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Sábado, 25 Abril 2009

A vida ‘por acaso’ não tem hipótese (2)

Filed under: Religare — O. Braga @ 10:07 am
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Gerry Schroeder

Gerry Schroeder

O cientista israelita Gerald Schroeder fez uma famosa experiência que foi conhecida pelo “teorema dos macacos”, e que consistiu em colocar um teclado de um computador dentro de uma jaula com seis macacos (naturalmente que o teclado estava ligado a um PC que se encontrava fora da jaula).

A ideia de Schroeder seria a de que eventualmente os macacos, brincando aleatoriamente com o teclado e pressionando ao acaso as diversas teclas, conseguissem escrever um soneto, ou no mínimo, escrever uma só palavra correcta em qualquer língua conhecida.

Ao fim de um mês de experiência verificou-se que os macacos ― para além de terem defecado em cima do teclado ― tinham dactilografado 55 páginas mas não conseguiram escrever uma só palavra em qualquer língua conhecida, nem mesmo tinham escrito palavras básicas e monossilábicas como existem no inglês: a (artigo indefinido) ou I (eu) necessitam de um espaço antes e depois da letra para poderem serem identificadas com o seu próprio significado.

Por exemplo, reportando-nos à língua portuguesa, e dado que o teclado de um PC tem 30 caracteres, a probabilidade dos macacos escreverem um simples o (artigo definido, com o espaço devido antes e depois da letra) seria de 30 vezes 30 vezes 30, isto é, 30 ^ 3 = 27.000 ― o que significa 1 possibilidade em 27.000. Schroeder aplicou o princípio a um soneto e é o que vou fazer aqui com um soneto da Soror Violante do Céu (1601-1693):

Vida que não acaba de acabar-se,
Chegando já de vós a despedir-se,
Ou deixa por sentida de sentir-se,
Ou pode de imortal acreditar-se.

Vida que já não chega a terminar-se,
Pois chega já de vós a dividir-se.
Ou procura vivendo consumir-se,
Ou pretende matando eternizar-se.

O certo é, Senhor, que não fenece,
Antes no que padece se reporta,
Porque não se limite o que padece.

Mas, viver entre lágrimas, que importa?
Se vida que entre ausências permanece
É só viva ao pesar, ao gosto morta?

O soneto tem 476 letras (caracteres), e dado que o nosso alfabeto (incluindo os novos caracteres previstos no novo Acordo Ortográfico) tem 26 letras, a probabilidade de os macacos martelarem no teclado do PC de forma a surgir daí um soneto é de 26 ^ 476, o que traduzindo este valor para uma base de 10, daria o número 10^670 (o número 1, seguido de 670 zeros). Acontece que o número de todas as partículas atómicas do universo está calculado em 10^80 (o número 1 seguido de 80 zeros). A comparação entre os números demonstra que não existem partículas suficientes em todo o universo para permitir sequer a hipótese de aparecer alguma coisa de conexo e inteligente a partir de uma base aleatória (por exemplo, o ADN).

Se em vez de macacos transformássemos todo o universo em chips de computador capaz de processar 476 tentativas aleatórias a uma velocidade de milhões de vezes por segundo, produzindo letras de uma forma aleatória, o número de tentativas possíveis desde que existe o Tempo Universal seria de 10^90 tentativas (1 seguido de 90 zeros).

Resulta desta demonstração que para que se possa construir um simples soneto de forma aleatória, o universo teria que ser 590 vezes maior do que é. Contudo, Dawkins e comandita continuam a defender a validade da “teoria dos macacos”.

Ler também: A Vida Por Acaso Não Tem Hipótese — Parte I

7 comentários »

  1. Terminei de ler com uma valente gargalhada…
    Realmente, «teoria dos macacos»!

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    Comentar por Henrique — Sábado, 25 Abril 2009 @ 1:37 pm | Responder

  2. qual a chance de um bando de macacos batucando à esmo em teclados de computador, produzirem algo inteligível? Resposta: depende do número de macacos. O tamanho da amostra conta demais.

    Parafraseando Nassim Taleb: se há 5 macacos na amostra eu ficaria muito surpreso se algum deles escrevesse, digamos, “O diário de um mago”, do Paulo Coelho (se acontecesse, eu consideraria isso uma mágica do Paulo Coelho, ou alguma intervenção sobrenatural que fez com que o macaco encarnasse o autor).

    Mas, se o número de macacos é um bilhão elevado à potência de um bilhão, eu ficaria muito menos impressionado. Na verdade, eu ficaria surpreso se algum macaco não reproduzisse um livro bem conhecido (mas não especificado) por pura sorte. Um deles poderia até mesmo escrever o próximo livro do Paulo Coelho que ele mesmo ainda nem sabe qual será (quem sabe esse macaco escritor não poderia aproveitar o embalo e dar uma melhorada no estilo do cara? Ou, melhor ainda: quem sabe ele não motiva seus colegas a apreciarem o livro, poupando-nos do incômodo?).

