Tem circulado na Internet — principalmente em sítios brasileiros, por exemplo aqui e aqui, e também no Facebook — um vídeo que ilustra (alegadamente) a troca de turno dos faroleiros de uma ilha dos Açores. O vídeo é o que se segue:
A ideia segundo a qual alguns cientistas ― ou cientificistas ― afirmam o primado absoluto da ciência sobre a filosofia e a ética, religião e a moral, porque (segundo eles) a ciência se baseia no facto verificável — é uma absurdidade auto-referenciada, uma espécie de circulo vicioso dogmático.
Quando alguém diz que “somente as proposições ou afirmações resultantes de factos observáveis (ou da observação de factos) têm um significado legítimo e/ou válido”, profere uma reivindicação de um “facto” que não foi ― também ele ― previamente sujeito a observação. Portanto, o princípio de que parte o cientificista é dogmático.
O próprio evolucionismo neodarwinista é um mito ― tal qual é um mito a metáfora criacionista bíblica ― porque é “impossível explicar a sucessão das formas” (Eric Voegelin).
Contudo, não vale a pena fazer ver esta incongruência à esmagadora maioria das pessoas, porque os termos do discurso estão totalmente controlados. As pessoas, em geral, não raciocinam: seguem o discurso válido e validado em primeiro lugar pela utopia, e depois, numa fase avançada de degenerescência, pelo “mito social” (Sorel).
O mito social ― ao contrário da utopia ― não é um produto do intelecto mas uma experiência da vontade manipulada e irracional, conduzida por uma elite mais ou menos oculta, para determinados fins obscuros.
Esta é uma das razões por que qualquer opinião (ou blogue) de ruptura com o discurso controlado já não faz qualquer sentido: por mais que se diga que a ciência, por definição, não pode partir de um princípio dogmático para o seu fundamento, e por via do mito social instalado através do controlo do discurso, o sentimento contrário ― ou no mínimo, indiferente ― à religião, à ética, à filosofia e à moral cresce na população que sai das universidades. Já não me refiro a analfabetos: o fenómeno já se espalhou uma classe de indivíduos que se dizem “letrados” e que constituirão a “elite” do país, em poucos anos.
Em Portugal, já não vejo “lura por onde saia coelho”.
As teorias da conspiração são legítimas desde que existam indícios minimamente credíveis que coloquem a teoria da conspiração num patamar racional.
Dou um exemplo: quando dizemos que a maçonaria esteve por detrás dos grandes conflitos mundiais desde há 200 anos a esta parte, trata-se de uma teoria da conspiração, porque não podemos fazer prova desta alegação; mas a verdade é que podemos provar que a esmagadora maioria dos presidentes americanos pertenceram à maçonaria, inluindo o Harry Truman que mandou lançar as bombas nucleares sobre o Japão. Portanto, não existindo provas de que a maçonaria esteve por detrás das grandes guerras mundiais, podemos contudo afirmar que os grandes vultos da política mundial desde há 200 anos eram maçons, e concluir daqui que seria legítima a ilacção de que a maçonaria pudesse estar por detrás desses conflitos. Compreendido?
O que não podemos dizer é que o próprio governo americano mandou as torres gémeas abaixo e que os aviões que embateram nas torres gémeas não existiram; ou se existiram, não podemos dizer que os islamitas que pilotaram os aviões não existiram. Quando a teoria da conspiração ignora factos básicos, passa a ser uma idiotice. Compreendido?
Em segundo lugar, e sobre a referência do Zeitgeist ao cristianismo, já estou cansado de dizer que o cristianismo adoptou muitos rituais do paganismo pré-cristão, e seria prolixo enumerar aqui os rituais adoptados. Porém, o facto de o cristianismo ter adoptado muitos rituais pagãos não retira nada ao valor da mensagem de Jesus Cristo, e quem não vê isto não está a usar a sua inteligência. Quando matamos o mensageiro porque não gostamos da mensagem, não significa que a mensagem não tenha existido. Compreendido?
Quanto à economia mundial e à visão marxista do Zeitgeist, estamos conversados; ainda estou à espera que apareça um país marxista que tenha mais respeito pela cidadania do que os países capitalistas. Quando isso acontecer, darei mais atenção ao Zeitgeist.
Ler também:
“P’rá mentira ser segura, e atingir profundidade
tem que trazer à mistura qualquer coisa de verdade…”
– Poeta Aleixo
No seguimento aos comentários deste post, cheguei à conclusão de que, não tendo eu visto o filme documentário “Zeitgeist” até ao fim, não deixei de ter razão na apreciação que fiz dele após dez minutos de visionamento.