perspectivas

Sexta-feira, 21 Julho 2023

Torna-se difícil escrever

Ainda há poucos anos, aparecia, de vez em quando, um anormal; hoje, a anormalidade é a regra.

Ora, nas actuais circunstâncias, em que quase tudo é anormal, é praticamente impossível escrever acerca da anormalidade.

diogo-faro-web

agir-webTodas as épocas exibem os mesmos vícios; mas nem todas mostram as mesmas virtudes: em todos os tempos há tugúrios, mas os palácios estão reservados apenas para algumas épocas.

Vivemos em um tempo de tugúrios morais, onde até os palácios se transformaram em fojos.

Torna-se difícil distinguir o humano, da besta. As próprias instituições tornaram-se paulatinamente irracionais — a começar pela Igreja Católica, por exemplo, quando ouvimos um recém cardeal português afirmar que “a Igreja não pretende converter os jovens”… ou quando ouvimos um primeiro-ministro dizer que “os portugueses nunca viveram tão bem como hoje”, negando assim a realidade imposta pelos factos… hoje, os factos são um instrumento de poética pessoana aplicada à política; para a classe política, em geral, não há factos: apenas há interpretações de factos — e “como vivemos em democracia, cada um interpreta os factos como quiser!”


«Narrar é enganar-se, porque narrar repousa sobre factos; e não há factos, mas apenas impressões. Certos argumentos são bem feitos; é isso que é verdade.

Não há factos, só interpretações de factos. Quem narra factos, só pode ter a certeza de que corre o risco de errar nos casos, no que narrou, e na maneira de o narrar. Quem só interpreta, dispensa um dos riscos. Certos argumentos são bem feitos, porque os factos são apenas os argumentos.»

Fernando Pessoa (“O Sentido do Sidonismo”)


o cardeal de merda webEsta ambiência, de confusão acerca dos factos, foi propositadamente criada pelas elites contemporâneas, porque sabem que o homem vulgar admira mais o que é confuso do que aquilo que é complexo. Estamos em presença de puro trabalho do Demo.

 aquecimento global assintomatico web

Essa é uma das razões por que a classe política vem eliminando a matemática do currículo escolar. O cidadão anódino mistura “confusão” e “complexidade”: as ideias confusas (propaladas pelas elites, como por exemplo o conceito de “CO2 como gás perigoso”) e as águas turvas parecem, ao vulgo humano, ser profundas.

Ora, neste ambiente [cultural, político] irracionalizado torna-se difícil exercer o nosso sentido crítico — porque teríamos que criticar quase tudo e, neste contexto, a crítica deixa de fazer sentido.

A quem pergunte, angustiado: ¿o que te calha escrever hoje? — respondamos, com probidade, que hoje só nos cabe (a nós, todos) uma lucidez impotente. O pensamento que reage à irracionalidade institucionalizada é impotente, embora lúcido: para quem parece ser incapaz de renunciar à análise do absurdo, aquele que renuncia parece-lhe impotente.

Terça-feira, 26 Julho 2022

Estes são os “influencers” da nossa cultura: vai ser necessário restabelecer a censura nos me®dia

Filed under: A vida custa,cultura,Esta gente vota — O. Braga @ 12:53 pm

 

Em outros tempos, tínhamos a Lili Caneças, e pouco mais. Hoje, são mais do que muitas: a nossa “cultura” está infestada com esta merda. Pelo menos, a Lili Caneças tinha uma certa classe que esta gentinha agora não tem.

joana albuquerque

Quinta-feira, 7 Julho 2022

A Europa que é apenas das elites: na União Europeia, matar crianças passou a ser um “direito humano”

O parlamento europeu adoptou ontem uma “Resolução” que define a matança de seres humanos nascituros e inocentes como um “direito humano”. Matar gente, agora, é “direito humano”.

Estamos já próximos do nazismo.

O próximo “direito humano” europeu, defendido pela Esquerda acolitada pelos liberais, será o infanticídio: chegará o dia em que matar uma criança já nascida fará parte do trivial dia-a-dia, nesta Europa das elites.

