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Sábado, 15 Junho 2024

O gnosticismo maçónico de Fernando Pessoa (1)

Filed under: Fernando Pessoa,gnose,gnosticismo,Maçonaria — O. Braga @ 6:11 pm
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“Mais do que uma melhoria das condições biológico-profissionais das populações, o conceito maçónico de Regeneração Social representa a redenção do Género Humano enquanto processo de transformação elevatória do nível de vibração dos veículos físicos e subtis da Humanidade, permitindo um despertar progressivo de capacidades latentes e uma expansão crescente e acelerada do grau de consciência intuitiva e supra-intelectual, bem como além-fronteiras do contexto global de integração planetária e das relações individuais e grupais que com ele se mantêm, até atingir o Grupo Perfeito e Divino, a Fraternidade Universal, que deve ser conscientemente vivida no espaço sagrado da Loja maçónica, como célula básica do trabalho espiritual grupal — livre de quaisquer conotações filosóficas eventuais exclusivistas, contra o seu carácter fraternalmente internacionalista”.

→ “ O Pensamento Maçónico de Fernando Pessoa”, de Jorge de Matos, 2006, página 16


Gnose-1-webEscrevendo o trecho supracitado, Jorge de Matos não estava a ironizar: acreditava mesmo que é possível, ao ser humano, só por si e apenas pelos seus próprios meios, atingir “a redenção do Género Humano”, neutralizando e superando a própria Natureza Humana, atingindo o Grupo Perfeito e Divino (leia-se: atingindo a perfeição divina).

Olavo de Carvalho diria que esta visão da Natureza Humana retrata  uma “mundividência prometaica”.

Trata-se de uma crença — porém, a contrario sensu da crença científica e/ou da religiosa (que são crenças racionais, embora em graus de racionalidade diferentes), trata-se de um crença irracional, porque é racionalista (o racionalismo decorre de uma doença mental incurável: o Delírio Interpretativo).

O racionalismo é a expressão intelectual por excelência da irracionalidade humana — racionalismo entendido aqui como sendo proveniente da doutrina gnóstica e parasitária da Antiguidade Tardia que afirma que o pensamento racional é capaz de atingir a verdade absoluta porque as suas próprias leis são também as leis dos objectos do conhecimento (por exemplo, em Hegel: “Tudo o que é racional é [efectivamente] real, e tudo o que é real é [efectivamente] racional”).

Este racionalismo, de Hegel, provém da tradição do racionalismo do judeu Espinoza, que privilegia a Razão como Princípio Prometaico de explicação do universo, por oposição à fé religiosa, por um lado, e por oposição ao empirismo científico de origem aristotélica, por outro lado; e, simultaneamente, este racionalismo afirma o carácter racional da realidade e do sentido da História — o determinismo histórico da Cabala, que gerou o “Fim da História” de Hegel, Marx, Hayek ou Fukuyama, que se caracteriza por ser a ideologia das doutrinas que recusam a paternidade dos seus próprios crimes.

O indivíduo mentalmente deformado (por uma interpretação delirante) crê no “sentido da História” quando o futuro previsível parece ser favorável à realização das suas paixões e das suas crenças. Neste racionalismo cabalístico, a origem psicológica da razão é deixada na sombra: a sua vontade é eliminada, ou desviada para o irracional (e, portanto, negada ou rejeitada).

Por sua vez, o racionalismo panteísta (ou seja, imanente e ateísta) de Espinoza provém directamente da Cabala judaica.

Portanto, vemos aqui papel secular e importantíssimo do judeu na irracionalização do ser humano através da destruição das instituições da civilização europeia, de que a maçonaria (operativa e especulativa) foi e é uma parte predominante.

Toda a filosofia alemã depois de Kant (Kant não faz parte do Idealismo alemão!) é cabalística e irracionalista. A origem hegeliana da dialéctica marxista é cabalística, e por isso, irracional:

“A negação dialéctica não existe entre realidades, mas apenas entre definições. A síntese em que a relação se resolve não é um estado real, mas apenas verbal. O propósito do discurso move o processo dialéctico, e a sua arbitrariedade assegura o seu êxito.

Sendo possível, com efeito, definir qualquer coisa como contrária a outra coisa qualquer; sendo também possível abstrair um atributo qualquer de uma coisa para a opôr a outros atributos seus, ou a atributos igualmente abstractos de outra coisa; sendo possível, enfim, contrapôr, no tempo, toda a coisa a si mesma — a dialéctica é o mais engenhoso instrumento para extrair da realidade o esquema que tínhamos previamente escondido nela.” → Nicolás Gómez Dávila.

A dialéctica cabalística de Hegel (proveniente da Cabala Yetzira e do seu conceito de “Árvore da Vida”) levanta um problema sério: se o pensamento passa de si próprio ao seu oposto, a resolução das duas contradições (a síntese) é inconciliável com o termo inicial (que, segundo determinados exegetas, mais não faria do que reforçar, pela negação da negação), ou arrasta incessantemente de negação em negação até um pensamento “radicalmente diferente” — o que conduziria de facto a um cepticismo relativista total.

Fica a aqui a demonstração sucinta e cabal de que as doutrinas do marxismo, do liberalismo e da maçonaria (ou seja, a chamada “modernidade”) têm a mesma origem epistemológica: o movimento intelectual parasitário da gnose, da Antiguidade Tardia.

(continua)

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