perspectivas

Sexta-feira, 2 Março 2007

“O Burro do Inglês”

Filed under: politicamente correcto — O. Braga @ 4:37 pm

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Eis um exemplo de como funciona o politicamente correcto.

Começaram pela proibição de fumar em sítios públicos (repartições do Estado em geral, escolas, etc.); e eu concordei (como a maioria concordou). Depois, avançam mais um pouco, e proíbem fumar em bares; depois em restaurantes (e hoje já ouvi alguém dizer na TSF “que deveria ser proibido fumar ao ar livre”); e depois, limitam os pontos de venda do tabaco; depois proíbem a venda de cigarros, fomentando o contrabando do tabaco, ao mesmo tempo que legalizam o consumo das drogas leves e promovem as salas de chuto, e legalizam o aborto (“o aborto não faz mal à saúde, e o tabaco faz”), a eutanásia e o infanticídio.

O politicamente correcto é isto. E é por isto não tem credibilidade, quando analisado por gente com um QI normal.

Habituam o cidadão ao acto de proibir, uma programação pavloviana do cidadão, a instituição do reflexo pavloviano de aceitação sistemática da proibição como sendo sempre para “bem do cidadão”, que é o que está em causa aqui – o cigarro é apenas um instrumento, um pretexto, para condicionar o “guinea pig”.

E depois, há esta coisa dos 1002, que discrimina os pequenos negócios; quem tiver um restaurante com mais de 100 m2, coloca um dístico bem visível à porta dizendo:

“Aqui podes fumar, pá! Entra, consome, e fuma o teu cigarrinho que cá a gente está-se borrifando para o politicamente correcto do Sócrates”.

Naturalmente que os almoços de amigos vão passar a ser feitos exclusivamente em restaurantes com mais de 100 m2, porque mesmo que quem organize as almoçaradas, não fume, quer sempre prevenir a situação de humilhação que teria um (ou mais do que um) dos convivas em ir fumar para o WC. O pequeno restaurante vai ter o cliente da bucha rápida, que se pira logo que puder.

O conceito de tolerância do politicamente correcto consiste em proibir para controlar, nos cigarros como em tudo. Quando essa proibição pode causar alarme social, começam por proibições parcelares e mitigadas, e vão avançando, anestesiando o cidadão, até que ele se habitue a aceitar a proibição dos actos mais simples e comezinhos, como um acto normal e aceite instintivamente, rumo à proibição discricionária e à erradicação do sentido crítico de cidadania, no tabaco como em muitas outras coisas.

A proibição de venda do tabaco (que é para aí que o PC caminha) serve às mil maravilhas uma agenda política. O tabaco é vendido pelas grandes empresas tabaqueiras; logo: proibir a venda de tabaco. A maconha é produzida (nomeadamente) “por los pobres campesinos de latino América“; logo: legalizar o consumo. O ópio é produzido pelos “afegãos anti-americanos” (como já foram anti-russos); logo: legalizar as salas de chuto.

O grande problema do politicamente correcto, é encontrar uma forma de proibir a religião, por exemplo; mas para lá caminhamos, porque existem medidas de anestesia social e de “habituação à proibição”, que terão que ser previamente tomadas.

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Por natureza, sou avesso a proibições enviesadas e sem critério coerente. Quando me dizem que não posso beber vinho e posso beber absinto em quantidades industriais, pergunto logo a razão do critério. Se uma coisa faz mal à saúde, porque que é outra não faz?
Gosto mais de regras, com excepções. Flexibilidade. Se existe gente que fuma e outra que não fuma, há que conciliar as duas situações, criando regras que sirvam ambos os casos.

Por falar em absinto: Fernando Pessoa classifica a inteligência em três classes (“A Janela Aberta”): a inteligência científica (IC), a inteligência filosófica (IF), e a inteligência crítica (ICR). A IC examina os factos, e deles tira as conclusões imediatas. A IF aceita os factos determinados pela IC e determina, pela comparação das coisas observadas, o que vêm a ser os factos. A ICR nem possui a observação que é a base da IC, nem o raciocínio que é o fundamento da IF: analisa as falhas da IC e da IF.

O politicamente correcto (PC) raciocina tendo como base a IF: o raciocinador filosófico PC nunca crê que a razão possa ser irracional, porque não admite o irracional como elemento positivo; para o PC, o irracional é sempre negativo, salvo nos casos de racionalização da irracionalidade das chamadas “vítimas sociais”. O grande inimigo do PC, é a massa da inteligência crítica em circulação, e é deste tipo de inteligência que necessitamos em maior quantidade na nossa sociedade.

1 Comentário »

  1. Os meus parabens pela análise em referência.

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    Comentar por sergio — Sexta-feira, 16 Outubro 2009 @ 4:05 am | Responder


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