perspectivas

Terça-feira, 21 Abril 2015

A falsa dicotomia entre o epicurismo e o estoicismo

Filed under: ética,Igreja Católica — O. Braga @ 9:06 am
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“Admiramos um médico que arrisca a vida durante uma epidemia ou uma peste, porque julgamos a doença um mal e esperamos diminuir-lhe a frequência.”

Temos aqui uma proposição consequencialista de um “filósofo” moderno 1 .


Na modernidade, a ética foi dividida artificialmente em duas facções: os epicuristas — que influenciaram Bentham e o utilitarismo —, e os estóicos — que influenciaram Kant, que diria, em oposição à proposição supracitada, o seguinte:

“Admiramos um médico que arrisca a vida durante uma epidemia ou uma peste apenas e só pela sua acção e independentemente de quaisquer consequências.”

O estóico Kant não é virtuoso para proceder bem, mas antes procede bem para ser virtuoso — o que corresponde à ética luterana, em oposição à ética católica que se baseia — pelo menos até ao “papa Francisco” — nas obras e na acção do católico. Portanto, quando falamos em “Cristianismo” temos que saber de que espécie de Cristianismo estamos a falar.

Na frase em epígrafe, não passa pela cabeça do “filósofo” epicurista moderno mencionar o altruísmo do médico que arrisca a vida durante uma epidemia ou uma peste: só lhe interessa a consequência da acção do médico. Porém, seja qual for a suposta motivação subjectiva do médico que arrisca a sua vida, essa motivação é sempre passível de ser objectivamente classificada de “altruísta”.

Ao estóico Kant, não lhe interessa saber quais as consequências dos actos da pessoa, porque o sábio estóico — que é o modelo a seguir — é considerado um ser perfeito.

O catolicismo propriamente dito valoriza o acto entendido em si mesmo (porque, para o catolicismo, as obras são importantes), mas essa valorização é feita no contexto da consequência desses actos.

O catolicismo tradicional não separa a causa e o efeito, exactamente porque “causa” e “efeito” são tautológicos“não há efeito sem causa”: cada um dos dois termos só se podem definir por intermédio um do outro. Não há nada que indique que os dois termos (causa e efeito) possam ser inscritos em um discurso puramente lógico (como erradamente pressupõem epicuristas e estóicos modernos).

Um católico diria assim:

“Admiramos um médico que arrisca a vida durante uma epidemia ou uma peste, pelo valor ético do seu altruísmo e pela sua sensibilidade em relação ao sofrimento humano, na luta contra a doença.”


Nota
1. Não considero Bertrand Russell um filósofo, mas antes um estudioso de filosofia.

Domingo, 13 Outubro 2013

O símbolo da filosofia estóica

Filed under: filosofia — O. Braga @ 7:56 pm
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Domingo, 11 Março 2012

O prazer e a dor, segundo o estoicismo e o Cristianismo

Filed under: ética,filosofia — O. Braga @ 12:59 pm
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Uma das grandes diferenças entre a ética estóica e a ética cristã é o juízo sobre o prazer e a dor. Para o estóico, a dor é “inimiga da natureza” [por exemplo, Aulo Gélio]; para o cristão, a dor faz parte da própria natureza (humana) [por exemplo, S. Tomás de Aquino].

Sobre o prazer, o estóico diz que não é um bem nem um mal — não é um vício nem uma virtude, excepto “se o prazer se transforma em paixão” e assim se transforma em vício — o que entra em contradição com a concepção estóica de “virtude em conformidade com a natureza”, porque ao ser humano deveria aplicar-se, ao contrário do que defende a ética estóica, a natureza humana propriamente dita, e não uma outra natureza de um outro animal qualquer.

Em contraponto, o cristão diz que o prazer é um bem ou um mal consoante o entendimento que se tem dele, em função da natureza humana e não de uma outra natureza de um outro animal qualquer, e em função do Fim Último para além do qual não é possível qualquer regressão lógica.

