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Quinta-feira, 4 Abril 2024

Galopim de Carvalho: a prova de que um cientista pode ser um imbecil

Filed under: Ciência,Galopim de Carvalho,religião,Rerum Natura — O. Braga @ 2:27 pm

Quando lemos este texto de Galopim de Carvalho (ver ficheiro PDF), ficamos com a ideia de que poderia ter sido escrito por um idiota qualquer, aspirante a secretário-geral do Partido Comunista. Não é disto que se espera de um cientista, ou mesmo de um defensor da ciência.

A ciência não é um instrumento de ideologia política. Aliás, a ciência deve ser o oposto de uma qualquer ideologia.

O supracitado idiota vem (outra vez) com a lengalenga das “perseguições” da Igreja Católica a Giordano Bruno (um frade dominicano católico, e lunático) e a Galileu (não houve perseguição alguma a Galileu, houve problemas pessoais com o papa), mas esquece-se das perseguições do chamado “espírito científico” em relação à humanidade que matou mais de 100 milhões de seres humanos no século XX.

O galopim é um idiota chapado.

« A revolução francesa matou mais gente em apenas um mês e em nome do ateísmo, do que a Inquisição da Igreja Católica em nome de Deus durante toda a Idade Média e em toda a Europa. »

→ Pierre Chaunu, historiador francês

Se entendermos a ciência na perspectiva actual e actualizada, a reacção do Papa medieval às teses de Galileu foi absolutamente correcta, do ponto de vista do método científico (paradigma).

As teses de Copérnico (um Padre católico que defendeu a tese do heliocentrismo) receberam o imprimatur da Igreja Católica porque foram formuladas como hipóteses — o que não aconteceu com Galileu, que não quis formular hipóteses, mas antes pretendeu afirmar verdades absolutas. E a tentativa de afirmação das suas verdades absolutas aconteceu numa época em que a hipótese geocêntrica de Ptolomeu (um paradigma) podia explicar melhor muitos fenómenos celestes.

Segundo a perspectiva actual da ciência (o conceito de “paradigma” ) e, por isso, racional e científica propriamente dita, a Igreja Católica do tempo de Galileu defendeu a concepção científica mais moderna, embora tenha errado tanto quanto erra a ciência actual.

O galopim é uma besta.

Para além disso, o galopim é burro, porque a hipótese do heliocentrismo é muitíssimo anterior a Copérnico e Galileu: Aristarco de Samos, que viveu no século III a.C., foi simbolicamente condenado à morte — ou seja, não foi realmente morto — por ter dito que era a Terra que se movia em torno do Sol e que as estrelas não rodopiavam à volta da Terra; e foi simbólica- e virtualmente condenado à morte precisamente porque Aristarco colocava assim em causa a existência da morada dos deuses gregos, porque segundo a mitologia grega, era suposto que a Terra fosse o centro do universo, explicando-se assim a existência do Olimpo.

Sobre Giordano Bruno, escrevi aqui. Giordano Bruno não foi morto por serviços prestados à ciência. Bruno foi morto por razões que se misturam entre a transgressão espiritual e teológica, e questões pessoais e privadas.

O galopim é ignorante.

O galopim vive sob o jugo irracional de um paradigma, mas, simultaneamente, recusa o conceito de paradigma. A linguagem do galopim é ideológica, dogmática.

“There are two kinds of people in the world: the conscious dogmatists and unconscious dogmatists. I have always found myself that the unconscious dogmatists were by far the most dogmatic.”

→ G. K. Chesterton, ‘Generally Speaking.’

O galopim vem dizer que a ciência positivista “não impõe". Claro que impõe! E a prova disto é a imposição imbecil dele, segundo a qual a ciência positivista e a religião são oponentes. O positivismo é uma espécie de ideologia.

Comparar ciência e religião é próprio de um asno. O galopim é um asno.

Sábado, 23 Março 2024

Thomas Kuhn e a “ciência revolucionária”

Filed under: Ciência,filosofia — O. Braga @ 7:34 am
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A professora Helena Serrão transcreve aqui um textículo de Thomas Kuhn acerca do conceito de “anomalia” (em filosofia da ciência).

Kuhn categorizou a ciência como “normal” e como “revolucionária”. O conceito de “paradigma” aplica-se à ciência normal, em que um paradigma é aceite e aplicado a novas situações que surjam.

