perspectivas

Sábado, 30 Julho 2016

É difícil entender o arquétipo mental da Raquel Varela

 

Por juízo universal (ver), dizemos que “a mulher e o homem são diferentes”. É claro que há mulheres e mulheres, e homens e homens: por isso é que falamos em juízo universal, conceito que o nominalismo radical do politicamente correcto tem imensa dificuldade em apreender.

“A pergunta é: será que para se ter o apoio das pessoas progressistas basta ser mulher? Mulher e negra?”Raquel Varela

¿O que é uma “pessoa progressista”? Ou antes, ¿o que é o “progresso”?

A experiência diz-nos o seguinte: só existe progresso, propriamente dito, na ciência. Mas, quando os factos parecem dar razão à tese de uma necessidade interna do progresso científico, esta necessidade começa a aparecer como uma obrigação (cientismo) que é preciso conseguir dominar.

Ou então existe de facto “progresso” na evolução da pessoa enquanto indivíduo (até Proudhon defendeu esta ideia!).

Em termos de sociedade, do que podemos falar não é de “progresso”, mas antes de “civilização”, que pode mais ou menos agradável ao nosso gosto.

A civilização é o conjunto de fenómenos sociais de ordem religiosa, moral, estética ou técnica e científica, que determinam o estado dos costumes e conhecimentos de uma sociedade. O conjunto coerente de regras, saberes e crenças que correspondem a uma determinada civilização, não podem ser hierarquizadas numa escala de “progresso”.

Talvez o que a Raquel Varela pretende dizer com “progresso” é a defesa de um tipo diferente de civilização. Mas então que fale claro e em uma “civilização diferente” (e explique qual é), e deixe de conceber o “progresso” como uma lei da Natureza e da História.

Domingo, 19 Junho 2016

Anselmo Borges e os podres da Igreja Católica

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 11:06 am
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Parece que, para o Anselmo Borges, a Igreja Católica anterior ao Concílio do Vaticano II, só tem defeitos. Depois do Vaticano II, “o Sol nasceu para a Igreja Católica e para a humanidade”, os amanhãs passaram a cantar, a realidade transmutou-se por intermédio de uma fé metastática.

Anselmo Borges faz de conta que não sabe que o único “progresso” que existe, de facto, está na ciência. Falar em “progresso da sociedade” é demagogia política: por exemplo, se a escravatura tradicional foi abolida, criaram-se entretanto outras formas modernas de escravatura que não são menos perversas. Vou dar aqui um exemplo.

Na Idade Média, os mendigos andavam livres nas ruas das povoações e cidades; e quando pediam esmola a um rico burguês ou a um nobre, quem lhes dava a esmola pedia em troca uma oração pela sua alma. Ou seja, a mendicidade era uma profissão socialmente útil, porque quem dava esmola recebia qualquer coisa em troca.

A partir do momento em que a Reforma retirou à penitência religiosa, por um lado, e à acção moral individual, por outro lado, a sua importância tradicional medieval, o Estado tomou conta da vida dos indivíduos.

E como a mendicidade não acabava, o Estado passou a restringir a liberdade dos mendigos naquilo a que Foucault chamou de “Grande Encarceramento”: os mendigos deixaram de ser úteis à sociedade, e passaram a ser reprimidos e encarcerados. Através da rotulagem do “pobre” e de sinais distintivos afins, a caridade católica da Idade Média que se caracterizava por um modo de relação, transformava-se, no mundo moderno dos “direitos humanos” do Estado, em um modo de segregação.

E Anselmo Borges chamaria a isto “progresso”. A ideia de que “o progresso é uma lei da natureza” é própria de uma mente doente.

Sábado, 4 Junho 2016

A marcha pela abolição dos matadouros

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 11:40 am
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Camaradas!

Depois de termos defendido o aborto livre pago pelo Estado, o "casamento" gay, a adopção de crianças por pares de invertidos, a procriação medicamente assistida para toda a gente, a legalização das "barriga de aluguer" (Bem-haja, Passos Coelho!), a legalização da eutanásia (obrigado! Rui Rio!) — chegou o momento dialéctico de avançarmos na nossa luta pelo progresso da humanidade.

