perspectivas

Domingo, 21 Outubro 2012

O apelo ao síndroma de Estocolmo, e o “medo alemão da inflação” justificado pela “via de Bismarck”

Os portugueses estão a ser enganados todos os dias, por intermédio dos me®dia, pela classe política em particular, e pelas elites elites em geral.

A situação de mentira sistémica ao povo chegou a um ponto tal, que os responsáveis pela actual política alemã são apresentados ao povo português, por todos os economistas que falam nos me®dia , como as vítimas em todo o processo de acção da Troika em Portugal. O que se está a passar é assustadoramente vergonhoso.

Ainda ontem ouvi o economista Augusto Mateus (ligado ao Partido Socialista de José Sócrates) dizer numa entrevista que a intransigência alemã em relação a uma outra política em relação ao Euro — que permitisse a austeridade e simultaneamente minimizasse a destruição das economias dos países intervencionados pela Troika — , teria a ver, segundo o Mateus, com “o medo alemão da inflação”, que alegadamente justifica o veto alemão a um certo nível de “quantitative easing”, ou seja, emissão de moeda pelo BCE [Banco Central Europeu].

Vejam bem como os carrascos se transformam em vítimas! e como as vítimas (os portugueses, mas não só) são induzidas pelas elites (economistas com acesso aos me®dia, a classe política neoliberal, etc.) a entrar num síndroma de Estocolmo em relação aos agressores.

O argumento falacioso das elites portuguesas me®diáticas em relação aos alemães é, paradoxalmente, ad Misericordiam: os portugueses são convidados a ter piedade da Alemanha e dos alemães, que alegadamente passaram por um hiper-inflação na década de 1920.

O que as elites portuguesas, vendidas à estranja e à utopia europeísta, não dizem, é que essa hiper-inflação existiu na Alemanha na década de 1920 porque este país teve que pagar altas indemnizações de guerra, por ter causado e perdido a I Guerra Mundial. A verdade dos me®dia é vendida às fatias, e algumas destas são deitadas fora ou escondidas do povo.

Cada vez que ouço as elites portuguesas nos me®dia lembro-me de uma classificação de José Hermano Saraiva: “É gente menor”. As elites portuguesas são, de facto, “gente menor”.

Mas ao mesmo tempo que as elites portuguesas apelam ad Misericordiam em relação aos alemães, apoiam a via de Bismarck que levou ao desastre da Alemanha até 1945, e que ameaça novamente a Europa. A via de Bismarck foi a via política, escolhida por este político prussiano, de unificação da Alemanha não por via democrática (de baixo para cima), mas impondo essa unificação alemã de cima para baixo (mediante a violência, a guerra e a repressão).

O que se passa hoje, com a intransigência alemã em relação à política monetária do Euro, é uma forma de violência. Em vez do Lebensraum, temos hoje o Wirtschaftsraum — mas não deixa de ser uma forma de violência em relação aos países intervencionados pela Troika.

Ora, é a via de Bismarck que está a ser seguida e imposta pela Alemanha e apoiada pela elite portuguesa na construção do leviatão europeu. E esta nova via de Bismarck, adoptada novamente pela Alemanha, vai desembocar em um novo desastre na Europa.

Os alemães estiveram na origem, não de duas guerras, como se diz por aí, mas de três guerras mundiais a partir de 1848. Em menos de cem anos, a Alemanha foi responsável por três conflitos europeus e mundiais.

Para além do discurso falacioso ad Misericordiam, a elite portuguesa incorre noutra falácia: a ad Baculum. Por um lado, apela à piedade em relação aos “coitadinhos dos alemães” que tiveram uma inflação alta na década de 1920 (escamoteando as razões dessa inflação); e por outro lado, utilizam a ameaça: “ou os portugueses aceitam, sem discussão, as imposições políticas da Alemanha, ou terão o caos”.

A política portuguesa resume-se apenas e só à imposição sistemática, ao povo português, destas duas falácias lógicas no discurso de justificação da política da Alemanha. O problema para os alemães irá surgir quando a Europa e o mundo acordarem; e dessa vez, ninguém irá, como não aconteceu anteriormente, defender a não-destruição do tecido industrial alemão.

1 Comentário »

  1. […] no postal anterior, das duas principais falácias lógicas do discurso político actual veiculado pela […]

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    Pingback por As falácias bovinotécnicas do Blasfémias « perspectivas — Domingo, 21 Outubro 2012 @ 11:24 am | Responder


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