perspectivas

Segunda-feira, 3 Março 2008

A aliança dos contrários

O Hora Absurda publicou uma série de posts sobre o “Robotismo” que, de uma forma séria, simples, entendível por todos e com muita ironia à mistura, pôs a descoberto a essência do ser humano contemporâneo que age sem pensar o seu dia-a-dia. O Robotismo pressupõe a existência das “bestas de carga”, os novos escravos que se distinguem dos escravos dos séculos 17 a 19 levados para o continente americano, pelo facto de as “bestas” não terem sequer a capacidade de revolta que os negros escravos muitas vezes protagonizaram.

O “robô” ou “besta” é um ser humano que obedece inconscientemente a uma lei moral irracional ditada por um sistema ético elitista que fez da irracionalidade – que serve os interesses exclusivos dessa elite – a base de um fanatismo moral, que como todo o fanatismo, é irracional. O fanatismo moral do Robotismo exige que as “bestas” sigam as leis morais irracionais emanadas das elites e sem que as coloquem minimamente em causa, obedecendo somente aos impulsos sensíveis da natureza humana (instintos), e menosprezando a natureza racional do Homem.

A sociedade moralmente asséptica é assim conseguida – que a actual elite pretende fazer passar às “bestas” – na qual todos os comportamentos são susceptíveis de serem igualmente enquadrados sob o ponto de vista ético (relativismo moral), e que leva a um tipo de fanatismo moral que substitui o valor da virtude pelo valor da lei, sendo o cumprimento integral irracional da lei uma nova forma de santidade politicamente correcta. Com o fanatismo moral do Robotismo, a “besta” é induzida a proceder segundo padrões éticos que a elite proclama como sendo mais nobres, mais sublimes, mais magnânimos, apresentando-os como puramente meritórios e substituindo, assim, o Respeito pela Razão, por um móbil patológico que se fundamenta no egoísmo, e que determina uma forma leviana, superficial e fantástica de pensar e agir, dando lugar a um orgulho que pressupõe a existência de uma bondade espontânea e natural no Super-Homem contemporâneo, e que aniquila a humildade do ser humano finito que erra naturalmente. Ressurge a ideia da elite de super-homens Nietzscheanos predestinados que, desafiando irracionalmente a finitude do homem, controlam moralmente as “bestas” – que não servem para mais nada do que para contribuírem para a afirmação da superioridade irracional de uma plêiade de iluminados.

Sob a égide do Robotismo, a conduta do Homem transforma-se num puro mecanismo, no qual, como num teatro de fantoches, todos gesticulam sem que as figuras tenham vida; o erro humano deixou de existir, porque a “besta” foi convencida de que é supra-humana ao seguir os padrões morais mecânicos impostos por uma elite de super-homens que lhes servem de modelo, pese embora a “besta” permaneça numa condição sub-humana ao ser totalmente condicionada pelo instinto animal que a lei moral irracional elitista e “robotista” impõe.

A lei moral verdadeiramente racional, sem nada de certo nos prometer e sem nos ameaçar, exige de nós um respeito desinteressado por ela. Em contraponto, o fanatismo moral robotista pressupõe a subordinação coerciva da “besta”, por via da exploração do instinto humano até ao limite, à arrogância da elite minoritária que se substitui ao conceito de Deus; esta elite arrogante propala a ideia do “homem novo”, baseado no Robotismo que deífica a elite que se pretende substituir a Deus, e que constitui a síntese do marxismo cultural e do neoliberalismo ideológico, isto é, a aliança dos contrários. .

A esquerda europeia e a Não-religião

A esquerda europeia é a grande responsável pela catástrofe moral de que a direita neoliberal se aproveita para impor as suas regras na nossa sociedade. Políticos como Tony Blair, Zapatero, José Sócrates, Romano Prodi, entre muitos outros, fazem parte dessa esquerda europeia que se alia, na essência, ao neoliberalismo ideológico global, embora saibamos que José Sócrates não conseguiu – nem vai conseguir – em Portugal o mesmo resultado que Zapatero conseguiu (até agora) em Espanha, porque a sociedade portuguesa é mais unida sob o ponto de vista cultural do que outros países europeus. Como, e porquê que isto acontece?

