A Isabel Moreira faz parte do comissariado político do Totalitarismo de Veludo — a par de gente como José Pacheco Pereira, Daniel Oliveira, Fernanda Câncio, entre outra.
A missão dos comissários políticos do Totalitarismo de Veludo é o de formatar (perante a opinião pública) a imagem inócua da camada exterior da “cebola totalitária”, segundo o conceito elaborado por Hannah Arendt:
«Em oposição quer aos regimes tirânicos quer autoritários, a imagem mais adequada do governo e organização totalitários parece-me ser a estrutura de uma cebola, em cujo centro, numa espécie de espaço vazio, está situado o líder; o que quer que este faça — quer integre o corpo político como numa hierarquia autoritária, quer oprima os seus súbditos à maneira de um tirano — fá-lo a partir de dentro, e não de cima ou de fora.
Toda a extraordinária diversidade de partes deste movimento — as organizações e as várias agremiações profissionais, os membros do partido e a burocracia do mesmo, as formações de elite e os grupos de polícia — estão relacionadas de tal como que cada uma forma uma fachada numa direcção e o centro noutra, ou seja, desempenha o papel de um mundo normal exterior numa das faces, e o de um radicalismo extremo noutra. A grande vantagem deste sistema é que, mesmo numa situação de governo totalitário, o movimento fornece a cada uma das suas camadas a ficção de um mundo normal e, ao mesmo tempo, consciência de ser diferente dele e mais radical.»
→ (Hannah Arendt, “Entre o Passado e O Futuro”, 2006, página 113)
A Isabel Moreira escreveu um texto em que glorifica o Estado de Direito, em detrimento do activismo esquerdista de gente do tipo da Maria João Marques: aparentemente (e só aparentemente), a ideia da Isabel Moreira é a de separar o movimento #MeeToo, por um lado, do radicalismo político maniqueísta marxista cultural, por outro lado — em suma: a Isabel Moreira pretende separar o que é inseparável, o que revela a tentativa da Isabel Moreira de “palatalizar” o radicalismo político do movimento #MeToo através da possibilidade da “ficção de um mundo normal” em que reinaria (putativamente) o Estado de Direito.
Defender o movimento #MeToo (enquanto maniqueísmo e segundo o conceito de “tolerância repressiva”) e, simultaneamente, defender o Estado de Direito (como faz a Isabel Moreira), é uma contradição em termos.
Essa contradição (inconfessa e inconfessável) tem como objectivo tornar o movimento #MeToo aceitável na opinião pública (crítica- e logicamente), através de um processo político em que se “desempenha o papel de um mundo normal exterior numa das faces” (da cebola totalitária), “e o de um radicalismo extremo noutra”.
Não se deixem “comer de cebolada” pela bruxa.