Ao ler este artigo da Helena Matos, convém que o leitor não confunda “comunitarismo” e “multiculturalismo” — porque a palavra “comunidade” é invocada em um contexto de multiculturalismo. Em política, as palavras são muito importantes. Aliás, Marine Le Pen também utiliza o termo “comunitarismo” em vez de “multiculturalismo”.
O termo “comunitarismo” designa originalmente um grupo informal — uma corrente filosófica, e não propriamente uma doutrina — de autores de língua inglesa, por exemplo, Alasdair MacIntyre (católico), Michael Sandel (judeu religioso praticante), Charles Taylor (católico), e mesmo Michael Walzer em menor grau, que tomam parte, desde a década de 1970, num debate acerca da filosofia moral e política. Os comunitaristas defendem, contra os liberais, uma concepção da ética que assume a questão do sentido da vida que a prática histórica dos indivíduos e das comunidades pressupõe. A “comunidade” é vista aqui como a sociedade em geral. Ou seja, comunidade ≈ sociedade. Eu próprio identifico-me com os comunitaristas, por um lado, e com o neo-realismo tomista, por outro lado (a minha forma de pensar pode ser resumida nestes dois planos).
A descrição que a Helena Matos faz das “comunidades multiculturalistas” (talvez este termo seja mais adequado), sendo real, é assustadora. O que estamos a assistir é a um incremento do potencial totalitarista na política a coberto da divisão da sociedade em castas, sendo que umas castas assumem maior importância real do que outras. E depois temos a casta dos novos párias, que é constituída por homens brancos heterossexuais e de cultura cristã.
O que se pretende (da parte dos progressistas) é o estabelecimento de um feudalismo invertido (e, por isso, totalitário), em que os grupos sociais ou comunidades multiculturalistas — os novos grémios ou guildas do novo feudalismo multiculturalista — são vistos pelas elites progressistas como “iguais” em um organograma oficial mas que não é real, porque há sempre umas comunidades mais iguais do que outras — ao passo que, no feudalismo propriamente dito, os grémios ou guildas obedeciam a uma hierarquia social bem definida (não existia igualdade de classes, mas havia liberdade de discussão interna nos grupos, grémios, guildas de pessoas do mesmo ofício ou da mesma classe social).
Trata-se aqui de uma analogia entre o feudalismo propriamente dito e o novo, evidentemente, para que se perceba como os progressistas pretendem dividir a sociedade em castas para poderem impôr um novo tipo de totalitarismo (marxismo cultural: Escola de Frankfurt → Marcuse → Habermas).
Não sei onde isto nos vai levar, mas tudo indica que os progressistas totalitaristas estão a ganhar a guerra instilando o medo e o pânico moral, e tirando partido da espiral de silêncio que se instala na sociedade. A maioria silenciosa anda aterrorizada e cala-se; e por isso é que faz falta a coragem da denúncia.
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