perspectivas

Terça-feira, 27 Março 2007

What tomorrow will bring, I know not

Filed under: Sociedade — O. Braga @ 2:39 pm

“Revolucionário ou Reformador – o erro é o mesmo. Impotente para dominar e reformar a sua própria atitude para com a vida, que é tudo, ou o seu próprio ser, que é quase tudo, o homem foge para querer modificar os outros e o mundo externo. Todo o revolucionário, todo o reformador, é um evadido. Combater é não ser capaz de combater-se. Reformar é não ter emenda possível.” (1)

Fernando Pessoa foi muito mal defendido por Clara Ferreira Alves no concurso “Os Grandes Portugueses”. O facto da vacuidade subir à ribalta explica o estado a que chegou este país – com uma elite de literatos, sem farda fardados, impondo-nos o mesmo tipo de mediocridade que criticam.
Salvou-se o Hélder Macedo (Luís Vaz de Camões), o Rosado Fernandes (Marquês de Pombal), o Jaime Nogueira Pinto (Salazar), Miguel Júdice (Ari Sousa Mendes), e até Paulo Portas (e aqui, sou insuspeito), representando El Rei dom João II. Da plateia, as vozes dos ilhéus Guilherme Silva e Bettencourt Resende amenizaram o ambiente, e Fernando Dacosta acertou em muita coisa. Por muito que queiram desvalorizar o “concurso”, o que se passou reflecte religiosamente o estado de Portugal.

Perante os revolucionários presentes, em maioria na plateia, titubearam os reformadores, em maioria no painel. Perante os decibéis e pesporrência insuportáveis de Odete Santos, calaram-se os moderados, porque não têm todos emenda possível – todos incorrem no mesmo erro, são as duas faces da moeda que circula.

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(massacre comunista na Ucrânia)

“Em política, o que parece, é.” (2). Por muito que me digam que não foi verdade, que foi isto e aquilo, e pardais ao ninho, dois déspotas ganharam o concurso d’Os Grandes Portugueses – um e outro historicamente indissociáveis. Desde já afirmo aqui que a ter que viver em ditadura, e de entre os dois ditadores, prefiro Salazar; pelo menos, nunca coarctou a liberdade religiosa e de pensamento dos portugueses, não proibiu a liberdade de acreditar no que quiséssemos, e de não acreditar em nada. No regime de Salazar, poderias pensar ou acreditar, desde que não usasses o teu intelecto contra o sistema político vigente; com Cunhal, o próprio pensamento seria policiado e censurado (como já está acontecer com o marxismo cultural, herdeiro ideológico do marxismo-leninismo), e já não só a expressão desse pensamento.

Mas antes dos dois, prende-me ao leme El Rei dom João II.

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Pouca gente sabe que Fernando Pessoa era monárquico, patriota e nacionalista; mas não convém que se saiba por aí.
Fernando Pessoa foi contra Salazar, assim como foi contra a República, também porque desta nasceu aquele, são dois irmãos e filhos da mesma galdéria. Mas Pessoa também foi um crítico da maçonaria (embora místico) – e também não convém que se saiba.

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Daquilo que não convém que os portugueses saibam, branqueia-se; e depois, dizem as elites, como foi expresso num patético e hipócrita mea culpa da “advogada” de dom Afonso Henriques, que “em Portugal se falhou na educação” – aquele tipo de educação politicamente correcta que as elites pretendem impôr, para se perpetuarem na plêiade social auto-eleita e cooptada, que jugula o Poder.
“Quem pode manda; quem não pode, obedece” (2) – é este o princípio programático do tipo de educação que se pretende impôr de forma subliminar, alimentando as elites auto-proclamadas. E depois, dizem-nos que “são diferentes”. A diferença é que o culto de personalidade actual se faz pelo “não-culto” de personalidade; troca-se a ordem dos factores, desmultiplicando-os em múltiplos comuns, dando-se assim a ilusão de que o resultado da equação não é exactamente o mesmo.

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A forma como Pessoa foi apresentado aos portugueses é um exemplo de Presentismo Histórico marxista cultural: foi-lhe amputada a personalidade multifacetada (ao Pessoa, porque à Ferreira Alves nada há a amputar, só lhe assentariam acrescentos, a todos os níveis) em nome de uma agenda política. Foi isto que a Ferreira Alves fez, cumprindo o estipulado pela cartilha ideológica a que presta vassalagem.

