perspectivas

Terça-feira, 5 Junho 2012

Sobre Oscar Wilde

No FaceBook, alguém transcreveu o seguinte texto atribuído a Óscar Wilde:

LOUCOS E SANTOS

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.
A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.
Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.
Deles não quero resposta, quero meu avesso.
Que me tragam dúvidas e angústias e aguentem o que há de pior em mim.
Para isso, só sendo louco.
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.
Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.
Meus amigos são todos assim: metade disparate, metade seriedade.
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.
Não quero amigos adultos nem chatos.
Quero-os metade infância e outra metade velhice!
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.
Tenho amigos para saber quem eu sou.
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que “normalidade” é uma ilusão imbecil e estéril.

G. K. Chesterton definiu o arquétipo mental de Wilde de uma forma adequada:

“Queerly enough, it was the very multitude of his falsities that prevented him from being entirely false. Like a many-colored humming top, he was at once a bewilderment and a balance. He was so fond of being many-sided that among his sides he even admitted the right side. He loved so much to multiply his souls that he has among them one soul at least that was saved. He desired all beautiful things — even God.” — [“A Handful of Authors.”]


O que G. K. Chesterton diz é que foi a multitude das suas falsidades que evitou que Wilde fosse totalmente falso: no meio de tal multitude, aqui e ali, surgiram algumas verdades involuntárias e desenquadradas do contexto. De tanto querer ser original e multifacetado, Wilde acabou por coincidir esporadicamente com a verdade.

E não podemos esquecer um faceta negra de Wilde: estamos a lidar com um pederasta, que dedicou grande parte da sua vida a seduzir adolescentes. Só por isto, não posso gostar do personagem. Wilde está na moda entre os homófilos e homofascistas da nossa praça: um poeta gay e pederasta dá sempre jeito para dourar a pílula da parafilia.

Há quem estabeleça uma analogia entre Wilde e Fernando Pessoa; essa analogia é absurda. Se lermos as obras em prosa de Fernando Pessoa, verificamos que ele se preocupa sobremaneira com a verdade. E mesmo na sua obra poética, existe uma preocupação latente em evitar os caminhos da relativização da realidade. Além disso, sabemos que Fernando Pessoa nunca teve o péssimo vicio de seduzir adolescentes; e nem sequer existem evidências de que ele seria — como dizem por aí — homossexual.

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