perspectivas

Quarta-feira, 2 Março 2011

Acordo Ortográfico: podem enganar muita gente, mas não toda

Antes de mais, convém dizer que a esmagadora maioria dos mentores da Wikipédia em português é de nacionalidade brasileira; mas não é isso que eu quero colocar em causa aqui: não tenho nada contra o facto dessa maioria ser brasileira. O problema é outro.


  1. Na imagem acima, que se refere a um verbete da Wikipédia sobre o substantivo Óscar (que pode ser um nome próprio ou nome do prémio da academia de Hollywood), os mentores da Wikipédia colocaram “Óscar (português europeu)” e “Oscar (português brasileiro)” — como podem verificar na imagem e no sítio, se entretanto não for alterado.
  2. Pergunta: por que é que, em contraponto a “português brasileiro”, os mentores da Wikipédia não se referiram a “português português”?
    Resposta: porque “português português” é tautológico; “português português” = “português”. Ponto final.
  3. Perante o embaraço decorrente do facto de “português português” ser igual a “português”, os mentores brasileiros da Wikipédia utilizam a designação de “português europeu”, mas não prescindem da designação de “português brasileiro” em vez de “português americano”, por exemplo.
  4. A designação de “português europeu” evita a tautologia do “português português”, tautologia essa que cobriria de ridículo os intelectuais nacionalistas brasileiros. E mais importante, a designação de “português europeu” evita que o português escrito em Portugal seja simplesmente “português”, o que lhe daria um cariz primordial. A ideia é esta: há que eliminar os primórdios, a História, baralhar e tornar a dar.
  5. A designação de “português europeu, de certa forma, dissocia simbolicamente a língua do país que é Portugal — enquanto que a designação “português brasileiro acentua o simbolismo da nacionalidade atribuída à língua (ver o que diz, sobre este assunto, Ferdinand de Saussure: a supremacia do significante (brasileiro) sobre o significado (português), ou o conceito de assimetria conceptual. No caso de “português europeu”, o significante é “europeu”).
  6. Neste contexto desconstrutivista / cultural brasileiro, o próximo passo do nacionalismo brasileiro será, talvez, o da implementação do conceito cultural de “brasileiro” para a língua do Brasil, e o de “brasileiro português” para Portugal. Aquilo que era português passa a ser brasileiro, e aquilo que era brasileiro passa a não ser português.

Enquanto isto, temos uns palhaços em lugar de políticos.

Adenda: em vez de “Óscar” e “Oscar”, podem tomar como outros exemplos, “facto” e “fato”, que se mantêm no novo Hacordo Hortográfico.

19 comentários »

  1. João de Medeiros: ler a tabuleta aqui ao lado: comentários segundo o Hacordo Hortográfico são apagados.

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    Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 2 Março 2011 @ 5:56 pm | Responder

  2. Andava eu escamado com aquela desconchavada designação do Português e eis aqui, por A mais B, o que é.
    Cumpts.

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    Comentar por Bic Laranja — Segunda-feira, 7 Março 2011 @ 10:55 pm | Responder

  3. “Pergunta: por que é que, em contraponto a “português brasileiro”, os mentores da Wikipédia não se referiram a “português português”?”
    Resposta simples: porque é assim que, desde há decadas, se chama à variedade portuguesa do português. Chateie-se com o Leite de Vasconcellos, o Paiva Boléu e o Lindley Cintra, todos portugueses. O Acordo Ortográfico, a Wikipédia e os brasileiros não têm culpa no cartório.

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    Comentar por Pedro — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 1:44 am | Responder

  4. Pergunta: “por que é que o céu é azul?” E responde o Pedro: “porque sempre foi assim”.

    Esta é a forma de estar da maioria que está a ser enganada: as coisas são assim, porque sim. E depois invocam alguns nomes: “o Fulano e o Sicrano também já diziam, no tempo do arroz de 15, que era assim”. E a gente apresenta-lhe factos concretos que explicam por que é que as coisas são assim… mas não adianta nada. “É assim, porque sim!”

