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Quarta-feira, 12 Junho 2019

Quando o Bloco de Esquerda e a Direitinha se abraçam

Cerca de 180 directores de empresas americanas concordam com a Esquerda radical (de tipo “Bloco de Esquerda”): “a restrição do aborto é má para o negócio”.

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Vemos como a Direitinha (tipo Insurgente) concorda com a esquerda radical (tipo Bloco de Esquerda), nesta como noutras matérias. Talvez por isso é que a Catarina Martins disse (eu ouvi) que “O Bloco de Esquerda é a salvação do capitalismo”.


Recordando um texto de Olavo de Carvalho:

« Há muitos motivos para você ser contra o socialismo, mas entre eles há dois que são conflituantes entre si: você tem de escolher. Ou você gosta da liberdade de mercado porque ela promove o Estado de Direito, ou gosta do Estado de Direito porque ele promove a liberdade de mercado. No primeiro caso, você é um “conservador”; no segundo, é um “liberal”.

(…)

Ou você fundamenta o Estado de Direito numa concepção tradicional da dignidade humana, ou você o reinventa segundo o modelo do mercado, onde o direito às preferências arbitrárias só é limitado por um contrato de compra e venda livremente negociado entre as partes.

(…)

O conservadorismo é a arte de expandir e fortalecer a aplicação dos princípios morais e humanitários tradicionais por meio dos recursos formidáveis criados pela economia de mercado. O liberalismo é a firme decisão de submeter tudo aos critérios do mercado, inclusive os valores morais e humanitários.

O conservadorismo é a civilização judaico-cristã elevada à potência da grande economia capitalista consolidada em Estado de Direito.

O liberalismo é um momento do processo revolucionário que, por meio do capitalismo, acaba dissolvendo no mercado a herança da civilização judaico-cristã e o Estado de Direito. »

— Olavo de Carvalho, “Por que não sou liberal” ; ler o resto.

Sábado, 26 Janeiro 2019

¿O que é o “liberalismo”?

Filed under: Decadência do Ocidente,Esta gente vota — O. Braga @ 6:37 pm
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“Liberalismo” é um termo vago que actualmente caracteriza realidades diferentes ou misturadas.

Convém (de certa forma) distinguir entre liberalismo político, saído da filosofia dos “direitos naturais” (jusnaturalismo ) exposta por John Locke (principalmente na sua primeira fase ideológica), por um lado, e o liberalismo económico, por outro lado.

O primeiro — o liberalismo político — é a forma abstracta e racional de um individualismo moderado, proposto por Locke e ligado à oposição a qualquer tipo de absolutismo ou totalitarismo, e tem a sua expressão no “Espírito das Leis” de Montesquieu (1748) com a teoria da separação de poderes. O liberalismo político de Locke faz do sujeito individual um ser dotado de direitos inalienáveis (propriedade, liberdade, etc.) e a fonte e o centro das relações sociais.

Este liberalismo político de Locke foi criticado por Rousseau que insistiu que a liberdade civil é impossível sem igualdade económica (igualdade social).

Locke esteve na origem do liberalismo e Rousseau (através do conceito de "Vontade Geral") esteve na origem do jacobinismo.


O liberalismo económico teve origem nos economistas britânicos e franceses do século XVII, também eles influenciados por Locke, e mais tarde sistematizado por Adam Smith e pela chamada Escola Escocesa.

A este liberalismo económico chamamos de “liberalismo clássico”: é um princípio associado ao liberalismo político, e segundo o qual as leis do mercado devem continuar a ser livres, pois são naturais (por exemplo, a lei da oferta e da procura), e dependem delas mesmas o equilíbrio entre a produção, a distribuição e o consumo (conforme Adam Smith: “Não é da benevolência do talhante, do cervejeiro ou do padeiro que nós esperamos o nosso jantar, mas do cuidado que eles têm com o seu próprio interesse” — “Riqueza das Nações”).

