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Terça-feira, 31 Maio 2022

O que a Esquerda esperou de Moçambique

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 3:58 pm
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Quinta-feira, 21 Outubro 2021

O comboio da linha de Sintra

Filed under: A vida custa,Esta gente vota — O. Braga @ 8:49 pm
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Vemos aqui em baixo uma fotografia actual de uma carruagem de um comboio da linha de Sintra, arredores de Lisboa.

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Eu tinha 15 anos de idade quando fui expulso de Moçambique, pelo governo da Frelimo, pelo simples facto de eu ser de raça branca.

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Sábado, 2 Maio 2020

A filha-da-putice infinita do Anselmo Borges

Filed under: Anselmo Borges — O. Braga @ 9:11 pm
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O Anselmo Borges é patético; por vezes, sinto pena dele.

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fome-mozambique-webPor exemplo, quando ele se refere ao Bispo de Nampula que alegadamente defendeu “a dignidade dos africanos”, mas cuja defesa contribuiu para a maior mortandade em Moçambique de que houve qualquer memória histórica — morreu mais gente (muitas dezenas milhar de crianças morreram de fome em Moçambique) de morte violenta e de fome, nos dez anos que se seguiram à independência de Moçambique, do que em 500 anos de colonização portuguesa.

Morreu mais gente de morte violenta e de fome, nos dez anos que se seguiram à independência de Moçambique, do que em 500 anos de colonização portuguesa.

É este um dos problema da utopia: as acções humanas (e políticas) são passíveis de retroactividade — as acções humanas podem conduzir a situações que resultam em uma retroacção da realidade social e política: muitas vezes pretendemos uma coisa, e sai-nos outra coisa, totalmente diferente, e quiçá até, trágica.

Que o Bispo de Nampula não pudesse adivinhar o futuro, e que fosse bem-intencionado nas alianças políticas que fez naquela época —, é compreensível. Ninguém é perfeito.

Mas que uma besta negra venha agora (hoje, depois de se conhecer muito bem as consequências do desenvolvimento histórico das acções “progressistas” do marxismo em Moçambique) tecer loas às alianças políticas e ideológicas do Bispo de Nampulacomo se aquela tragédia humana gigantesca não tivesse acontecido — , é de uma filha-da-putice infinita.

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Quinta-feira, 28 Março 2019

O ódio a Portugal: José Eduardo Agualusa é “persona non grata”

Filed under: A vida custa,Esquerda,esquerdalho,esquerdopatia,Esta gente vota — O. Braga @ 10:07 pm
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O Brasil tornou-se independente em 1821 (salvo erro), mas ainda hoje existe um ódio a Portugal na chamada “cultura intelectual” (que, de “intelectual”, tem nada). É um ódio primário, básico, que culpa Portugal por todos os problemas do Brasil — passados, presentes e futuros: daqui a mil anos, Portugal será ainda culpado pela inoperância da “elite” brasileira.


O mesmo se passa com gente estúpida das ex-colónias portuguesas em África, como é o caso do comunista José Eduardo Agualusa:

“O escritor José Eduardo Agualusa veio defender há dias em entrevista ao Público, a propósito da catástrofe provocada pelo ciclone Idai que “os países que mais contribuem para o aquecimento global devem responder pelos estragos causados ao planeta, sobretudo quando atingem os países que menos fizeram por isso, como Moçambique” e que “Portugal não faz o favor de ajudar Moçambique. Portugal tem obrigação de reparar os danos que causou”.

Curioso é ver muitos daqueles que entendem cada fenómeno climático como consequência da acção humana incomodados com estas afirmações que afinal de contas são coerentes com o catastrofismo simplista que esses críticos apregoam na sua terra. Quem faz de assuntos científicos de grande complexidade mera propaganda sujeita-se a isto – agora aturem-no”.

Tragédia da Beira: causa efeito

Eu vivi muitos anos em Moçambique, e fui testemunha de alguns ciclones que atingiram principalmente a área geográfica que vai da cidade de Quelimane à vila do Lumbo (e cidade de Nacala). Naquele tempo, os ciclones não tinham nomes; e não havia estúpidos do calibre do José Eduardo Agualusa.

Os ciclones, em Moçambique, sempre foram devastadores, sempre causaram prejuízos materiais e sacrifício de vidas humanas.