    É lógico que um tango precisa de dois para ser dançado. Por isso é que eu escrevi no fim: “Enquanto isto, temos uns palhaços em lugar de políticos”. Esta história reflecte também a estratégia internacionalista de Esquerda, e o seu complexo histórico suicidário e de arrependimento perante a História (“coitadinhos dos pretinhos!”), que controlou e controla Portugal desde 1974 e de que os brasileiros exploraram e se aproveitaram.

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    Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 5:55 am | Responder

  5. Não creio que sejam palhaços. São ignorantes, uns; ou outros, vendidos.

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    Comentar por bst — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 6:05 am | Responder

  6. “Palhaço” não é um insulto em si mesmo, porque os verdadeiros palhaços do circo não são palhaços: apenas representam — são actores da palhaçada.

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    Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 6:17 am | Responder

  7. P.S. Eu gosto de dizer português europeu. Gosto da Europa – que Portugal ajudou a ser o que foi.
    Quanto ao português falado no Brasil, é português sul-americano.
    Sem qualquer dúvida e a partir de agora é a expressão que vou começar a utilizar.

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    Comentar por bst — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 6:21 am | Responder

  8. As coisas não valem por causa dos GOSTOS. Tb há gente que GOSTA de ir ao cu a meninos, e nem por isso a pedofilia é válida.

    Se Portugal ajudou a Europa, a Europa não ajudou Portugal a ser o que foi. A excepção foi a Inglaterra, mas por interesses económicos. De resto, Portugal foi constante e sucessivamente alvo de hostilidades por parte de Espanha, França, Holanda, Alemanha, e até a Inglaterra nos impôs o Ultimato que esteve na base da implantação da república.

    Portugal foi o que foi, e é o que é, à custa do povo português. Ponto final!

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    Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 6:33 am | Responder

  9. Leia o que está lá escrito.

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    Comentar por bst — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 6:41 am | Responder

    • Já li. Os brasileiros podem chamar à sua língua o que que quiserem; inclusive “Tupi”. Não tenho nada a ver com isso.

      Mas já tenho a ver com a língua de Portugal. É português. Não é “português da península ibérica”, ou “português europeu”; é português, só. Não é uma questão de GOSTO: é uma questão de LÓGICA!

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      Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 6:51 am | Responder

  10. Na Alemanha escreve-se o alemão (Hochdeustch). Não cabe na cabeça de um alemão dizer que escreve “alemão da Alemanha”. Os austríacos e os suíços escrevem alemão com pequenas diferenças. Logo existe alemão austríaco e alemão suíço. Isto é lógico.

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    Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 6:56 am | Responder

  11. Se já leu, agradeço que faça a devida menção no comentário 8. É que o que escrevi é o contrário do que interpretou «Gosto da Europa – que Portugal ajudou a ser o que foi.» Que Portugal ajudou. Quem ajudou a Europa foi Portugal.

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    Comentar por bst — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 7:13 am | Responder

    • “Quem ajudou a Europa foi Portugal.”

      E eu escrevi: “Se Portugal ajudou a Europa, a Europa não ajudou Portugal a ser o que foi.”

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      Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 8:24 am | Responder

  12. Na notação do inglês já encontra menção do inglês de Inglaterra e do dos USA.
    Nós é que andamos irritados com tudo isto. Eu que achava graça ao alguns modismos brasileiros deixei de ler em PT-SA.

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    Comentar por bst — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 7:19 am | Responder

    • Nisso concordo. Se disserem “português de Portugal” é coisa diferente de “português europeu”. Este termo não faz sentido, até porque não existe outro país na Europa que fale português. Uma coisa é certa: as pessoas que se convençam que tudo isto não acontece por acaso. Existe uma intencionalidade.

      Um exemplo deste tipo de intencionalidade é o marxismo cultural: tem sido maturado ao longo de gerações, pelo menos desde a década de 20 do século passado. Existe uma estratégia política e ideológica inter-geracional que começou na escola de Frankfurt e decorreu até Habermas e Derrida, e continua ainda hoje.

