O absurdo tomou conta da nossa realidade política, social e cultural — e a tal ponto que se torna penoso, até, escrever sobre ela, na medida em que devemos ter a preocupação de sintetizar a mensagem escrita, não a tornando complexa em um mundo controlado pelo minimalismo do Twitter e/ou do FaceBook. Ora, não há nada mais absurdo do que sintetizar o absurdo.
O Miguel Sousa Tavares escreve acerca do PAN – Pessoas-Animais-Natureza (ler em PDF); raramente estou de acordo com ele mas, desta vez, assino por baixo.
“Um partido, dito animalista, cujo fanatismo e ignorância podem conduzir à extinção de espécies animais e ao empobrecimento do mundo rural, podem afastar as pessoas da natureza como ela é, tornar as suas vidas mais pobres e mais tristes, é um partido perigoso.”
Ora, é disto que o José Pacheco Pereira não fala; mas desata aos berros por causa de um cartaz de campanha eleitoral da social-democrata Susana Dias (ler em PDF). E a razão é simples: o José Pacheco Pereira tem um arquétipo mental totalitário — o puritanismo pós-modernista, o gnosticismo actualizado.
Para o Pacheco, não é incomum ou anormal que a Esquerda pretenda proibir tudo e mais alguma coisa; pelo contrário, o espírito puritano do Pacheco acha até normal que se proíba tudo com o que ele não concorde (sem qualquer consulta popular directa; o Pacheco é contra os referendos; o Pacheco é o “Rei-filósofo”, segundo Platão.
O Pacheco, para além de ser um dos mais activos comissários políticos do Totalitarismo de Veludo, assume o papel de “consciência ideológica” do Partido Social-democrata.
“… quando alguém de uma candidatura autárquica da Amadora coloca noutro município um grande cartaz a dizer "No dia 26 de Setembro o sistema vai tremer", este cartaz cujo conteúdo é tipicamente do Chega, mas não é do Chega, faz parte da natural liberdade de expressão que a democracia assegura. O problema é onde ele está: em frente da Assembleia da República. O "sistema" é aquilo que a Assembleia da República personifica, a democracia.”
Para o Pacheco, Democracia = Esquerda. São sinónimos.
Tudo o que não seja da Esquerda é anti-democrático. Trata-se do maniqueísmo característico dos puritanos e gnósticos de todos os tempos — o maniqueísmo de que ele acusa a toda a gente que não é de Esquerda.
É surpreendente como aquela besta enganou tanta gente, durante tanto tempo. E não nos esqueçamos que foi o Cavaco Silva (acolitado pelo Pedro Santana Lopes) que o guindou na política.
Para o Pacheco, o “sistema” (que a Susana Dias critica) é a “democracia” que, por sua vez, é a “Esquerda”.
“Sistema” = Democracia = Esquerda.
Por isso, na visão míope do Pacheco, quem se atreve a criticar a Esquerda, está “tomaticamente” a condenar a própria “democracia”.
Há muito tempo que o Pacheco deveria ter sido sumariamente expulso do PPD/PSD — mas a cobardia política dos sucessivos dirigentes deste partido tem tido custos avultados, como podemos ver hoje com os números das intenções de voto.
O Pacheco, enquanto comissário ideológico do Politburo do P.S.D., pretende transformar este partido em uma espécie de “partido suplente do Partido Socialista” — e está a conseguir isso, através de uma estratégia de “agit-prop” repugnante.
Para o Pacheco, a democracia só existe se as diferenças ideológicas entre os vários partidos se resumem às diferenças de prioridades na acção política. Ou seja: “estamos todos de acordo, uns com os outros e em praticamente tudo — excepto no que diz respeito às prioridades na execução das várias políticas (com que todos concordamos)”. Para o Pacheco, é nisto que consiste a “democracia”.
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