    “Se alguém se deu melhor que a multidão no passado, é válido presumir que tenha alguma habilidade que o fará dar-se melhor no futuro também. Mas essa presunção PODE ser tão fraca a ponto de ser inútil para a tomada de decisão. Por quê? Porque tudo depende de dois fatores: o conteúdo de acaso em sua profissão, e o número de macacos na amostra”.

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    Comentar por roberto quintas — Quarta-feira, 12 Agosto 2009 @ 2:54 am | Responder

  3. @ Roberto Quintas:

    “Mas, se o número de macacos é um bilhão elevado à potência de um bilhão, eu ficaria muito menos impressionado. “

    Eu não sei quem é esse Nassim Taleb, mas tenho a certeza de que ele é burro. Explico por quê.

    O número de átomos calculado pela astrofísica ― falo aqui de ciência, e não do burro do Taleb ― em todo o universo é de 10^80 : 1 seguido de 80 zeros.

    Um bilhão elevado à potencia de um bilhão ultrapassa o próprio universo; esse número, para além de ser uma impossibilidade matemática, ultrapassa o número máximo teoricamente calculado para todas as possibilidades do universo, que é de 10^90: 1 seguido de 90 zeros. Se todo o universo fosse um super-computador, o número máximo de operações possíveis desse super computador seria de 10^90.

    Um bilhão elevado à potencia de um bilhão é uma impossibilidade objectiva e real — é uma possibilidade só atribuível a Deus.

    Se esse tal de Taleb parte de uma impossibilidade da lógica matemática para construir um raciocínio ou uma teoria, manda ele pentear macacos.

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    Comentar por O. Braga — Quarta-feira, 12 Agosto 2009 @ 7:11 am | Responder

  4. o que o sr faz questão de ignorar na sutil ironia da resposta é que a probabilidade calcula as chances de um evento ocorrer, de forma alguma a probabilidade afirma que tal evento não irá ocorrer, salvo por interpretação tendenciosa e desonesta por parte dos cristãos/criacionistas.
    pegue um exemplo simples: uma moeda. cada face terá as mesmas chances de sair como resultado de 1 em 2, pela probabilidade. pegue um emeplo maior, um dado. cada face terá as mesmas chances de sair como resultado de 1 em 6, pela probabilidade. pegue seu exemplo, o dos átomos, a probabilidade de um resultado ainda que infimo será igual para um outro resultado igualmente infimo. isso para ficarmos no campo das probabilidades, mas o resultado (o universo) envolve processos de quimica e física. se o sr não é capaz de compreender os preceitos básicos da probabilidade, não irá compreender física e química.
    o fato é que o universo foi formado e não indica a existência de teu Deus, os elementos e processos que ocorreram dispensaram a Causa Primeira. Mas o sr e os teus insistem em suas explicações esdrúxulas, então eu imagino que eu teria um texto melhor argumentado entre macacos. ao menos, eles teriam mais honestidade intelectual.

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    Comentar por roberto quintas — Segunda-feira, 21 Setembro 2009 @ 1:08 pm | Responder

  5. O Quintas parte da teoria das probabilidades sem causa. No exemplo da moeda, ela participa em um processo em que a probabilidade é de 1 em 2; mas a probabilidade de a moeda existir ou não, e em primeiro lugar, nunca é posta em causa senão no sentido em que existe. A posição do Quintas é dogmática, e depois acusa os outros de seguirem um dogma.
    Aconselho o Quintas a ler alguma coisa sobre a relação existente entre a Mecânica Quântica e o determinismo científico clássico (determinismo newtoniano); o Quintas está atrasado, pelo menos, em 70 anos em relação ao conceito científico de determinismo e probabilidade. Mas ele não tem culpa: a nomenclatura política que controla o ensino e a Técnica não os responsáveis pela ignorância do Quintas.

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    Comentar por O. Braga — Segunda-feira, 21 Setembro 2009 @ 6:11 pm | Responder

  6. Quem é o Quintas para chamar cristãos de desonestos? Dos ateus que conheço (incluindo aqueles que aparecem na mídia) a maioria é desonesta. Proclamam aos quatro ventos que a Religião é a mãe de todos os males por que padece a Humanidade, maliciosamente esquecendo – se ou omitindo que o Ateísmo nos países comunistas matou cem milhões de pessoas no século passado. Ora, quem é o desonesto aqui? Sem falar que eles ignoram os fósseis da explosão cambriana, que a Matemática é um exemplo de Ciência que utiliza conceitos não provados, porém úteis – os ateus vivem confundindo Ciência com Filosofia Materialista, e em assim fazendo passam por cima das evidências como tratores.
    Que eu saiba a Inquisição sem fogueiras na Academia é perpetrada por Ateus e não por Cristãos Criacionistas, e pelo que eu pude saber isso ocorre em todas as Ciências. Uma lástima!

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    Comentar por Evelin Fróes — Sábado, 19 Dezembro 2009 @ 2:50 pm | Responder

  7. Reblogged this on jephmeuspensamentos.

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    Comentar por jephsimple — Terça-feira, 7 Agosto 2012 @ 8:11 pm | Responder


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