Depois de Christopher Hitchens, morreu ontem Daniel Dennett. Para que a obra de Deus fique completa, neste particular, falta que “batam a bota” Richard Dawkins e Sam Harris.
Que a terra lhe pese como chumbo.
Depois de Christopher Hitchens, morreu ontem Daniel Dennett. Para que a obra de Deus fique completa, neste particular, falta que “batam a bota” Richard Dawkins e Sam Harris.
Que a terra lhe pese como chumbo.
Em muitas discussões metafísicas, era normal que os ateístas invocassem o argumento do “mito de Deus”, afirmando que “os unicórnios não existem”; e eu respondia que é impossível à ciência afirmar que os unicórnios não existem — porque a ciência não pode provar que uma determinada coisa não existe.
Pois bem: os unicórnios existem. Ou já existiram. Mais um argumento ateísta e cientificista que vai pela pia abaixo.
O Domingos Faria escreveu aqui um artigo de que podemos resumidamente retirar duas conclusões:
1/ para se poder negar um conceito, esse conceito tem que existir previamente; para se poder negar o Ser, o Ser tem que existir.
2/ qualquer negação da Metafísica é uma forma de metafísica.
Estes dois pontos são logicamente indiscutíveis; só um estúpido os colocaria em causa.
Convém, no entanto, sublinhar o facto de Deus não “existir” da mesma forma que existe o Domingos Faria, porque o Ser de Deus não existe no espaço-tempo. Em verdade, será mais correcto dizer que “Deus É”, em vez de dizer que “Deus existe”. 1
É evidente que o ateísmo (seja o que for o que isso signifique) é uma crença metafísica — porque qualquer negação da Metafísica é uma forma de metafísica — como bem demonstrou o Domingos Faria.
O Ludwig Krippahl vem a terreiro bradar contra a lógica. Aliás, uma das características dos chamados “ateus” é uma certa tendência para a negação da lógica e uma certa animosidade em relação à matemática, dando preferência às chamadas “ciências naturais” (o evolucionismo combinado com o monismo).
Ludwig Krippahl começa o seu discurso com um sofisma: mistura o “naturalismo”, por um lado, com “ateísmo”, por outro lado. Por exemplo, Espinoza foi um naturalista (“Deus sive Natura”) mas não foi propriamente um ateísta (o panteísmo é uma forma de naturalismo). Lamarck era um católico praticante. O próprio Darwin nunca se deu como ateu, mas antes como agnóstico. O Budismo é, de certa forma, naturalista. Portanto, não devemos confundir naturalismo e ateísmo.
A seguir, o Ludwig Krippahl desvia o foco da matéria, dado pelo Domingos Faria, através de uma narrativa que remete até para uma comparação entre um papagaio e o ser humano. Mas a conclusão da narrativa do Ludwig Krippahl vai de encontro à tese do Domingos Faria: “o ser humano tem uma capacidade cognitiva fiável para formar crenças verdadeiras”; e por isso é que o ateísmo é contraditório nos seus próprios termos.
Por exemplo, até há bem pouco tempo, nenhum ateu admitiria como crença verdadeira o conceito de “função de onda quântica”; e muito menos aceitaria o facto de a onda quântica não ser propriamente matéria, porque não tem massa. Hoje, qualquer pessoa que não admita o conceito de “função de onda quântica”, não é só ateu: é burro!
A maior crença falsa e irracional que pode existir é a do ateu, porque acreditando na lei da causalidade, acredita contudo que não há uma causa para o universo. E, neste sentido, todas as religiões ou teorias filosóficas que defendem uma causa para o universo, são racionais.
Finalmente, uma citação do Ludwig Krippahl :
“Finalmente, o Domingos ignora o trabalho que se faz em ciência para ultrapassar as limitações das nossas capacidades naturais. A evolução não nos dotou de mecanismos fiáveis para detectar bandas de absorção nos espectros de estrelas ou modelar reacções enzimáticas. Nós é que construímos, passo a passo e peça a peça, instrumentos de medição, métodos, sistemas de representação quantitativa e imensas outras coisas para colmatar as lacunas que a biologia deixou”.
