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Segunda-feira, 10 Junho 2024

Salazar foi um conservador (da sardinha).

Filed under: Iniciativa Liberal,liberalismo — O. Braga @ 3:09 pm

A Cristina Miranda escreve aqui acerca do “fascismo”; o problema do texto, é que dele se pode inferir que o patriotismo / nacionalismo é um fenómeno político de Esquerda.

«Enquanto o marxismo mobiliza as pessoas com base apenas na sua classe, o fascismo mobiliza apelando às suas identidades nacionais e classes. Segundo ele, toda a acção privada devia ser orientada para servir a sociedade. Nesta ideologia não há distinção entre interesse privado e público pois o braço administrativo da sociedade é o Estado. Mussolini resumiu esta ideologia numa frase: “Tudo no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado” ».

Deste trecho, do texto da Cristina Miranda, pode-se inferir que

1/ quem apele à identidade e à união nacional, é “fassista”;
2/ quem é “fassista”, é de Esquerda;
3/ quem é patriota ou nacionalista, para além de “fassista”, é de Esquerda;
4/ só não é “fassista” quem defende um tipo de globalismo controlado por uma plutocracia internacional aliada ao caciquismo local do marxismo cultural internacionalista;
5/ quem é patriota / nacionalista, é “estatista” (o braço administrativo da sociedade é o Estado) porque defende o absolutismo do Estado.

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Eu vivi durante o Estado Novo, embora muito moço. E poderia aqui assegurar, por A+B e por experiência própria, que Salazar não era de Esquerda.

A confusão começa quando não definimos “Esquerda” e “Direita(ver link).

As noções de Esquerda e de Direita são relativamente recentes: nasceram da Revolução Francesa e do jacobinismo; mas a noção e o conceito de “Estado” já vem de Aristóteles.

Não devemos associar o Estado à Esquerda, e a ausência do Estado à Direitacomo se pode inferir do texto da Cristina Miranda —, até porque um dos partidos que mais necessita do Estado para cumprir os seus desígnios ideológicos, é a IL [Iniciativa Liberal].

Os liberais, como é o caso da Cristina Miranda, só são “liberais” de nome, porque recusam (na linha de Rousseau) a predominância e a importância social das instituições intermediárias entre o indivíduo e o Estado. A atomização da sociedade é um desígnio ideológico liberal.

Aliás, esta recusa da predominância e a importância social das instituições intermediárias entre o indivíduo e o Estado também é uma característica do jacobinismo e, posteriormente, do marxismo. Um liberal é um revolucionário, uma vergôntea do jacobinismo.

Os liberais começaram por chamar de “democráticas” às instituições liberais, e acabaram por chamar de “liberais” às actuais servidões democráticas.

“Rousseau é o pai do movimento romântico iniciador do sistema que infere, de emoções humanas, factos não-humanos, e inventor da filosofia política de ditaduras pseudo-democráticas como opostas a monarquias absolutas. Desde então, os que se julgavam reformadores ou o seguiam a ele, ou seguiam ou seguiam Locke. Às vezes cooperavam e muitos não viam incompatibilidade, que se tornou pouco a pouco evidente. Hitler é vergôntea de Rousseau; Roosevelt e Churchill, de Locke.”

Bertrand Russell, “História da Filosofia Ocidental”, página 627; Livros Horizonte Lda., Lisboa, 1966

A atomização da sociedade é defendida pelos liberais (IL [Iniciativa Liberal]) e pelos libertários de Esquerda (Bloco de Esquerda), embora por razões distintas.

“Isto significa, nada menos, do que [o Estado] obrigá-lo [ao cidadão] a ser livre” (Rousseau).

Segundo Rousseau (e mais tarde, Hegel), a liberdade é o direito de obedecer à polícia.

Esta é a visão actual do liberalismo globalista da IL [Iniciativa Liberal] — e por isso é que a IL [Iniciativa Liberal] é um partido bem-visto pelos me®dia e pelas elites [ruling class] em Portugal.

“Se quando o povo, bem informado, toma deliberações, e os cidadãos não comunicam entre si, a soma das pequenas diferenças daria sempre a vontade geral e a decisão seria boa” — Rousseau

Desta proposição de Rousseau podemos inferir que todas as opiniões políticas são comandadas pelo simples interesse, que se divide em duas partes: por um lado, o interesse do indivíduo (IL [Iniciativa Liberal]), e por outro lado, o interesse comum que anula os interesses dos indivíduos entendidos enquanto indivíduos (Bloco de Esquerda). O que resulta da anulação do interesse comum em relação ao interesses individuais, é a "Vontade Geral".

Escreve Bertrand Russell (idem, página 639):

«Segundo Rousseau, o que na prática interfere com a expressão da vontade geral é a existência de associações subordinadas dentro do Estado. Cada uma quer ter a sua vontade geral, que pode ser oposta à da comunidade como todo. “Pode dizer-se que não há tantos pareceres como homens, mas há tantos como associações”. A consequência é importante: “É portanto essencial, se a vontade geral pode exprimir-se, que não haja sociedades parciais dentro do Estado, e cada cidadão pense apenas por si; tal é o sublime e único sistema estabelecido pelo grande Licurgo”. Em nota, Rousseau apoia-se em Maquiavel. »

A guerra ao associativismo na sociedade (a defesa do atomismo social) é uma característica tanto dos “liberais” da IL [Iniciativa Liberal] como dos “libertários” do Bloco de Esquerda. Estes dois partidos são uma imagem espelhada (de um e doutro).


“Ele há dois tipos de conservador: o conservador da lata e o conservador da sardinha.”
→ Agostinho da Silva

Salazar foi um conservador da sardinha.

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