perspectivas

Quarta-feira, 31 Dezembro 2008

O radical sou eu?

Filed under: cultura — O. Braga @ 11:09 am
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Uma minoria radicaliza as suas posições ideológicas, e depois acusa a maioria ― que é a detentora do senso-comum ― de ser radical. A isto, chama-se a “inversão do sujeito / objecto”, em que uma minoria culpa a maioria pela radicalização ideológica protagonizada por essa mesma minoria. É assim que uma pessoa como eu se pode transformar num “radical”, embora não o seja na realidade: eu passo a ser um “radical” em relação a uma minoria que se auto-radicalizou, e que me acusa de ser radical em relação ao seu radicalismo assumido por opção política e ideológica.

Confuso? Não deveria ser; é isto que faz ― sistematicamente ― o Bloco de Esquerda, agora acolitado pelo PS, PCP, e mesmo por umas franjas do PSD.

Um exemplo que ilustra o que quero dizer é o último filme de Tom Cruise (“Valquíria”). Ouvi há momentos a notícia na TV de que o “menino” Tom foi ameaçado de morte por causa do seu filme. Para além da óbvia suspeita da promoção do filme com sensacionalismos de mau-gosto, Tom Cruise estava à espera de quê?

Tom Cruise financia ― com o dinheiro ganho com os seus filmes ― a Associação Americana de Cientologia, sita em Los Angeles, que defende a eliminação de raças consideradas “inferiores”, em nome de um culto absurdo, satânico e eugenista.

A Cientologia é uma religião que defende a ideia de que existem uns seres humanos superiores e outros seres humanos inferiores, baseando-se na raça e credo dos grupos sociais e/ou étnicos. Eu dou de barato que alguém possa pensar que existe um determinado ser humano superior a outro determinado ser humano, embora em algumas características, mas tornar este conceito de superioridade humana extensível a uma raça inteira ― e mesmo à maioria da humanidade ― e de forma absoluta, não lembra ao diabo.

A Cientologia tem raízes profundas no Eugenismo, de Huxley a Margaret Sanger, isto é, é um culto que nasce com o esplendor do darwinismo e baseando-se em conceitos da superioridade dos cientólogos em relação à maioria dos seres humanos, e defendendo a necessidade de eliminação das raças a que eles chamam de “impuras” ou “inferiores”. Há também muito de Nietzsche na teoria cientologista: a ideia cientóloga de que a Psiquiatria está na origem dos males do mundo, é uma nítida transfiguração da noção nietzscheana de “manipulação alienante da mente humana”, que segundo Nietzsche, era protagonizada pelo Cristianismo ― existe uma clara transferência ideológica.
Não há nada de novo na Cientologia; basta conhecer a essência ideológica que herdamos do Iluminismo até princípios do século XX para compreendermos o que está em causa.

Segundo a Cientologia, e passo a citar, há 75 milhões de anos existia um personagem que era o Governador da Confederação Intergaláctica ― de seu nome “Xenu” ― que mandou eliminar as raças inferiores das galáxias, e cujas almas foram enviadas para o planeta Terra e transplantadas no Homem de Cro-Magnon; segundo os cientologistas, a humanidade actual é composta por essas almas inferiores de que Xenu eliminou o corpo físico e enviou, proscritas, para o nosso planeta. Por isso, a Cientologia acredita na necessidade de “limpar a humanidade” (sic), de eliminar fisicamente os seres humanos mais inferiores ― a necessidade de uma depuração ideológica e étnica.

O filme “Valquíria” de Tom Cruise é um branqueamento do nazismo, na medida em que o oficial nazi Claus von Stauffenberg é mostrado no papel principal como um herói e como um “bom nazi” que quis matar o “mau nazi” Adolfo Hitler, este último controlado pelos psiquiatras tal como tinha acontecido com Xenu. A mensagem de branqueamento do nazismo é subliminar, e por isso, ainda mais perigosa do que o revisionismo do Holocausto: trata de fazer passar a ideia de que o que é mau não é a ideologia nazi que marca o princípio da “selecção dos mais puros”, mas antes o que resultou de um determinado método específico da aplicação dessa ideologia, como se uma coisa não estivesse íntima e directamente ligada à outra. Ademais, o anti-semitismo de Tom Cruise é conhecido, como podemos constatar através de vários filmes dele (por exemplo, no filme “Trovão Tropical”).

O facto de a Cientologia ser muito popular em Israel é a prova de que quem sofre na pele o horror da violência acaba por se transformar em carrasco: o sionismo acaba por ser uma versão ligeira do nazismo. Temos, assim, cientólogos sionistas e cientólogos anti-semitas, todos eles defendendo a ideia comum de “limpeza da humanidade” e da eliminação de “seres humanos inferiores”, culpando os “psiquiatras” pelos males do mundo.

Confuso? Assim vai o mundo. E o radical sou eu?! (que defendo o Cristianismo dos nossos bisavós?)

2 comentários »

  1. pessoalmente não incluiria neste texto a referência ao filme “Tropical Thunder” (tempestade num copo de água por causa de uma comédia em que Tom Cruise não esteve ligado ao argumento, à produção ou à realização, limitando-se a representar

    http://www.imdb.com/title/tt0942385/fullcredits#writers)

    tirando isso, é giro ver a celeuma – ou falta dela – que estas “religiões” provocam à malta ateísta.
    fixações…

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    Comentar por pedronunesnomundo — Segunda-feira, 5 Janeiro 2009 @ 4:34 am | Responder

  2. É incrível a quantidade de celebridades associadas a esta Religião, descobri há uns tempos que quase todo o elenco e equipa da série My Name is Earl a seguem.

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    Comentar por Francisco — Quarta-feira, 14 Janeiro 2009 @ 12:21 pm | Responder


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