perspectivas

Sábado, 8 Setembro 2007

Caso “Maddie”: a PJ sacode a pressão

Filed under: Maddie,Pedofilia — O. Braga @ 4:19 pm

“There’s a reason why Portuguese policemen always go out in three individuals patrol: one of them knows how to read, another one knows how to write, and the third one likes to join intellectuals.” – Quote author unknown

A Polícia Judiciária anda a meter os pés pelas mãos, no caso “Maddie”. A PJ incomodou-se com as atenções que o caso despertou na opinião pública nacional e internacional. A PJ não está, nem nunca esteve, habituada a pressões que não sejam as exclusivamente provenientes do Poder instalado no Terreiro do Paço. As investigações da PJ sempre se apresentaram imbuídas de um sigilo pidesco; e quando falham, por incompetência, ou são distorcidas, por conveniência, a solidariedade corporativa sempre dá um jeitinho com um aerossol político para disfarçar o fedor que remanesce.

Que eu tenha conhecimento, em nenhum caso de desaparecimento prolongado de uma criança em Portugal, – e como aconteceu no caso do desaparecimento do Rui Pedro – a PJ teve sucesso na descoberta do seu paradeiro, em parte porque as redes pedófilas são bem organizadas e sofisticadas. Por exemplo, a pessoa que rapta a criança entrega-a rapidamente a uma outra pessoa que o raptor não conhece. O crime de rapto para pedofilia é perfeitamente “compartimentado”, isto é, existem várias pessoas (que muitas vezes não se conhecem) envolvidas no processo de rapto. Por isso, não admira a dificuldade da PJ num caso destes. Com Schengen, a situação agravou-se.

No caso de Maddie, a pressão dos Mídia ingleses exigiu milagres à PJ, o que incomodou a polícia. Juntou-se à pressão dos Mídia a pressão dos políticos ingleses, que envolveu até pressão diplomática. Para sacudir a pressão, resta à PJ tentar desacreditar as pessoas que estão na origem dessa mesma pressão: os pais de Maddie.
A PJ adopta agora uma estratégia de “sacudimento da água do capote”, utilizando uma táctica que leve à desvalorização e ao relativo esquecimento, por parte da opinião pública, do assunto “Maddie” – como aconteceu anteriormente com o caso do Rui Pedro. E a melhor forma de desacreditar quem pressiona a PJ, é insinuar, junto da opinião pública, que os pais de Maddie são suspeitos do assassínio da filha – quando a PJ não sabe sequer se Maddie está morta, nem tem indícios credíveis para esta hipótese.

A PJ sacode a pressão. A PJ responde à política, com a política. A atitude da PJ é repugnante; uma vergonha nacional.

Note-se que nenhum magistrado interveio na mudança de estatuto de Kate Mccann, de Testemunha para Arguida. Parece-me, portanto, lógico que o estatuto de arguida para Kate (a mãe de Maddie) foi exigido por ela própria, face a um comportamento persecutório e irracional da polícia.
Meus caros: um interrogatório de 11 horas ininterruptas a uma mãe que sofre com o desaparecimento de uma filha, é obra! Só um polícia português, burgesso quanto baste, energúmeno até à exaustão, se lembraria de uma barbaridade destas! Isto não nos lembra já a PIDE, mas a GESTAPO! Será que deixaram a senhora ir à casa-de-banho?

A PJ, através dos mídia portugueses, faz passar a ideia de que o caso “Maddie” é semelhante ao caso “Joana”. A polícia portuguesa, se já tinha e com toda a propriedade, o rótulo de “incompetente”, passou a somar mais um: o de “idiota”.

Uma das teorias adoptadas pela polícia portuguesa (será que eles pensam?), e agora revelada aos Mccann com o novo estatuto de arguidos (como arguidos, já podem ter informação do processo), é a de que Maddie teria sido morta involuntariamente (homicídio por negligência) pela própria mãe. A PJ, através dos me®dia portugueses, diz que o caso “Maddie” é um segundo caso “Joana”. Insinua sem provas, porque não as pode ter.
O perfil da família de Maddie nada tem a ver com o perfil da família de Joana. Mesmo que Maddie tivesse sido morta por acidente, seria altamente improvável que um casal como os Mccann caísse na idiotice de ocultação de cadáver. Trata-se de um casal de médicos que está habituado a lidar com óbitos e com a lei que os regula. Será que a polícia raciocina, ou faz de conta?