Terça-feira, 24 Maio 2022

Theodore Dalrymple e o conceito de "Maoísmo Emocional"

Um recente ensaio de Theodore Dalrymple fala-nos da “cultura da emoção” — a que ele chama de "Maoísmo Emocional":

“The modern taste for emotional exposure partakes of two seemingly disparate currents: First, the kind of psychotherapy according to which all contents of the mind must be outwardly expressed for fear of turning inwards and causing a mental abscess of unexpressed thoughts and emotions that eventually bursts. Second, it reflects a kind of emotional Maoism, according to which people have the social duty to confess their emotions to the multitudes”.

non binary human webPorém, não é possível falar em "Maoísmo Emocional" sem procurar (sumariamente) as suas causas culturais (em uma espécie de “epistemologia da cultura ocidental”) com raízes na Alta Idade Média católica, nomeadamente em Pedro Abelardo (que, para o efeito, “retorceu” algumas teses de Santo Agostinho) e na sua “ética da intencionalidade”: segundo Abelardo, apenas a intenção moral é susceptível de qualificação, qualquer que seja o acto exterior.

Hiperbolizando: por exemplo, eu mato o meu vizinho e depois digo que o acto hediondo foi justificado por uma boa intenção que consistia em salvá-lo das garras da tirania da sua (dele) esposa. Ou o assassino pós-moderno que diz ao juiz: “Eu não tenho culpa, senhor dr. juiz, porque não tive intenção: a culpa é dos meus genes!”.

O “acto exterior” — segundo Pedro Abelardo —, sendo sempre moralmente indiferente, é bom ou mau apenas em função da intenção alegada pelo agente que o pratica [pro intentionis agentis]; e, por isso, nenhuma acção humana — nem mesmo a crucificação de Jesus Cristo — pode ser classificada (a priori) como “má”, “não sendo importante o que se faz, mas o espírito no qual se faz” [Dialogus].

Por outro lado, Pedro Abelardo invoca o mesmo argumento de São Bernardo de Claraval segundo o qual pode acontecer que façamos o que Deus quer sem que a nossa intenção seja a de cumprir a vontade divina [a chamada casuística”, que foi adoptada nomeadamente pelos jesuítas na Contra-Reforma, justifica um crime pelo motivo (intenção) segundo o qual se cometeu, por um lado, e por outro lado atribuiu à Providência Divina o propósito (ou a vontade) de uma determinada má acção humana (São Bernardo de Claraval)].

Quando (alegadamente, segundo São Bernardo de Claraval, Pedro Abelardo e os jesuítas, ou seja, os iluminados que conhecem antecipadamente as intenções de Deus) Deus ordena as nossas acções (mesmo contra a nossa vontade), pode acontecer que não agimos bem ainda que se realizem coisas boas segundo a vontade divina.

Este conceito (a casuística) dá muito jeito a psicopatas como o papa Chico. Aliás, praticamente toda a ética do papa Chico é baseada na casuística e no intencionalismo (doutrina da indiferença dos actos externos) de Pedro Abelardo.

De acordo com a “doutrina da indiferença dos actos externos” (de Pedro Abelardo), por mais que o ser humano faça o que Deus quer que ele faça, somente a boa intenção (que é subjectiva, por definição) torna a acção “boa” [está aqui a génese teorética, que se baseia em passagens bíblicas retiradas de contexto, do conceito de sola fide dos protestantes].

Para Pedro Abelardo e segundo a sua doutrina da indiferença dos actos externos (intencionalismo), a necessidade do desejo natural exclui a noção de “pecado”: por exemplo, (hiperbolizando) se um homem sente necessidade e um desejo natural de ter relações sexuais com um cavalo, o prazer natural que ele sentir é inocente desde que ele racionalmente não consinta [Ethica] — temos aqui a justificação do papa Chico para as relações sexuais homossexuais, invocando uma suposta  “necessidade natural”.

O intencionalismo (de Pedro Abelardo, mas não só) tem como base um cepticismo em relação ao conhecimento objectivo da ordem moral, o que, em compensação, dá lugar a uma (pretensa) autenticidade e uma (suposta) sinceridade do acto da vontade humana (subjectivismo).

O intencionalismo subjectivista esteve na base do Romantismo que surgiu na Idade Clássica e se prolongou pela Idade Moderna, e que atingiu a sua expressão mais absurda com o pós-modernismo.

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Finalmente: outra origem cultural do "Maoísmo Emocional" pós-moderno é o da tradição da confissão pública católica durante a Alta Idade Média: no fim da missa católica medieval, os fiéis católicos confessavam publicamente (alta voz e em bom som) os seus pecados aos outros membros da sua comunidade; ou seja, a confissão dos pecados era pública. Só a partir do século XVI e com a Contra-Reforma, a confissão católica passou a ser privada e secreta, com a utilização dos confessionários individuais.