Porém, a presença / existência de uma anomalia (ou duas) não é suficiente para causar o abandono de um paradigma — porque, segundo Kuhn, a lógica da falsificabilidade não é aplicável no caso de rejeição de um paradigma (o paradigma não é rejeitado apenas na base de uma comparação das suas consequências e das “provas” empíricas): a rejeição de um paradigma é uma relação de três termos que envolve 1/ o paradigma estabelecido, 2/ um paradigma rival, 3/ e as “provas” resultantes da observação empírica.

Quando surge, de facto, um paradigma rival, surge um estádio da “ciência revolucionária”.

lei de fourier web

Dou o exemplo da lei de Fourier. Surge a notícia de que o paradigma subjacente à lei de Fourier sofre de (pelo menos) uma anomalia; mas ainda não existe um novo paradigma viável em competição com o anterior, e por isso é que o actual paradigma da lei de Fourier (ainda) não é colocado em causa pela anomalia recentemente descoberta.

Porém, o novo paradigma da lei de Fourier, quando surgir, representará uma mudança da percepção da realidade (Gestalt-shift): a nova lei de Fourier, a surgir em função das anomalias verificadas, pode diferir do paradigma anterior em relação ao tipo de resposta admissível aos problemas colocados pela observação — ou seja, os dois paradigmas (o velho e o novo) não poderão ser medidos / avaliados num mesmo nível / qualidade de percepção da realidade.

Domingo, 25 Fevereiro 2024

O Ludwig Krippahl, o Galopim de Carvalho, e o Ernst Haeckel estão de acordo

Filed under: ateísmo,Ciência,materialismo — O. Braga @ 2:40 pm
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O Ludwig Krippahl defende a ideia segundo a qual a evolução é um fenómeno exclusivamente materialista.

Dentro desta mesma ideia, o alemão Ernst Haeckel, no século XIX, afirmava que a célula viva era uma coisa muito simples e que surgia espontaneamente da lama depois de uma chuvada. Mas o Ernst Haeckel tinha atenuantes: no século XIX ainda não existia, por exemplo, a bioquímica.

O Ludwig Krippahl parece seguir a ideia de base de Ernst Haeckel.

Outro pensador materialista (e comunista), professor universitário (Galopim de Carvalho), pasme-se!, escreveu o seguinte:

“Foram as pedras e os fósseis, que muitas delas trazem dentro, que nos deram a conhecer a origem e a evolução da Terra e da Vida, ao longo de centenas de milhões de anos (Ma). Foi nesta evolução que matéria inerte, como são os átomos de oxigénio, hidrogénio, carbono, azoto e outros como fósforo e enxofre, em muito menores percentagens, se combinou a ponto de gerar a vida e, através do cérebro humano, adquirir capacidade de pensar”.

Outra pérola do galopim:

“O pensamento, não surgiu no cérebro humano da noite para o dia. É um produto imaterial da matéria”.

atheist smarter webSó uma pessoa com neurónios enrijecidos e fossilizados, cristalizados no sistema ortorrômbico ou triclínico, pode afirmar que o cérebro humano adquiriu capacidade de pensar, a partir das pedras e da matéria inerte. O galopim, tal como o Krippahl, tem um pensamento empedernido; da mente dele já não sai nada senão ideias fossilizadas.

Um cientista deve ter a humildade de assumir que “não sabe” — em vez de afirmar, explícita- ou implicitamente que a vida surgiu da lama depois de uma chuvada.

“Evolução é uma palavra flexível. Pode ser utilizada por alguém para designar uma mudança que ocorre no tempo, ou por outra pessoa para referir a descendência de todas as formas de vida de um antepassado comum, não se especificando o mecanismo dessa mudança. No seu sentido biológico, contudo, a evolução designa um processo pelo qual a vida emerge da matéria não-animada e se desenvolve depois por meios naturais. Foi esse o sentido que Darwin emprestou à palavra e foi retido pela comunidade científica. É neste sentido que eu utilizo a palavra “evolução” ao longo deste livro.”

Michael Behe, in “A Caixa Negra de Darwin”, Editora Ésquilo, ISBN 978-989-8092-44-1.