Este trecho é extraordinário porque concebe que existe uma evolução humana sui generis dentro da própria evolução geral: ou seja, “o Homem evolui-se a si mesmo”; o Homem é capaz de determinar a sua própria evolução — o que coloca em causa, por exemplo, o teorema de Gödel. Mas admito que, para o Ludwig Krippahl, contrariar o teorema de Gödel faça parte da genialidade dele.
Nota
1. “Eu Sou Aquele que Sou” – Êxodo, 3 – 14
Os ateus são pessoas que se reúnem — na Internet, em fóruns, em blogues, em colóquios, em conferências, etc. — para protestar contra Aquele (Deus) que eles dizem que não existe.
O Ludwig Krippahl escolhe bem as suas “vítimas”. Tentou “discutir” comigo acerca de religião, e cedo se deu conta de que mais valia procurar “vítimas” mais fáceis de “caçar”. A estratégia retórica do Ludwig Krippahl é a amálgama: mistura, em um mesmo texto, alhos com bugalhos, na esperança de que, através da ciência, se opere um milagre e os alhos se transformem em bugalhos (ou vice-versa). Olhem para este texto verifiquem a amálgama. Olavo de Carvalho tinha razão quando escreveu o seguinte:
“A mente humana é constituída de tal forma que o erro e a mentira podem sempre ser expressos de maneira mais sucinta do que a sua refutação. Uma única palavra falsa requer muitas para ser desmentida.”
Refutar aquele texto do Ludwig Krippahl daria um ensaio de muitas páginas. A única forma de denunciar a erística dos argumentos-cacete do Ludwig Krippahl sem escrever um ensaio, é focalizando a nossa atenção em alguns argumentos-chave do referido texto: por exemplo, “verificação”, “crença”, “verdade”, “autoridade”, e obviamente “ciência” que, alegadamente, se opõe à religião.
Comecemos pela alegada oposição entre ciência e religião. “Oposição”, aqui, deve ser entendida no sentido dialéctico: “Não nos devemos cansar de estudar os extremos opostos das coisas. O mais importante não é encontrar o ponto comum, mas deduzi-lo dos contrários; é este o segredo e o triunfo da arte” (Giordano Bruno). Invoco aqui Bruno para que não se diga que estou a utilizar uma autoridade eclesiástica católica qualquer.
Mesmo que a religião e a ciência estivessem em oposição, não nos deveríamos cansar de estudá-las — embora o mais importante não seja encontrar o ponto comum, mas antes deduzir esse ponto comum dos dois contrários. Desprezar os contrários ou um dos contrários, significa estupidez.
Mas a verdade é que a ciência e a religião não se encontram em oposição.
Perante as descobertas científicas da física quântica, o materialismo ateísta é a maior estupidez que pode existir no século XXI. Ser materialista, no sentido ateísta, é a negação da ciência. O antagonismo clássico “ciência contra a religião” já não existe actualmente: foi a própria ciência que o eliminou, ao alterar a sua auto-concepção e a sua exigência de validade. Não é de admirar que, no fim da investigação das partículas elementares (física quântica), surja nos ateus materialistas um grande silêncio: pelo menos, o disparate do século XX seria perfeito.
Nas ciências empíricas, é discutível falar de “verificação”. Karl Popper demonstrou que se pode estabelecer experimentalmente a falsidade de uma hipótese, embora não seja possível estabelecer a sua verdade (falsificabilidade). A “verificação” do Ludwig Krippahl é isto: pode-se dizer que uma coisa é falsa, mas não se pode dizer que outra coisa é verdadeira. E ele sente-se superior às pessoas religiosas apenas e só por isto…!
Dizer que “apenas a religião se baseia em crenças”, é ser intelectualmente míope. Duma maneira geral, a crença é adesão a uma ideia, um pensamento, uma afirmação, uma teoria, um dogma… Nesse sentido, a ingenuidade, o preconceito, o erro, a fé, a opinião, assim como o saber científico, são diferentes formas de crença.
Por último, afirmar que “na ciência não há autoridade de direito”, é tentar enganar os pacóvios. Basta que na ciência existam paradigmas para que prevaleça sempre a autoridade dos que seguem o paradigma vigente.
O filósofo ateu John Gray publica um texto que deve ser lido nomeadamente por ateus e naturalistas como por exemplo os inquilinos do Rerum Natura. Duvido que compreendam o conteúdo do texto, mas aqui fica a dica.
