“Para não termos a Europa transformada num barril de pólvora, para a extrema-direita não ter terreno para medrar, os partidos moderados têm, quanto antes, de deixar de ser ingénuos”.
→ José António Saraiva
Vamos analisar este trecho do José António Saraiva. ¿A que se refere ele quando fala em “partidos moderados”? Parece-me que ele identifica “moderados” com “tolerantes”; vamos partir deste pressuposto: partidos moderados ≈ partidos tolerantes.
¿O que é “tolerância”?
Em moral e política, a tolerância é o princípio fundamentado na igual liberdade e dignidade das convicções, que exige a não-repressão de uma opinião quando esta é contrária a uma outra.
Até aqui, está tudo certo.
Porém, a tolerância é realmente um princípio da razão que assenta sobre a ideia do exame livre tendo em vista a procura da verdade.
Quem não procura a verdade através da razão — mesmo em um contexto de fé religiosa — não pode ser tolerante.
Neste sentido, podemos dizer que a verdadeira fé religiosa é uma “fé racional” — na esteira de S. Anselmo: a necessidade de crer para compreender; a fé em busca da razão e da compreensão: porque se tem fé e se acredita, buscamos compreender melhor aquilo que, à partida, é aceite pelo coração. A busca intelectual da verdade — a utilização da razão — é o complemento da fé e das verdades inquestionáveis da crença religiosa cristã.
Esta postura racional do Cristianismo primordial, marcada por S. Anselmo, não existe no Islamismo. Por isso é que, na cultura antropológica das sociedades cristãs, foi possível a abertura à ciência.
O problema que se coloca actualmente é o dos limites da tolerância: devemos tolerar o intolerável?
Os “partidos moderados” europeus, de que nos fala o José António Saraiva, ¿procuram a verdade através da razão? Resposta: não!
Não, porque recusam verificar racionalmente os dados da experiência e da realidade. E por isso não são partidos “moderados” e/ou “tolerantes” (isto não significa que, por exemplo, o Front National da Marine Le Pen seja um partido tolerante e moderado: faz parte da mesma lógica da dialéctica da irracionalidade política que grassa pela Europa).
Por outro lado, o José António Saraiva diz que os “partidos moderados” (já vimos por que razão não são “moderados”) são “ingénuos”.
Ora, se há coisa que não existe nos tais “partidos moderados” é “ingenuidade”. Quando os Estados Unidos de Obama, por exemplo, defendem as migrações muçulmanas em massa para a Europa, não podemos falar de ingenuidade, mas de intencionalidade. Quando a maçonaria europeia pensa que é positiva a substituição populacional ou o multiculturalismo, estamos a falar de intencionalidade, e não de ingenuidade.
De facto, os “partidos moderados” de que nos fala o José António Saraiva são tão radicais como o Front National de Marine Le Pen. O que os distingue é o tipo de radicalismo.
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