Os ciclones, em Moçambique, não são (como é evidente!) consequência da colonização portuguesa — como afirma a besta humana que é o José Eduardo Agualusa; uma besta que não é bem-vinda a Portugal: um país que se prezasse consideraria o José Eduardo Agualusa como persona non grata.

 


Mayor in Mozambique says negligence led to cyclone deaths

Mayor in Mozambique says negligence led to cyclone deaths

Sábado, 9 Janeiro 2016

Moçambique nos anos 60

Filed under: Geral — O. Braga @ 10:30 am
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Sábado, 30 Novembro 2013

O avião da LAM que caiu era um Embraer 190

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 12:31 pm
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2013-11-30 12:31:11 (UTC+02:00) Harare, Pretoria

ÚLTIMA HORA: Destroços do avião encontrados e sem sobreviventes

“O pior aconteceu. Moçambique de luto. Destroços do avião encontrados e sem sobreviventes. Uma fonte que se encontra no local onde o avião das Linhas Aéreas de Moçambique, o Embraer ERJ-190AR (ERJ-190-100 IGW), denominada Chaimite, despenhou, confirma a localização dos destroços e sem nenhum sobrevivente.

De acordo com a mesma fonte, que mantemo-la em anonimato, que se encontra numa das equipas de busca, encontraram os destroços do avião de bandeira moçambicano e que neste momento está-se a fazer um trabalho de recolha dos mesmos, mas adiantou não haver espaço de sobrevivente.”


JetBlue CEO Laments Embraer 190 Costs

Embraer190“The president and CEO of JetBlue Airways is “disappointed” with the carrier’s fleet of Embraer 190s and says the airline continues to struggle with maintenance costs on the 100-seat E-Jets.

“We should never have been the worldwide launch customer of a new airplane,” David Barger said in an April 21 address to the Harvard Business School’s Aerospace & Aviation Club in Boston, adding, “We weren’t big enough.”

Barger also expressed unhappiness with the Brazilian aircraft’s General Electric CF34 engines. “We’re not pleased with what we’re seeing on the Embraer [with] the GE motor,” he said.”


Seis portugueses morreram na queda do avião da LAM

“O avião das Linhas Aéreas de Moçambique (LAM) que caiu no norte da Namíbia transportava seis cidadãos de nacionalidade portuguesa, afirmou à Lusa o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Cesário.

Segundo os primeiros dados fornecidos pela transportadora LAM, entre os 27 passageiros constavam cinco portugueses, mas o número foi actualizado para seis pelo Governo português, com José Cesário a referir, sem especificar, que existem casos de dupla nacionalidade.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros português revelou, em comunicado, que já foram contactaram os familiares de quatro dos portugueses que viajavam no voo TM470, entre Maputo e Luanda, em ‘codeshare” com a angolana TAAG.”

Quinta-feira, 7 Novembro 2013

Recordam-se do Ministro da Informação do Iraque de Sadam Hussein?

Filed under: Tirem-me deste filme — O. Braga @ 8:59 am
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O Ministro Interior de Moçambique está igual ao iraquiano: “não existem raptos em Moçambique. É tudo boato.”

ministro do interior de moçambique

Terça-feira, 22 Outubro 2013

O canto do cisne dos belicistas em Moçambique

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 9:54 am
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Afonso Dhlakama e Armando Guebuza (actual presidente da república de Moçambique) são dois ex-guerrilheiros: um no Poder, e outro na oposição. Enquanto o Poder e a oposição em Moçambique não se desfizer dos belicistas de outrora, nunca encontrará a paz.

Moçambique precisa de uma nova geração de políticos, que não faça da guerra uma forma de fazer política porque não se sentem bem senão nessa forma. Moçambique precisa do paradigma dos antigos gregos que contrapunha o uso da palavra, na política, à violência dos bárbaros.

Esta velha geração de guerrilheiros já está a desaparecer. O que está a acontecer hoje em Moçambique é o canto dos cisnes dos belicistas — os da Frelimo e os da Renamo.

dhlakama e guebuza

Sexta-feira, 16 Agosto 2013

No que respeita à língua, do Brasil só vem merda

«Alguns podem pensar que ao escrever “penço” estou cometendo um erro de gramática. Não. O erro, isso mesmo, erro é ortográfico. Tanto já se comentou por aqui em acerto e erro, adequado e inadequado, que acredito que a confusão agora está completa.»

