que não é [e muito bem!] — talvez não por causa do acto de excisão em si mesmo, mas antes porque a mulher é considerada pela esquerda como uma “vítima da história”, e porque as questões do sexo são centrais para a esquerda como arma de arremesso contra a ética cristã [alguém disse que, “na época vitoriana, o sexo não existia; e que hoje, não existe mais nada senão o sexo”].
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Quarta-feira, 26 Outubro 2011

O que é o Valor? (1)

Filed under: ética,cultura,filosofia,politicamente correcto — O. Braga @ 7:34 am
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“O valor é o espírito em acto” — Louis Lavelle (“Tratado dos Valores”)

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Segunda-feira, 29 Agosto 2011

A herança ética de Espinoza

“Nós não desejamos uma coisa pelo facto de a julgarmos boa, mas julgamo-la boa porque a desejamos.”
— Espinoza [Ética]

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Segunda-feira, 20 Dezembro 2010

O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem condenou a escumalha política portuguesa

Nos últimos 35 anos, aconteceu a Portugal uma daquelas raras situações históricas em que tudo parece determinar um caminho de dissolução. E esta situação aconteceu com a infeliz coincidência de um povo ignorante e de uma elite política ávida de um poder absoluto em nome de uma democracia formal.
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Segunda-feira, 4 Outubro 2010

A construção socialista de um totalitarismo futuro

Uma vez que a esquerda radical marxista, através de José Sócrates, se apoderou do processo legislativo, é nossa obrigação julgá-los literalmente na praça pública.

José Sócrates vai ficar para a História de Portugal pelo seu feroz ataque à família natural e, portanto, pelo mais soez ataque à cultura de liberdade de que há memória no nosso país. José Sócrates conseguiu a proeza de ir mais além do que o radicalismo da I república, e de condicionar a liberdade futura como Salazar nunca tinha pensado algum dia fazer.

José Sócrates é e foi o governante mais pernicioso que Portugal teve desde que o nosso país se tornou independente em 5 de Outubro de 1143.
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Sábado, 7 Agosto 2010

Estamos a caminho de um novo totalitarismo

É uma evidência que não pode existir uma cultura sem tabus. O que distingue as sociedades através dos tempos é o tipo de tabus vigentes, e é essa tipologia do tabu que determina a existência de uma civilização. Nem todas as culturas culminam em civilização exactamente pelo tipo de tabus culturais que possuem ou possuíram.
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