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Sábado, 1 Setembro 2012

Ayn Rand e a sociedade tribal

Filed under: ética,economia — O. Braga @ 5:22 pm
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«La premisa básica del burdo y primitivo colectivismo tribal es la noción de que la riqueza le pertenece a la tribu o a la sociedad como un todo, y que cualquier individuo tiene “derecho” a “participar” en esa riqueza»

via Premisa Tribal — Objetivismo.org.

Ayn Rand é um caso de relativo sucesso que que considero curioso, desde logo porque ela restringiu o objecto da sua teoria à modernidade; e quando não o fez só disse asneiras, como revela esta proposição:

Hay un único asunto fundamental en filosofía: La eficacia cognitiva de la mente humana. El conflicto de Aristóteles contra Platón es el conflicto de la razón frente al misticismo. Fue Platón quien formuló la mayoría de las preguntas – y de las dudas – básicas de la filosofía. Fue Aristóteles quien preparó las bases para la mayoría de las respuestas.”

Por definição, a filosofia não tem um “único assunto fundamental”, e o “misticismo” (no sentido platónico de concepção de “alma”, que é diferente da concepção cristã) era para os gregos apenas uma das facetas da razão — como o próprio Aristóteles reconheceu. Portanto, só uma pessoa com conhecimentos rudimentares de filosofia pode dizer que “Aristóteles opôs a razão ao misticismo”, até porque incorre numa falácia de Parménides porque na Grécia antiga não existia o misticismo propriamente dito (medieval ou monoteísta); seria como se eu dissesse, por exemplo, que na Grécia antiga existia “tecnologia” baseando-me na arte grega de fundição de metais. Este simplismo arrepiante de Ayn Rand foi talvez a chave do seu sucesso, porque se dirigiu a pessoas simples e com um raciocínio simplista.


Voltemos ao texto em epígrafe, em que Ayn Rand compara a sociedade tribal com a sociedade moderna, e ressalta a seguinte frase: “nada se pode aprender sobre o homem (indivíduo) estudando a sociedade”. Diz Ayn Rand que “a humanidade não é uma entidade”, e tem razão. Mas uma nação é uma entidade, quer agrade a Ayn Rand ou não. Que Ayn Rand se revolva no túmulo, mas a verdade é que a nação é uma entidade. E até podemos dizer — como diz Fernando Pessoa, embora eu não concorde totalmente — que a nação é uma entidade que é produto da soma de todos os egoísmos individuais; mas não deixa de ser uma entidade.

Se uma nação é uma entidade, não é irracional que se fale de “alocação nacional de recursos”. Ayn Rand parte de um sofisma: a ideia segundo a qual “comunidade” significa “igualdade na tribo” ou “igualitarismo tribal”, e este tipo de sofisma abunda em Ayn Rand e nos seus seguidores, e ainda não compreendi se tal acontece por ignorância, estupidez ou má-fé.

Não é verdade que “recursos nacionais” signifique “recursos comunais” — como é afirmado no texto. Ayn Rand não faz a mínima ideia, por exemplo, da organização nacional de recursos de Portugal na Idade Média, em que os recursos nacionais nunca foram recursos comunais no sentido igualitarista. Ayn Rand reduz a História a 300 anos.

Ayn Rand acusa as pessoas que falam de “bem comum” de assumirem uma “hipocrisia moral” — da mesma forma que um psicopata e assassino em série me poderia acusar de hipocrisia moral por eu ter tido, eventualmente, em uma determinada situação de conflito com outra pessoa, o instinto de a matar, e de ter recalcado esse instinto e de o ter anulado mediante auto-censura. Para o psicopata, eu não teria sido um “hipócrita moral” se tivesse assumido o instinto assassino sem o censurar.

Para o psicopata e para Ayn Rand, “hipocrisia moral” significa “auto-censura moral” — e vemos como a moral e o valores são invertidos, o que é característica do movimento revolucionário. Ayn Rand não se deu conta de que é produto do movimento revolucionário que ela própria critica.