Fernando Pessoa era um místico; e ao contrário do que se propala (e posso prová-lo), Pessoa era religioso, não no sentido redutor de um catolicismo dogmático, mas no sentido de uma religião universal que religasse a humanidade com a complexidade da Criação.
Dizer que Fernando Pessoa era ateu, é um perfeito disparate; dizer que Pessoa era gay, outra completa asneira. Uma galinácea diplomada e diplomática, de entre o painel e referindo-se a Pessoa, cacarejou que “a homossexualidade era feitio, e não defeito”. Se Pessoa era homossexual, não se lhe conheceu comportamento quejando, nada existe documentado ou em testemunhos da época. E se a homossexualidade é feitio, Pessoa não a distinguiu dos outros defeitos que apontou no ser humano (vide “Declaração da Diferença”, Livro do Desassossego, páginas 283 e 284).
Pessoa seria um misógino; mas Lobo Antunes, de forma mitigada, o que é? (E sem que disso se faça alarde ou se arranje pretexto para uma homossexualidade redentora e celebrada).

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(Sousa Mendes)

Vivemos num País de clichés propagandeados por revolucionários elitistas acolitados pelos reformadores comprometidos com o desastre nacional. Vivemos um tempo de vulgaridade celebrada, de uma guerra cultural promovida em nome do direito à superioridade da vulgaridade e dos instintos mais básicos do ser humano. O super-homem de Nietzsche, aplicado à realidade humana, deu nisto: os heróis passaram a ser a sua antítese, os cobardes de todos os dias, o ordinário alcandorado a paradigma.

Salvou-se o cristão Aristides de Sousa Mendes. Valeu a pena.

(Até um dia destes, se Deus quiser).

(1) Fernando Pessoa
(2) Oliveira Salazar

6 comentários »

  1. Caro Orlando. Acho que você acertou na “mouche”. Em relação ao embaraço da RTP com a vitória de Salazar, só me ocorre um ditado popular: “Quem se deita com cães, acorda com pulgas.”
    Uma abraço

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    Comentar por O Velho da Montanha — Terça-feira, 27 Março 2007 @ 5:43 pm | Responder

  2. Se Fernando Pessoa era ou não homossexual não interessa..

    Um dos seus heterónimos era-o. E não consta que gostasse menos de Campos que dos outros. Mais um indicativo de que Pessoa era um homem à frente do seu tempo.

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    Comentar por Pedro Morgado — Quarta-feira, 28 Março 2007 @ 1:36 pm | Responder

  3. Gostava de saber se essa comunada toda que para aí anda fosse passar uns tempos nas prisões da Coreia do Norte ou fosse obrigada a viver como esses coitados, se ainda teria coragem de vomitar postas de pescada no Parlamento e na televisão!

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    Comentar por The Ambassador — Quarta-feira, 28 Março 2007 @ 2:50 pm | Responder

  4. Os crimes perpetrados por regimes comunistas são tão crimes quanto os perpretados por regimes conservadores. Um crime é sempre um crime, seja ele feito sob que bandeira for – vermelha ou azul e branca, é indiferente. O perigo é o extremismo e a mania de querer impôr éticas e políticas absolutas que negam a liberdade individual.

    Salazar, dizes, “nunca coarctou a liberdade religiosa e de pensamento dos portugueses, não proibiu a liberdade de acreditar no que quiséssemos, e de não acreditar em nada. No regime de Salazar, poderias pensar ou acreditar, desde que não usasses o teu intelecto contra o sistema político vigente” – hilariante, meu caro. Mas ao menos, aqui esclareces bem de que lado estás: do lado daqueles que no papel dizem que são pela liberdade de expressão, mas que, na prática, torturam os opositores e defraudam eleições (uma fraude eleitoral é, de facto, uma forma muito eficaz de deixar as pessoas manifestarem-se sem que se use o seu intelecto contra o sistema político vigente). Quanto a Cunhal, é certo que compactou com regimes criminosos. Talvez viesse a impor um regime criminoso. Não me espantaria. Mas essa do marxismo cultural é de morte: o Orlando Braga não tem, por acaso, o direito de dizer o que diz? Claro que tem, meu caro. E daria a vida para que o Orlando e outros como ele pudessem continuar a fazê-lo, ainda que aquilo que designa como “pensamento” seja uma mão cheia de mentiras que se negam ao diálogo, porque são mentiras. O pensamento do Orlando Braga resume-se a dizer que tudo o que é contra ele, é marxista… Hilariante, meu caro. Aquilo que designa como marxismo cultural ou horda do politicamente correcto assenta na Declaração Universal dos Direitos do Homem. Não em Marx. Até porque, felizmente, a Declaração é mais lida (espero não estar a enganar-me muito nas contas) do que “O Capital”.