Porém, a tradição católica da “confissão pública” foi retomada pelo Romantismo dos séculos XVIII e XIX (embora já despojada das vestes culturais da religião cristã) com o conceito político de “auto-crítica” pública que foi bastamente aplicada (nomeadamente) pelos regimes marxistas da modernidade.

Sexta-feira, 24 Dezembro 2021

A decadência da cultura dos me®dia: a degenerescência da estética (e a corrupção da ética)

Filed under: contra-cultura,cultura,cultura antropológica — O. Braga @ 11:03 am

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Sexta-feira, 13 Agosto 2021

O prometeanismo de Emmanuel Macron, o totalitarismo suave em França, e o abaixamento do QI da população

A França do Macron transformou-se em uma sociedade em que a elite política (a que está ligada a Macron) é presentista; tem o maior desprezo pelo passado (histórico), e revela (ironia do destino!) um sincretismo ideológico entre o globalismo neoliberal, por um lado, e o marxismo cultural, por outro lado (sinificação).

numeros-romanos-webTrata-se de um presentismo que vê no passado (na História) uma ameaça ao prometeanismo pós-religioso da sociedade que se pretende construir, controlada pelo globalismo neoliberal, em aliança tácita com uma certa minoria elitista, caceteira, autóctone e marxista.

Tanto os marxistas culturais como os globalistas (não confundir “globalismo” e “globalização”), acreditam que o mundo é feito pelo ser humano, e que nada lhe é dado, à partida. Esta ideia tem raízes em Francis Bacon.

Para o ser humano prometaico, o passado (histórico) não passa de uma colecção de crimes e de loucuras, e o mundo é a matéria-prima da conquista humana (futura) da perfeição — não existem limites para o destino/futuro do Homem, nem limites para a maleabilidade da Natureza Humana; e não existe uma dimensão trágica da vida humana.

Segundo a mente prometaica (que, basicamente, é, por assim dizer, uma versão alargada da mente revolucionária), o ser humano pode fazer, de si próprio, o que quiser e é, por isso, passível de se tornar perfeito; ou seja: partindo do pressuposto de que “o Homem é aperfeiçoável”, o prometaico conclui (ou infere) que “o Homem tem que se tornar perfeito” (trata-se de uma obrigação ontológica e moral que decorre de uma condição prévia).

Esta perfeição prometaica não é espiritual: é uma perfeição Hic et Nunc (aqui e agora), inerente ao mundo material (presentismo).

A libertação — para o prometaico Macron, por exemplo — é a conquista da felicidade imutável, permanente e total; em que os escolhos (culturais) provenientes do passado, e os inconvenientes existenciais (como, por exemplo, a morte, ou os conflitos inerentes à Natureza Humana) são banidos.

É o LIMITE, entendido no Absoluto Simples, que o prometaico rejeita — e não um qualquer pequeno “limite”, subordinado, e em particular.

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Domingo, 6 Setembro 2020

É preciso retirar o Bloco de Esquerda do círculo do Poder, nem que seja à custa de violência extrema

“A criança é o corolário significativo do pai e da mãe, e o facto de se tratar de uma criança humana traduz o significado ancestral dos laços humanos que ligam o pai e a mãe. Quanto mais humana, e por isso menos bestial, for a criança, mais esses laços ancestrais são duradouros e adequados à ordem da natureza.

Por isso, não é um progresso na cultura e na ciência a tendência para enfraquecer esse vínculo primordial, mas antes o progresso deve ir logicamente no sentido de fortalecê-lo… Este triângulo de truísmos constituído pelo pai, pela mãe e pela criança, não pode ser destruído; só podem ser destruídas aquelas civilizações que não o respeitam.

→ G. K. Chesterton


Não há argumentação racional que possa ser utilizada contra a “irracionalidade” do Bloco de Esquerda, que controla o governo de António Costa — como é óbvio: o problema do “irracional” é o de que não é racional. Por exemplo, a argumentação racional de Tiago Abreu contra a eliminação, por parte do Estado bloquista, do estatuto cultural de “pai” e de “mãe”:

« Em vez de “pai”, o Estado Português decidiu por bem chamar-me “Primeiro Progenitor”. À mãe, já devem ter adivinhado, chamaram-lhe “Segundo Progenitor”. Mas ¿como pode uma criança nascer de dois progenitores em que um deles não seja o pai e outro a mãe? Se a ideia era a não discriminação de filhos adoptados, ou não gerados pelos pais, ¿não seria então muito mais sensato dar-se o nome de “pai” e “mãe”, seguindo o adágio popular de “pai é quem cria”?

