perspectivas

Quarta-feira, 8 Agosto 2007

Acorda, Portugal!

Filed under: Política,Portugal — O. Braga @ 9:17 pm

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Os portugueses ainda não se deram conta, que com este governo socialista, passaram a poder viver ao nível dos nossos compatriotas em meados dos anos oitenta do século passado. A única melhoria sensível e real para a vida dos portugueses que a adesão ao Euro trouxe, foi a taxa de juros bancários no crédito à habitação. Em tudo o resto, o rácio entre as despesas da maioria das famílias e os seus rendimentos é equiparável ao Portugal de antes de Cavaco Silva como primeiro-ministro. Mas os portugueses continuam a gastar mais do que podem – ainda não se deram conta que já vivem na merda outra vez.

Isto parece um exagero da minha parte, mas não é; o problema é que os portugueses ainda não se deram conta que foram enganados pela elite política que nos tem governado. Os políticos prometeram “mundos e fundos”, e voltaram os portugueses agora, em termos de salários reais, ao ponto de partida, isto é, à data de adesão de Portugal à CEE.

Que adianta haver crédito ao consumo se os portugueses não o podem pagar?

Por isso, existe um problema adicional: com o tempo, e a apesar de estarmos indexados às taxas de juros da zona Euro, as instituições financeiras vão arranjar maneira de discriminarem negativamente a maioria dos portugueses, seja por burocracia interna acrescida, seja por taxas “especiais” ou alcavalas para cobrir o risco de crédito, o que faz com que as taxas de juro reais em Portugal para empréstimos ao consumo poderão chegar rapidamente aos 20 porcento. Isto levará a que passem a existir portugueses de primeira classe com acesso especial ao crédito bancário e que recorram a empréstimos “especiais” na Banca nacional ou em bancos estrangeiros a taxas da zona Euro (para crédito ao consumo), e o povo em geral tenha que recorrer à banca nacional com uma taxa de juro composta, isto é:

Taxa de Juro Zona Euro + Spread + Alcavalas de Gestão de Crédito + Prémios de Risco = Taxa de Juro Final (que poderá chegar rapidamente aos 20%)

O recurso ao crédito para suportar um nível de vida que não existe e que não é possível sustentar, não é caminho dos portugueses. O melhor caminho é dizerem os portugueses à sua elite política:

Os últimos vinte anos serviram para que uma elite política subserviente à plutocracia internacionalista neoliberal servisse os seus interesses. Portugal perdeu a sua indústria tradicional (têxtil, confecção, calçado, mobiliário) e a substituição por outras indústrias é ridícula e estrangeira, a pobre agricultura portuguesa foi abandonada favorecendo-se assim a agricultura estrangeira da PAC, os pescadores portugueses já praticamente não existem, os nossos interesses globais estratégicos e a política externa foram alienados, tudo isto para que voltássemos a viver como no tempo em tínhamos a nossa autonomia.

Entregamos de mão beijada os nossos parcos haveres, com a esperança na Europa, e ficamos ainda mais pobres do que éramos. Portugal fez um mau negócio: vivia mal, mas ainda tinha os anéis. Hoje, retiraram-nos os rendimentos, e já não temos sequer os anéis para pôr no “prego” em tempos difíceis (por exemplo, já não temos a possibilidade da desvalorização da moeda pontual para favorecer as nossas exportações).

Em vez de se endividarem sucessivamente e sem solução possível, os portugueses deveriam “sair à rua e gritar”. Quando já nada há perder, tudo vale a pena.

4 comentários »

  1. Não é necessário exagerar. O juro não irá atingir os 20%.

    Nem é necessário pois quem mais lucrou com a queda dos juros foram os empreiteiros que subiram o preço das casas. Basta ver quanto custava uma casa em 1990 e quanto custava uma casa igual em 2000.

    Conheço quem tenha comprado uma casa por 20.000 contos em 1995 e que a tenha vendido em 2006 por 50.000 contos (250.000 Euros).

    Depois a culpa da situação actual de completa destruição do país em que vivemos não é culpa de nenhum governo socialista, é culpa de todos os governos do PS e do PSD.

    Não podemos inocentar, por exemplo, um político como Cavaco Silva, actual Presidente da República que quando era Primeiro ministro nos ajudou a enterrar totalmente na então CEE. Entre Mário Soares, por exemplo, e Cavaco Silva, venha o diabo e escolha…

    Aliás, basta ver o medo que ele tem de que se faça um referendo em Portugal sobre a Constituição Europeia ou o Tratado Reformador.

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    Comentar por O Raio — Sexta-feira, 10 Agosto 2007 @ 1:17 am | Responder

  2. Desta vez, estou de acordo com o Raio em quase tudo. Quase. Porque os juros ao consumo, repito, “ao consumo”, irá atingir os 20% TAEG dentro de pouco tempo.

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    Comentar por Orlando — Sexta-feira, 24 Agosto 2007 @ 4:35 pm | Responder

  3. […] o Portugal constituído pela economia privada regrediu aos anos oitenta do século passado, exactamente aquilo que eu tinha escrito aqui há meses e que a nomenclatura do “economês” vem agora […]

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    Pingback por Sócrates e os seus amigos parecem querer Portugal na Idade da Pedra « perspectivas — Quarta-feira, 3 Dezembro 2008 @ 5:46 pm | Responder

  4. Então Raio: mantém a mesma posição?

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    Comentar por O. Braga — Quinta-feira, 12 Maio 2011 @ 9:24 am | Responder


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