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      Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 9 Março 2011 @ 8:18 am | Responder

  13. ABSOLUTAMENTE dE ACÔRDO DESORTOGRÁFICO CARO ORLANDO BRAGA !
    OS HOMENS dA LUTA , LUTAM COM ALEGRIA e CANTAM em PORTUGUÊS o SEU AMÔR a PORTUGAL.
    PORTUGAL NÃO PRECISA DE SE PÔR EM BICOS DE PÉS PARA SÊR VISTO COMO ALGUNS TRAIDÔRES “INTELECTUAIS” POLÍTICAMENTE CORRECTOS PRETENDEM , ENCOSTANDO-SE AOS FALANTES DO BRASILEIRO …
    PORTUGAL É ENORME !
    PESSOALMENTE ACHO QUE ÊLES DEVIAM LARGAR-NOS A BREGUILHA E ASSUMIR QUE FALAM BRASILEIRO DUMA VEZ POR TÔDAS E NUNCA MAIS HAVERIA eSTE MONSTRUOSO EQUÍVOCO !
    BEM HAJA CARO PORTUGUÊS dos 5 COSTADOS !

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    Comentar por Rogério Maciel — Domingo, 20 Março 2011 @ 12:10 pm | Responder

  14. Pergunta: porque é que chamamos ‘pedras’ às ‘pedras’? E responde o O. Braga: porque é assim – mas não devia ser, “de acordo com os factos”.
    É esta a forma de estar de quem não percebe nada de conhecimento lexical, de história da língua e de lexicografia, mas ainda assim gosta de comentar coisas com elas relacionadas como se fosse um especialista. A nomeação das coisas depende mais de factores históricos que da lógica que essas nomeações possam ter sincronicamente. Querer ler intenções políticas nisso é risível.

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    Comentar por Pedro — Terça-feira, 17 Maio 2011 @ 9:21 pm | Responder

  15. **********

    Pedro:

    A julgar pelo seu comentário, você não faz a puta de uma ideia do que é a relação entre um significante e um significado. Quando chamamos “pedras” às “pedras”, existe apenas um significado; por exemplo, a seguinte proposição:

    “Uma pedra é uma pedra”.

    Pura tautologia.

    Uma definição não pode incluir, em si mesma, o seu significado; por exemplo,

    “O Pedro é o Pedro”.

    Isto não define nada acerca do Pedro!

    Mas se eu disser :

    “O Pedro é burro”

    temos uma definição do Pedro, e mais: temos um significante (burro) e um significado (Pedro).

    Entendeu?

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    Comentar por O. Braga — Terça-feira, 17 Maio 2011 @ 9:59 pm | Responder

  16. Como sou antiga , tenho dificuldades em falar “português brasileiro” . A língua portuguesa é uma só , nascida em Portugal e falada no mundo inteiro . Aprendi “português falado no Brasil” , e àquela época não tão longe assim , bem semelhante ao português falado em Portugal . O problema é que a língua portuguesa falada no Brasil deteriorou-se de tal forma nos últimos 30 anos que está a virar outra coisa que não português – talvez só “brasileiro” ! Depois do “acordo ortográfico” o português falado no Brasil distanciou-se ainda mais tanto do português falado em Portugal quanto da norma culta do português falado no Brasil de 20 anos atrás . Chega-se ao ponto de , no Brasil de hoje , nas boas escolas (!!!) , haver dificuldade em ensinar nas escolas primárias o pretérito mais que perfeito e de as professoras desconhecerem a aplicação de mesóclise e ênclise . O português falado hoje no Brasil está à se tornar um dialeto , o tal “brasileiro” . Digam-me o que há de se fazer a não ser Portugal separar-se linguisticamente o quanto antes para salvar o português-português , o português de Portugal , o português falado no mundo !

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    Comentar por Cris Fontana — Segunda-feira, 30 Junho 2014 @ 1:43 pm | Responder


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