Na modernidade, a ética estóica misturou-se com o epicurismo; e desta mistura surgiu a tentativa contemporânea de justificar eticamente todo e qualquer tipo de prazer, alegadamente “desde que não excessivo”; e transformou-se a dor em algo de não-natural que deverá ser eliminada através do “suicídio assistido” — segundo o estoicismo, o sábio estóico não deve temer o suicídio.

A ética cristã é, de facto, o sistema ético mais belo que o ser humano alguma vez conheceu, porque ao conceber um Fim Último que o transcende, não troca os meios pelos fins [e vice-versa] ad infinitum, dando-lhe uma coerência lógica e racional que não existe em mais nenhum outro sistema ético.

Terça-feira, 26 Julho 2011

Sobre a ética estóica

Eu sou avesso à utopia. O termo “utopia” foi cunhado por Tomás Moro a partir do grego “ou” (privativo) + “topos” (o lugar), e que significa “aquilo que não é de nenhum lugar”; porém, pelo facto de não ser de nenhum lugar, não significa que o utopista não pretenda que esse lugar exista realmente. A utopia é a descrição concreta da organização de uma sociedade ideal que é, por isso, considerada pelo utopista como sendo factível. Não quero dizer com isto que seja proibido, ao Homem, sonhar; o que é necessário é distinguir entre imaginação criativa, por um lado, e a imaginação imaginativa, por outro lado; entre o sonho que tem em conta a realidade, e aqueloutro que pretende negar a própria realidade a partir da qual se constrói.
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Sábado, 8 Maio 2010

Plotino e quântica (2)

Parte I

Hoje, uma pessoa ignorante é aquela que acredita que o mundo é só conforme o que percepciona através dos sentidos. Com o advento do positivismo, a crença de que a realidade se limitava à Matéria e ao mundo sensível ganhou a exclusividade do bom-senso intelectual e elitista, enquanto que as massas, em geral, continuaram a respeitar os conceitos oriundos da filosofia cristã. Hoje, é essa elite positivista que está em causa e podemos afirmar com toda a certeza que ela é ignorante.
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Quinta-feira, 6 Maio 2010

Rockefeller financia o radicalismo político ecologista

O movimento ecologista Greenpeace é financiado pela grande plutocracia internacional ligada ao negócio do petróleo, ou seja, aparentemente, a Greenpeace combate o alegado aquecimento global alegadamente devido ao CO2, ao mesmo tempo que recebe dinheiro dos que alegadamente poluem o ambiente com o negócio dos petro-dólares. Tudo, alegadamente.
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Terça-feira, 20 Maio 2008

O estoicismo

Filed under: Religare — O. Braga @ 6:44 pm
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O período da filosofia grega de Sócrates a Aristóteles é marcado pela preocupação do equilíbrio entre a ciência (Razão), a virtude e o prazer. Trata-se de um período em que a filosofia se preocupou com questões morais. Esse equilíbrio entre a ciência e a virtude foi quebrado pelos “cínicos” (literalmente, “os que viviam como cães”) que favoreciam a virtude em detrimento da ciência, e a partir daí toda uma série de teorias se radicalizaram para cada um dos lados. Enquanto Sócrates dizia que “a virtude é ciência”, os estóicos passaram a dizer que “a ciência é virtude”.

O estoicismo terá sido uma das correntes filosóficas que mais marcou a história da filosofia, para o melhor e para o pior. Por exemplo, o conceito de “necessidade” determinística da ordem cósmica que mais tarde influenciou Espinosa foi desenvolvido pelos estóicos. A “ética do dever”, de Kant, foi nitidamente influenciada pelo estoicismo. A noção de “proposição” que marcou posteriormente a teoria da linguagem neopositivista, a noção da Lógica como uma dialéctica, a teoria do “ciclo cósmico” e do “eterno retorno” que Nietzsche plagiou, tudo isso foi desenvolvido pelos estóicos.
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