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E esse progresso da humanidade passa pela luta contra o carnismo, contra a violência especista, e a favor da imposição coerciva do veganismo através da força legal do Estado.

O ser humano é essencialmente um herbívoro que deixou de ruminar quando se inventou a propriedade privada: como escreveu Rousseau, o problema da humanidade começou quando um homem, de raça branca e heterossexual, colocou uma vedação num terreno e convenceu as outras pessoas que o terreno era seu; a partir daí, esse homem passou a criar gado, e surgiu o carnismo.

Ora, as outras pessoas acreditaram mesmo que aquele terreno era dele, e deixaram de ser ruminantes! Foi um grande retrocesso para a humanidade!

A seguir surgiu o especismo, que é a ideia absurda (dos capitalistas e dos homens brancos heterossexuais) segundo a qual “o ser humano é ontologicamente superior a uma ameba ou a um caracol”, por exemplo. O carnismo e o especismo andam de mãos dadas. Os nossos camaradas da Acção Directa – Libertação Animal, por exemplo, lançaram uma campanha com o mote: “ ¿Gostava de ser cozido vivo? O caracol também não!” — campanha essa que contribui decisivamente para a proibição do carnismo e do especismo, e para o progresso da humanidade.

Para salvarmos os caracóis e as amebas,  temos que reduzir a população humana no planeta, através do incentivo do Estado ao aborto e do fomento estatal do "casamento" gay que não procria — porque o sexo nada tem a ver com a procriação.

Somos a favor da geração de Quimeras (a Quimera pode ter cabeça e corpo de leão, com outras duas cabeças, uma de cabra e outra de serpente; cabeça e corpo de leão, com outras duas cabeças, uma de cabra e outra de dragão; duas cabeças ou até mesmo uma cabeça de leão, corpo de cabra e cauda de serpente) que não são especistas.

O primeiro Veganista português foi Luiz de Camões, quando escreveu:

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

Terça-feira, 3 Maio 2016

Sou de esquerda e sou uma vaca tirolesa

Filed under: A vida custa,Esta gente vota — O. Braga @ 4:30 pm
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Camaradas progressistas e camarados progressistos do Bloco de Esquerda:

Vemos neste vídeo abaixo (com subtítulos em inglês) uma reportagem com perguntas a estudantes e estudantas suecos e suecas, em que se pergunta, nomeadamente, se uma mulher pode ser um homem. As respostas são unânimes: se uma mulher se assumir como homem e quiser ser um homem, então essa mulher é um homem.

Subtítulos em inglês

Porém, o problema começa quando a entrevistadora faz duas perguntas. A primeira: se uma pessoa quiser medir 10 metros de altura, ¿passará a ter 10 metros de altura? E, a segunda: se uma pessoa sueca quiser ser japonesa, ¿passará a ser japonesa? As respostas a estas duas perguntas não são claras — porque os estudantes e estudantas entrevistados e entrevistadas não são suficientemente progressistas (e progressistos).

É nosso dever ensinar as pessoas que, se alguém assume que tem 10 metros de altura, então passa a ter mesmo 10 metros de altura.

Eu, por exemplo, sou uma vaca tirolesa: vemos na fotografia abaixo, a mulher que é homem, e eu. Se alguém negar que a vaca tirolesa sou eu, atenta contra a minha autonomia e deve ser censurado no programa da SIC “¿E se fosse consigo?”.

vaca-tirolesa

Sábado, 16 Abril 2016

Os progressistas são quase todos assim

 

«O candidato mais à esquerda de entre todos os que pretendem suceder a Barack Obama na Casa Branca, Bernie Sanders, discursou esta sexta-feira no Vaticano, onde denunciou a "economia contemporânea imoral e insustentável".»

Bernie Sanders foi ao Vaticano denunciar uma "economia imoral e insustentável"


“Bernie Sanders took a private jet to the Vatican to address a conference on wealth inequality on Friday, hours after attacking Hillary Clinton over her stance on fossil fuels.

The Democratic candidate is believed to have flown with fewer than 50 people aboard the Delta 767, a jet that can carry between 211 and 261 people”.

