A partir do momento em que radicalismo é tolerado numa sociedade, existem duas saídas para a situação: ou uma parte da sociedade se torna reaccionária, ou os radicais, mais cedo do que tarde, acabam por desfazer os “moldes sociais instituídos” que tanto liberais como conservadores pretendem manter.
Para Fernando Pessoa, “os conservadores são aqueles desejam e pretendem que o progresso político ou financeiro da nação se faça por alteração social produzida dentro de moldes políticos e sociais dessa nação”. (…) “Para o conservador, os moldes ficam em forma e em tamanho. Apenas muda o conteúdo.”
E os liberais são “aqueles que cuja teoria do progresso inculca a ideia de que ele se faz por uma lenta alteração da sociedade, não tanto nem somente dentro de moldes em que essa vida social se encontra vasada”. (…) “Para o liberal, os moldes alargam-se mas a sua forma fica.”
No mesmo texto, Fernando Pessoa critica e coloca no mesmo plano aquilo a que ele chama de “radicais”, por um lado, e “reaccionários”, por outro lado: “os reaccionários pretendem estupidamente conservar não só todos os moldes sociais e instituídos, mas a vida social inalterável sempre nesses moldes; os radicais devotam idiotamente um desprezo completo desses moldes na sua noção de progresso”.
Em princípio, podemos até considerar estas definições como boas. Porém, o que Fernando Pessoa não previu, no seu tempo, foi a possibilidade de existência de fortes forças políticas radicais em sociedades intrínseca e tradicionalmente moderadas.
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