Em Adam Smith existia o sentido do dever (v. “Teoria do Direito”); o mundo das regras (tradicionais) e das leis era, para Adam Smith, o verdadeiro significante do mundo afectivo ligado ao fundamento da economia: as paixões humanas naturais. Ao contrário do que defendeu Kant (“A Paz Perpétua”), Adam Smith era céptico acerca da possibilidade de o comércio (por si só) abolir a guerra entre as nações (“Riqueza das Nações”), porque aquele que, na sociedade liberal, não tivesse outra coisa senão as suas mãos para trabalhar, não poderia viver a obrigação do “sobre-trabalho sem lucro” senão contrapondo-lhe a violência.

Adam Smith tinha preocupações sociais, nomeadamente mediante o seu conceito de “simpatia”.

Como podemos verificar, o liberalismo (tanto político ou económico) escorava-se no jusnaturalismo (Lei Natural). O liberalismo clássico limita o conceito de “igualdade” à igualdade dos direitos naturais: não se trata de igualdade social que supõe que o Estado intervém para “corrigir” o jogo livre da sociedade civil, o que é interpretado pelo liberalismo como sendo funesto para a liberdade.


Mas aquilo a que hoje se chama “liberalismo” não é liberalismo no sentido clássico, uma vez que o Direito Natural é negado pela maioria dos actuais “liberais”. Existe nestes liberais actuais uma forte preponderância para um Marginalismo radical que implica uma supremacia avassaladora do subjectivismo individualista, em total detrimento do bem-comum.

É no sentido do “liberal” actual que Olavo de Carvalho faz a sua crítica, na medida em que o chamado “liberalismo” actual (que advém de uma corruptela ideológica de Von Mises) acaba por ser “um momento do processo revolucionário que, por meio do capitalismo, acaba dissolvendo no mercado a herança da civilização judaico-cristã e o Estado de direito”.

Através do império do positivismo absoluto no Direito (tal como acontece com a Esquerda radical), resulta que o Direito é (segundo o actual “liberalismo”) totalmente arbitrário e independente de quaisquer fundamentos metajurídicos (por exemplo, as tradições de uma sociedade, ou do jusnaturalismo).
Neste sentido, e tal como acontece com a Esquerda, o “liberalismo” actual segue o princípio da "Vontade Geral" de Rousseau, e já não o liberalismo político de Locke.

Sábado, 15 Outubro 2016

Os Evangélicos Pentecostais Carismáticos, e a Inquisição católica

 

“A Igreja Católica nasceu oferecendo mártires, a igreja protestante NASCEU MATANDO.”

Comentário feito hoje pelo filósofo esotérico Olavo de Carvalho, numa tentativa de posar de católico e criar intrigas entre católicos e evangélicos e minar o movimento pró-família.

Na época dos primeiros mártires, não existia uma Igreja Católica, que só foi iniciada oficialmente com esse nome depois do período dos mártires. O resto é fantasia forçada.

Na verdade, se Olavo conhecesse a Igreja Evangélica do jeito que ele conhece ocultismo e bruxaria islâmica, ele saberia que a Igreja Evangélica NASCEU SOB INCRÍVEIS AMEAÇAS DE MORTE. Quem não lê, não sabe.

A INQUISIÇÃO FOI APENAS UMA DESSAS AMEAÇAS, QUE TAMBÉM ATINGIA FORTEMENTE OS JUDEUS.

Se o Olavo está tão depressivo e descontente com a Igreja Evangélica, POR QUE ELE ESCOLHEU VIVER NOS ESTADOS UNIDOS, O MAIOR PAÍS EVANGÉLICO DO MUNDO, POSANDO DE CATÓLICO?”

Júlio Severo


1/ Confunde-se aqui o “evangelismo”, por um lado, e o “protestantismo”, por outro lado, como sendo a mesma coisa.

Os grupos evangélicos, Pentecostais e carismáticos (a que pertence o autor do comentário), são apenas seitas muito recentes derivadas do protestantismo. Nos Estados Unidos, a maioria é protestante de várias seitas (luteranos puros, anglicanos ou episcopais, metodistas, etc.), mas essa maioria não é a dos grupos Evangélicos Pentecostais e Carismáticos.

2/ Olavo de Carvalho referiu-se ao protestantismo do século XVI (luteranismo, e um pouco mais tarde, o Calvinismo).

Morreu mais gente inocente durante a guerra civil inglesa causada pelos calvinistas ingleses (Cromwell) no século XVII, do que todas as vítimas da Inquisição católica em toda a Europa e em toda a Idade Média.

