Vamos analisar a proposição de Nietzsche : “crença é um desejo de não saber”; e depois a frase de Olavo de Carvalho : “fé não é crença: é confiança”.
Já Hannah Arendt afirmou que a filosofia de Kierkegaard foi o início da crise moderna do Cristianismo. E tinha razão. Por muito que não gostemos (e eu não gosto dessa ideia), Hannah Arendt tinha razão.
Existem diferenças entre teoria, doutrina e dogma. Uma teoria está aberta à discussão, uma doutrina estabelece um sistema de ideias que, segundo o teorema de Gödel, não identifica as suas próprias contradições, e o dogma fecha-se completamente em si próprio.
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Sobre este postal:
« A ciência particular não duvida de que o seu objecto seja cognoscível — duvidará de que o seja plenamente e encontrará adentro do seu problema geral alguns especiais que não pode resolver. Inclusivamente, como a matemática, chegará a demonstrar que são insolúveis. Porém, a atitude do cientista implica fé na possibilidade de conhecer o seu objecto.
E não se trata de uma vaga confiança humana, mas de algo constituinte da própria ciência, de tal modo que, para ela, definir o seu problema é uma e a mesma coisa que fixar o método geral da sua solução.
Por outra forma dito: para o físico (e cientista em geral) é problema aquilo que em princípio é resolúvel, a solução é-lhe, até certo ponto, anterior ao problema; entende-se que vai denominar a solução e conhecimento ao tratamento que o problema tolerar.
Assim, no que respeita às cores, aos sons e às mudanças sensíveis, em geral o físico só pode conhecer as relações quantitativas, e mesmo estas — as situações em tempo e espaço — só relativamente, e essas relatividades só com a aproximação que os aparelhos e os nossos sentidos permitem; pois bem, a este resultado, teoreticamente pouco satisfatório, chamará solução e conhecimento. »
— Ortega y Gasset (“Que és Filosofia?”)
Perante esta citação (e muitas outras desta índole), não admira que os cientistas, em geral, odeiem a filosofia; e quando parecem gostar dela e a fazem, demonstram imensa falta de prática (um dia destes irei publicar aqui algumas das “Cartas de Problemática”, de António Sérgio, exactamente sobre a fé dos cientistas).
« Quem não acredita em Deus, acaba por acreditar em tudo o resto. »
— Aura Miguel
A crença é constitutiva da existência — assim como o é a linguagem e a razão. O ser humano não pode viver sem crer; mesmo o pobre suicida, na sua descrença de tudo o resto, tem que crer que a morte é a solução para os seus problemas. Não há como fugir à crença em alguma coisa; o problema é saber em que devemos crer, e como devemos crer.
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Ainda hoje ninguém sabe ao certo o que se passou no dia 13 de Outubro de 1917, nas cercanias da Cova da Iria, em Fátima. Milhares de pessoas dizem ter visto, por volta do meio-dia, “o sol dançar”. E as pessoas, hoje, perguntam: será que “o sol dançou” mesmo? Podemos responder: não sabemos ou não podemos afirmar com toda a certeza, porque não estivemos lá nesse dia para testemunhar a experiência daquelas milhares de pessoas que se reuniram naquele local pela fé comum (fé comum = experiência intersubjectiva).
Porém, temos que partir do princípio de que uma idêntica experiência vivida comummente por milhares de pessoas, a maior parte delas estranhas umas às outras, não se pode considerar como uma falsidade ou uma ilusão, porque se o considerássemos assim estaríamos à partida a considerar a nossa própria experiência subjectiva de vida como uma ilusão ― estaríamos a negar a nossa própria experiência subjectiva. Seria estúpido dizer-se que o que se passou naquele dia em Fátima não aconteceu de facto; o que podemos dizer é que a experiência intersubjectiva daquelas pessoas não foi compartilhada por outras pessoas, nomeadamente por nós.
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“No caso de Dawkins – e intra-muros, no caso de Saramago – assistimos a dois casos típicos de desonestidade intelectual. Ambos são intelectualmente desonestos na sua sanha irracional anti-religiosa.”
(texto com 1690 palavras)
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