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Terça-feira, 17 Setembro 2013

A Santíssima Trindade é um símbolo

Filed under: Igreja Católica,Ut Edita — O. Braga @ 7:05 pm
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  1. Deus tem muitas propriedades, mas são as Suas propriedades “pro me” (para comigo) que interessam ao cristão — porque é praticamente impossível ao ser humano conhecer todas as propriedades de Deus.
  2. Perante a impossibilidade do ser humano conhecer todas as propriedades de Deus, a resposta da religião cristã é a Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Naturalmente que a Trindade não significa que um deus se transforme subitamente em três deuses: isso seria um absurdo completo, porque no Absoluto não existe plural e multiplicidade. “Quem começa a contar, começa a errar” — diz Santo Agostinho.

    A Trindade é um símbolo.

    sstrindade

  3. Deus só é Deus para a Criação e em relação a esta. Deus não é Deus para Si próprio. No Antigo Testamento, Deus nunca diz: “Eu sou o meu Deus”, mas antes diz: “Eu sou o vosso Deus”.
  4. Santo Agostinho, nas “Confissões”, fez uma analogia entre o símbolo da Trindade e a realidade da vida humana. Diz ele: “nós somos, nós amamos, nós conhecemos”. Experimentamos o mundo na primeira pessoa (Eu sou), na segunda pessoa (Eu amo um Tu), e na terceira pessoa (Eu conheço um Ele, ou uma Ela, ou uma Coisa).
    Portanto, a realidade para nós é um tripé: encontramo-nos no mundo como um Eu; encontro um Tu de outro ser humano; e tudo isto dentro do espaço e do tempo, dentro de estruturas de Coisas e de Seres que podem ser Ele e Ela. O nosso mundo constrói-se a partir do Eu, do Tu, e das Coisas e Seres. Estas três categorias são como óculos que colocamos para ver melhor a realidade que aparece nesta Trindade. Ou seja, embora o mundo seja único, nós temos uma relação tríplice em relação a ele.
  5. As propriedades de Deus revelam-se no contexto destas três categorias, nesta Trindade. É neste contexto que o cristão faz as suas experiências fundamentais sobre a essência interior de Deus! — experiências essas que têm o poder de interpretar todas as outras experiência do mundo. 
  6. Tal como Jesus Cristo, como Filho de Deus, se sacrificou por cada ser humano (e não só pelos católicos de sacristia), também nós fazemos a experiência do Amor de Deus nas relações com outros seres humanos — um Tu, portanto, na Segunda Pessoa.
    Na linguagem simbólica: Deus é Filho, na pessoa de Jesus Cristo. Mas isto não significa que Jesus Cristo seja o próprio Deus — como alguns néscios defendem. Jesus Cristo, a Segunda Pessoa, o Filho de Deus, tornou-se o paradigma do amor entre os seres humanos. Em cada amor por um Tu, experimentamos algo da divindade de Deus, do Seu Amor e do Seu Mistério. 
  7. Deus também é Espírito Santo; mas o Espírito Santo não é Deus. O Espírito Santo não é uma espécie de substância sobrenatural — como dizem os néscios. O Espírito Santo deve ser compreendido como O ESTADO DO ESPÍRITO HUMANO QUANDO ENCONTRA O SAGRADO. Neste encontro com o sagrado, o espírito do ser humano é transformado, acontece-lhe uma ruptura de nível na forma de ver o mundo e as coisas. O espírito humano é tocado por algo que é último e incondicional, e o espírito humano transcende-se sob a impressão do divino.
    A experiência do Espírito Santo acontece no contexto da categoria da Terceira Pessoa (Eu conheço), seja na religião, seja na beleza das artes, seja na ciência, seja na filosofia.

2 comentários »

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