Porém, o que os católicos franceses fizeram aos Huguenotes (e isto não teve nada a ver com a Inquisição, mas com a política do rei Luís XIV) também não foi bonito.

evangelicos

3/ a ideia segundo a qual “a igreja evangélica foi perseguida pela Inquisição” é um sofisma.

Os membros destes movimentos evangélicos Pentecostais e carismáticos (por exemplo, do Júlio Severo) nascidos nos Estados Unidos depois do século XIX, são milenaristas no sentido da escatologia do “dia do juízo final” — o que os diferencia dos luteranos primevos —; alguns destes grupos defendem a ideia de que o mundo irá experimentar um período de sete anos de miséria e tribulação, mas que os seus fiéis serão poupados. Isto nada tem a ver com o luteranismo puro, com o anglicanismo nas suas diversas manifestações tradicionais (episcopalismo, metodismo, por exemplo).

É falso que uma seita (evangélicos Pentecostais e carismáticos) que nasceu no século XIX nos Estados Unidos tenha sido perseguida pela Inquisição que já não existia no século XIX.

4/ a ideia segundo a qual “na época dos primeiros mártires, não existia uma Igreja Católica”, é análoga à ideia segundo a qual “o Brasil não existia antes dos primeiros exploradores europeus”.

É claro que o “Brasil”, enquanto território, já existia: só que não tinha esse nome (chamavam-lhe Terra de Vera Cruz): é uma questão de semântica. O Júlio Severo agarra-se à semântica para negar verdades de facto.

A primeira igreja universal cristã foi fundada em Roma, e teve em S. Pedro o primeiro papa (Bispo de Roma). Essa igreja fundada em Roma foi mais tarde chamada de “católica” (Igreja Católica Apostólica Romana). Esta é uma verdade de facto que ninguém inteligente deve negar.

Segunda-feira, 27 Junho 2016

A sinificação de regiões do globo não é apenas um fenómeno de Esquerda

Filed under: Política — O. Braga @ 11:37 am
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“O governo global que se forma ante os nossos olhos não é americano: é uma aliança das velhas potências europeias com a revolução islâmica e o movimento esquerdista mundial. Suas centrais de comando são os organismos internacionais, e a única força de resistência que se opõe à mais ambiciosa fórmula imperialista que já se viu no mundo é o nacionalismo americano”.

Olavo de Carvalho

¿Onde é que Olavo de Carvalho tem razão?

Por exemplo, Olavo de Carvalho tem razão quando diz que o nacionalismo americano é forte; mas o nacionalismo americano é uma característica do povo americano, e não propriamente das elites americanas.

É difícil acreditar que uma grande parte — senão mesmo a maioria — dos homens mais ricos do mundo (que são americanos) sejam “esquerdistas”. ¿Bill Gates é esquerdista? ¿George Soros é esquerdista? Essa elite plutocrata não faz parte do povo americano. Ou seja, tal como acontece na Europa, há que distinguir entre “povo americano”, por um lado, e a elite (a ruling class) americana.

O que o Olavo de Carvalho faz é branquear o papel das elites americanas no processo daquilo a que ele chama de “neoglobalismo”. Para o Olavo de Carvalho, não existe qualquer distinção entre o povo americano, por um lado, e as elites americanas, por outro lado — mas ele já faz essa distinção quando se trata da Europa.

O processo de sinificação das regiões do globo — defendido pelas elites mundiais reunidas no grupo de Bilderberg — existe pelo menos desde Henry Kissinger, nos anos de 1970, quando ele elogiou publicamente o regime comunista chinês. A este nível, é absurdo falar de Esquerda e de Direita: por razões diferentes, os plutocratas e a Esquerda concordam com a sinificação de partes consideráveis do globo.

Domingo, 15 Maio 2016

Historicamente o comunismo (e o jacobinismo) não é russo: é ocidental!

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 11:30 am
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Algum discurso do Olavo de Carvalho é marcado por um certo desespero, o que eu compreendo porque também o sinto. Este desespero é produto da realidade concreta e do facto de que aquilo a que Olavo de Carvalho chama de “comunismo”, ter surgido na Europa Ocidental cristã — nomeadamente na Alemanha, em Inglaterra e em França — a partir do século XVIII. Esta é a verdade histórica insofismável.