7 comentários »

  1. Levar-me-ia provavelmente três horas para tentar corrigir os grandes erros contidos no seu texto e, como não tenho tempo nem paciência para fazê-lo, deixo aqui apenas um breve comentário.
    A primeira parte do seu texto incorre na falácia do espantalho e na falácia de citar fora do contexto. Informe-se acerca do verdadeiro pensamento de Ayn Rand e da sua definição de conceitos tais como o misticismo.
    A segunda parte, para além de sofrer do mesmo mal que a primeira, acrescenta-lhe outro que é o de basear toda a sua argumentação em premissas falsas e facilmente refutáveis.

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    Comentar por Miguel Silva — Terça-feira, 6 Novembro 2012 @ 7:13 pm | Responder

    • Caro amigo:

      Eu deixei passar o seu comentário por uma questão de pedagogia — não por você, porque me parece que não adiantaria grande coisa, mas pelos leitores que passem por aqui.

      Você começa o seu comentário tentando esgrimir e introduzir no seu discurso uma pretensa autoridade de direito que ninguém pode saber se você tem ou não. E muito menos sabemos se tem alguma autoridade de facto.

      O espaço, aqui, é reduzido, para você e para mim. Estamos os dois na mesma situação. Portanto, invocar o espaço curto, ou o escasso tempo, para dizer que “teria muito erros para me corrigir”, é um discurso falacioso. Você pensa que engana toda a gente, mas apenas engana os burros.

      A sua pesporrência revela fraqueza; muita fraqueza.

      Repare bem no que lhe digo: toda a gente tem direito à sua própria opinião, mas ninguém tem direito aos seus próprios factos. Meta isto na sua cabeça. Você não pode vir aqui dizer que eu estou errado, “porque sim!”. Isso não é argumento! Quem incorre em falácias lógicas é você, nomeadamente:

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      Comentar por O. Braga — Terça-feira, 6 Novembro 2012 @ 7:32 pm | Responder

      • Caro senhor,
        Acontece simplesmente que em vez de responder ao comentário, resolveu atacar-me acerca da primeira frase que escrevi.
        Eu nunca disse que o seu texto estava errado “porque sim!”.
        Eu disse que o seu texto cita Ayn Rand fora do contexto, sem ter em atenção ao que ela queria realmente dizer, e que ignora completamente a definição que a filósofa faz de misticismo.
        Eu disse que a segunda parte do seu texto parte de premissas altamente questionáveis, na medida em que não explica porque é que a nação é uma entidade.
        Cumprimentos.

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        Comentar por Miguel Silva — Terça-feira, 6 Novembro 2012 @ 8:11 pm

      • 1/ você chega aqui e, querendo afirmar uma putativa e pretensa autoridade de direito — que ninguém sabe se você tem, ou não — diz que eu estou errado, mas diz também que você não tem tempo para se dignar explicar por que razão (ou razões) eu estou errado. Ou seja, se você não se digna explicar por que estou errado, então tenho que concluir que eu estou errado “porque sim!”.

        2/ você diz que eu citei Ayn Rand fora do contexto — mesmo sabendo que o link do postal aponta para o contexto em que eu citei Ayn Rand — mas sem explicar por que razão eu cito Ayn Rand fora do contexto. Ou seja, na sua opinião, eu cito Ayn Rand fora do contexto “porque sim!”.

        3/ você diz que eu ignoro a definição que Ayn Rand faz de “misticismo” — como se ela fosse ou tivesse sido uma “filósofa” — mas não consegue transmitir no seu comentário sequer a noção de “misticismo”, segundo Ayn Rand. Como sabe, uma noção de alguma coisa não é assim tão extensa, ou seja, parece que você não sabe a diferença entre noção, por um lado, e conceito, por outro lado.

        4/ você diz que “a segunda parte do meu texto parte de premissas altamente questionáveis”, mas não explica por que razão “a segunda parte do meu texto parte de premissas altamente questionáveis”. Ou seja, você diz que “a segunda parte do meu texto parte de premissas questionáveis”, “porque sim!”.