    Fernando Pessoa era monárquico, patriota e nacionalista. Engraçado, aprendi isso na escola (assim mesmo como o Orlando disse). Na escola “marxista” que veio com o 25 de Abril. Nunca ninguém escamoteou tal coisa. Mas não é bem verdade. Pessoa seria isso, tendencialmente – a sua escrita mostra um pensamento muito mais complexo que essa classificação redutora. Mas, mesmo que tivesse sido, continuaria a gostar de Pessoa – mesmo dos poemas em que discordo do conteúdo, porque continuariam a ser motivo para reflexão. Ser monárquico e patriota – e mesmo nacionalista – não é crime nem razão de censura. Mas mais que isso, Fernando Pessoa foi um homem que pensava pela sua própria cabeça, e não seguindo qualquer cartilha política absoluta. Chegou ao seu nacionalismo por um processo de reflexão crítica e não por doutrinação catequética. Quanto ao documentário, foi mesmo mau e não fez mais que celebrar mentiras e equívocos. Fernando Pessoa classificou pejorativamente o regime de Salazar como uma ditadura à Mussolini – logo, não era fascista. O heterónimo Álvaro de Campos pretendia, acima de tudo, viver tudo como se fosse todos os outros – quaisquer referências à homossexualidade aparecem aí como um exercício literário e não como a afirmação da sua homossexualidade – da mesma forma que não era opiómano, apesar de de ter escrito o “Opiário”. Tentar “biografar” os heterónimos e o próprio Pessoa pelos seus poemas é ridículo, já que este se assumia como “poeta dramático”, como bem referiu Teresa Rita Lopes numa crítica a este mesmo documentário

    Continuando: Não quer uma educação políticamente correcta? Quer o quê, então? Padres a darem aulas? Que os professores passem por uma prova de admissão ideológica? Qual a alternativa a uma escola politicamente correcta? O que é para si o “politicamente correcto”? Tudo o que não se encaixe no seu pensamento? Não esclarece isso, meu caro. O estado deve deixar de ser laico? Estou pasmado por ainda se defenderem coisas dessas, se é isso que defende…

    “Quem pode manda; quem não pode, obedece” – não era assim no tempo de Salazar??? Afinal, ando mesmo enganado. Os marxistas malvados andam mesmo a reescrever a história, Deus meu!

    Quanto a Aristides, concordo. Fez jus ao adjectivo “Cristão”. Fossem assim todos os que assim se designam e a má imagem que a religião vai tendo (por culpa própria, não por imposição ideológica marxista) não persistiria.

    Disse Gamaliel (Actos dos Apóstolos, capítulo 5): “se o seu projecto é humano, será destruído; mas se vem de Deus, não conseguireis aniquilá-los. Cuidado, não corrais o risco de vos meterdes contra Deus!”… Belas palavras, estas. Dignas de entrarem em qualquer escritura sagrada.

    Como é possível que um texto tão intolerante e pleno de retórica enganosa (ou, talvez, por isso mesmo), termine com uma frase tão bela e cheia de significado:

    “Salvou-se o cristão Aristides de Sousa Mendes. Valeu a pena.”

    É verdade. Talvez até o Orlando Braga mereça a redenção… Até nele se encontra uma semente de humanidade… Até senti um calorzinho na alma. E, a seguir, um arrepio na espinha. Lembrei-me dos lobos com pele de cordeiro…

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    Comentar por Manuel Anastácio — Quinta-feira, 29 Março 2007 @ 3:09 pm | Responder

  5. Fugindo um pouco ao tema da discussão, vou falar da classe “merdia” e daquilo que ela interioriza como correcto. O Homem é, tal como outros animais, um ser condicionável. À força de ouvir certas “verdades” acaba por aceitá-las como tal. Três exemplos: o aquecimento global, energias renováveis, libertação da mulher.
    O aquecimento global com origem no Homem é algo que nenhum cientista que se preze pode dar como provado. Mas sendo um bom argumento para levar as pessoas a desaconselhar o uso de combustíveis fósseis, é imposta como verdade irrefutável. E os países subdesenvolvidos são os que mais padecem porque se aproveita o “facto fabricado” para bloquear o seu desenvolvimento.
    As energias renováveis são boas. Sem dúvida que são. Mas instalar a maior central fotovoltaica do mundo é, obviamente, uma fraude. Mas apenas porque é uma energia renovável, a opinião pública vai na onda e tece os maiores elogios a uma cambada de ladrões oportunistas.
    Libertação da mulher: uma mulher, que se saiba, é incumbida pela natureza de ser a portadora dos descendentes humanos. A sociedade esclavagista em que vivemos pretende que a mulher possa render no trabalho fora de casa tanto como o homem, e vai de exigir para a mulher o mesmo estatuto que o homem. De tanto “venderem o peixe”, a própria mulher embarca na conversa dos esclavagistas e acha que o direito ao aborto “porque eu quero” é em nome da sua dignidade…
    Bem, poderia continuar com uma série de outras questões como a homossexualidade, a eutanásia, a transsexualidade, o racismo, as minorias, etc. e tal. Mas o que é que o Orlando tem vindo a denunciar este tempo todo afinal?

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    Comentar por Henrique — Quinta-feira, 29 Março 2007 @ 7:05 pm | Responder

  6. O Orlando denuncia o racismo??? Oh! Essa é nova…

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    Comentar por Manuel Anastácio — Sexta-feira, 30 Março 2007 @ 1:15 am | Responder


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