Porque “progenitor” é precisamente aquele que gera, que procria e nos casos em que tal assim não foi, a neutralidade do nome “pais” seria muito mais adequada (e historicamente mais correcta).

Além disso, ¿a quem cabe por direito o lugar de “Primeiro Progenitor”? ¿Como se define a ordem hierárquica? Com “mãe” e “pai”, problemas desta natureza jamais se poriam. Não sei se a vontade dos pais entra na equação – suspeito que não –, mas se me perguntassem, eu gostava mesmo de ser pai. Primeiro ou Segundo (ou que número seja) Progenitor é muito deprimente.»

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O Tiago Abreu demonstrou, no trecho, a irracionalidade e a auto-contradição da eliminação, por parte do Estado, do estatutos naturais de “pai” e de “mãe”.

Porém, a brutalidade do marxismo cultural (que o patético José Pacheco Pereira diz que “não existe”), protagonizada pelo Bloco de Esquerda, não ficará certamente por aqui: há que destruir qualquer tipo de ligação entre o ser humano e a Natureza — porque a coerência ontológica entre o Homem e a Natureza é, em primeiro lugar, uma salvaguarda contra a discricionariedade tirânica e absoluta dos novos gnósticos (os novos puritanos); e, por outro lado, a ligação entre o Homem e a Natureza é um Ersatz (um substitutivo simbólico) da ligação entre o ser humano e Deus — o que, para os novos gnósticos, é uma nova heresia.

Como escreveu a Isabel Moreira (um submarino do Bloco de Esquerda no interior do Partido Socialista) : “Antinatural, felizmente !”. O mesmo soe dizer-se: “Anti-Deus, felizmente!”. Os novos gnósticos / puritanos negam a existência de qualquer entidade superior a eles, seja essa entidade a Natureza ou Deus — porque os novos gnósticos / puritanos assumem-se a si próprios como uma espécie de deuses (os modernos Pneumáticos) que vêem na própria Natureza um desafio ao seu Poder absoluto.

Talvez não fosse má ideia a reedição do livro “A Tentação Totalitária”, de Jean-François Revel. Chegamos a um ponto em que as “elites” confundem propositadamente “libertarismo” (à moda de Stuart Mill), por um lado, com “totalitarismo” (à moda de Lenine).


“O bolchevismo e o grande capital são parecidos; ambos são sustentados pela ideia segundo a qual tudo se torna mais fácil e simples depois que se elimina a liberdade; e o inimigo irreconciliável de ambos é aquilo a que se convencionou chamar de ‘pequenas e médias empresas’ [no original: ‘Small Business’]”.

→ G. K. Chesterton

O argumento, estúpido (digno de um José Pacheco Pereira, entre outras abéculas da nossa praça providas de um alvará de inteligência), segundo o qual “o que se está a passar não tem nada a ver com marxismo cultural, mas antes é o desenvolvimento actualizado do pensamento (ideológico) libertário de Stuart Mill”, é fácil de desmontar:

quando, por exemplo, jovens estudantes universitários actuais confessam (à boca pequena) que têm medo de opinar — não porque temam pelas suas vidas, mas porque temem pelas suas carreiras profissionais —, estamos muito longe do libertarismo de Mill: esta realidade da espiral do silêncio atemorizadora, imposta pelos agentes políticos do marxismo cultural, está muito longe do pensamento libertário de Stuart Mill.

A “irracionalidade” bloquista, referida acima e denunciada pelo Tiago Abreu, é uma marca do novo totalitarismo sancionado pelos novos gnósticos (ou os “novos filhos-de-puta”): somos todos obrigados, mediante a força bruta do Estado, a subscrever uma doutrina e uma realidade política que sabemos, à partida, serem absurdas: ao aceitar (implicitamente) a mentira imposta pela ideologia, a probidade do cidadão é automaticamente destruída.