Bernie Sanders takes private jet for 24-hour trip to Vatican after attacking Hillary Clinton on climate change

Segunda-feira, 3 Junho 2013

O progresso e o mundo melhor

O conceito de “progresso” só faz algum sentido quando aquilo que de positivo (em termos éticos, culturais e/ou históricos) existiu no passado não se perdeu com o processo de devir. O progresso só pode ser acumulação de experiências positivas; e a esta acumulação de experiências positivas chamamos de “civilização”. Tudo o resto é mudança; e a mudança, entendida em si mesma, não é necessariamente “progresso”.

A existir um “mundo melhor” – se é que é possível – tem que ser um “mundo civilizado”. Não há “mundo melhor” sem a valorização positiva do passado – porque, como vimos, um “mundo melhor” não é apenas um “mundo em devir”: é essencialmente a justaposição cultural das experiências positivas do passado e do presente. A diabolização do passado histórico, ético e cultural é anti-progresso.

E é por isso que o “mundo melhor” é incompatível com o “progressismo” actual: defender o “progresso” e ser “progressista” é, hoje, uma contradição em termos.

Segunda-feira, 4 Março 2013

A barbárie progressista e o mundo melhor

O progresso não é uma lei da natureza: basta uma geração de bárbaros para destruir uma qualquer civilização — o que já está a acontecer com a barbárie “progressista”.

uma contradição intrínseca no discurso da Helena Damião: é uma contradição que se situa no avesso do tecido do seu (dela) discurso, e que por isso não é detectável facilmente a olho nu. A aporia consiste no seguinte: não é lógico defender a possibilidade de um “mundo melhor” (progressismo), por um lado, e por outro lado, simultaneamente, negar que o mundo está em um contínuo progresso (historicismo).

Ou seja, é contraditório afirmar que a humanidade é susceptível de progresso, e ao mesmo tempo dizer que a humanidade não tem progredido. Ao contrário do que a Helena Damião pensa, “os problemas não se resolvem: apenas passam de moda” (Nicolás Gómez Dávila).
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Quinta-feira, 21 Fevereiro 2013

A Bélgica vai estender a eutanásia a crianças (1)

A Bélgica pretende modernizar-se e seguir o progresso a partir do exemplo da Holanda, adoptando o sentido do progresso que significa a eutanásia de menores. Porém, segundo as elites belgas, o problema da eutanásia de crianças prende-se com dois aspectos: ou definir uma idade mínima para a eutanásia da criança, ou autorizar a eutanásia de uma criança desde que esta demonstre uma “capacidade de juízo suficiente”. Em ambas as hipóteses, fica claro que a criança pode fazer a sua escolha pela eutanásia mesmo em oposição aos seus pais e/ou tutores.

Portanto, verificamos aqui uma verdade insofismável, que ninguém pode, em boa-fé, negar: o processo da legalização eutanásia, na Holanda, na Bélgica e na Suíça, começou 1/ pelo chamado “testamento vital” para doentes terminais em estado de inconsciência; 2/ depois, foi estendida a pessoas em estado de demência sem prévia autorização do eutanasiado; 3/ depois, foi estendida para as pessoas com doenças terminais mas em estado de consciência; 4/ depois foi estendida para pessoas saudáveis embora idosas, e alegadamente mediante “manifestação da sua autonomia”; 5/ depois foi estendida a pessoas saudáveis e jovens, que sofram de uma depressão psicológica ou tenham algum defeito físico que não coloque em causa a sua vida (como foi o caso dos dois jovens irmãos gémeos belgas eutanasiados por correrem o risco de ficarem ambos cegos); 6/ e finalmente, a eutanásia é agora estendida às crianças com o pressuposto de que resulta de uma “decisão consciente” da criança.

Na Holanda, o progresso e a modernidade é ainda maior: as crianças com deficiências congénitas — por exemplo, espinha bífida ou mongolismo — são eutanasiadas à nascença. A eutanásia obedece a uma confluência de vários interesses: 1/ é um negócio promissor e lucrativo; 2/ é um fenómeno político que decorre do processo actual de demitificação da ciência; 3/ é uma ética negativa, ou seja, um produto de uma mundividência característica do movimento revolucionário e do gnosticismo de todos os tempos. A esta confluência de interesses podemos chamar de “lóbi da eutanásia”.