Um homicídio por negligência daria a uma mãe, com dois filhos bebés para criar, e possivelmente após recurso, uma pena reduzida relativa à pena máxima de 3 anos (Artº 137, § 1, CPP). Isto significaria que Kate sairia da pildra após seis meses cumpridos – senão antes, descontada a possível prisão preventiva ou a provável prisão domiciliária aguardando julgamento.
Com esta moldura penal para crime de homicídio por negligência, que não é muito diferente na lei inglesa, o que levaria uma mãe a ocultação de cadáver de uma filha? Existe uma resposta para esta pergunta: só a ignorância de uma pessoa semiletrada (como a mãe de Joana) justificaria uma atitude de ocultação de cadáver num crime de homicídio por negligência. Para além disso, o caso da Joana entra, na minha opinião, em Homicídio Qualificado – Artº 132, § 2, alíneas a) b) e c) do CPP – porque houve intenção dolosa, isto é, existiu uma razão para levar a agressão física de Joana até à morte: a de “calar” uma testemunha incómoda de uma relação incestuosa. Comparar (mesmo que implicitamente e “en passant”) o caso de Joana com o caso de Maddie – e mesmo supondo que Maddie teria sido morta, de que não há indício credível – como aconteceu ontem na SIC e na RTP, é de uma estupidez eloquente. E lá estava o Moita-carrasco Flores a ajudar no andor.

A outra hipótese seria de assassínio premeditado de Maddie por parte dos pais, ou por parte de um dos progenitores. Sinceramente, alguém acredita que uma mãe médica, oriunda de um país em que o aborto pode ser realizado com toda a facilidade até aos três meses de gestação, e que pariu, mesmo assim, três filhos, iria matar premeditadamente um dos filhos depois de nascido? Neste caso concreto, a ideia de homicídio premeditado, ou por negligência com crime de ocultação de cadáver, só pôde surgir da cabeça de um polícia.

Não é por acaso que os polícias andam sempre em grupos de três: um deles sabe ler, outro sabe escrever, e o terceiro gosta de acompanhar intelectuais.

Uma terceira hipótese colocada “oficiosamente” é o de co-responsabilização dos pais no crime de rapto de Maddie, isto é, os pais teriam colaborado com os raptores. Alguém acredita nisto? Até onde irá esta fixação impregnada de ressentimento por parte da PJ em relação aos Mccann?
Uma coisa é certa: a PJ parece que faz tudo para que os crimes de rapto para pedofilia, lenocínio, e mesmo assassínio após acto pedófilo, desapareçam do rol das hipóteses. Não é, de todo, insólito, pensar que as ligações perigosas de alguns políticos portugueses com as redes pedófilas internacionais passem também por “infiltrados” na PJ – não vá o diabo tecê-las.

E depois, temos os cães ingleses XPTO que detectam odores de matéria orgânica em decomposição, e que “cheiraram” umas calças de Kate Mccann. Excelente. Gostei. E o sangue de menstruação que se escapa de um penso higiénico mal colocado, por exemplo, o que é senão “matéria orgânica em decomposição”?
Porque que é que a PJ não meteu férias graciosas e chamou a polícia inglesa para se ocupar do caso? “Quem não pode, arreia a jiga” – mas não em cima de quem “lhes dá na real gana”!

E depois, temos os vampiros dos me®dia portugueses a vingarem-se dos vampiros dos me®dia ingleses e ajudando à missa da PJ. Os me®dia ingleses criticaram (e muito bem!) a investigação dos polícias portugueses e exigiram a descoberta do paradeiro de Maddie; os me®dia portugueses, controlados pelos idiotas da PJ, e para poderem dizer “à tripa forra” que afinal os me®dia ingleses é que são uma me®dia, insinuam que Maddie foi morta “sem querer” por uma mãe de três filhos, letrada e conhecedora da lei – lançando depois o cadáver da sua própria filha numa lixeira qualquer. E o povo que se emocionava com o sofrimento dos Mccann, passou a apupá-los, para gáudio da PJ. A vingança da PJ serve-se fria; e quando não se provar que os Mccann estão implicados no desaparecimento da sua filha, a mesquinha vingança de uma polícia desqualificada e inqualificável terá sido consumada. Entretanto, a opinião pública e a publicada desinteressam-se do assunto, e esta é outra das intenções da PJ: há que “matar” o caso “Maddie”.

Depois de (praticamente) dez anos volvidos sobre o desaparecimento do Rui Pedro, a PJ ainda não descobriu uma única pista (uma única, para amostra!) que conduza ao seu paradeiro. O menino Rui Pedro não teve direito a atenções dos mídia e da opinião pública, e a PJ encerrou habilmente o caso, “pelo soleno”; este foi um bom exemplo da perícia saloia da PJ.
O problema da PJ é a pressão a que está sujeita no caso “Maddie”. Como no caso de Rui Pedro, a PJ não tem soluções, muito por pura incompetência manifesta e bem visível em toda a investigação, e dispara agora contra tudo o que mexe – principalmente sobre quem lhes causou a “trabalhêra” de ter que “trabucar”, mesmo que mal e porcamente.

