perspectivas

Sexta-feira, 15 Junho 2012

Fernando Pessoa e o radicalismo político

A partir do momento em que radicalismo é tolerado numa sociedade, existem duas saídas para a situação: ou uma parte da sociedade se torna reaccionária, ou os radicais, mais cedo do que tarde, acabam por desfazer os “moldes sociais instituídos” que tanto liberais como conservadores pretendem manter.

Para Fernando Pessoa, “os conservadores são aqueles desejam e pretendem que o progresso político ou financeiro da nação se faça por alteração social produzida dentro de moldes políticos e sociais dessa nação”. (…) “Para o conservador, os moldes ficam em forma e em tamanho. Apenas muda o conteúdo.”

E os liberais são “aqueles que cuja teoria do progresso inculca a ideia de que ele se faz por uma lenta alteração da sociedade, não tanto nem somente dentro de moldes em que essa vida social se encontra vasada”. (…) “Para o liberal, os moldes alargam-se mas a sua forma fica.”

No mesmo texto, Fernando Pessoa critica e coloca no mesmo plano aquilo a que ele chama de “radicais”, por um lado, e “reaccionários”, por outro lado: “os reaccionários pretendem estupidamente conservar não só todos os moldes sociais e instituídos, mas a vida social inalterável sempre nesses moldes; os radicais devotam idiotamente um desprezo completo desses moldes na sua noção de progresso”.


Em princípio, podemos até considerar estas definições como boas. Porém, o que Fernando Pessoa não previu, no seu tempo, foi a possibilidade de existência de fortes forças políticas radicais em sociedades intrínseca e tradicionalmente moderadas.
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Sábado, 24 Julho 2010

Progressistas, avançados e radicais

« Quando ao conversar sobre política com algum contemporâneo “avançado”, “radical”, “progressista”, surge uma inevitável discrepância, pensa o nosso interlocutor que esta discrepância sobre matérias de governo e Estado é propriamente uma divergência política.

Mas padece de um erro: o nosso desacordo político é uma coisa muito secundária, e careceria por completo de importância se não servisse de manifestação superficial a uma dissensão muito mais profunda. Não nos separamos tanto em política como nos princípios mesmos do pensar e do sentir. Antes das doutrinas de direito constitucional, distancia-nos uma biologia diferente, física, filosofia da história, ética e lógica. »

Ortega y Gasset (El Tema de Nuestro Tiempo)

Ortega y Gasset escreveu este texto em 1921 e continua actual. A recente deriva dogmática e hayekiana do Partido Social Democrata, em contraponto e oposição ao dogma marxista, revela uma espécie de competição política a ver quem é mais progressista, radical e avançado. Embora eu não concorde com uma certa visão historicista de Ortega y Gasset, tenho que aceitar que ele tem razão em determinados conceitos.

Antes de ser uma diferença de doutrinas de direito constitucional, o que me distancia deste Partido Social Democrata de Passos Coelho é uma separação nos princípios do pensar e do sentir — “uma biologia diferente, física, filosofia da história, ética e lógica”. Segundo Ortega y Gasset, o que move os progressistas, radicais e avançados marxistas e/ou hayekianos “são consequência de certas ideias que recebemos juntos dos que foram os nossos professores e mestres”. São ideias velhas, de um lado e doutro.

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