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Segunda-feira, 10 Janeiro 2011

O novo torpor filipino de Portugal

Filed under: A vida custa,Esta gente vota,Europa,Portugal — O. Braga @ 6:13 am
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A campanha eleitoral para a presidência da república caracteriza-se por um vazio de ideias, que reflecte o estado comatoso da III república. O país está exangue. Notícias frescas dizem que o nível do endividamento do país é relativa e proporcionalmente equiparável ao que existia em 1926, antes do golpe de estado que colocou Salazar no poder, dois anos mais tarde.

A economia não arranca. O desemprego aumenta e existe uma espécie de pacto de silêncio entre os diversos poderes instalados (elite política, elite financeira, elite cultural e os me®dia ). Agora fala-se na vinda do FMI quando este deveria ter chegado, o mais tardar, em Setembro passado. O adiamento da vinda do FMI obedeceu ao calendário político eleitoral; a vida nacional sujeita-se totalmente aos caprichos políticos de uma elite lisboeta instalada à mesa do orçamento de Estado.

Enquanto o país entra em coma, a discussão dos verdadeiros problemas nacionais é evitada. Portugal caiu numa espécie de torpor filipino. As elites pensam que Portugal e o seu futuro são “favas contadas” — para eles e para os amigos; a História de Portugal chegou ao fim, pensam eles, e agora há que dividir o espólio que ficou de 800 anos. E quem parte e reparte, fica com a melhor parte.

Entretanto, o povo está sem liderança e sem pontos de referência. Cavaco Silva é olhado como um mal menor. A elite traiu o povo, e um povo traído é capaz de tudo. As pessoas assistem, atónitas, à defesa da alienação da soberania e da memória de um povo com 800 anos de História, em nome da perpetuação de prerrogativas e de privilégios de uma pequeníssima minoria.

Ainda há dias, Pinto Balsemão (Partido Social Democrata) defendia na SICn a ideia de que Portugal deveria abdicar da sua soberania para salvar a sua economia. O cinismo sinistro desta gente não tem limites, porque toda a gente sabe que cedendo a soberania, ficamos ainda mais frágeis do ponto de vista da economia; basta verificar no que deu a cedência paulatina da nossa soberania desde que Portugal aderiu ao Euro, e com os tratados de Nice e de Lisboa. E basta ver a actual situação da Grécia e da Irlanda.

Os grandes países, como a Alemanha e a França, nunca cedem soberania a ninguém: partilham-na, até que surja a primeira crise de antagonismos entre eles. Em contraponto, os pequenos países nunca partilham a soberania, mas cedem-na. Por isso é que a defesa da nossa soberania deve ser um dos pontos essenciais da nossa agenda política. Porém, o que verificamos é que as nossas elites defendem exactamente o contrário: a desnacionalização do país, rumo à nova escravidão filipina.

Fotografia transformada a partir do original, daqui. Rio Tejo, Alhandra.

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