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Sábado, 29 Agosto 2009

Portugal: resumo de 200 anos de vergonha (III)

Filed under: Maçonaria,Portugal — O. Braga @ 8:17 pm
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A ucronia é a utopia histórica que nos permite imaginar aquilo que a História poderia ter sido e não foi; o neo-criticista francês Charles Renouvier (1815 ― 1903) fez uso da ucronia não em um sentido saudosista ou no sentido de desconstruir a História para criticar eventuais inimigos políticos, mas antes no sentido pedagógico de demonstrar a necessidade da crença do Homem em si mesmo como sendo capaz de eliminar a ilusão do facto consumado que implica a aceitação de um determinismo histórico. Porém, Renouvier chama a atenção para facto de que a utopia histórica conter em si mesma uma contradição insanável que consiste no facto de a ucronia ― tanto a que se refere ao passado como ao futuro ― admitir em si mesma, como condição primeira, a necessidade determinística da História. Portanto, qualquer “filme” que possamos fazer da História só pode ser entendida como um exercício pedagógico, por que se o Homem é livre de a cada momento poder influenciar o curso dos acontecimentos históricos, é impossível modificar o passado como é impossível prever o futuro. Voltaremos, de modo mais concreto, à ucronia mais adiante, quando se falar especificamente no integralismo lusitano de António Sardinha.

A mente revolucionária que se iniciou em Portugal com o Vintismo maçónico ― que seguiu o jacobinismo Illuminati francês ― parte do princípio da validade absoluta da sua ideia de futuro e da verdade da profecia revolucionária. Os “republicanos maçónicos” (passo a redundância que tem uma intenção enfática) sujeitaram o povo português à tirania do facto histórico por eles engendrado, e à ilusão da necessidade histórica. Só assim se explica como é que o partido republicano, que só tinha quatro deputados no parlamento em 1910, conseguiu impôr, pela força bruta do golpe-de-estado, a toda uma nação, um ideário privado e particular delineado por uma elite de auto-iluminados no seio das lojas maçónicas, ideário esse que nunca chegou a ser referendado pelo povo.

O povo português foi, através da república maçónica, usurpado dos seus direitos históricos e identitários. A maçonaria traiu o povo português, mesmo antes da república e principalmente depois desta, e ficam contas históricas por ajustar.


O rei D. Carlos era considerado, por toda a Europa, como um estadista com uma das mentes mais brilhantes do seu tempo. O maçon Guerra Junqueiro escreveu na “Voz Pública” em 1906:

«A tirania do Sr. D. Carlos procede de feras mais obesas: do porco. Que o porco esmague o lodo é natural. O que é inaudito é que o ventre de um porco esmague uma nação e dez arrobas de cebo achatem 4 milhões de almas.»

Foi esta mesma escumalha, que se referiu a um governo temporariamente autoritarista de João Franco apoiado pelo rei para manutenção circunstancial da ordem pública e política, que depois permitiu, com a estupidez da loucura das suas acções revolucionárias, a ditadura de Sidónio Pais e a de Salazar. Assim se define a autoridade moral de Junqueiro e da maçonaria portuguesa.

A irracionalidade maçónica revelou, desde cedo, a sua periculosidade. O que aconteceu a partir de 1820 foi a afirmação positiva do princípio da negação da propriedade privada em Portugal, quando o governo maçónico que se estendeu do Vintismo ao Cartismo de Mouzinho da Silveira, perseguiu a Igreja Católica e nacionalizou praticamente todos os mosteiros e respectivas terras, por todo o país. Mais uma vez, o radicalismo cometeu um erro gravíssimo: os mosteiros desempenhavam uma função essencial na produção agrícola do país, e com o seu encerramento compulsório, as terras foram abandonadas, o desemprego rural aumentou exponencialmente porque os mosteiros davam trabalho ao trabalhador agrícola, a produção da agricultura caiu a pique e Portugal teve necessidade de importar cada vez mais para colmatar a miséria que grassava.
Um fenómeno deste género aconteceu em Moçambique quando os revolucionários marxistas da FRELIMO abateram a rede de distribuição existente do tempo colonial composta pelos “cantineiros”.
Grave foi também o abandono votado aos edifícios monasteriais nacionalizados pelos radicais maçónicos, e a imensa riqueza em obras de arte que se perdeu com a vandalização desses espaços de inegável valor histórico e cultural.

Entretanto, na mesma época do Vintismo, os ingleses que os radicais maçónicos consideravam como sendo “liberais”, faziam exactamente o contrário no seu país: os baldios medievais por toda a Inglaterra, que por tradição eram trabalhados pelo povo mais pobre, foram encerrados em 1750 por um período de 90 anos. Paulatinamente, esses baldios passaram para a posse da aristocracia através de recorrentes e sucessivas autorizações parlamentares para o efeito, lançando cruelmente na fome o trabalhador agrícola. “Bem prega Frei Tomás…”

“Havemos de forçar o governo [de João Franco] ou a transigências que o rebaixem, ou a violações que o comprometam.”

― Brito Camacho, maçon inveterado

Os radicais maçónicos espumavam impropérios contra o princípio da hereditariedade na soberania monárquica, mas nunca colocaram em causa o princípio da hereditariedade na economia burguesa. Vociferavam contra o rei enquanto enchiam os seus bolsos e não alienavam, de forma nenhuma, o direito de transmissão dos seus bens à sua prole. O princípio da hereditariedade só valia, segundo os pedreiros-livres, para aquilo que lhes interessava.

A única instituição europeia que nunca obedeceu ao princípio da hereditariedade na sucessão do poder interno, foi a Igreja Católica, e foi precisamente aí que o ódio visceral da escumalha maçónica se concentrou. Ao mesmo tempo, seguindo o ideário de Rousseau e dos Illuminati, a maçonaria fomentou o surto das ditaduras que se perfilaram no século XX desde que a base tradicional do Poder foi posta de parte, e mesmo as conquistas democráticas do século XIX foram aniquiladas por uma turba enraivecida e irracional comandada a partir das lojas maçónicas.

(continua)

1 Comentário »

  1. […] (continua) […]

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