Marcia Meurier Sandri, Mestre em Língua Portuguesa UERI

Que me perdoem os amigos brasileiros, mas já não aguento mais! Puta que pariu! Em matéria de política da língua “portuguesa”, a grande diferença entre Portugal e o Brasil é que a de que a oposição ao Acordo Ortográfico, a existir no Brasil, não é organizada, ao passo que os defensores brasileiros do Acordo Ortográfico estão fortemente organizados – e a razão pela qual os putativos opositores brasileiros ao Acordo Ortográfico não estão organizados é a de que (apesar da aberração do Acordo Ortográfico) pensam que “o Brasil vai tirar vantagem”. Mas não vai.

Enquanto que os defensores portugueses do Acordo Ortográfico andam envergonhados, os defensores brasileiros do Acordo Ortográfico andam orgulhosos. E esta diferença faz toda a diferença.

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Terça-feira, 2 Julho 2013

Escritores moçambicanos repudiam Acordo Ortográfico

Filed under: acordo ortográfico — O. Braga @ 2:41 pm
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Escritores moçambicanos repudiam Acordo Ortográfico

“Para nós é uma decisão mais política, não tem em conta as especificidades de cada um dos países que compõem a comunidade de países de língua portuguesa e, neste caso, de Moçambique. Nós temos uma forma própria de escrever, de falar o português e querem-nos tirar isso. Nós não aceitamos que nos imponham uma forma de escrita”, explicou o poeta Delmar Maia Gonçalves à agência Lusa.

A moção foi aprovada no sábado, no final do VI encontro do Círculo de Escritores Moçambicanos na Diáspora, que durou três dias e que contou com perto de meia centena de participantes.

Assinalando que não fala pelos escritores que estão em Moçambique, Delmar Maia Gonçalves declarou-se, no entanto, convicto de que “grande parte deles não quer também este acordo ortográfico, não acredita nele, não se revê nele”.

A moção considera o Acordo Ortográfico “muitíssimo prejudicial, visto que empobrece e desagrega o idioma de um modo geral, introduzindo ainda inúmeras incorrecções e incongruências exaustivamente apontadas já por filólogos portugueses e brasileiros, o que aliás motivou o recuo do Brasil na sua aplicação”.

“Empobrece-nos completamente, nós já somos pobres, mas somos ricos em termos de línguas, nós temos outras línguas além do português e não se estão a lembrar disso”, insistiu o escritor, de 44 anos.

Adenda: a ler: Moçambicano contra o Acordo Ortográfico

Sábado, 11 Maio 2013

Mia Couto e o ‘May Be Man’

Filed under: A vida custa — O. Braga @ 10:40 am
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Existe o “Yes man”. Todos sabem quem é e o mal que causa. Mas existe o May be man. E poucos sabem quem é. Menos ainda sabem o impacto desta espécie na vida nacional. Apresento aqui essa criatura que todos, no final, reconhecerão como familiar.
O May be man vive do “talvez”. Em português, dever-se-ia chamar de “talvezeiro”. Devia tomar decisões. Não toma. Sim­plesmente, toma indecisões. A decisão é um risco. E obriga a agir. Um “talvez” não tem implicação nenhuma, é um híbrido entre o nada e o vazio.

A diferença entre o Yes man e o May be man não está apenas no “yes”. É que o “may be” é, ao mesmo tempo, um “may be not”. Enquanto o Yes man aposta na bajulação de um chefe, o May be man não aposta em nada nem em ninguém. Enquanto o primeiro suja a língua numa bota, o outro engraxa tudo que seja bota superior.

mia couto malangatana webSem chegar a ser chave para nada, o May be man ocupa lugares chave no Estado. Foi-lhe dito para ser do partido. Ele aceitou por conveniên­cia. Mas o May be man não é exactamente do partido no Poder. O seu partido é o Poder. Assim, ele veste e despe cores políticas conforme as marés. Porque o que ele é não vem da alma. Vem da aparência. A mesma mão que hoje levanta uma bandeira, levantará outra amanhã. E venderá as duas bandeiras, depois de amanhã. Afinal, a sua ideolo­gia tem um só nome: o negócio. Como não tem muito para negociar, como já se vendeu terra e ar, ele vende-se a si mesmo. E vende-se em parcelas. Cada parcela chama-se “comissão”. Há quem lhe chame de “luvas”. Os mais pequenos chamam-lhe de “gasosa”. Vivemos uma na­ção muito gaseificada.

