perspectivas

Sábado, 6 Dezembro 2014

A origem da família, da propriedade e do Estado — Engels (parte 1)

 

engels1/ Qualquer observador atento que veja como a instituição da família está a ser tratada pela política europeia, não pode deixar de verificar a influência das ideias de Engels na cultura política actual. Engels escreveu um livrinho a que deu o nome de “A origem da família, da propriedade e do Estado” [a minha edição é da Editorial Presença, 1976], e este opúsculo marcou indelevelmente aqueles que hoje assumem cargos políticos em Portugal — desde Passos Coelho, que militou na Juventude Comunista, até ao José Pacheco Pereira que, como sabemos, diz que foi maoísta mas já não é.

Se repararmos bem, todo o esforço político da União Europeia actual, na área da família, vai no sentido de valorar politicamente e refundar, na cultura antropológica, a família sindiásmica segundo o conceito de Engels. Não se quer com isto dizer que a família sindiásmica de Engels seja transposta literalmente para a actualidade, porque isso seria impossível: o que quer dizer é que as características fundamentais da família sindiásmica formatam as políticas de família, não só em Portugal como na União Europeia.

2/ Engels pretendeu dar ao seu livro citado um cariz científico; porém, mais não fez do que citar Antropólogos do século XIX, como por exemplo Morgan ou Espinas; e depois enviesa as conclusões desses Antropólogos (conclusões muitas vezes incorrectas do ponto de vista científico) para lhes dar uma forte tonalidade ideológica-política.

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Domingo, 16 Novembro 2014

Afinal, havia outro Karl Marx

 

É conhecida a teoria segundo a qual Nietzsche não teve culpa do nazismo; mas a verdade é que as ideias têm consequências. De modo semelhante, é recorrente dizer-se que Karl Marx não teve culpa do estalinismo. A Raquel Varela, tentando branquear Karl Marx, escreve o seguinte:

“Cada empresa é rigorosamente controlada e protegida pelo seu Estado, se necessário, com exércitos na frente.”

O que se pode entender desta frase no contexto— porque a Raquel Varela tem um discurso “dispersivo”, em que as ligações entre conceitos são “aligeiradas” —, é que Karl Marx nunca dissociou o Estado, por um lado, das corporações (por exemplo, as empresas), por outro lado; e que Karl Marx “nunca quis dizer que o poder dos Estados se tinha diluído num qualquer poder multinacional”.


Na sua “Crítica da Filosofia Hegeliana do Direito Público” (1843), Karl Marx concebe o Estado como uma figura de uma abstracção necessária cuja função é sancionar, do ponto de vista do interesse universal, os resultados das lutas de interesses particulares que definem o mecanismo de funcionamento da sociedade civil. As corporações (por exemplo, as empresas), são consideradas por Karl Marx como “compromissos equívocos” (sic). O Estado é separado — por Karl Marx — das condições da sua existência real e concebido como um sujeito imaginário (Hayek não diria melhor!).

Em um artigo escrito em 1842 no jornal Reinische Zeitung, Karl Marx chegou mesmo a defender o sufrágio universal da democracia liberal. Este era um Karl Marx que poderia perfeitamente fazer parte do Partido Social Democrata de Passos Coelho. E, com um pouco de paciência, ainda vamos ver a Raquel Varela como ministra de um governo de António Costa.

Domingo, 20 Outubro 2013

Algumas considerações acerca do marxista Daniel Oliveira

 

“Os bárbaros era governados pela violência e os escravos eram obrigados a trabalhar: e uma vez que a acção violenta e o trabalho pesado se assemelhavam, na medida em que não precisam da palavra para ser efectuados, bárbaros e escravos eram άνευ λόγου 1 , significando isto que as suas relações não primavam pelo uso da palavra. O trabalho, para os gregos, era essencialmente um assunto privado, não político, mas a violência implicava uma relação e estabelecia um contacto, ainda que negativo, com os outros homens.

