No meu dicionário da TEXTO EDITORA, que é anterior ao famigerado Acordo Ortográfico, podemos ler: supra-axilar, supraciliar, supracitado, supracitar, supradito, suprajacente, suprajuraico, suprajurássico, supralunar, supramencionado, supramundano, supranatural, supranaturalismo, supranaturalista, supranormal, supranumerário, supra-renal, supra-sensível, supra-sumo, supratorácico, supratranscrito. E também tem “supremacia” e “supremo”, que têm a mesma base etimológica.
Agora façam o favor de ler este texto: → É “supra citado” ou “supracitado”? Porquê? — e depois voltem aqui.
1/ Imaginem agora que em vez de se escrever “supra-sumo”, se escreve “sumo supra” — como a autora do texto parece defender. Ou que em vez de se escrever “supranormal”, se possa escrever “normal supra”. Absurdo, não é? E por quê?
“Supra” é um advérbio de lugar, mas não se limita a adverbiar o concreto: também adverbia o abstracto — por exemplo, “supranormal”, “supranatural”.
Por outro lado, o advérbio de lugar (concreto ou abstracto) segue a prefixação latina dos advérbios de lugar (por exemplo, do latim “praedicta”/“praedictus”, ou “supradicta” ou “supradictus” no masculino, que significam “dito acima”). Note-se que, já no latim, o advérbio e o verbo eram aglutinados: no latim não existia, em linguagem corrente, tal coisa como “dicta prae”, ou “dicta supra”.
Ou seja, o facto de o advérbio de lugar (neste caso, “supra”) estar colocado antes do adjectivo ou do verbo, deve-se à tradição latina que a língua portuguesa seguiu por via etimológica. Portanto, é “supracitado”, e não “citado supra”, porque o português correcto segue a etimologia latina.
2/ A utilização do advérbio “supra” pertence à norma culta da língua — o que não significa que se tenha que escrever “supra” em itálico por ser, como é alegado, uma palavra alienígena em relação ao português.
Poderíamos escrever, em vez de “supracitado”, “sobrecitado” (que não existe nos meus dicionários); ou em vez de “supranatural”, poderíamos seguir a norma menos culta ou corrente e escrever “sobrenatural”; ou em vez de “suprajacente”, poderíamos escrever “sobrejacente”.
Portanto, o advérbio “supra” não é apenas um termo do latim (que, alegadamente se deveria escrever em itálico): também pertence ao português correcto por via da norma culta da língua.
3/ Não faz sentido escrever “sub jacente”; ou “jacente sub”. Escreve-se “subjacente” porque lhe subjaz o verbo latino “subjacere”.
4/ No latim, supradico, is, ere, dixi, dictum, é um verbo transitivo. “Supradictu” está no ablativo (e no pretérito perfeito), e assume a função de adjectivo com “supradictus” ou “supradicta” no feminino.
Por isso é que o “supra” vem antes do “dicta””: é um verbo! No latim não existe o verbo “dicta supra”…
5/ Faz muita falta estudar latim. Eu tive dois anos lectivos de latim e hoje penso que foi pouco tempo.
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