Parece estranho que políticos que estudaram alguma coisa em universidades não saibam que todas as civilizações – desde que o homem existe – sempre tiveram uma religião presente. Dos Maias aos Incas, aos Impérios Antigos do Médio Oriente, ao Egipto, à Antiga Grécia e Roma, aos zulus de África Austral, à China de Confúcio e Buda, à Índia dos Vedas, etc., todas as civilizações tiveram necessidade de uma religião.

Podemos dizer, com toda a propriedade, que não é possível uma civilização sem uma religião. O mais que podemos discutir é a racionalidade da moral que advém de uma determinada religião, partindo sempre do princípio de que uma moral deve ser racional.

Será uma Não-religião a religião que a esquerda pretende para a Europa? Sendo assim, que tipo de religião é essa Não-religião e quais as leis morais racionais que essa Não-religião defende? Onde é que esta esquerda europeia se comunga, nos seus interesses, com o neoliberalismo ideológico? O que pode resultar desta comunhão de interesses entre o marxismo cultural e o neoliberalismo global?

O que está a acontecer na Europa é exactamente o contrário do que a Razão nos aconselharia. Se olharmos para o que está a acontecer em alguns países, nomeadamente o Reino Unido e Espanha, assistimos ao Absurdo em forma de Política: o islamismo que discrimina – em letra de lei moral – o feminino, é protegido pela esquerda, e o cristianismo que é a religião da civilização europeia que produziu a Revolução Francesa é perseguido pelos socialistas. As tradições cristãs e europeias estão já a ser reprimidas pela esquerda em nome da defesa de minorias culturais não-cristãs e/ou anti-cristãs.

O principal inimigo da esquerda europeia aliada ao neoliberalismo é o cristianismo, sem que o cristianismo faça questão de ter inimigos ou alimente a actual guerra cultural em curso. Se lermos Marx e Hayek, ambos criticam as religiões em geral, e o cristianismo em particular.

A esquerda europeia vendeu a alma ao diabo com o simples intuito de tentar erradicar os valores cristãos da nossa sociedade. O marxismo cultural e o neoliberalismo ideológico, unidos e aliados, constituem uma força formidável que luta afincadamente para erradicar os valores morais do cristianismo que ainda subsistem na nossa sociedade, deixando para depois de conseguida um eventual desaparecimento da ética cristã, um confronto directo entre as duas forças hoje aliadas. José Sócrates é um exemplo vivo desta aliança entre o marxismo cultural e o neoliberalismo ideológico.

A maioria do povo português, que infelizmente não teve o direito a uma preparação intelectual adequada, anda confusa e dessa confusão se aproveita José Sócrates – e os políticos em geral, e de esquerda em particular – para tentarem impor uma Não-religião que eles próprios não sabem bem o qual é, e não sabem definitivamente quais as consequências para a nossa sociedade decorrente da imposição cultural de uma Não-religião que serve totalmente um neoliberalismo que manda a Ética de raiz cristã às malvas. O povo está a ser cobaia do Presentismo ideológico e da Engenharia Social de esquerda, que o neoliberalismo global aproveita – e tudo isto para que Deus morra e a História desapareça, em nome da irracionalidade robotista.

2 comentários »

  1. Directo ao âmago do robotismo! A questão é mesmo essa, e muito te devo por me teres aberto os olhos. Obrigado também pela referência.

    O «Das Tinturra» e o «Manifesto Robotista» poderiam ser fundidos num só livro. Ambos se debruçam sobre o robotismo, em abordagens diferentes. Apesar de escritos em blog, post a post, seguiram um roteiro mental bem claro. Sob a forma de ficheiros pdf, esses dois livrinhos estão aqui para download:

    http://wiki.horabsurda.org/public_html/mediagallery/media.php?s=20071120182043394

    http://wiki.horabsurda.org/public_html/mediagallery/media.php?s=2007113003090495

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    Comentar por Henrique — Segunda-feira, 3 Março 2008 @ 8:20 pm | Responder

  2. Deixei um comentário antes deste, com dois links. Foi capturado pelo Akismet, suponho.

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    Comentar por Henrique — Segunda-feira, 3 Março 2008 @ 11:24 pm | Responder


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