A eliminação do estatuto cultural de “mãe” e de “pai”, por parte do Bloco de Esquerda, tem menos a ver com os interesses da minoria guei, do que com a intenção de destruir a honestidade intrínseca do cidadão comum: um cidadão desonesto, desprovido de princípios morais, é mais fácil de controlar por um Estado manobrado pelos novos filhos-de-puta.

Quarta-feira, 19 Agosto 2020

O patético Rui Rio deveria meter a viola no saco

Rui Rio é um político que defende abertamente a liberalização da eutanásia; e vem agora a terreiro criticar quem defende a restrição do aborto.

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Os liberais, por um lado, e a Esquerda marxista cultural, por outro lado (les bons esprits se rencontrent… ), adoptam — em matéria de ética, moral e costumes — sistematicamente a estratégia política de “negação do universal” ou a afirmação de um nominalismo radical, em uma primeira fase da guerra cultural; porém, em uma segunda fase da guerra aberta contra a cultura cristã, os liberais e os marxistas passam a generalizar aquilo que era anteriormente — alegadamente — um caso particular “não generalizável”.

Primeiro isolam (tratam um caso como sendo “uma excepção”); e depois generalizam.

Por exemplo: o caso do aborto, naquela criança brasileira de 10 anos, será sempre um ponto de partida da estratégia política para a legalização geral do aborto no Brasil : os liberais e os marxistas partem de um caso particular (por mais defensável que seja aquele aborto, em termos éticos), para depois generalizar esse caso e sujeitar a prática do aborto a um critério universal de puro gosto pessoal.

Os liberais e os marxistas misturam (em pura e flagrante contradição), na sua estratégia política e em proporções infinitamente variáveis, uma axiomática do interesse pessoal, por um lado, e uma axiomática sacrificialista colectiva, por outro lado: a primeira, isola o indivíduo do contexto geral (nominalismo radical), e a segunda é, alegadamente, uma apologia do altruísmo no sentido da universalização de uma determinada acção (neste caso, o aborto).

Por isso (e só por isso) é que eu compreendo a atitude dos conservadores brasileiros. A guerra cultural, levada a cabo pela aliança entre liberais e marxistas, é eminentemente irracional; e perante a irracionalidade, é inútil utilizarmos a Razão.

Sexta-feira, 22 Maio 2020

O Homem-Massa no século XXI

Um livro que deveria ser obrigatório ler no liceu (vamos pugnar pelo retorno dos liceus, que o politicamente correcto e o nacional-porreirismo abrilista aniquilaram) — seja na disciplina de Filosofia ou na de Língua Portuguesa — é a “Rebelião das Massas” (1929) do filósofo Ortega y Gasset.

homem-massa-webO meu filho mais novo é doutorado em Bioquímica por uma prestigiada universidade do mundo anglo-saxónico. Eu digo-lhe, insistentemente: “tens que complementar a especialização, por um lado, com a aprendizagem (nos tempos livres) das artes tradicionais e/ou das disciplinas das Humanidades, por outro lado.”

Umas das críticas feitas por Ortega y Gasset (partilhada também por Patrick J. Deneen no seu livro “Why Liberalism Failed“) é a crítica do monopólio da especialização — repito e sublinho: monopólio; porque “especialistas” sempre os houve — a que Gasset chamou de “Barbárie da Especialização” inerente a uma “Era da Auto-satisfação”.

A “Era da Auto-satisfação” e da “Barbárie da Especialização” (sic) é o tempo moderno das economias de abundância, que gerou gentinha da estirpe da Maria João Marques, a que se refere aqui o José da Porta da Loja. Esse tipo de gentinha é o que Ortega y Gasset chamou de “Homem-Massa”.

A Maria João Marques é o avesso do radicalismo esquerdopata; mas faz parte da mesma teia e trama cultural que gerou o Homem-Massa que “nunca tem dúvidas e raramente se engana” (ao Cavaco Silva, faltou-lhe o liceu) — a minha primeira crítica (civilizada) às ideias da Maria João Marques teve como consequência imediata o bloqueio no Twitter; aquela triste criatura não admite quaisquer críticas.


