O economista João Ferreira do Amaral diz aqui: “Sem reduzir o défice externo, não temos condições para permanecer no euro”. O que ele não diz, é que para reduzir o défice externo temos que sair do Euro.
Vemos o recente exemplo da Irlanda: perante o descalabro da crise bancária naquele país que levou à intervenção do FMI, o governo irlandês quis manter as taxas de IRC (os impostos das empresas) em um nível mais baixo do que o que existe na Europa do directório (cerca 14%, se não estou em erro). Essa política de taxas baixas do IRC tem como objectivo principal a redução do défice externo irlandês (para além de criar emprego). A reacção dos países do directório foi violenta, e a Irlanda teve que assumir publicamente que vai aumentar a taxa de IRC.
Isto acontece porque existe uma dinâmica peculiar na Europa do Euro, que considera, a priori, os diversos países de forma diferente — coisa que não acontece nos estados federais dos Estados Unidos, onde existe uma tradição de igualdade estatutária entre estados federais. Por razões diversas, é impossível erradicar esta idiossincrasia assimétrica da Europa do directório, quanto mais não seja pela ausência de uma tradição europeia no sentido do respeito entre países.
Por isso, qualquer tentativa de Portugal para fazer baixar o défice externo vai colidir com os interesses do directório europeu. Até agora, esses interesses endividaram o nosso país, e a partir de agora esses interesses pretendem manter Portugal (e os PIG, em geral) em um estado perene de indigência, para que o directório europeu continue a exportar os seus produtos e o seu desemprego.
Diz João Ferreira do Amaral (o sublinhado é meu):
“Se o nosso país não conseguir ou for impedido pelas instituições comunitárias de realizar um programa de prazo longo de discriminação positiva dos bens transaccionáveis, então não terá condições de pertencer à zona euro e teremos, de uma forma ou de outra, de sair a prazo provavelmente não muito longo”.
Já que os credores de Portugal, ou seja, a Europa do directório, querem intervir directamente no nosso país transformando-o num protectorado, então aproveitemos a oportunidade do default para que lhes “saia o tiro pela culatra”.
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