perspectivas

Terça-feira, 29 Setembro 2009

O Integralismo Lusitano, transportado para a realidade actual e do ponto de vista espanhol, é uma forma de iberismo

Filed under: Portugal — O. Braga @ 11:25 am
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Fiquei de demonstrar que a transposição tout-cours do Integralismo Lusitano de António Sardinha para a actualidade, é utilizada pelos unionistas monárquicos espanhóis para promover um iberismo de direita.

Embora António Sardinha fosse contra a União Ibérica, defendia “a individualidade portuguesa no seio da unidade hispânica, por um lado, e defendia, em alternativa à União Ibérica maçónica e republicana, a “Aliança Peninsular”.

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Esta posição de Sardinha e do Integralismo Lusitano fazia todo o sentido em 1915, quando ocorreram as célebres palestras na Escola Naval, porque não só a monarquia espanhola (Afonso XII defendia então a Confederação Ibérica de Reinos) defendia um ideário que faria com que a Portugal fosse conferido o estatuto de região autónoma de Espanha, como uma ideia parecida com esta ― a Federação Ibérica ― era partilhada pelos republicanos espanhóis e portugueses, para além da maçonaria dos dois países. António Sardinha considerava que tanto a federação das nacionalidades republicanas ibéricas independentes (tipo Estados Unidos), como a confederação ibérica sob a égide da monarquia espanhola (tipo Alemanha do Kaiser), eram contra a natureza e os interesses de Portugal. E muito bem!

Porém, existem dois conceitos de Sardinha, que sendo válidos no seu tempo, são transportados para a actualidade com intenções diferentes das que eram do Integralismo Lusitano do princípio do século 20: o conceito de “Aliança Peninsular”, e o conceito de “Unidade Hispânica”.

Quando se diz que Salazar foi “beber” muita da sua ideologia ao Integralismo Lusitano, verificamos que isso não é de todo verdade, entre outras razões porque Salazar nunca foi a favor de uma Aliança Peninsular, nem nunca entendeu Portugal como inserido numa Unidade Hispânica. A política de Salazar em relação a Espanha baseou-se no pragmatismo puro de quem sabe que se podem escolher os amigos, mas não podemos escolher os vizinhos. E o facto de termos vizinhos ― segundo Salazar ― isso não significa que tenhamos (que sejamos obrigados por um qualquer fado ou determinismo histórico) que fazer alianças com eles que não faríamos com qualquer outro país. Portanto, o Integralismo Lusitano parte de um princípio de relações privilegiadas com Espanha baseadas num mito segundo o qual existe uma “unidade hispânica” em que Portugal está inserido, mito esse que sustenta o conceito de “Aliança Peninsular” de António Sardinha.

Fernando Pessoa dizia, embora de forma excêntrica ao seu ideário iberista, a propósito das relações entre Espanha e Portugal, que “duas criaturas podem ser amigos sem ser sócios”. O que se defende hoje ― em alguns círculos maçónicos em Espanha e Portugal, e entre os unionistas monárquicos em Espanha ― já não é a amizade, mas a sociedade por quotas em que Portugal é minoritário ― e se Portugal é minoritário, tem o direito de procurar sociedades em outras realidades políticas em que a sua quota parte seja mais vantajosa.
Porque diabo a “sociedade minoritária” com Espanha é algo de inevitável ?!
O que está a ser defendido hoje já não é o conceito pessoano da “fronteira que separa e também une”: é a abolição de fronteiras a todos os níveis, incluindo a submissão política de Portugal.

Quando os monárquicos espanhóis me acusam de “monárquico liberal” por eu não alinhar com a ucronia de Sardinha transposta para o século 21, ao mesmo tempo que defendem a ideia de “Aliança Peninsular” e de “Unidade Hispânica” do Integralismo Lusitano de princípios do século 20, assistimos a uma manipulação de conceitos que sendo contraditória em si mesma, serve para desviar a atenção do que está realmente em causa.
A monarquia espanhola ― e, portanto, os monárquicos espanhóis ― é herdeira dos “unionistas” monárquicos espanhóis de Afonso XIII; e nesse sentido, a Casa de Bragança ― que foi apoiada pelo Integralismo Lusitano ― é um inimigo fidagal e uma dificuldade a evitar pela monarquia espanhola em relação a Portugal. A contradição dos unionistas monárquicos espanhóis está em aproveitar o que lhes interessa em Sardinha e fazer de conta que o resto não existe; e para isso, chegam ao ponto de transformar Oliveira Martins ― que sendo republicano e maçon, defendia um tipo de iberismo federativo de nações ibéricas independentes, tal como Fernando Pessoa ― no profeta de uma “Aliança Peninsular” que se traduz em uma hegemonia espanhola que absorva Portugal do ponto de vista económico, cultural e político.

Por isso, e em relação a Espanha, prefiro a visão de Salazar. Os vizinhos podem e devem ser amigos, mas não têm que ser sócios; “amigos, amigos, negócios à parte”.


Adenda:

Se eu não tinha alguma razão, vejamos isto:

«Peço-te amigo: deixa esse tonto na sua ignorancia porque ele não quer aprender nada! Não gastes cera com ruins defuntos! Continuemos o nosso trabalho de informação e aproximação peninsular. Estimulemos a afeição e a fraternidade entre os povos espanhol e português, como família que somos; e deixemos esta gente afogar-se no seu próprio ódio.»

E mais uma vez a invectiva do ódio e da ignorância, à falta de argumentos. Já estou habituado; o gayzismo politicamente correcto não diz de mim outra coisa.

2 comentários »

  1. […] […]

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    Pingback por Contra el Iberismo: Apuntes para una Epifana Ibrica - Pgina 8 — Terça-feira, 29 Setembro 2009 @ 1:48 pm | Responder

  2. O Dr. Oliveira Salazar tinha razão e estava certo, devemos ter boas relações com os nossos vizinhos mas cada um arruma a sua casa ao seu jeito. E não temos de forma alguma ir beijar a mão do Rei de Espanha como já assisti muitas vezes portugueses o fazerem.

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    Comentar por Lusito Sousa — Quarta-feira, 25 Maio 2016 @ 7:10 pm | Responder


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