perspectivas

Quinta-feira, 20 Outubro 2011

Cavaco Silva e a crítica ao radicalismo ideológico de Passos Coelho

Eu sou um crítico de Cavaco Silva e não votei nele. Aliás, não votei em nenhum candidato à presidência da república: em termos de república, sou um relapso. Mas quando Cavaco Silva vem criticar a política deste governo, isso não significa que ele seja de Esquerda (no sentido europeu e marxista): surpreende-me que hajam pessoas com capacidade para pensar e que assumam acriticamente uma qualquer ideologia política.

Naturalmente que se Cavaco Silva vivesse nos Estados Unidos, seria considerado de Esquerda; basta que ele seja keynesiano para que levasse logo com o rótulo de “liberal”, tal como Obama é considerado de Esquerda; mas em termos europeus, Cavaco Silva não é da Esquerda, e em termos culturais e dos costumes até é conservador.

« As ideologias foram inventadas para que aqueles que não pensam possam ter opinião. »

— Nicolas Gomez Dávila

Com excepção dos governos do PREC, este governo de Passos Coelho é o mais ideológico desde o 25 de Abril de 1974. A partir do momento em que a ideologia hayekiana tomou conta do governo, este deixou de ter contacto com a realidade política e social do país — tal como acontece com os governos marxistas.

A ideia segundo a qual os funcionários públicos ganham mais do que os funcionários do sector privado, é falsa e demagógica; e essa demagogia teve origem na própria pessoa de Passos Coelho. Quando fazemos comparações, devemos comparar aquilo que é comparável, isto é, devemos comparar engenheiros com engenheiros, professores com professores, etc.. Se José Sócrates era um demagogo, Passos Coelho não lhe fica atrás.

Numa altura em que seria essencial unir todos os portugueses em torno de um desiderato comum, Passos Coelho adopta uma estratégia política de divisão do país, tentando colocar a sociedade contra a função pública.

É óbvio que existem funcionários públicos a mais, mas o que Passos Coelho está a fazer é a confundir propositada e demagogicamente dois problemas distintos: o problema do excesso de funcionários públicos, por um lado, com o problema “fantasma”, e que não existe, dos salários superiores da função pública, por outro lado.

A crítica a uma ideologia política não pode ser considerada “de direita” se essa ideologia radical é marxista, e “de esquerda” se essa ideologia radical é utilitarista. A crítica a uma ideologia política é sempre um acto de inteligência, que não é de esquerda nem de direita.

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