O Homem-Massa possui a psicologia de uma criança mimada e exibe um sentimento superioridade em relação a quem ouse contrariá-lo: tem um ego do tamanho do universo — mas o seu ego mantém-se a um nível infantil de desenvolvimento —, ao mesmo tempo que despreza os aspectos hierárquicos da sociedade, da Natureza e da cultura; e todas as instituições da sociedade são concebidas (pelo Homem-Massa) à sua precária medida (o Homem-Massa é um sofista moderno, uma espécie de Protágoras de Abdera, mas com inteligência inferior): segundo o Homem-Massa, as instituições deixaram de ter valor em si mesmas, porque são todas (igualmente) equivalentes, e porque “o homem é a medida de todas as coisas”.

O Homem-Massa está isento de restrições — esta ausência de restrições advém (não só, mas também) do preceito cultural segundo o qual “Letras são Tretas” que é assimilado nas Multiversidades (as Universidades já não existem). As “Letras são Tretas” geraram um vazio epistemológico no Homem-Massa (uma ausência de uma perspectiva histórica do conhecimento), uma ignorância acerca do passado histórico, e mais: até mesmo um desprezo por esse passado histórico aliado a uma egologia eternamente presentista.

culto-do-corpo-webO actual narcisismo exacerbado – e pior!: o culto do narcisismo!: quem não é notoriamente narcisista é desprezado pela cultura do Homem-Massa — é característico da “Era da Auto-satisfação” que alimenta a ideia endógena segundo a qual “a vida é coisa fácil e sem grandes limitações” que leva o Homem-Massa a fechar-se em relação a qualquer juízo crítico sério; e uma tendência culturalmente ingénita de impôr as suas ideias triviais e sem qualquer respeito pelas ideias dos outros. Esta vulgaridade é característica do “barbarismo espiritual” (sic) da “Barbárie da Especialização”.

O Homem-Massa acredita que a Matéria é a única realidade, por um lado, e por outro lado é adepto exclusivo do “culto do corpo”; prefere viver sob um regime que não privilegie a discussão livre — e vem daqui o fechamento em relação a qualquer juízo crítico (o Homem-Massa prefere a supressão do debate de ideias, em nome da supremacia de uma putativa “especialização”).

O Homem-Massa caminha a passos largos para a sua morte espiritual, ao mesmo tempo que frequenta freneticamente ginásios e clínicas médicas para tentar adiar a sua morte biológica.

O Homem-Massa desconhece (ou despreza) a literatura anterior ao século XX.

As grandes obras literárias (Cervantes, Shakespeare, Camões, etc.) são anti-utopias, porque acentuam as falhas humanas e demonstram a tendência inevitável do ser humano para a tragédia (o Homem-Massa ignora a categoria do “trágico”, o que o transforma em um neurótico permanente). Pelo contrário!: o Homem-Massa ignora (ou nega mesmo) a existência da Natureza Humana. E assim a literatura clássica foi praticamente banida das Multiversidades, em nome da “Barbárie da Especialização” .

Com o advento do Homem-Massa, a noção de “ser humano” foi reduzida a aspectos físicos comezinhos, como a genitália e a cor da pele (e ao feminismo estupidificante e radical da Maria João Marques). Na Era da Especialização, o Homem-Massa convenceu-se de que “eu é que sei!” (a dúvida socrática desapareceu da nossa cultura intelectual), adoptando um isolamento epistemológico e uma certeza moral invioláveis.

Quinta-feira, 9 Janeiro 2020

Eu não sei qual é a mais “inculta”: se a cultura que tolera o aborto e a eutanásia , se a cultura que permite as touradas

Uma tal Isabel A. Ferreira — que tem uma série de licenciaturas e PhD’s (no nosso tempo, qualquer burra consegue um qualquer alvará de inteligente) — escreve o seguinte acerca da posição de Caiado Guerreiro no que diz respeito às touradas:


« Qual "cultura"? Está a falar de qual "cultura": a CULTA ou a INCULTA?

Sim, porque as touradas pertencem ao rol das "culturas incultas" que, à medida que a civilização avança, vão sendo abandonadas. »


Eu nunca paguei bilhete para ver uma tourada; mas não admito que a Esquerda (que inclui o PSD de Rui Rio e de José Pacheco Pereira: os mesmos que apoiam a legalização do aborto e da eutanásia em hospitais públicos e pagos com os meus impostos) pretenda proibir o espectáculo público da tauromaquia.

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A “cultura culta”, a que se refere aquela troglodita titulada, é a cultura puritana que aborta à fartazana, pressiona os velhos fragilizados para o suicídio legalizado em hospitais públicos … mas pretende proibir a tourada!.

