O argumento naturalista essencial (naturalismo = darwinismo + ateísmo) — conforme Daniel Dennett, Richard Dawkins, Christopher Hitchens, Sam Harris, Julian Savulescu, Anthony Cashmore, Peter Singer, etc. — inclui duas noções básicas, a ver:
- Deus não existe;
- A ciência neopositivista ainda não sabe, mas vai saber.
De facto, é incorrecto dizer-se que “Deus existe”, porque Deus não pertence à nossa dimensão de sujeito-objecto. Deus = Englobante + Ser. Para além deste pequeno detalhe, vamos analisar o argumento naturalista.
Quando se pergunta, por exemplo, a um naturalista porque é que a esponja tem aproximadamente o mesmo número de genes do que o ser humano, o que pressupõe um desenho biológico e não apenas o império das forças do acaso na organização do universo, o naturalista invariavelmente responde: “a ciência ainda não sabe, mas vai saber”.
Com este argumento, o naturalista assume, em termos práticos, que a ciência nunca irá saber, a não ser que a espécie humana (ou coisa parecida) possa existir durante mais de 10^120 anos (1 seguido de 120 zeros) que é a constante cosmológica do universo calculada pelo astro-físico Alfred Gierer.
Porém, quem não admite esta contradição naturalista como sendo absolutamente lógica, é classificado de obscurantista. O naturalista transforma a lógica em obscurantismo, e a irracionalidade em lógica.
Se sabemos que o género humanóide tem 1 milhão de anos (1 seguido de 6 zeros), e que o próprio planeta Terra tem 4,5 mil milhões de anos (4,5 seguido de 9 zeros = 4,5 * 10^9), o naturalista admite implicitamente que a ciência nunca irá saber, porque mesmo um computador do tamanho de todo o universo não seria suficiente para saber.
Mas se o naturalista não for estúpido, e souber que a ciência nunca jamais irá saber, porque razão ele diz que “a ciência um dia irá saber” ?
A resposta a esta incongruência é a necessidade premente e mesmo irracional, por parte do naturalista, da afirmação da negação de Deus — não só da sua existência, mas essencialmente do seu Ser. E o naturalista assume esta contradição por razões ético-morais : a recusa da ética e moral cristãs.
Por detrás desta recusa não só da religião cristã mas também — e implicitamente — a recusa da sua ética, está aquilo que a Eric Voegelin chamou de “gnosticismo moderno”, ou o que Olavo de Carvalho chamou de “mente revolucionária” — a ideia de que, substituindo-se Deus pelo Homem, se possa assim afirmar uma supremacia totalitária de uma elite de auto-eleitos sobre o comum dos mortais. Por detrás do naturalismo, existe sempre uma religião política totalitária e escondida, que deve ser sistematicamente denunciada e combatida.
Bom texto.
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Comentar por Mats — Domingo, 29 Agosto 2010 @ 4:36 pm |
que pressupõe um desenho biológico
pressupõe na tua cabeça, desde quando dois livros com aproximadamente a mesma quantidade de palavras obrigatoriamente tratam do mesmo tema?
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Comentar por ND — Segunda-feira, 30 Agosto 2010 @ 4:20 pm |
Deixei passar este seu comentário, mas aviso já que não tenho tempo disponível para polémicas; e como não irei deixar você falar sozinho neste sítio, não garanto que futuros comentários seus sejam aprovados.
Sobre as “palavras do mesmo tema”: Aconselho a leitura do seguinte postal
em que escrevo o seguinte:
Como é que se pode pensar em “palavras sobre o mesmo tema”, sem se pensar em inteligência ? Pode sim senhor! — vindo de um ateu religioso.
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Comentar por O. Braga — Segunda-feira, 30 Agosto 2010 @ 4:38 pm |
Foi uma boa resposta.
Mas não é a natureza que tem que seguir uma lei física, são as leis físicas que tentam descrever a natureza.
E por o ADN seguir lei químicas, não é obrigatório que o resultado final seja padronizado, pense em correntes marítimas/atmosféricas, derivas continentais, para todas existem leis que as tentam descrever, o resultado é algo imprevisível.
Talvez se encontre um padrão, género fractal, no ADN em que possam apontar para um Design, por enquanto, não passam de especulações baratas.
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Comentar por ND — Terça-feira, 31 Agosto 2010 @ 12:27 pm |
Mas você acaba por me dar razão: a ciência não sabe nem nunca irá saber, a não ser que você esteja convencido que vai viver 10^120 anos. Sendo ateu, você não colocaria essa hipótese. Em suma: a ciência não sabe nem nunca irá saber.
Por outro lado, você compara a vida com as correntes marítimas e com os ventos. Você não deve fazer essa comparação, colocando em equivalência coisas que não são equivalentes. É falta de prática, da sua parte; talvez umas leituras sobre a lógica ajudem.
A vida tem uma realidade diferente da que existe, por exemplo, em uma molécula como o H2O. Você não deve misturar tudo no mesmo saco.
A “teoria do conhecimento finística”, do biofísico Alfred Gierer, a traço grosso consta do seguinte:
A astrofísica calculou a densidade média do universo em 1 “partícula elementar longeva individual” (PEL) ― que pode ser um electrão, um protão, um neutrão ― por cada metro cúbico.
Considerada a dimensão do universo, o número total de PEL’s em todo o universo é de 10^80, isto é, 1 seguido de 80 zeros.
Se multiplicarmos este número (10^80) pela idade do universo ― 20 mil milhões de anos-luz = 10^40 PEL’s que é o período mínimo de estabilidade de partículas elementares ― obtém-se o número 10^120, i.e., 1 seguido de 120 zeros.
Este número (10^120) é a “constante cosmológica da natureza” (CCN) que significa o limite superior lógico para o trabalho de cálculo de um computador com as dimensões e a idade de todo o universo ― um computador que efectuasse cálculos sem interrupção desde o início da sua existência (desde o Big Bang) e cujos elementos constitutivos fossem PEL’s.
Escreve Gierer:
Existe, portanto, um limite superior de passos de trabalho analíticos que seriam possíveis no nosso universo e que são compatíveis com a física do cosmo. Este é o limite da ciência e da razão científica. Contudo, a Razão não se limita à “razão científica”: como escreveu Gierer, podem existir afirmações verdadeiras para lá das 10^120 operações ou do CCN.
Para obviar à extrema dificuldade não só da utilização plena do CCN como instrumento de análise, mas também da superação do limite provável dos limites da razão filosófica ou científica, as religiões instituíram o simbolismo.
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Comentar por O. Braga — Terça-feira, 31 Agosto 2010 @ 12:44 pm |
Esta tendência dos materialistas de querem explicar toda a existência humana com referência apenas às leis da natureza é tão auto-refutante que chega a ser hilariante.
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Comentar por Mats — Quarta-feira, 1 Setembro 2010 @ 2:20 pm |