Isto significa que o conceito de “evolução darwinista” pertence à metafísica, e não à ciência. Ou, se quisermos, um conceito neo-kantiano:

“O criacionismo (bíblico) é um mito, assim como o darwinismo é um mito, porque é impossível explicar a mutação das formas”.

Eric Voegelin

Se “evolução” é um processo através do qual o Criador se apresenta no espaço-tempo, e por isso, se o conceito de “evolução” subentende que o espírito, a alma e a razão são produtos de uma evolução segundo a lei divina (e não só a lei natural, que é uma consequência da lei divina), então o termo “evolução” não representa, para mim, qualquer problema.

Mas se o termo “evolução” for entendido em termos estrita- e meramente biológicos e materialistas, então, o facto que resulta da verificação da autoconsciência, por um lado, e a possibilidade de acesso à dimensão das verdades perenes, por outro lado, destrói este quadro e esta mundividência evolucionários.

Sábado, 24 Fevereiro 2024

O politicamente correcto é, na sua essência, anti-científico

Outro texto escolhido pela professora Helena Serrão, desta vez colocando sibilinamente em causa a indução (na ciência): trata-se, em boa verdade, de uma crítica à generalização.

Vivemos em uma cultura de crítica feroz à generalização, ou seja, nunca cultura estruturalmente anti-científica, por um lado, e por outro lado, numa cultura marcada por um nominalismo radical, em que as pessoas (geralmente) têm dificuldade em categorizar a realidade; uma cultura em que a noção de “juízo universal” está basicamente ausente, ou é negada.

A crítica à generalização, em favor de um nominalismo radical, não é apenas de hoje: é uma manifestação da “velhice do eterno novo” (Fernando Pessoa). Na velha Grécia, Antístenes (o Cínico) dizia que a realidade é sempre individual e que a generalização é uma ilusão.

Antístenes poderia perfeitamente ser militante do Bloco de Esquerda.

Antístenes terá dito a Platão: “Eu vejo um cavalo, mas não vejo a cavalidade”, ao que Platão respondeu: “Porque não tens olhos para vê-la…”

Quando Antístenes dizia que via “um cavalo mas não via a cavalidade”, estava a negar a noção de juízo universal. Uma das características do politicamente correcto actual é a negação radical do juízo universal. A negação do juízo universal é a negação da generalização e da indução, é a negação da ciência.

O que aconteceu, ao longo da História, foi uma sucessão de herdeiros de Antístenes que deixaram de ver a cavalidade para só enxergarem o cavalo, isto é, eles próprios. O nominalismo é o pai do relativismo.

O politicamente correcto, que nos governa actualmente, é, na sua essência, anti-científico. Pretende estupidificar orgulhosamente os povos.

Domingo, 18 Fevereiro 2024

O triunfo dos porcos da pseudo-ciência

Filed under: Ciência,Cientismo,comunicação social,me®dia,merdia — O. Braga @ 11:34 am

Na França de Macron, saiu pela calada uma nova lei que condena a três anos de prisão quem criticar publicamente as injecções de mRNA, vulgo “vacinas” do COVID-19. Assiste-se aqui a uma aliança entre a política, a pseudo-ciência e os me®dia — o triunvirato dos porcos que controlam o nosso tempo.

A política globalista trabalha progressivamente para o fim da validade do voto do cidadão, em que a expressão popular nas urnas se transforma num pró-forma — passa de símbolo da vontade popular, a um sinal público e político que pode ser alterado a bel-prazer pelas elites globalistas; a pseudo-ciência está totalmente ao serviço dos poderosos da finança globalista e da política antidemocrática; e os me®dia (órgãos de comunicação social) estão controlados pelos globalistas do Grupo dos Trezentos.

A ciência contemporânea pode ser concebida mediante dois filtros principais: a falsificabilidade, de Karl Popper, e o "Vale Tudo", de Feyerabend.

Em epistemologia, a falsificabilidade é o carácter das teorias científicas que são sempre susceptíveis de serem refutadas pela experiência, mas que nunca podem ser definitivamente confirmadas ou corroboradas.

