Por vezes, a classe política comete erros e depois coloca-se na posição de vítima. É o que parece expressar este postal do José Pacheco Pereira.
A classe política parece estar sempre isenta de culpa, e quando o povo se revolta, é populismo. Qualquer revolta popular contra a incompetência ou mesmo iniquidade da classe política é automaticamente classificada de populismo. Trata-se de um mecanismo de defesa que José Pacheco Pereira herdou da sua formação maoísta — um tanto semelhante ao mecanismo de defesa do movimento político gay, que sabendo das suas contradições idiossincráticas, considera homofóbico tudo quanto se lhe opõe ou assuma uma posição crítica.
Para o Pacheco Pereira, antes a ditadura do que a implementação, no nosso sistema político, de mecanismos de democracia directa que ele considera uma forma de ditadura.
Se o povo fala e comenta contra o comportamento da classe política, para o Pacheco é um prenúncio de morte (ou a linguagem do norte, que vai dar ao mesmo). A revolta do povo é, para ele, apocalíptica; o povo devia comer e calar.
A classe política representa a inquestionável legitimação ética do mostrengo (imundo e grosso): “Quem é que ousou entrar nas minhas cavernas que não desvendo, meus tectos negros do fim do mundo ?!” — mas contra a lei do mostrengo, o povo ao leme tremeu e disse: “El-Rei D. João Segundo!”.
E segue o povo, em poema: “Aqui ao leme sou mais do que eu: / Sou um povo que quer o mar que é teu; / E mais que o mostrengo, que me a alma teme / E roda nas trevas do fim do mundo, / Manda a vontade que me ata ao leme, / De El-Rei D. João Segundo!”
José Pacheco Pereira parece não querer compreender que o problema não é o de os políticos ganharem muito ou pouco dinheiro, mas o facto de não existir transparência sobre aquilo — muito ou pouco — que os políticos ganham. Quando um político passa pelo limbo da governança para depois entrar no paraíso das super-empresas dos lóbis da cidade-prostituta, estamos concerteza em face de um novo mostrengo “imundo e grosso”.
Porém, para o Pacheco, quem é o povo para poder reclamar qualquer tipo de ética para a classe política? “Quem vem poder o que só eu posso, / Que moro onde nunca ninguém me visse / E escorro os medos do mar sem fundo?”
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