A glorificação que Marx faz da violência contém, assim, a negação mais especifica do λόγου 2 , da palavra, essa forma de relacionamento diametralmente oposta e que tradicionalmente se considerava mais próxima do Homem. A teoria marxista das super-estruturas ideológicas repousa, no fim de contas, nessa hostilidade de cunho anti-tradicionalista, que o autor 3 manifesta em relação à palavra e na concomitante glorificação da violência. ”

(Hannah Arendt, “Entre o Passado e o Futuro”, Relógio d’Água Editores, 2006, pág. 37)


"Ao contrário do catolicismo, o comunismo não tem doutrina. Enganam-se os que supõem que ele a tem. O catolicismo é um sistema dogmático perfeitamente definido e compreensível, quer teologicamente, quer sociologicamente. O comunismo não é um sistema: é um dogmatismo sem sistema — o dogmatismo informe da brutalidade e da dissolução. Se o que há de lixo moral e mental em todos daniel oliveira obama png webos cérebros pudesse ser varrido e reunido, e com ele se formar uma figura gigantesca, tal seria a figura do comunismo, inimigo supremo da liberdade e da humanidade, como o é tudo quanto dorme nos baixos instintos que se escondem em cada um de nós.

O comunismo não é uma doutrina porque é uma anti-doutrina, ou uma contra-doutrina. Tudo quanto o Homem tem conquistado, até hoje, de espiritualidade moral e mental — isto é, de civilização e de cultura — tudo isso ele inverte para formar a doutrina que não tem."

(Fernando Pessoa, “Ideias Filosóficas”)


“Tentar manter boas relações com um comunista é como fazer festas a um crocodilo. Nunca sabemos se devemos afagá-lo debaixo do queixo ou bater-lhe por cima da cabeça. Quando abre a boca, nunca sabemos se está a sorrir ou a preparar-se para nos comer.”

(Winston Churchill)


1. άνευ λόγου : grego, que significa "sem discurso".
2.
λόγου : grego, que significa "discurso".
3. Karl Marx.

Segunda-feira, 15 Julho 2013

Os marxistas nunca aprendem com a História

Um marxista é essencialmente burro: tanto faz a experiência do dia anterior, como nada. Um marxista é anti-empírico e, por isso, anti-científico: não aprende com a experiência. A “praxis” marxista é treta teórica. A obra de Karl Marx é ininteligível porque amiúde contraditória, e só pode ser entendida num contexto de formação de um dogma.

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Nesta imagem – respigada aqui – o militante comunista incorre em duas falácias lógicas: o argumento ad Baculum (ou baculino) e o argumento ad Numerum. O argumento ad Baculum, vindo de um político, revela a sua (dele) índole totalitária. O argumento ad Numerum revela estupidez: nunca ocorreu uma qualquer transformação histórica e social somente baseada no putativo número de apoiantes dessa transformação. A própria revolução francesa teve origem burguesa (elitista), e não proletária ou campesina.

Manuel Tiago terá eventualmente alguma razão em relação a uma certa actual ofensiva contra alguns princípios básicos dos direitos humanos em Portugal – ofensiva que existe de facto -, mas perdeu a razão através dos seus argumentos falaciosos.

Quinta-feira, 13 Junho 2013

Daniel Oliveira, Peter Singer e o sincretismo “Kropotkmarx”

Há quem diga que um “abutriu” é o resultado do cruzamento de um “abutre” com a “puta que o pariu”; de modo idêntico, o Daniel Oliveira é o resultado do cruzamento de Kropotkine com Karl Marx.

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Quinta-feira, 7 Outubro 2010

O Erro de Hegel (3)

A filosofia de Hegel é gnóstica cristã. O problema dela está, em primeiro lugar, na identificação da noção de Absoluto com o Todo, que para Hegel é a mesma coisa — sendo que o Todo é a soma das partes. A diferença em relação ao panteísmo de Espinosa é que enquanto este vê o Todo como “substância”, Hegel vê o Todo como uma espécie de “organismo” complexo.
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Quarta-feira, 11 Agosto 2010

Karl Marx morreu relativamente pobre

Filed under: curiosidades — O. Braga @ 9:13 am
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Foram revelados em Londres os conteúdos dos testamentos de várias personalidades proeminentes do século XX XIX, entre elas as de Karl Marx, Charles Darwin, Arthur Conan Doyle (criador de Sherlock Holmes), Lewis Carroll (autor da “Alice no País das Maravilhas”) e Charles Dickens.

Karl Marx deixou como herança um valor que seria hoje equivalente a 27.550 Euros. Note-se que Karl Marx viveu décadas à custa da fortuna de Engels que se devia à exploração dos trabalhadores que ele próprio criticava.

Charles Darwin deixou um pecúlio avaliado hoje em 15,5 milhões de Euros (ca. de 3 milhões de contos). A morte de Charles Dickens valeu ao seus herdeiros 8,3 milhões de Euros.

Ver notícia aqui.