Em contraponto, foi ao abrigo do princípio do “vale tudo” de Feyerabend que, por exemplo, Stephen Hawking afirmou num livro que “o universo surgiu do nada”; ou, que a homeopatia é considerada parte da ciência. Quando, em ciência, "Vale Tudo" — podemos até afirmar “cientificamente” que o mundo vai acabar em 10 anos por causa do CO2 na atmosfera. fim do atlantico web

Sai no jornal Púbico a notícia “científica” segundo a qual o oceano Atlântico vai acabar em 20 milhões de anos. E ¿por que razão será em 20 milhões de anos? ¿Será em 100 milhões de anos? ¿Esta teoria é falsificável? A resposta é “não”.

Seria como se eu afirmasse aqui que “todos os deuses falam grego”: ¿esta proposição é falsificável? Claro que não.

A confusão actual entre ciência, por um lado, e pseudo-ciência, por outro lado, é total; e serve sobretudo os interesses das elites globalistas e as suas organizações de caciques nacionais (os partidos políticos que se dizem “democráticos”, mas que têm práticas antidemocráticas).

Poucos meses antes de morrer, João Lobo Antunes afirmou, num programa de rádio (eu ouvi), que a ciência, até ao fim da década de 1960, dedicou-se a resolver problemas concretos da humanidade, mas que a partir dos anos 70 entrou na pseudo-ciência em que confunde ciência e filosofia.

Hoje, os “cientistas” encontraram uma forma de acabar com a filosofia: incorporaram-na na própria ciência.

Quinta-feira, 3 Agosto 2023

O controlo da ciência pela ideologia

“Sem a filosofia, as ciências não sabem o que sabem”.

Nicolás Gómez Dávila 


mestre medicina

Uma pessoa serve-se de uma pretensa autoridade de direito em matéria de “ciência”, para impingir uma ideologia.

A “justificação científica” é patética; por exemplo, a ideia de que “a maioria das pessoas não sabe os seus cromossomas” — como se esse conhecimento prévio (no sentido de “consciência de”), por parte do sujeito, fosse importante para a definição objectiva do sexo da pessoa em causa.

perfil-web

É verdade que cada indivíduo é irrepetível — ser “idêntico” significa ser “único” (A=A). Porém, o facto de cada ser humano ser único (é idêntico a si próprio, e por isso, tem a sua própria identidade), isso não significa que cada ser humano não caiba numa categoria  ou classe.

Uma pessoa que recusa a categorização objectiva da realidade, assume uma posição anticientífica. O alegado mestrado em medicina (da criatura em causa) é irrelevante.

Domingo, 2 Julho 2023

O Nominalismo radical da Esquerda, o José Pacheco Pereira, e o repúdio em relação à ciência

O Nominalismo, no tempo de Guilherme de Ockham, tinha como intenção o foco na realidade das coisas concretas e no experimentalismo que fundamentassem a ciência.

Hoje, o Nominalismo radical é a recusa liminar do conceito de juízo universal e da indução, ou seja, é a recusa da própria ciência.


Aquilo a que chamamos “Wokismo” é, sem dúvida uma consequência do marxismo cultural (que o José Pacheco Pereira diz que não existe), mas é também a incapacidade de discernir entre os conceitos de “indivíduo” e de “comunidade”. Para as pessoas, como o Pacheco, que dizem que “o marxismo cultural não existe”, citamos o intelectual inglês Douglas Murray :

«O marxismo cultural é geralmente concebido como “inexplicável” somente por pessoas que adoptaram esse conceito ao longo das suas vidas; e depois fazem-se de estúpidos». douglas murray-marxismo cultural web

Esta frase vai direitinha para o José Pacheco Pereira e encaixa nele como uma luva.


Mas voltando ao Nominalismo:

nominalismo-webOs esquerdistas têm hoje grande dificuldade em generalizar; em epistemologia (ciência), a indução é uma inferência conjectural ou não-demonstrativa; é o raciocínio que obtém leis gerais a partir de casos particulares.

Ora, o esquerdopata actual não consegue extrapolar para leis gerais a partir de casos particulares. É-lhe muito difícil fazer esse exercício (narcisismo exacerbado).

O “caso particular”, que o esquerdista observa, é entendido por ele como uma realidade não-extrapolável — segue, no fundo, o arquétipo mental de Antístenes, que se dirigiu criticamente ao realismo de Platão, dizendo-lhe:

“Eu vejo aqui um cavalo, mas não vejo a ‘cavalaridade’”.

Antístenes não conseguia ver a classe ou a categoria dos equídeos…!
Ele só conseguia ver um cavalo de cada vez, e o conceito de “categoria de equídeos” era-lhe totalmente estranho.