É com esta cambada de indigentes intelectuais que estamos a lidar.

Hoje, o “pecado” dos puritanos secularistas modernos já não é de natureza sexual (como acontecia com os puritanos dos séculos XVI e XVII) : em vez disso, o “pecado” dos puritanos actuais é a “pegada ecológica”, por um lado, e por outro lado é tudo o que negue as teses animalistas de Peter Singer que equipara os animais ditos “sensientes” em geral, por um lado, ao ser humano, por outro lado.

Uma das características dos puritanos secularistas (tal como aconteceu com os puritanos do século XVII) é a tentação de proibir tudo com que não concordem.

Tudo aquilo com que aquela pobre criatura não concorde é considerado por ela como sendo passível de proibição através da força bruta do Estado — com excepção do aborto e da eutanásia, como é evidente, que, segundo os puritanos secularistas, devem ser liberalizados o mais possível.

Os puritanos secularistas têm características emocionais semelhantes às dos puritanos no tempo de Cromwell: o farisaísmo em relação à imposição coerciva da lei, o moralismo exacerbado e exclusivista, e sobretudo o prazer mórbido de apontar os “pecados” àqueles com quem eles não concordam. Ou seja, os puritanos secularistas têm os vícios dos puritanos do século XVII, mas não têm as suas virtudes.

Eu prefiro viver numa cultura com touradas permitidas por lei, mas que respeite a dignidade da vida humana desde a concepção até à morte, do que viver numa cultura que fomente o aborto e a eutanásia ao mesmo tempo que proíbe as touradas.

Eu não sei qual é a mais “inculta”: se a cultura antropológica  que tolera o aborto e a eutanásia (a tal cultura que aquela criatura defende como sendo legítima), se a cultura antropológica que permite as touradas. [não confundir “cultura intelectual” com “cultura antropológica”].

Claro que o argumento de determinados puritanos secularistas espertalhões (como é o caso do José Pacheco Pereira) é (grosso modo) o seguinte:

“Eu também sou contra o aborto: quero construir uma sociedade perfeita, com uma cultura perfeita. À medida em que a civilização avança, o ser humano caminha para a perfeição, transformando-se em deus”.

Este tipo de argumento historicista, vindo do puritanismo secularista actual, é extremamente perigoso porque legitima a censura política sistémica, por um lado, e por outro lado pretende (hoje) justificar assim a limitação drástica da liberdade de expressão.

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A irracionalidade volta a estar na moda; o Iluminismo está defunto e enterrado.

Hoje, as “elites” (da trampa) são absolutamente irracionais; colocam sistematicamente as emoções acima da racionalidade— só que é um tipo de irracionalismo cujos dogmas não têm qualquer autoridade que lhes assista: os dogmas do puritanismo secularista irracional actual não respeitam qualquer autoridade de direito e/ou de facto.

Quinta-feira, 7 Fevereiro 2019

O “racismo negro é inocente” (ou o “Bom Selvagem” de Rosseau)

 

Uma preta chamada Cláudia Silva escreve no jornal Púbico acerca do racismo, invocando a ideologia de uma americana branca radical de Esquerda (marxismo cultural).


1/ A ideia segundo a qual “só os brancos podem ser racistas” (que a tal Cláudia Silva invoca), é uma das maiores filhas-da-putice (é uma forma de racismo encapotada) que a Esquerda inventou para destruir a cultura europeia e ocidental:

“Para entendermos bem o que é o racismo, precisamos primeiro de diferenciá-lo do mero preconceito e discriminação. Preconceito refere-se a um pré-julgamento de uma pessoa com base no grupo social ou racial à qual ela pertence. Discriminação consiste em pensamentos e emoções, incluindo estereótipos, atitudes e generalizações que são fundamentadas em pouca ou nenhuma experiência e que são projectadas em todas as pessoas de tal grupo. Neste sentido, pessoas negras podem discriminar pessoas brancas, mas elas não têm o poder social ou institucional que transforma o preconceito e discriminação delas em racismo. O impacto do preconceito delas em relação às pessoas brancas é temporário e contextual. Pessoas brancas detêm o poder institucional para imbuir o preconceito racial em leis, políticas públicas e educacionais, práticas e normas societárias, de uma forma que uma pessoa negra não tem. Logo, uma pessoa negra pode exercer preconceito e discriminação, mas não pode ser racista, defende Diangelo”.

