A “pós-democracia” é um sistema político em que a democracia representativa fica cativa das elites totalitárias que se representam exclusivamente a si próprias.
Não, necessariamente. A Pós-democracia está ligada ao “establishment” político controlado por uma elite ― trata-se de uma tirania ― mas não necessariamente uma plutocracia.A luta política actual tem como objectivo estabelecer a elite preponderante no futuro, e não se coloca já em causa, entre as elites políticas totalitárias, a ideia de que a democracia é um sistema político que pertence ao passado.
O que está a acontecer na Europa ― e nos Estados Unidos de Obama ― é um compromisso político entre a Esquerda neomarxista, de clara tendência totalitária, e a plutocracia global, no sentido da “sinificação” (neologismo; de “sino”, relativo a “China”; transformação do mundo à imagem da actual China) do mundo, estabelecendo-se assim o princípio universal de “dois sistemas, um planeta”, em que o Poder Global é repartido por ambos os totalitarismos: o neoliberal e o neomarxista, relegando a democracia para um sistema-proforma em que as eleições não contam ― ou contam muito pouco ― para a definição do Poder.
Existe um encontro de vontades e até um compromisso político em determinadas áreas entre os neomarxistas e os neoliberais: por exemplo, enquanto que o aborto livre significa, para a Esquerda neomarxista, a heresia e a ruptura cultural com a religião e a celebração de um monismo religioso panteísta e naturalista, para o neoliberalismo significa a gestão utilitarista de recursos à escala global, por forma a que a partilha dos bens disponíveis seja a menor possível. Para isso, assistimos a um retorno ao capitalismo liberal do século 19, e a “sinificação” da Europa e dos Estados Unidos representa esse retrocesso histórico.
Neomarxistas e neoliberais entendem-se em várias áreas e a vários níveis, e assim repartem o Poder totalitário que caracteriza a Pós-democracia.
Porém, esse compromisso sincrético entre as elites totalitárias é sinónimo de uma paz podre, e é essa paz podre ― que resulta de um acordo tácito e conjuntural entre inimigos fidagais ― que os defensores da liberdade terão que explorar, no sentido não só de zelar pela manutenção da democracia, como pelo seu aprofundamento através da democracia directa.
Com globalização, a democracia que funcionava através do Estado-nação, perdeu qualidade. Em vez da democracia nacional, assistimos hoje a um governo mundial não-eleito, protagonizado pelas elites transnacionais constituídas por advogados, especialistas de diversa ordem, ONG’s, proprietários e gestores de empresas multinacionais, altos funcionários da ONU, etc., o que resulta numa total opacidade nas tomadas de decisões políticas.
Resulta disto que as políticas desejadas pelos cidadãos de cada país democrático ficam sem legitimação e sem margem de manobra para a sua aplicação, o que leva ao aumento da abstenção nas eleições ― abstenção essa que alimenta ainda mais a legitimidade e a auto-justificação das elites totalitárias que assim defendem a Pós-democracia como um regime necessário e imperativo.
A pós-democracia é um sistema político em que a democracia representativa fica cativa das elites totalitárias ― neoliberais e neomarxistas, em acordo tácito e conjuntural ― que se representam exclusivamente a si próprias. Contudo, o que essas elites totalitárias pensam tem uma importância mínima; o que importa é saber o que pensa a maioria, e dar-lhe voz. É essa a luta de quem defende a liberdade.
Neomarxistas e neoliberais entendem-se em várias áreas e a vários níveis, e assim repartem o Poder totalitário que caracteriza a Pós-democracia.
Paradoxal, mas verdadeiro.
Infelizmente, é mesmo para onde isto caminha: “dois sistemas, um planeta”.
O apocalipse acontecerá quando esses dois sistemas se tentarem eliminar mutuamente.
Nessa altura já não seremos vivos, certamente, mas podemos prevê-lo.
O apóstolo João, esse tê-lo-á previsto há quase dois milénios atrás.
A verdadeira questão é: o que podemos nós fazer, não para evitar o inevitável, mas para tornar o caminho menos penoso. É aqui que começa o ser cristão.
Gosto de o ler, embora nem sempre concorde com aquilo que escreve.
Abraço
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Comentar por zedeportugal — Segunda-feira, 15 Dezembro 2008 @ 12:13 am |
«Gosto de o ler, embora nem sempre concorde com aquilo que escreve.»
Se calhar, estamos mais de acordo do que parece. O problema é que um
blogue não dá para nos “estendermos” muito. É impossível dissociar o
cristianismo daquilo a que a esquerda libertária chama de
“conservadorismo”; eles não dizem que são libertário-anarquistas;
preferem dizer que os cristãos são conservadores. De facto,o que nós
queremos “conservar” são apenas alguns valores milenares que nos
trouxeram até hoje: a solidariedade escorada na iniciativa individual e
não coerciva, a liberdade de expressão e de decisão, a liberdade
religiosa, o humanismo escorado nos valores de Jesus Cristo, a ética, a
moral, a família como centro fulcral da sociedade e do seu futuro, etc.
Existe uma certa direita que acredita que é possível prescindir de todos
esses valores e, mesmo assim, manter o liberalismo na economia. Puro
erro. Qualquer modelo económico é escorado em valores culturais;
retirem-se os valores e desaba o modelo esconómico — pode não acontecer
imediatamente, mas é uma questão de tempo.
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Comentar por O. Braga — Segunda-feira, 15 Dezembro 2008 @ 10:55 am |