        5/ finalmente, e depois de todo um relambório “porque sim!”, você coloca realmente um problema: o de saber se a “nação” é uma “entidade”. Vamos ver se Fernando Pessoa nos pode ajudar:

        «A primeira verdade da sociologia (…) é que a humanidade não existe. Existe, sim, a espécie humana, mas num sentido somente zoológico: há a espécie humana como há a espécie canina. Fora disso, a expressão “humanidade” pode ter somente um sentido religioso ― o de sermos todos irmãos em Deus, ou em Cristo.

        (…)

        Na realidade social há só dois entes reais ― o indivíduo, porque é deveras vivo, e a nação, porque é a única maneira como esses entes vivos, chamados indivíduos, se podem agrupar socialmente de um modo estável e fecundo. A base mental do indivíduo (…) é o egoísmo (…). Esse egoísmo é o da Pátria, em que nos reintegramos em nós através dos outros, fortes do que não somos. »

        — Fernando Pessoa (“Obras em Prosa”, “Sobre Portugal”, III Volume, Edição do Círculo dos Leitores, 1987, página 316)

        Portanto, verificamos que, segundo Fernando Pessoa, não só o indivíduo não é incompatível com a nação — pelo contrário, são dois entes reais e complementares —, mas também que o egoísmo do indivíduo se reforça através da nação.

        É claro que você pode sempre dizer que Fernando Pessoa, quando comparado consigo, é um ignorante; e que você não tem tempo para explicar por que razão Fernando Pessoa é um “ignorante”: você tem direito às suas próprias opiniões, mas não tem direito aos seus próprios factos.

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        Comentar por O. Braga — Terça-feira, 6 Novembro 2012 @ 11:11 pm

  2. Caro senhor,

    1) Vim aqui para tentar corrigir alguns erros (o que é louvável, pelo menos de um ponto de vista católico – é uma “obra de misericórdia espiritual”) que encontrei no seu artigo e a única coisa que recebo são ataques… Como calculei que fosse um homem inteligente, resolvi expor os erros que encontrei de uma forma concisa, para além de que não tenho muito tempo para escrever comentários a blogs (como sabe, o tempo é um dos recursos mais escassos que há).

    2) Eu não pretendo introduzir nenhuma autoridade de direito. Penso que, ao debatermos ideias, devemos focar-nos na coerência e validade das mesmas e não na autoridade (ou falta dela) de quem as formula. É por isso que existe uma falácia que, como sabe, se chama “argumentum ad hominem”. Peço que não se foque em mim mas na mensagem que tento transmitir.

    3) Citou fora do contexto, na medida em que baseou toda a sua argumentação em duas pequenas citações que fez. O seu texto não faz referência ao pensamento de Ayn Rand como um todo. Se quiser escrever contra a filosofia de Ayn Rand, acho muito bem que o faça, desde que não incorra em falácias do espantalho. Querer reduzir todo o Objectivismo a apenas duas citações parece-me extremamente redutor. Não tenho problema que faça uso de apenas duas citações, mas não se baseie, por favor, apenas nelas para construir um texto. Penso que concordará comigo quando digo que utilizar Mateus 10, 34-39 para resumir a mensagem de Jesus Cristo seria um erro crasso. Com o Objectivismo passa-se a mesma coisa.

    4) Ayn Rand não considerava que a Filosofia tem apenas um assunto fundamental. Todo esse tema é explorado no livro da sua autoria chamado “Philosophy: Who Needs It” (ver http://aynrandlexicon.com/lexicon/philosophy.html). Ela queria apenas realçar a importância conflito que ela diz existir entre razão e misticismo.

    5) Quando Ayn Rand fala de misticismo, não se refere à concepção platónica da alma ou a um misticismo medieval e monoteísta. A sua definição de misticismo aparece no seguinte site: http://aynrandlexicon.com/lexicon/philosophy.html.