Ou seja, a Rússia não foi o berço do comunismo. O berço do comunismo foi a Europa Ocidental.

As ideias embrionárias do comunismo — nomeadamente o jacobinismo — foram levadas para os Estados Unidos (e para o Brasil) em duas fases: a primeira com o apoio à independência dos Estados Unidos por parte da elite iluminista europeia, por um lado, e com o positivismo ideológico, por outro lado; e posteriormente através da transferência da Escola de Frankfurt (marxismo cultural) para os Estados Unidos com o advento do nazismo.

Segundo estatísticas credíveis, a Rússia tem hoje 78% de praticantes cristãos. Na Europa Ocidental, a percentagem de cristãos praticantes está muitíssimo longe dos números actuais da Rússia.

Ou seja, o comunismo permanece onde nasceu: na Europa Ocidental — depois de ter sido exportado para os Estados Unidos. O problema está na Europa Ocidental, e não na Rússia. O inimigo a combater é a Europa Ocidental. O nosso inimigo, enquanto europeus, encontra-se no nosso seio, como aliás atestam as múltiplas guerras internacionais e civis que aconteceram na Europa Ocidental desde a Revolução Francesa.

A Rússia voltou hoje a uma espécie de czarismo sem czar — e não ao comunismo (como defende Olavo de Carvalho). Não podemos saber o futuro, mas o possível retorno da Rússia ao comunismo só poderá ser feito à custa de muito derramamento de sangue, tendo em conta os tais 78% de cristãos praticantes na Rússia.

No tempo dos czares, a Rússia tinha uma polícia política interna formidável, e uma rede de espiões internacionais muito mais sofisticada do que a de muitos países da Europa Ocidental — a tal ponto que o próprio czar Pedro, O Grande, andou disfarçado e anónimo em Inglaterra a espiar a construção naval inglesa, informação essa que depois ele utilizou para desenvolver a construção naval bélica na Rússia. Nessa época ainda não havia comunismo na Rússia.

Ao contrário do que diz Olavo de Carvalho, a quantidade de espiões na Rússia não é característica do comunismo; tem uma tradição mais antiga que vem do tempo dos czares.

Em suma: historicamente, o comunismo (e o jacobinismo) não é russo: é Ocidental! Metam esta merda na cabeça!

Quinta-feira, 17 Março 2016

Olavo de Carvalho tinha razão acerca de Lula da Silva

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 9:48 am
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O que se está a passar no Brasil é um golpe-de-estado institucional. É uma vergonha!

“A procuradoria de São Paulo acusou Lula de Silva de alegado branqueamento de capitais mediante ocultação de património e falsificação de documentos em relação a um apartamento situado na praia de Guarujá, que estava em nome de uma empresa de construção de civil envolvida no escândalo de corrupção da empresa petrolífera estatal brasileira Petrobras”.

Estamos a assistir a uma venezuelização do Brasil; em vez do Maduro, temos a dupla Dilma/Lula. Quando eu lia algumas crónicas do Olavo de Carvalho acerca do Brasil de Lula da Silva e Dilma, não pensava que ele poderia ter tanta razão.

Quarta-feira, 2 Março 2016

O ataque ad Hominem a Vladimir Putin

 

Temos aqui um texto enviesado. Aliás, a “técnica” utilizada é comum: pega-se num texto escrito em uma língua estrangeira e apenas se trata uma parte dele; e quem não sabe inglês fica restringido a uma informação tratada parcialmente. Chama-se a isso sub-informação.

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Vamos lá ver alguns argumentos do textículo brasileiro supracitado:

(more…)

Terça-feira, 1 Março 2016

A falsa dicotomia de Olavo de Carvalho em relação à Rússia

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 3:32 pm
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1/ Olavo de Carvalho identifica o povo russo, por um lado, com Putin, por outro lado.

Povo russo = Putin.

O povo russo (e a sua cultura) não existe sem Putin.

2/ quando se trata da Rússia ou de Putin, a acção política não é vista (por Olavo de Carvalho) em função das consequências que provoca. Desta forma, a acção de Putin é constituída por “promessas” que não se traduzem em resultados objectivos. A acção política de Putin é uma ilusão; não existe; são apenas “promessas”.

