1/ Qualquer observador atento que veja como a instituição da família está a ser tratada pela política europeia, não pode deixar de verificar a influência das ideias de Engels na cultura política actual. Engels escreveu um livrinho a que deu o nome de “A origem da família, da propriedade e do Estado” [a minha edição é da Editorial Presença, 1976], e este opúsculo marcou indelevelmente aqueles que hoje assumem cargos políticos em Portugal — desde Passos Coelho, que militou na Juventude Comunista, até ao José Pacheco Pereira que, como sabemos, diz que foi maoísta mas já não é.
Se repararmos bem, todo o esforço político da União Europeia actual, na área da família, vai no sentido de valorar politicamente e refundar, na cultura antropológica, a família sindiásmica segundo o conceito de Engels. Não se quer com isto dizer que a família sindiásmica de Engels seja transposta literalmente para a actualidade, porque isso seria impossível: o que quer dizer é que as características fundamentais da família sindiásmica formatam as políticas de família, não só em Portugal como na União Europeia.
2/ Engels pretendeu dar ao seu livro citado um cariz científico; porém, mais não fez do que citar Antropólogos do século XIX, como por exemplo Morgan ou Espinas; e depois enviesa as conclusões desses Antropólogos (conclusões muitas vezes incorrectas do ponto de vista científico) para lhes dar uma forte tonalidade ideológica-política.