Quarta-feira, 18 Julho 2012

A autonomia do indivíduo e a desconstrução da família nuclear (1)

A família tradicional e nuclear, ou natural, é hoje considerada pelos “progressistas” como sendo pré-determinada, e portanto contra a auto-definição e a autonomia do indivíduo.

Ora, tudo o que é pré-determinado é considerado opressivo pelo “progressismo”, e por isso — dizem os “progressistas” — aquilo que é opressivo tem que ser desconstruído — ; e é assim que o conceito de família tradicional e nuclear é desconstruído, para que se possa afirmar a autonomia do indivíduo.

Mas, sendo assim, a necessidade de desconstrução da família nuclear passa a ser também pré-determinada, e essa necessidade apriorística de desconstrução é, ela própria, opressiva. Portanto, há que desconstruir o pré-determinismo da necessidade de desconstrução da família tradicional.

Terça-feira, 10 Julho 2012

As touradas, a tradição e o progresso

Muita gente se pergunta por que razão, sendo o Bloco de Esquerda um partido político com uma base de apoio social não só pequena mas também concentrada em Lisboa, tem tanta visibilidade nos me®dia.

O progresso é composto por toda a acção ética, social e política que fundamente racionalmente qualquer mudança, com o respeito devido às tradições, e dentro dos parâmetros do psiquismo nacional.

A razão é a seguinte: a super visibilidade do Bloco de Esquerda nos me®dia é fomentada pelas nomenclaturas do Partido Socialista e do Partido Comunista, ou seja, estes dois partidos necessitam da grande visibilidade pública dos sociopatas do Bloco de Esquerda à solta, para esconderem a sua própria sociopatia, ao mesmo tempo que utilizam as ideias radicais do Bloco de Esquerda para fazer avançar as suas próprias agendas políticas, escondidas do povo. E este fenómeno já começa a extrapolar a chamada Esquerda: já entrou no Partido Social Democrata e mesmo no CDS/PP, por exemplo, com o deputado Adolfo Mesquita Nunes.
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Quarta-feira, 6 Outubro 2010

O Erro de Hegel (2)

O Homem moderno está absolutamente convencido de que o mito é coisa do passado, que pertence às chamadas “sociedades arcaicas”. A partir do Iluminismo, o Homem entrou em uma fase de estupidificação causada pelas elites : o pior estúpido é aquele que se julga aquilo que não é.
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Sábado, 24 Julho 2010

Progressistas, avançados e radicais

« Quando ao conversar sobre política com algum contemporâneo “avançado”, “radical”, “progressista”, surge uma inevitável discrepância, pensa o nosso interlocutor que esta discrepância sobre matérias de governo e Estado é propriamente uma divergência política.

Mas padece de um erro: o nosso desacordo político é uma coisa muito secundária, e careceria por completo de importância se não servisse de manifestação superficial a uma dissensão muito mais profunda. Não nos separamos tanto em política como nos princípios mesmos do pensar e do sentir. Antes das doutrinas de direito constitucional, distancia-nos uma biologia diferente, física, filosofia da história, ética e lógica. »

Ortega y Gasset (El Tema de Nuestro Tiempo)

Ortega y Gasset escreveu este texto em 1921 e continua actual. A recente deriva dogmática e hayekiana do Partido Social Democrata, em contraponto e oposição ao dogma marxista, revela uma espécie de competição política a ver quem é mais progressista, radical e avançado. Embora eu não concorde com uma certa visão historicista de Ortega y Gasset, tenho que aceitar que ele tem razão em determinados conceitos.

Antes de ser uma diferença de doutrinas de direito constitucional, o que me distancia deste Partido Social Democrata de Passos Coelho é uma separação nos princípios do pensar e do sentir — “uma biologia diferente, física, filosofia da história, ética e lógica”. Segundo Ortega y Gasset, o que move os progressistas, radicais e avançados marxistas e/ou hayekianos “são consequência de certas ideias que recebemos juntos dos que foram os nossos professores e mestres”. São ideias velhas, de um lado e doutro.

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