Quarta-feira, 7 Julho 2010

O Neopuritanismo ou o Purificacionismo (1)

Ernest Sternberg, professor da universidade de Bufallo, Estados Unidos, escreveu um ensaio sobre as novas tendências da esquerda a nível global que crescem actualmente sobre os escombros do marxismo-leninismo. O ensaio tem o título genérico de “Purifying the World: What the New Radical Ideology Stands For”“Purificando o Mundo: O que pretende a nova ideologia radical”.

Os três mestres da suspeita

Para que seja possível entender cabalmente não só esta Nova Esquerda que desponta — conforme retratada por Ernest Sternberg —, como o movimento revolucionário em geral, é necessária a leitura do livro “As Religiões Políticas” de Eric Voegelin e, se possível, “A Nova Ciência da Política” do mesmo autor, sendo que esta segunda obra de Eric Voegelin reveste-se já de alguma complexidade de linguagem que talvez não seja acessível a muita gente.

Para além das ditas obras de Eric Voegelin, seria também aconselhável a leitura da obra de Hans Jonas “The Gnostic Religion” ( “A Religião Gnóstica”) que serve de suporte científico à própria obra de Eric Voegelin. Outras obras de outros autores contemporâneos, como Kurt Rudolph, Giovanni Filoramo, Yuri Stoyanov e Michel Tardieu, concedem à obra de Eric Voegelin a autoridade científica irrefutável que o movimento gnóstico moderno (através dos seus ideólogos) recusa, por razões que toda a gente pode compreender.
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Segunda-feira, 5 Julho 2010

A revolução tranquila e o condenado moderno

Quando em princípios dos anos 30 do século passado, Ortega Y Gasset deixou os Estados Unidos para regressar à Europa, foi-lhe perguntada a razão da sua mudança, ao que ele respondeu que “Europa es el único continente que tiene un contenido” — em castelhano, “continente” e “contenido” têm a mesma raiz — ou seja, a “Europa é o único continente que tem um conteúdo”. Muito sinceramente, hoje tenho muitas dúvidas sobre se Ortega Y Gasset teria tido a mesma opinião, depois de todo o processo cultural que a Europa sofreu a partir do início da II Guerra Mundial.
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Quinta-feira, 1 Julho 2010

A Europa precisa de um novo Renascimento

O caso da prepotência da empresa espanhola Telefónica que se atreveu a desafiar, com uma insolência inaudita, não só o Estado português mas principalmente o sentimento esmagadoramente maioritário do povo português em relação à Portugal Telecom, constitui a evidência da modernidade que coloca em causa o direito de todas as comunidades humanas a pretender desenvolver as suas riquezas culturais próprias, valorizar o que as distingue e reforçar as suas identidades próprias.
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Domingo, 9 Maio 2010

O novo totalitarismo português suave

A estratégia política da esquerda é a de “libertar” o indivíduo para o poder, depois, oprimir sem resistência. Esta estratégia é mais visível no Bloco de Esquerda e no Partido Socialista do que no Partido Comunista que segue uma linha mais ortodoxa e não tanto libertária. Mas se virmos com atenção, podemos ver no Partido Social Democrata de Passos Coelho alguns tiques deste libertarismo inserido em uma estratégia política que coloca o indivíduo sozinho e isolado contra ou face ao Estado.
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Quinta-feira, 29 Abril 2010

Karl Marx especulava sistematicamente em títulos e acções da Bolsa de Londres

Marx, 1861

Eu sempre tive a ideia, por simples observação da realidade, que não há ninguém mais agarrado ao dinheiro que um comunista; por ser um materialista inveterado, o comuna só vê dinheiro à sua frente. Porém, confesso que foi com surpresa que soube que Karl Marx era um jogador de primeira água na Bolsa de Londres, nos anos de 1860.

Quando o Bloco de Esquerda vier com os argumentos do costume contra a especulação bolsista; quando o partido comunista diabolizar a especulação financeira, vou-me lembrar que o padrasto do socialismo (padrasto, porque o socialismo não tem pai certo) deu o exemplo de como, em política, se pode dizer uma coisa, e fazer outra.

A desculpa de Karl Marx era de que especulava na Bolsa para “aliviar o inimigo do seu dinheiro”. Por um lado, abotoava-se à custa do capitalismo; por outro lado, “aliviava o inimigo do seu dinheiro”. E foi assim que nasceu a mentalidade do comuna: sacar quanto pode e for possível, em nome de uma virtude qualquer. Os actos mais viciosos do comunista são justificados por uma qualquer qualidade virtuosa e sempre subjectiva.

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