perspectivas

Quinta-feira, 29 Março 2012

Sobre a crítica ao Distributismo [parte II]

A segunda crítica ao Distributismo, deste texto, é a seguinte: “Mesmo sabendo que as pequenas empresas familiares são ‘engolidas’ pelas grandes empresas monopolistas, não é óbvio que seja sempre preferível que um homem trabalhe na sua empresa familiar em vez de trabalhar para outrem.”

A crítica parte do princípio segundo o qual uma pessoa que trabalhe para uma grande empresa tem mais tempo livre para a sua família, e tem menos preocupações com a perda do emprego e com a falência da empresa. Porém, se analisarmos honestamente o que se passa hoje no mercado de trabalho, verificamos que essa crítica é infundada. Hoje, um trabalhador de uma grande empresa está sujeito a uma pressão sobre a sua vida pessoal muito maior do que se trabalhasse na sua própria empresa familiar. A nossa experiência colectiva, aquilo que todos nós vemos no nosso dia-a-dia, e com a actual neoliberalização das leis laborais, diz-nos que essa crítica neoliberal está errada. Hoje, é muito mais arriscado e mais penoso trabalhar para uma grande empresa do que trabalhar por conta própria em uma empresa familiar.

Por outro lado, essa crítica ao Distributismo parte do princípio errado segundo o qual as empresas familiares não dão trabalho a pessoas de fora da família; e que uma empresa familiar resume-se e restringe-se ao núcleo familiar. Todos nós sabemos que não é assim, e por isso nem vale a pena comentar este aspecto da crítica.

A terceira crítica neoliberal ao Distributismo diz que “se a minha avó não tivesse rodas, não seria um autocarro”; ou “que se cá nevasse, fazia-se cá ski”. Ou explicando de um outro modo: se não fosse a revolução industrial e o laisser-faire liberal, não existiria o Distributismo. Esta premissa é falsa, porque o Distributismo sempre foi baseado numa realidade económica anterior à revolução industrial. E se fôssemos por considerações de ordem histórica, teríamos aqui “pano para mangas”.

O argumento neoliberal é parecido com o seguinte argumento comunista: “se não fosse o 25 de Abril de 1974, o PREC [Processo Revolucionário em Curso] e a revolução comunista dos cravos, nunca, jamais, em tempo algum, teria existido liberdade de expressão em Portugal. Liberdade e comunismo são, por isso, sinónimos.” O argumento é falacioso porque parte do princípio de que o progresso está totalmente submetido a um determinado acontecimento histórico e sem o qual não haveria outra linha de evolução histórica que garantisse esse progresso.

A quarta crítica neoliberal ao Distributismo é a que “o Distributismo não é capitalismo”, dando a ideia de que o Distributismo é anti-capitalista. Retenha o leitor, na sua ideia, o seguinte: o Distributismo não é, de todo, anti-capitalista! Quando o Neoliberalismo diz que o Distributismo é anti-capitalista, comete uma fraude intelectual. O que o Distributismo não adopta — ao contrário do Neoliberalismo, que o faz — é a dissociação social-darwinista [característica do Neoliberalismo] entre o ser humano e a economia; ou seja, o Distributismo não dissocia a economia, a política e a ética.

A ler sobre este assunto:

Sobre a crítica ao Distributismo [parte I]

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