O existencialista Kierkegaard e realista Nicolau Hartmann (ou Nicolai) entre outros, afirmaram que “a verdade é pessoal” — “a verdade absoluta só pode ser pessoal” (Hartmann). Até determinado ponto, isto é verdade; e podemos verificar a lógica desta asserção através das vidas de dois homens do século XX, responsáveis pela obra matemática mais importante desse século: Principia Mathematica. Bertrand Russell e Alfred Whitehead, enquanto jovens matemáticos, abraçaram ideias idênticas e escreveram em conjunto esta obra. Porém, enquanto que Russell enveredou pelo ateísmo e transformou a sua vida em uma luta contra o Cristianismo, Whitehead tornou-se no maior filósofo cristão da América do seu tempo.
Existe, contudo, uma outra dimensão da verdade: a dimensão intersubjectiva. A verdade, mesmo que entendida como sendo pessoal, tem sempre um conteúdo — aquilo que é a verdade pessoal implica sempre um modo de apropriação que descreve o modo como a verdade é assumida, ou seja, descreve o conteúdo dessa verdade pessoal. E aquilo que é o conteúdo da verdade pessoal deixa de ser meramente subjectivo, e passa a ter uma validade universal que não tem, por isso, validade só para mim, mas também para todos os seres humanos, e que possui a qualidade da “verdade independentemente de mim”.
Se aparentemente partimos do princípio segundo o qual “a verdade é pessoal”, chegamos por dedução à conclusão que essa verdade é pessoal não porque cada um tenha a sua verdade, mas porque cada um procura a Verdade.
A ler: “A verdade existe?”