
A melhor forma de contrariar o fanatismo religioso não é certamente deitando mão do fanatismo ateísta. Dawkins, Harris, Dennett, etc. já deram provas insofismáveis de um fanatismo ateísta. O argumento da “proibição da fé” (link), diz tudo sobre um fanatismo que propõe o controlo da liberdade alheia.
«… em que elogia e avulta toda a riqueza das tradições budista e hindu …»
Harris acaba por diferenciar o Budismo e o Hinduísmo das outras religiões, o que contradiz o ateu.
Há que definir o que é religião e o que é política. O fundamentalismo religioso é e sempre foi essencialmente político. Contudo, existem religiões mais facilmente manipuláveis politicamente que outras; por exemplo, é muito mais difícil manipular politicamente o Budismo (apesar da teocracia tibetana) ou o Siquismo, que o Islamismo.
A “forma bivalente” a que Harris deita mão na sua retórica é o chamado “princípio do terceiro excluído”; uma coisa é, ou não é. Trata-se do dilema: A ou B; “to be or not to be”. O “princípio do terceiro excluído” foi herdado do racionalismo aristotélico, esteve na base dos avanços científicos modernos, mas hoje a ciência abandonou-a definitivamente.
Em vez do dilema grego, a ciência adopta o trilema e o tetralema da filosofia oriental:
A; B; A e B; nem A nem B. (ver tetralema)

Harris esquece-se que quem mais agrediu a ética, no século 20, foi precisamente o racionalismo exacerbado. Se compararmos as centenas de milhões de mortos vítimas do racionalismo num só século, com as vítimas do fanatismo religioso desde há 2.000 anos, apetece-nos dizer a Harris para ir dar uma volta ao bilhar grande.
De resto, Harris conclui o óbvio: não é possível existir uma ética sem religião; o problema é limitar a religião à religião, evitando a promiscuidade com a política. Este é o problema de todos ― e não só dos ateus.
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