Ora, é isto que se passa, em geral, com o militante de base dos partidos de esquerda — refiro-me ao militante de base da ala mais radical do Partido Socialista, e do Bloco de Esquerda em geral; mas não só: este tipo de “cegueira” em relação ao geral/universal, a recusa da indução e da inferência como forma de categorizar a realidade, começa a ser parte do arquétipo mental de uma grande parte da população.

A ideia-base das elites de Esquerda é a seguinte: “não podemos generalizar!”.

A partir daqui, qualquer tipo de generalização passa a ser proibida, e o acólito ignaro esquerdista passa a olhar a indução científica como uma Expressão do Mal.

Porém, quando a ciência corrobora a ideologia política vigente, ou quando a ciência é retorcida e manipulada para acomodar a ideologia política, então o esquerdista aceita a ciência no sentido em que esta justifique a legitimidade ideológica e existencial do “Caso A”, do “Caso B”, “C”, “E”, etc. — um caso de cada vez, porque o esquerdopata só vê um caso de cada vez.

Terça-feira, 16 Maio 2023

O método indutivo-dedutivo aristotélico aplicado à ética

Filed under: ética,Ciência — O. Braga @ 7:27 pm
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Este texto de Michael Sandel, publicado pela professora Helena Serrão (ler aqui em PDF), foi (aparentemente) impresso em Portugal pela Editora Presença, de Lisboa; mas está escrito em língua brasileira; e isto preocupa-me: por exemplo, em português escreve-se “facto”, e não “fato”; e por aí fora…

Pelo facto de a Editora Presença publicar, em Portugal, livros em língua brasileira sem qualquer aviso ao comprador, deveria ser objecto de uma indemnização legal ao consumidor.


Michael Sandel faz parte de uma corrente filosófica a que se convencionou chamar de “comunitaristas”, que se opõe aos libertários (individualismo radical). Da corrente dos “comunitaristas” fazem parte, também e por exemplo, Michael Walzer, Alasdair MacIntyre, Charles Taylor.

O texto de Sandel é muito interessante porque aplica, à reflexão ética, o método indutivo-dedutivo científico de Aristóteles, que encarou a investigação científica como uma progressão a partir das observações até aos princípios gerais, e destes, de novo, de volta até às observações — Aristóteles sustentou que o cientista deveria induzir princípios interpretativos a partir dos fenómenos a interpretar, e, a seguir, deduzir afirmações (proposições) sobre os fenómenos a partir de premissas que incluam estes princípios.

Observação → indução → princípios interpretativos → dedução → de volta à observação

Este modelo aristotélico foi posteriormente adoptado por Roger Bacon (não confundir com Francis Bacon), e ainda hoje é válido até certo ponto.

Na segunda parte do texto, Sandel adopta o criticismo kantiano (Kant, Karl Popper) que exige discussão pública das teorias subjectivas e individuais (tanto em ciência, como na ética).

Sábado, 18 Fevereiro 2023

A ciência, a filosofia, e o gongorismo académico

Filed under: Ciência,filosofia,Karl Popper — O. Braga @ 12:41 pm

Em relação a este texto no Porta da Loja:

1/ A filosofia consiste na procura da verdade, o que pressupõe que a verdade existe. Podemos dizer que a filosofia aspira a ser “a ciência dos postulados não-arbitrários”.

ortega-y-gasset-webFoi esta procura filosófica da verdade que impulsionou a ciência, o que é uma característica da civilização grega, e europeia em geral — “enquanto os gregos inventavam a Ciência, os chineses dominavam Técnica” (mutatis mutandis, Ortega y Gasset, in “¿Que es Filosofía?”).

A diferença entre a ciência e a filosofia é, basicamente, a de que as proposições da ciência são verdadeiras ou falsas — porque são juízos falsificáveis em relação a factos existentes —, ao passo que os enunciados filosóficos são autênticos ou apócrifos, porque são juízos de significação.

A verdade de uma proposição (científica) é sempre hipotética, e apenas a sua falsidade é experimentalmente constatada — ao passo que a autenticidade de um enunciado (filosófico) é passível de corroboração, mas a sua natureza apócrifa apenas é supositiva (hipotética).