Governar não é, como muitos pensam, tomar conta dos interesses de uma nação. Governar é, para o May be Man, uma oportunidade de negócios. De “business”, como convém hoje, dizer. Curiosamente, o “talvezeiro” é um veemente crítico da corrupção. Mas apenas, quando beneficia outros. A que lhe cai no colo é legítima, patriótica e enqua­dra-se no combate contra a pobreza.

Mas a corrupção, em Moçambique, tem uma dificuldade: o corrup­tor não sabe exactamente a quem subornar. Devia haver um manual, com organograma orientador. Ou como se diz em workshopês: os guidelines. Para evitar que o suborno seja improdutivo. Afinal, o May be man é mais cauteloso que o andar do camaleão: aguarda pela opi­nião do chefe, mais ainda pela opinião do chefe do chefe. Sem luz verde vinda dos céus, não há luz nem verde para ninguém.

O May be man entendeu mal a máxima cristã de “amar o próximo”. Porque ele ama o seguinte. Isto é, ama o governo e o governante que vêm a seguir. Na senda de comércio de oportunidades, ele já vendeu a mesma oportunidade ao sul-africano. Depois, vendeu-a ao portu­guês, ao indiano. E está agora a vender ao chinês, que ele imagina ser o “próximo”. É por isso que, para a lógica do “talvezeiro” é trágico que surjam decisões. Porque elas matam o terreno do eterno adiamento onde prospera o nosso indecidido personagem.

O May be man descobriu uma área mais rentável que a especulação financeira: a área do não deixar fazer. Ou numa parábola mais recen­te: o não deixar. Há investimento à vista? Ele complica até deixar de haver. Há projecto no fundo do túnel? Ele escurece o final do túnel. Um pedido de uso de terra, ele argumenta que se perdeu a papelada. Numa palavra, o May be man actua como polícia de trânsito corrup­to: em nome da lei, assalta o cidadão.

Eis a sua filosofia: a melhor maneira de fazer política é estar fora da política. Melhor ainda: é ser político sem política nenhuma. Nessa fluidez se afirma a sua competência: ele sai dos princípios, esquece o que disse ontem, rasga o juramento do passado. E a lei e o plano servem, quando confirmam os seus interesses. E os do chefe. E, à cau­tela, os do chefe do chefe.

O May be man aprendeu a prudência de não dizer nada, não pensar nada e, sobretudo, não contrariar os poderosos. Agradar ao dirigen­te: esse é o principal currículo. Afinal, o May be man não tem ideia sobre nada: ele pensa com a cabeça do chefe, fala por via do discurso do chefe. E assim o nosso amigo se acha apto para tudo. Podem no­meá-lo para qualquer área: agricultura, pescas, exército, saúde. Ele está à vontade em tudo, com esse conforto que apenas a ignorância absoluta pode conferir.

Apresentei, sem necessidade o May be man. Porque todos já sabíamos quem era. O nosso Estado está cheio deles, do topo à base. Podíamos falar de uma elevada densidade humana. Na realidade, porém, essa densidade não existe. Porque dentro do May be man não há ninguém. O que significa que estamos pagando salários a fantasmas. Uma for­tuna bem real paga mensalmente a fantasmas. Nenhum país, mesmo rico, deitaria assim tanto dinheiro para o vazio.

O May be Man é utilíssimo no país do talvez e na economia do faz-de-conta. Para um país a sério não serve.


Texto de Mia Couto. Respigado aqui.

Quinta-feira, 21 Março 2013

Memórias de Marcello Caetano acerca das cidades de Nampula e da Ilha de Moçambique

Filed under: Portugal — O. Braga @ 9:28 pm
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A África portuguesa era assim. Ao contrário de outras zonas colonizadas recentemente por países europeus, na África portuguesa havia marcas de uma presença secular, de uma presença amorável onde se notava sempre a preocupação de refazer os ambientes saudosamente deixados no reino longínquo.

«Um dos encantos da África era o de ver a face da terra a transformar-se de dia para dia pelo esforço inteligente do homem. Rompiam, no meio do mato, fazendas e plantações cuidadosamente ordenadas. Revolvia-se em minas o subsolo. Surgiam indústrias aqui e acolá. A faia branca ou negra das estradas cortava a imensidade do sertão. E onde só havia algumas pobres palhotas brotavam cidades como por milagre.