3/ Está implícita na ideia de Olavo de Carvalho, em uma falsa dicotomia, que a acção da política americana em relação ao Cristianismo no mundo, é real e positiva, apesar de Obama. Ou seja, parece que há alternativas cristãs a Obama, nos Estados Unidos.

Em suma: os valores cristãos na política russa são uma ilusão, e na política americana são reais. A inversão da realidade.

Sexta-feira, 26 Fevereiro 2016

No que diz respeito aos Estados Unidos, Olavo de Carvalho é cego

 

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Vemos aqui um vídeo que verificamos os russos a atacar bases do I.S.I.S. na Síria. Aqui vemos outro vídeo de helicópteros russos atacando o I.S.I.S.

A pergunta é a seguinte: ¿vocês acreditam no que os vossos olhos vêem, ou acreditam no que diz o Olavo de Carvalho?

Aqui vemos Putin a explicar quem criou o I.S.I.S..

O Olavo de Carvalho encontra-se em dissonância cognitiva no que diz respeito aos Estados Unidos; está em estado de negação: não consegue aceitar a realidade. E a realidade é que a política dos Estados Unidos no Próximo Oriente é essencialmente a mesma desde o Bush-pai até Obama. E a eleição presidencial, seja de quem for, não irá alterar nada: a política americana vai por um caminho decadente e sem retorno, porque é controlada por uma dúzia de plutocratas.

Sexta-feira, 29 Janeiro 2016

Direita ou Esquerda: não há que se enganar

Filed under: Política — O. Braga @ 9:29 am
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Olavo de Carvalho escreve aqui sobre Direita e Esquerda e sobre os seus vários níveis de significado. Mas, para o cidadão comum é fácil compreender minimamente os conceitos de Esquerda e de Direita se colocados da seguinte forma:


Um indivíduo de direita segue os princípios da cultura ancestral — conforme Mircea Eliade nos relatou nos seus livros de investigação antropológica — que se baseiam, por exemplo, no conceito de “pecado original”. O ser humano é visto como um “anjo caído”, um “animal ferido” na sua origem ontológica, e o objectivo da política é o de suprir as lacunas dessa fraqueza originária humana mediante instituições fortes da sociedade civil, e que se fundamentem na herança histórica.

O indivíduo de direita é um herdeiro de uma civilização, e ao mesmo tempo é o transmissor dessa civilização para as gerações futuras. O indivíduo de direita é um “reaccionário” no sentido em que não acredita que os problemas humanos fundamentais possam ter soluções humanas.

Para um indivíduo de direita, a tradição é a condição do progresso (tal como acontece na ciência), mas o progresso não é concebido como uma lei da natureza, mas antes é a consequência da civilização.


Um indivíduo de esquerda recusa a herança da tradição porque acredita que o futuro é portador de maior felicidade e de sempre crescente liberdade, e considera o passado como limitador dessa felicidade e dessa liberdade.

Por isso, para o indivíduo de esquerda, a política significa romper com a tradição em nome do “progresso”.

Para a esquerda, o ser humano é um ser naturalmente bom (o “bom selvagem”, do romântico Rousseau: o romantismo é uma característica da Esquerda) e sem “pecado original”, que tende, pelo sentido da História, a um progresso em direcção à perfeição (Historicismo, o Absoluto de Hegel, e o “progresso” é visto como uma lei da natureza), sendo que considera os “arcaísmos do passado” são obstáculos a ser removidos em função desse progresso rumo à perfeição do ser humano, a construção romântica do Homem Novo — e a política é vista como uma forma de libertação desse “passado arcaico”.


Eu sou de direita. ¿E você?

Domingo, 27 Setembro 2015

A diabolização da metonímia

Filed under: filosofia — O. Braga @ 9:00 am
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Alguém colocou o seguinte comentário sobre um verbete que aborda uma opinião de Olavo de Carvalho:

“Olha mais num tipico pensador metonímico de dois neurônios. pró ou contra.

