Estive ontem a rever (em DVD) o filme “Gandhi” que na minha opinião é um dos melhores filmes de sempre. Dei comigo a pensar que Einstein não esteve certo quando disse que “nas próximas gerações as pessoas se interrogarão sobre o facto de como foi possível que uma pessoa com as características dele (de Gandhi) tenha andado sobre esta terra”. Perguntem hoje a alguém na Europa com menos de 30 anos quem foi Gandhi e estou convencido de que a maioria tem uma ideia desfocada da personagem e o resto simplesmente não sabe; dêem mais duas gerações à Europa e Gandhi mergulhará no esquecimento total. E isto porque o aparecimento na Europa da idade moderna de um fenómeno minimamente semelhante ao de Gandhi ― por mais remota que seja essa semelhança ― seria praticamente impossível; alguém com uma mundividência semelhante à de Gandhi seria ― na Europa do filisteu actual ― considerado um maluco risível e “a quem se deve dar um desconto”.
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Domingo, 21 Março 2010
Entre Gandhi e Husserl
Quinta-feira, 4 Dezembro 2008
A liberdade tem os dias contados
O recente caso do apoio financeiro do governo português (utilizando dinheiro dos contribuintes) a um Banco (o Banco Privado Português) que gere grandes fortunas pessoais, é a prova de que a chamada “crise do neoliberalismo” não colocou em causa a força da ideologia totalitária neoliberal.
Enquanto que o BPN ― Banco Português de Negócios que foi nacionalizado devido a má gestão ― tem largas dezenas de milhares de pequenos clientes e pequenos aforradores, o BPP é um Banco dirigido ao mercado das grandes fortunas e aos especuladores bolsistas, em que o mínimo permitido para se abrir uma conta nesse Banco ronda um milhão de Euros.
Não faz sentido que todos os contribuintes portugueses paguem a má gestão de um Banco no qual só pode ter conta aberta quem for milionário. O assunto é de tal forma escandaloso, que até o empresário Joe Berardo veio a terreiro reclamar igualdade de tratamento por parte do governo português.
Estamos perante uma realidade insólita: o neoliberalismo causou a crise internacional, e os povos do mundo são obrigados financiar as grandes fortunas que “perderam” algum do seu dinheiro (não perderam nada; esse dinheiro “perdido” nunca existiu realmente).
Quinta-feira, 24 Julho 2008
Precisamos de direitos dos símios
Este relato dramático revela bem como andam as pessoas nesta Europa “civilizada”; as pessoas vivem em stress contínuo, como sonâmbulas. A vida privada das pessoas é de tal forma cilindrada pela economia e pelos me(r)dia que elas já não sentem que têm uma vida privada: procedem como autómatos. Podemos dizer com pertinência que não fazem falta direitos humanos para os macacos; antes fazem falta direitos reconhecidos pelos macacos entre si, para os humanos.
Segunda-feira, 3 Março 2008
A aliança dos contrários
O Hora Absurda publicou uma série de posts sobre o “Robotismo” que, de uma forma séria, simples, entendível por todos e com muita ironia à mistura, pôs a descoberto a essência do ser humano contemporâneo que age sem pensar o seu dia-a-dia. O Robotismo pressupõe a existência das “bestas de carga”, os novos escravos que se distinguem dos escravos dos séculos 17 a 19 levados para o continente americano, pelo facto de as “bestas” não terem sequer a capacidade de revolta que os negros escravos muitas vezes protagonizaram.
O “robô” ou “besta” é um ser humano que obedece inconscientemente a uma lei moral irracional ditada por um sistema ético elitista que fez da irracionalidade – que serve os interesses exclusivos dessa elite – a base de um fanatismo moral, que como todo o fanatismo, é irracional. O fanatismo moral do Robotismo exige que as “bestas” sigam as leis morais irracionais emanadas das elites e sem que as coloquem minimamente em causa, obedecendo somente aos impulsos sensíveis da natureza humana (instintos), e menosprezando a natureza racional do Homem.
A sociedade moralmente asséptica é assim conseguida – que a actual elite pretende fazer passar às “bestas” – na qual todos os comportamentos são susceptíveis de serem igualmente enquadrados sob o ponto de vista ético (relativismo moral), e que leva a um tipo de fanatismo moral que substitui o valor da virtude pelo valor da lei, sendo o cumprimento integral irracional da lei uma nova forma de santidade politicamente correcta. Com o fanatismo moral do Robotismo, a “besta” é induzida a proceder segundo padrões éticos que a elite proclama como sendo mais nobres, mais sublimes, mais magnânimos, apresentando-os como puramente meritórios e substituindo, assim, o Respeito pela Razão, por um móbil patológico que se fundamenta no egoísmo, e que determina uma forma leviana, superficial e fantástica de pensar e agir, dando lugar a um orgulho que pressupõe a existência de uma bondade espontânea e natural no Super-Homem contemporâneo, e que aniquila a humildade do ser humano finito que erra naturalmente. Ressurge a ideia da elite de super-homens Nietzscheanos predestinados que, desafiando irracionalmente a finitude do homem, controlam moralmente as “bestas” – que não servem para mais nada do que para contribuírem para a afirmação da superioridade irracional de uma plêiade de iluminados.
Sob a égide do Robotismo, a conduta do Homem transforma-se num puro mecanismo, no qual, como num teatro de fantoches, todos gesticulam sem que as figuras tenham vida; o erro humano deixou de existir, porque a “besta” foi convencida de que é supra-humana ao seguir os padrões morais mecânicos impostos por uma elite de super-homens que lhes servem de modelo, pese embora a “besta” permaneça numa condição sub-humana ao ser totalmente condicionada pelo instinto animal que a lei moral irracional elitista e “robotista” impõe.
A lei moral verdadeiramente racional, sem nada de certo nos prometer e sem nos ameaçar, exige de nós um respeito desinteressado por ela. Em contraponto, o fanatismo moral robotista pressupõe a subordinação coerciva da “besta”, por via da exploração do instinto humano até ao limite, à arrogância da elite minoritária que se substitui ao conceito de Deus; esta elite arrogante propala a ideia do “homem novo”, baseado no Robotismo que deífica a elite que se pretende substituir a Deus, e que constitui a síntese do marxismo cultural e do neoliberalismo ideológico, isto é, a aliança dos contrários. .
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Sábado, 29 Setembro 2007
Quadrilha
João amava Teresa
Que amava Raimundo
Que amava Maria
Que amava Joaquim
Que amava Lili
Que não amava ninguém.João foi para os Estados Unidos,
Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre,
Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se,
E Lili casou com J. Pinto Fernandes
Que não tinha entrado na história.(Carlos Drummond de Andrade)
Via Canto Aberto, soube que o Cabalas se referiu a uma história (que eu já conhecia de há meses, e que circulou por email) publicada no Murcon, que reza mais ou menos assim:
Um casal bósnio frequentava salas de chat na Internet – cada um pelo seu lado, e sem que um soubesse das aventuras cibernéticas do outro. Até aqui, nada que seja hoje considerado anormal, desde que, com o advento do feminismo, a mulher perdeu os pruridos de sexo fraco e garantiu o seu direito ao flirt mais ou menos dissimulado e descomplexado.
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