Nampula, que mais tarde se converteu num grande centro populacional, era em 1945 uma idade recente onde, não sei porquê, tinha sido implantada a capital da, ao tempo, província do Niassa, pois ficava no limite sul dela.

Nascera de um acampamento: por ocasião da primeira grande guerra tinham sido ali aquarteladas algumas unidades e ficou depois nos locais uma guarnição de infantaria e artilharia. Posteriormente, a construção do caminho de ferro que do litoral devia atingir (como depois atingiu) a região do Lago Niassa, fez com que em Nampula, um tanto distanciados do bairro militar, se erguessem os estaleiros, e, quando a exploração ferroviária pôde começar, estabeleceu-se junto da estação um centro de manutenção de material e de rendição de pessoal, donde a necessidade de oficinas, armazéns, dormitórios, o clube ferroviário, as casas para os empregados fixos. Logo o comércio se foi estabelecendo entre os dois bairros. E depois, capital de província e sede de diocese, os vazios foram-se enchendo com edifícios públicos e residências. Tudo novinho em folha e às vezes com certo ar de provisório.

Em contraste, que delícia aquela velha cidade de Moçambique, na ilha que deu o nome ao território e que foi dele capital política até 1897! Que comovente aquele conjunto venerando da fortaleza que servia, já no século de quinhentos, de apoio à navegação das naus da carreira da Índia, com a igreja onde estão sepultados soldados e marinheiros da gesta portuguesa do Oriente! Que encanto o daquelas ruas marginadas de casas construídas com pedras levadas do reino e onde se cruzam vultos de várias raças e religiões, num primeiro encontro de África com o Oriente! Que emoção a de percorrer os lugares onde poetou Camões, onde S. Francisco Xavier rezou, onde D. João de Castro estudou, e tanta gente humilde passou levando para a Índia seus sonhos e ambições ou de lá trazendo riquezas e desconsolos!

Padrão da presença portuguesa na costa oriental africana há quase 500 anos, a ilha de Moçambique constitui uma relíquia histórica, uma jóia arquitectónica, um valor humano inestimável. Entrei comovido no Palácio onde tantos governadores residiram, um palácio do estilo português das moradias nobres, com rés-do-chão e andar principal, este abrindo-se em salões magníficos de recepção. Lá dormi entre sombras de heróis e de governadores de outros tempos. E às primeiras horas da manhã fui acordado ao som da suave melopeia entoada por um coro de muitas vozes femininas com a preguiçosa doçura própria dos cantos africanos. Corri à janela. Lá em baixo, em frente ao Palácio, estava uma multidão de mulheres vestidas de garridas capulanas completadas pelos panos brancos ou coloridos, que lhes cingiam os bustos, elegantemente traçados sobre um dos ombros. Era um espectáculo admirável! E os versos cantados haviam sido compostos em honra do Ministro numa saudação carinhosa que soube depois, por informação de um dos criados do Palácio, ser da autoria do “Padre mouro”. Recebi mais tarde esse muçulmano culto, figura destacada na sua comunidade por haver estudado em Zanzibar e já ter peregrinado a Meca. E conversámos sobre os problemas dos maometanos de Moçambique que constituíam a maioria na província do Niassa: sóbrios na comida e na bebida, honestos e cumpridores, e por isso mesmo preferidos pelos europeus para o trabalho.

A cidade de Moçambique e a de Nampula: que contraste! Uma cheia de monumentos e de história, com a pátina do passado a doirar as suas pedras, parada na sua expansão pelos limites da ilha em que fora edificada; a outra fremente de vida, a crescer todos os dias, de aspecto recente e luzidio, cada casa a pretender ser mais moderna do que a outra, vendo-se por todo o lado romper o futuro pelos interstícios das suas improvisações actuais…

A África portuguesa era assim. Ao contrário de outras zonas colonizadas recentemente por países europeus, na África portuguesa havia marcas de uma presença secular, de uma presença amorável onde se notava sempre a preocupação de refazer os ambientes saudosamente deixados no reino longínquo.

E ao lado dessas relíquias surgiram as realizações actuais, traduzindo o transporte para as regiões tropicais de modos de viver e de técnicas dos tempos presentes.

Bem dizia em Luanda o governador Bayardelle:

“Vocês, os portugueses, são únicos em África!”»

(Marcello Caetano, in “Minhas memórias de Salazar”, 1977, página 368 e seguintes)

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