Onde no texto onde o Olavo fala que temos que combater o gayzismo esse panaca não entendeu? Claro que Luiz Mott não se encaixa porque ele não é um mero homossexual, mas um gayzista militante, e quanto aos pedófilos, a pedofilia é crime, ao contrário do homossexualismo entre adultos. Onde ele se refere á pedofilia? Ou foi voce quem introduziu no texto dele?

Putz mas como tem idiotas neste mundo!”

“Pensador metonímico”. ¿O que é um “pensador metonímico”? Desde logo, a metonímia assume, no comentário, um cariz negativo; ¿e por que razão? ¿o que é uma metonímia?

A metonímia é uma figura de retórica que consiste no emprego de uma palavra por outra com a qual se liga por uma relação lógica ou de proximidade. A metonímia baseia-se na analogia.

Ou seja, a metonímia pode estar intimamente ligada à “analogia” — que não é a mesma coisa que “comparação”.

O raciocínio por analogia (indução) não tem em si mesmo um valor formal (matemático); mas a analogia é segundo Platão, “o mais belo de todos os nexos”, e é indispensável à ciência. Sem analogia não há ciência; e a metonímia é a forma de tradução, na linguagem, da analogia. A diabolização da metonímia acaba por traduzir, no limite, uma negação radical da ciência.

Quarta-feira, 23 Setembro 2015

Aqui não concordo com Olavo de Carvalho

Filed under: ética,Política,politicamente correcto — O. Braga @ 11:53 am
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“Já expliquei mil vezes: NUNCA critiquem alguém por ser homossexual. Nem por ser adúltero, masturbador, sado-masoquista ou qualquer outra coisa pelo género. Isso é moralmente errado, legalmente punível e politicamente um tiro no pé.

Você pode dizer, como eu mesmo digo, mil coisas horríveis contra o movimento gayzista, mas nunca ataque pessoas pela sua conduta sexual. Sobretudo não faça isso dando a impressão de falar em meu nome. Eu NUNCA fiz nem faria nem poderia aprovar ataques desse tipo.”

Olavo de Carvalho

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Um pedófilo é enviado para a cadeia. A pedofilia é também uma “conduta sexual”; é ilegal, mas nada nos garante que não passe a ser legal. Seguindo o raciocínio do Olavo de Carvalho, é moralmente errado criticar o comportamento sexual do referido pedófilo: podemos criticar a pedofilia, mas não a conduta do pedófilo. Esta é, aliás, a tese do “papa Francisco” contra S. Paulo.

Ora, o conceito de “pedofilia” não existe em abstracto: não existe pedofilia sem pedófilos. Os pedófilos são concretos, reais; a pedofilia é um conceito que se baseia no comportamento sexual (em geral) dos pedófilos. E segue-se que se não criticamos os pedófilos, também não é possível criticar a pedofilia.

O que Olavo de Carvalho propõe é uma espécie de suspensão de juízo moral em relação ao comportamento sexual, por um lado, e por outro lado a redução da crítica social à política: “¿Crítica ao movimento político gayzista? Sim! ¿Crítica ao comportamento sexual de um indivíduo? Não!”. Ou seja, Olavo de Carvalho, como aliás a maioria das pessoas, coloca a política antes da ética; a prioridade é política.

A redução da ética à política — assim como a redução da política à economia, que também está na moda — é um erro.

Em ética, “criticar” não é a mesma coisa que “condenar”. “Crítica” vem do grego Krinein, que significa “discernir”, “seleccionar”.

Uma coisa é “criticar”, outra coisa, bem diferente, é “xingar”. Uma crítica é sempre racional e é uma análise de fundamentos. Quando criticamos, por exemplo, o comportamento sexual de um determinado pedófilo, utilizamos argumentos racionais. Proibir a crítica moral individualizada é proibir a moral — o que é uma impossibilidade: a proibição da crítica moral extensível ao indivíduo é uma Moral em si mesma; em ética, não existe neutralidade.

Foi o que fez S. Paulo: « passiones ignominiae », « usum contra naturam » et « turpitudinem operantes » (Romanos 1, 26-27). S. Paulo fez uma crítica, não ao movimento político gayzista (que não existia naquela época), mas uma crítica moral a um determinado comportamento sexual, crítica essa que era logicamente extensível a todas as pessoas (indivíduos) que tinham esse comportamento.

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