O critério científico é o da experimentação, que pode falsificar, mas que não verifica; o critério da filosofia é o da experiência, que pode confirmar, mas que não refuta. Não podemos nunca garantir a eternidade de uma proposição científica, nem assegurar que um enunciado filosófico já terá perdido totalmente a sua validade.

Também porque são diferentes, a ciência e a filosofia complementam-se. São duas bases do “tripé” que procura a verdade. A terceira base do tripé é a teologia.

O erro, e o acto de errar, fazem parte da procura da verdade.

Neste sentido, uma qualquer filosofia que negue a existência da Verdade (como é o caso da teoria relativista de Nietzsche), cai em contradição — porque se a verdade não existe, a filosofia (assim como a ciência) deixam de fazer sentido lógico. Trata-se, neste caso, de uma filosofia errada.

Todas as teorias ditas “filosóficas” que não partam do princípio do reconhecimento da existência da Verdade, são falsas — assim como todas as teorias científicas procuram a verdade através de um processo de falsificação.

Similarmente, a “ciência” está cheia de erros — como é o caso, por exemplo, do Lysenkoísmo, que foi uma manipulação política da ciência por parte de Estaline, e que pode ser comparada à actual Ideologia de Género que se serve de uma “ciência anti-experimental” para prosseguir uma determinada agenda ideológica e política.


karl popper web2/ Os professores de filosofia olham para o filósofo com uma superioridade de adulto.

Em um texto/carta publicado na década de 1960, Karl Popper desanca nos académicos e nos ditos “intelectuais”.

«Aquilo que designei mais atrás por “pecados contra o espírito santo” — a arrogância dos pretensamente instruídos — é a verborreia, o pretensiosismo de uma sabedoria que não possuímos. A fórmula é a seguinte: tautologias e trivialidade condimentadas com o absurdo paradoxal. Uma outra receita é escrever em estilo empolado, dificilmente inteligível, e juntar, de quando em quando, uma ou outra banalidade: agrada ao leitor que se sente lisonjeado por encontrar, numa obra tão “profunda”, reflexões que ele próprio já tinha feito.

(…)

Quando um estudante entra na universidade, não sabe quais os critérios que deve adoptar. Assim, aceita os critérios que lhe são propostos. Uma vez que os critérios intelectuais da maior parte das escolas filosóficas (e muito em particular, na sociologia) toleram o gongorismo e a arrogância (todas essas pessoas parecem saber imenso), algumas boas cabeças são completamente afectadas. E os estudantes a quem o falso pretensiosismo da filosofia “dominante” irrita, tornam-se, com razão, detractores da filosofia. E convencem-se, sem razão, que tais pretensiosismos são próprios da classe dominante”, e que seria, então, preferível uma filosofia de influência marxista.»

Mais adiante, Karl Popper dá exemplos do gongorismo académico, como é o caso de Habermas:

«

[citação de ensaio de Habermas]

A totalidade social não tem vida própria acima do que é por ela concatenado, e de que ela própria é constituída.

Ela produz e reproduz-se através dos seus momentos singulares.

Tão pouco é de dissociar esse todo da vida, da cooperação e do antagonismo do individual (…) »

A tradução simplificada de Karl Popper:

« A sociedade é constituída por relações sociais.

As diferentes relações sociais produzem, de qualquer modo, as sociedades.

Entre essas relações encontra-se a cooperação e o antagonismo; e uma vez que (como já foi dito) a sociedade é constituída por tais relações, não pode ser dissociada delas.»

Quinta-feira, 27 Outubro 2022

¿Por que razão a Esquerda ganha quase sempre as eleições? Porque mente apaixonadamente !

A Direita, em juízo universal e por motivos culturais, tem mais dificuldade em mentir (politicamente) do que a Esquerda.

A Direita (propriamente dita) não é prometaica — é esta uma das razões por que o IL (Iniciativa Liberal), sendo um partido de índole utopista e transumanista ("Os Amanhãs Que Cantam" da pseudo-ciência), não é um partido de direita.

lula vs bolsonaro web

Quando o Carlos Fiolhais (por exemplo) diz que apoia o Lula da Silva porque este defende a ciência (afirmando, pelo contrário e literalmente, que o Jair Bolsonaro não apoia a ciência), o que ele está a fazer é transformar a ciência em ideologia.