 

 

Ora, a África do Sul actual desmente a Esquerda.

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Segunda-feira, 24 Setembro 2018

O Bloco de Esquerda e os seus sequazes estão a ir longe demais. Tenham cuidado!

 

« Todos sabemos do caso “para maiores de 18” que Serralves instalou numa sala com algumas das fotografias feitas precisamente por Mapplethorpe.

É sábio o comentário que um ex-director de Serralves (entre 2003 e 2012), João Fernandes, fez ao Público, ao considerar a decisão censória um uso indevido pela parte do museu: ”Trata-se, simplesmente, de uma questão de cidadania, de direitos cívicos. O pai ou a mãe de um menor devem ter o direito de levar os filhos a qualquer exposição, de decidir com eles a que imagens vão expô-los, que imagens querem discutir. Não deve ser o museu – não pode ser o museu – a decidir por eles, O que um adolescente viu nesta exposição é mais explícito do que viu já, sem filtro, na Internet ou na televisão?” Evidentemente. »

Francisco Santos


O argumento do senhor Santos (e quiçá do Bloco de Esquerda) é o seguinte: os pais das crianças é que sabem que “conteúdos culturais” que os seus filhos podem ver.

Mas só às vezes!, quando convém à extrema-esquerda !

Noutras vezes, por exemplo, na escola, é o Estado que sabe o que as crianças podem ver e aprender, e tudo à revelia dos respectivos pais. Ou seja, segundo o Santos, os pais só mandam nas crianças quando convém a uma determinada agenda política da Esquerda radical.

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Para se perceber o assunto deste verbete, há que ler, em primeiro lugar, o seguinte artigo no Observador : Polémica em Serralves: chovem críticas à administração do museu.

Desde logo, o artigo referido contém informação falsa — porque de facto não houve qualquer censura em relação aos artigos a expor.

Segundo ouvi na TSF e noutras estações de rádio, o critério de selecção das obras (por parte do estafermo João Brito) a expôr não foi sujeito a qualquer tipo censura. O que aconteceu foi que, dado o cariz sexualmente explícito das fotografias expostas, a administração da Fundação de Serralves entendeu que as ditas fotos seriam expostas em uma sala reservada; e é a isto que os filhos-de-puta do Bloco de Esquerda chamam de “censura”.

Portanto, é falso que a administração da Fundação de Serralves tenha retirado / censurado fotos de “conteúdo explícito”— como diz o artigo do Observador. O que chateou o Bloco de Esquerda e os seus sequazes foi a escolha de uma sala reservada para a exposição:

« João Ribas tinha sido citado a 14 de Setembro pelo Público, dizendo que a mostra não teria “qualquer tipo de restrição a visitantes de acordo com a faixa etária”, porque “um museu não pode condicionar, separar ou delimitar o acesso às obras.” »

A ideia segundo a qual “um museu não pode condicionar, separar ou delimitar o acesso às obras”, é um absurdo! — porque se parte do princípio de que uma criança é o mesmo que um adulto. Qualquer pessoa com bom-senso percebe que uma criança não é o mesmo que um adulto!

O que está em causa aqui — com a “indignação” do Santos, do Brito, e do Bloco de Esquerda — é a nova causa fracturante do Bloco de Esquerda:

1/ o abaixamento da idade de consentimento sexual para os 10 ou 11 anos, em uma primeira fase;

2/ numa fase seguinte, a descriminalização da pedofilia.

É isto que está em causa. É isto que o Bloco de Esquerda quer. E para conseguir isto, o Bloco de Esquerda não olha a quaisquer meios.


A transformação da pornografia em “arte para todas as faixas etárias”, ou seja, em Cultura, tem o objectivo de promoção da pedofilia como “orientação sexual”. O que se pretende é a deslocação da Janela de Overton no sentido da permissão legal do sexo entre adultos e crianças. É isto que o Bloco de Esquerda pretende.

Por isso é que a comparação que o Santos faz entre “pornografia na Internet”, por um lado, e “pornografia em um museu”, por outro lado, é absolutamente estúpida — porque a pornografia exibida em um museu (como o da Fundação de Serralves) é avalizada e valorizada como sendo um conteúdo cultural de primeira grandeza, e não já o conteúdo cultural bas-fond e eticamente desprezível da pornografia na Internet. Só um estúpido como o senhor Santos não consegue ver a diferença.

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