    6) Quando Ayn Rand fala do conflito entre misticismo e razão, que diz estar presente no conflito entre Platão e Aristóteles, ela refere-se à oposição entre a filosofia platónica (nomeadamente o seu dualismo cosmológico/ontológico, que Rand diz ser místico, na medida em que afirma a existência de uma “realidade superior”) e a filosofia aristotélica (que Rand diz ser racional, nomeadamente a sua Lei da Identidade: A é A). Este “conflito” é, aliás, reconhecido pela maioria dos filósofos, mas não nos termos expressos por Ayn Rand. (Ver a pintura “Escola de Atenas” de Rafael).

    7) Em relação à segunda parte do seu texto, só disse que penso que deveria clarificar a razão pela qual a nação é uma entidade. Não quero, de forma alguma, discutir se a nação é ou não uma entidade. Só lhe peço que quando escreve um texto, tenha em atenção que não se pode assumir que todos têm a mesma opinião. Se realmente considera que a nação é uma entidade, justifique-o. Penso que não deverá ser muito difícil… Quanto ao Fernando Pessoa, penso que é uma boa citação, mas apenas expressa o seu ponto de vista e não a justificação.

    8) Talvez, por culpa minha, não fui claro nos meus últimos comentários. Não pretendo atacá-lo ou as suas ideias, mas a forma como as expressa. Apesar de ter a minha opinião acerca do assunto, não é meu objectivo apresentá-la. Não me interessa aqui a verdade dos seus argumentos, mas sim a sua validade. Informo-lhe também que, embora espere com apreço a sua resposta, não irei postar aqui mais nenhum comentário.

    Com os meus melhores cumprimentos.

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    Comentar por Miguel Silva — Quarta-feira, 7 Novembro 2012 @ 11:04 pm | Responder

    • 1/ A falácia ad Hominem foi utilizada por si, em primeiro lugar. Dizer que alguém está errado “porque sim!”, pode configurar também — para além das duas outras falácias a que fiz referência — a falácia ad Hominem.

      2/ você não apontou erros nenhuns da minha parte. Apenas disse que eu estava errado “porque sim!”. E depois envia os leitores para uma apresentação de um livro.

      3/ você está a misturar filosofia com teologia. Deixe lá o catolicismo e a Bíblia de fora desta conversa.

      4/ você diz que a definição de “misticismo”, segundo Ayn Rand, aparece algures na Internet. Porém, parece que você não sabe reproduzir a definição de Ayn Rand de “misticismo”.

      5/ em relação a Platão e Aristóteles, você — e tal como Ayn Rand — faz uma confusão desgraçada. Tanto em Platão como em Aristóteles existem os conceitos de “potência” (“alma”, ou “forma primeira”) e de “acto” (ou “acto puro”). Repito: os conceitos de essência e de acto são comuns a Platão e Aristóteles. A principal diferença entre os dois é que Aristóteles se dedicou à Física e à Lógica (ciência), coisa que Platão não fez.

      Você tem falta de prática; precisa de estudar e praticar mais. E teve azar em dar comigo: você pensava que eram “favas contadas”, mas enganou-se. Você é muito novinho: não se deixe enganar por uma certa subcultura politicamente correcta que incute nos jovens a ideia de que a inteligência se adquire, por exemplo, em bares gay.

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      Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 7 Novembro 2012 @ 11:26 pm | Responder

  3. kkkk…
    Esse miguel silva é só um típico pombo enxadrista… Liga não O braga…
    Eu concordo totalmente com o seu texto e não entendi nadica de nada do que o miguel levantou…
    Engraçado que ele disse que gastaria 3 horas pra refutar seus 7 parágrafos de texto objetivo,
    depois gastou um dia inteiro pois só foi responder na quarta feira com 8 itens… E não refutou nada…
    Este texto é antigo, do ano passado, mas ando pesquisando algo sobre a hipócrita da Ayn Rand,
    porque atualmente andam usando muitas as citações dela em grupos neo libertários…
    Obrigado.

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    Comentar por Victor Hugo Pinheiro Cunha — Sexta-feira, 2 Agosto 2013 @ 12:16 am | Responder


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