“A ciência adapta a teoria à realidade, ao passo que a ideologia adapta a realidade à teoria.” — (Mathias Desmet, "The Psychology of Totalitarianism", 2022, página 44).

carlos fiolhais a ideologia da ciencia webA partir do momento em que o Carlos Fiolhais continua a afirmar a importância das ditas “vacinas” COVID-19 (que não vacinam nada nem ninguém), quando se verificou já o descalabro que estas causaram nas sociedades ocidentais, verificamos que gente como o Carlos Fiolhais transforma a ciência em pura ideologia.

«O totalitarismo é, em última análise, o corolário lógico de uma obsessão generalizada com a ciência, a crença na criação artificial de um paraíso na Terra: “A ciência tornou-se em um ídolo que curará, magicamente, os males da existência [humana] e transformará a natureza do ser humano” [‘As Origens do Totalitarismo’, Hannah Arendt]» — idem, página 48.

O Carlos Fiolhais é uma vergonha. O rei vai nu.

Quarta-feira, 20 Julho 2022

A “Ciência Pós-moderna”, de tipo “Carlos Fiolhais”

Filed under: Aquecimentismo,Carlos Fiolhais,Ciência,Cientismo — O. Braga @ 9:47 am

a ciencia do carlos fiolhais web

Quinta-feira, 7 Julho 2022

O cientista que acredita que o processo de Conhecimento não existia antes de o ser humano surgir na Terra

Filed under: Ciência,Cientismo,materialismo,Rerum Natura — O. Braga @ 7:08 pm

No blogue Rerum Natura, faz-se a apologia da ciência da seguinte forma:

«O livro de Gary Ferguson, “Oito grandes lições da Natureza”, publicado recentemente, é muito bom, pelas grandes ideias que contém e pela inspiração que encerra. É que “nós somos natureza,” como o autor refere. Parece óbvio, mas nem sempre é bem entendido. Eu diria mais: o que fazemos e o que produzimos é também Natureza


Pergunto: ¿O que é “Natureza”?

¿A Natureza (segundo o autor do artigo) inclui o Cosmos? ¿Ou apenas se limita ao conjunto ordenado de seres vivos, ou seja, a “natureza das coisas”, segundo o materialista Lucrécio? ¿Será, a “Natureza”, o princípio criador do universo, segundo o ateu e monista Espinoza (Deus Sive Natura)?

Para que haja ciência é necessário postular a insignificância do universo.

O problema que se coloca é o de que, para que haja ciência é necessário postular a insignificância do universo — porque a neutralidade axiológica (que a ciência diz defender) não é uma conclusão científica, mas antes é um postulado metodológico. Por isso, há que saber o que se entende por “Natureza”.

«A primeira “lição” é o mistério. Cita Albert Schweitzer: “à medida que adquirimos mais conhecimento, as coisas não se tornam mais compreensíveis mas sim mais misteriosas”».

Muito antes de Schweitzer, Nicolau de Cusa (1401 – 1464) resumiu esta ideia mediante o conceito de “Douta Ignorância”: se a verdade é do domínio do infinito, e o conhecimento humano é do domínio do finito, por mais que o Homem se aproxime do conhecimento da Verdade por graus sucessivos de conhecimento, todo o esforço de conhecer redundará em um relativo e proporcional “quase nada”.

«Embora a Natureza seja uma fonte sempre promissora de novos medicamentos, esses 60% não são sequer inspirados pelos seres vivos ou pela Natureza “clássica.” São criações humanas usando bases de dados de moléculas, computadores, conhecimentos sobre os alvos terapêuticos, síntese química, e muito mais coisas que a química medicinal inventou. Isso não é maravilhoso? Não aumenta o encanto? Eu acho que sim.»

O autor daquele texto acredita certamente que os números primos são invenções humanas: antes de o ser humano os inventar, “os números primos não existiam”.

A ideia segundo a qual “os conhecimentos sobre os alvos terapêuticos” já existiam antes de o ser humano os descobrir, é-lhe completamente estranha. Para ele, os princípios matemáticos e os axiomas da lógica não existiam antes de o ser humano os “criar”; e o universo também não!: “Afinal, ¿o que seria do universo se não existisse o ser humano?!”

Esta deificação prometaica do ser humano é a coisa mais estúpida que se aprende hoje nas universidades; e está ligada ao completo absurdo que é o materialismo.

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