“In fact there are no reliable connections – whether in logic or history – between atheism, science and liberal values. When organised as a movement and backed by the power of the state, atheist ideologies have been an integral part of despotic regimes that also claimed to be based in science, such as the former Soviet Union. Many rival moralities and political systems – most of them, to date, illiberal – have attempted to assert a basis in science. All have been fraudulent and ephemeral. Yet the attempt continues in atheist movements today, which claim that liberal values can be scientifically validated and are therefore humanly universal…
(…)
Evangelical atheists today view liberal values as part of an emerging global civilisation; but not all atheists, even when they have been committed liberals, have shared this comforting conviction. Atheism comes in many irreducibly different forms, among which the variety being promoted at the present time looks strikingly banal and parochial…
(…)
The predominant varieties of atheist thinking, in the 19th and early 20th centuries, aimed to show that the secular west is the model for a universal civilisation. The missionary atheism of the present time is a replay of this theme; but the west is in retreat today, and beneath the fervour with which this atheism assaults religion there is an unmistakable mood of fear and anxiety. To a significant extent, the new atheism is the expression of a liberal moral panic.
(…)
Sam Harris, … who was arguably the first of the “new atheists”, illustrates this point. Following many earlier atheist ideologues, he wants a “scientific morality”; but whereas earlier exponents of this sort of atheism used science to prop up values everyone would now agree were illiberal, Harris takes for granted that what he calls a “science of good and evil” cannot be other than liberal in content.
(…)
Today, it’s clear that no grand march is under way… But the ongoing reversal in secularisation is not a peculiarly Islamic phenomenon.
(…)
The resurgence of religion is a worldwide development. Russian Orthodoxy is stronger than it has been for over a century, while China is the scene of a reawakening of its indigenous faiths and of underground movements that could make it the largest Christian country in the world by the end of this century. Despite tentative shifts in opinion that have been hailed as evidence it is becoming less pious, the US remains massively and pervasively religious – it’s inconceivable that a professed unbeliever could become president, for example.”
Embora existam vários modelos de ateísmo1, podemos conceber genericamente o ateísmo como a consequência de uma explicação materialista da origem e da evolução do universo e do homem. Ora, se tomarmos em consideração as recentes descobertas da Física, alguém que tenha uma visão materialista do mundo — que inclui o universo e o homem — só pode ser um estúpido, porque nega a própria ciência. O ateísmo é sinónimo de materialismo.
Não devemos confundir ateísmo, por um lado, com agnosticismo, por outro. Com as descobertas recentes da Física, um filósofo ateu (materialista) é uma aberração intelectual; mas um filósofo agnóstico já é intelectualmente tolerável.
Quando falamos em “religiões”, não devemos meter todas no mesmo saco, como se faz aqui — porque, por exemplo, os princípios e valores éticos que norteiam o Cristianismo são diferentes dos princípios e valores que norteiam a religião dos habitantes canibais das montanhas da Papua-Nova Guiné. Meter as religiões todas no mesmo saco revela estupidez.
Um ateu moderno, por mais que o negue, está eivado de cultura cristã, seja através da cultura antropológica, seja através do legado histórico da Europa. Em princípio, um ateu moderno europeu assimilou alguns valores cristãos através da cultura antropológica em que está inserido.
Quando se diz que “um ateu não é mais propenso à imoralidade do que um católico”, por exemplo, joga-se com a ignorância (politicamente correcta) do conceito de juízo universal: pelo facto de conhecermos um ateu moralmente íntegro, isso não significa necessariamente que a moralidade dos ateus, em geral, seja equivalente ou superior à dos católicos. Por outro lado, há muita gente que se diz “católica” mas que não respeita os valores da ética cristã (na prática, são ateus).
A ética ateísta é responsável pelo maior morticínio de que alguma vez rezou a História: o holocausto silencioso de milhares de milhões de seres humanos, ou seja, o aborto.
Quando se invoca um texto de S. Tomás de Aquino em que ele diz que a pena de morte aplicada a um herege é executada pelo poder político e secular, e ao mesmo tempo se invoca um pretensa superioridade da ética ateísta que legitima o aborto como um valor ético — estamos em presença da indigência intelectual e moral da actual Academia.
Nota
1. o materialismo dito “científico”, ou marxismo; o neopositivismo; Nietzsche e os seus seguidores; o Existencialismo ateu.