O que a PJ está a fazer ao casal Mccann é uma filha-da-putice. Já não me admiro. Um polícia cortado ao meio dá sempre lugar a dois filhos-da-puta. Trata-se de uma característica intrínseca, indígena e endógena do polícia português, que o tornou conhecido em todo o mundo.

8 comentários »

  1. nao concordo consigo.
    A tao afectada mae nunca deixou de retocar as madeixas, baton, sport chic todo coordenado, brincos lacitos na cabeça… todo o contrario de uma mae desfeita

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    Comentar por r.filgueira — Domingo, 9 Setembro 2007 @ 10:39 am | Responder

  2. Apesar das metáforas fortes a que o texto recorre não posso deixar de dar o meu apoio à teoria da incompetência, mais que provada da PJ. É mais um exemplo do serviço público que temos!

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    Comentar por José Formiga — Domingo, 9 Setembro 2007 @ 10:41 am | Responder

  3. Viva, Orlando! Eu concordo com a “política” da PJ: que os pais a quem raptam os filhos sejam punidos como assassinos, assim ninguém deixará de ter os filhos debaixo de olho o tempo todo, o negócio de instalação de chips nas crianças vai florescer…
    Os tios, ajudados pela PJ e pelos merdia, são espertos…!!!!!

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    Comentar por Henrique — Domingo, 9 Setembro 2007 @ 9:17 pm | Responder

  4. Bem exposto. Se bem que é em parte estranha a atitude dos pais, e a nova tendência do caso ser fundada em dados obtidos aboard, é um facto que a Polícia portuguesa se pôs ao ridículo, mostra incompetência, défice de raciocínio, e deixa-nos uma tremenda impressão de insegurança quer como suspeitos quer como vítimas.
    A palhaçada é geral, vejam-se os mais recentes casos (tiros e falsas notícias de captura de criminosos no Minho, prolongados inconclusivos cercos a pinheiros em Viseu para capturar dois esfomeados e velhos criminosos, que só a acção de um popular permitiu). As polícias competem entre si em vez de colaborar, os seus quadros são arrogantes e intocáveis. Afinal para que temos tantas?
    E a culpa é de quem? Dos políticos? Acho que é de todos nós, porque nos habituámos a nesta e noutras matérias, a apenas “dar pancada” e falhar no apoio a quem através do voto colocámos a governar os nossos interesses. E em contrapartida mantemos toda a simpatia, e abstemos-nos de ser exigentes com a mole de intocáveis funcionários corporativistas (policias, médicos, professores, etc.), cujos objectivos são apenas fazer o menos e defender os seus próprios interesses.

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    Comentar por jose cardoso — Segunda-feira, 10 Setembro 2007 @ 12:31 pm | Responder

  5. […] científicos modernos, e dependente do Ministério da Administração Interna. No seguimento do post anterior, em que acuso a Polícia Judiciária de tentar sacudir a pressão das opiniões pública e […]

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    Pingback por Caso “Maddie”: a PJ sacode a pressão (2) « per-espectivas — Segunda-feira, 10 Setembro 2007 @ 12:42 pm | Responder

  6. Texto bem esgalhado. Concordo no essencial. No entanto, não poderei deixar de verberar prováveis recalcamentos do autor contra os polícias, porque, afinal, todos nós temos um amigo polícia ou até um familiar. Todos menos os intelectualóides basistas ou novos pensadores da net. Francamente, já não se usa…e quebra toda a lógica de raciocínio de uma razoável argumentação literária. Menos emoções e mais sangue frio. Pode mesmo ser em decomposição. No fundo o que é preciso é ter cuidado com os cães. Pelo menos com os cães ingleses, que é o principal «mal» do Algarve. Meu caro, o Marcelo coitadinho iria chumbá-lo, mas eu apenas o encho de penas. BC.

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    Comentar por Granito — Quarta-feira, 3 Outubro 2007 @ 12:45 am | Responder

  7. As declarações do Coordenador da PJ para o caso Maddie (Gonçalo Amaral) provam que a minha ideia sobre os polícias portugueses (repito, PORTUGUESES) não é uma questão de recalcamento; os polícias portugueses tem que se convencer que não são A Autoridade, mas agentes da Autoridade.
    O indivíduo que escreveu o comentário anterior é um idiota chapado (devolvo-lhe o ataque Ad Hominem).

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    Comentar por Orlando — Quinta-feira, 4 Outubro 2007 @ 2:01 pm | Responder

  8. […] — Orlando @ 10:15 pm Tags: Justiça, Maddie, PJ, Polícia Judiciária Sobre o caso Maddie, escrevi o que escrevi, e só retiro agora alguma terminologia — que poderia ter evitado — que […]

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    Pingback por Para memória futura « perspectivas — Quinta-feira, 29 Maio 2008 @ 10:15 pm | Responder


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